História

 

 

 

O Início

   Agosto de 1898. O século XIX anunciava a sua despedida. O Rio de Janeiro, com pouco mais de 500 mil habitantes, não chegava a ser uma cidade voltada para o esporte. Os jovens preferiam gastar seu tempo livre lendo poesia, freqüentando saraus, teatros e reuniões sociais em recintos fechados e sombrios. O máximo a que se permitiam os mais arejados, e de bolso farto, era apostar alguns mil-réis nos cavalinhos do Derby Clube.

   Só existia, na realidade, uma atividade física: o remo, praticado desde 1846, mesmo assim sem
muito entusiasmo, por uma ou outra iniciativa pessoal. A primeira associação organizada para tal esporte foi o Clube Guanabarense, em 1873. Quando um grupo de rapazes uniu-se para fundar o Vasco, já existiam pelo menos 10 sociedades formadas, no Rio, para a disputa de competições, dentre as quais o Botafogo, criado em 1894, o Gragoatá e o Flamengo, ambos em 1895, e o Boqueirão do Passeio, de 1897, mesmo ano em que foi fundada a Federação de Remo.

   Como no ano de 1898 comemorava-se o IV Centenário da descoberta do caminho marítimo para as Índias, não foi uma tarefa difícil para a colônia portuguesa escolher o nome do clube que acabava de fundar. Obviamente o nome escolhido foi o de Vasco da Gama, que foi o almirante que chefiou a expedição portuguesa ao Oriente.

   Em 1898, o Vasco não competiu. A prioridade, naquele primeiro ano, foi a aquisição de barcos – qualquer um, mesmo usado, podia ser obtido por um bom preço, embora os poucos associados tivessem realizado um grande esforço para comprar Zoca, Vaidosa e Volúvel, três baleeiras que preenchiam as exigências necessárias à filiação do clube à União de Regatas Fluminense, entidade que congregava os esportes náuticos do Rio. O título da cidade, em 1898, ficou com o Gragoatá.

   Em 4 de Junho de 1899 o Vasco da Gama venceu o primeiro páreo da Regata promovida pela União de Regatas Fluminense, com o barco Volúvel (que era uma baleeira a 6 remos), na classe novos. O primeiro título estadual veio em 1905, com o bicampeonato em 1906.

   A segunda preocupação do Vasco passou a ser a de encontrar um lugar que servisse de sede e de garagem para as embarcações. Depois de alguma procura, e graças a um "fiador idôneo", cujo nome os fundadores omitiram no registro dos fatos marcantes dos primeiros anos de vida social, o clube passou a funcionar na Travessa do Maia, 13, próximo ao Passeio Público.

A Sede

   A sede do clube foi instalada, inicialmente, num imenso sobrado da Rua da Saúde, em frente ao Largo da Imperatriz, onde não só funcionavam a tesouraria, a secretaria e os serviços administrativos, como havia espaço também para as atividades sociais, pois a sede era o local predileto de encontro dos associados e simpatizantes. Mas era uma sede provisória.

   Veio depois o barracão-sede da Ilha das Moças, também na Saúde. Em seguida a sede foi mudada para um local em que é difícil se imaginar ter sido localizado à beira da praia; ficava numa travessa chama Maia, que ligava a Rua do Passeio à Santa Luzia. Mais tarde, com o engenheiro Pereira Passos à frente da prefeitura do Rio de Janeiro, a Travessa Maia desaparecia com todos os seus prédios, inclusive o da sede do Vasco (e de outros clubes: o Boqueirão, o Natação e o Internacional), para dar passagem à Avenida Rio Branco. Alguns anos depois, foi erguido no local o Palácio Monroe, que seria sede do Senado Federal, lá permanecendo até a década de 70, quando foi demolido para permitir a realização das obras do metrô carioca.

   Em 1904, o Vasco elegeu o primeiro presidente não branco de qualquer clube esportivo em atividade no Rio de Janeiro. Seria a primeira manifestação que colocaria o clube na vanguarda da luta contra o racismo, numa época em que os efeitos da abolição da escravatura ainda não eram inteiramente visíveis na sociedade brasileira.

   O presidente eleito em 1904 foi Cândido José de Araújo, um mulato forte, elegante (usava sempre um cravo branco na lapela do paletó) e que já havia prestado importantes serviços ao Vasco. Logo após a sua posse, um decreto assinado pelo presidente da República e pelo ministro da viação concedia aos clubes náuticos atingidos pelas demolições de Pereira Passos um terreno para construção de suas sedes na orla do Boqueirão e Santa Luzia. Mas a construção de uma sede naquele local implicaria em gastos que o Vasco ainda não tinha condições de realizar, preferindo o clube manter-se numa loja na Rua Santa Luzia, alugada por 325 mil-réis mensais, tendo Francisco Muniz Freire como fiador.

   Em 1912, o então presidente vascaíno, Marcílio Teles, encaminhou documento ao Ministério da Viação desistindo do terreno cedido pelo governo federal. Foi também na administração de Cândido José de Araújo que teve início o "chá das sextas-feiras", mais uma iniciativa de congraçamento da família vascaína. Em 1905, logo depois de uma visita do prefeito Pereira Passos ao clube, Cândido foi reeleito presidente do Vasco.

   Enquanto isso, o remo continuava a colecionar títulos, como o de tricampeão nos anos de 1912, 1913 e 1914.

O Futebol

   Até 1915, o Clube de Regatas Vasco da Gama ambicionava apenas títulos no remo. Para isso fora criado em 1898. Mas, em 1913, quando uma seleção de futebol de Lisboa exibiu-se no Rio a convite do Botafogo, a colônia lusa ficou tão animada que partiu para a criação de clubes de futebol na cidade. Os clubes, porém, não tiveram vida longa, exceto um, o Lusitânia que, ao ceder seus uniformes, chuteiras e bolas, fundiu-se ao Vasco, criando o departamento de futebol do clube. Tudo foi sacramentado em ata no dia 26 de novembro de 1915.

   No início do ano seguinte, o Vasco, já filiado à Liga Metropolitana e inscrito na terceira divisão, entrou no futebol. Sua estréia foi desastrosa, com uma derrota por 10 a 1 diante do Paladino. Coube a Adão Antônio Brandão marcar o primeiro gol do clube.

   A primeira vitória viria apenas em 29 de outubro de 1916, 2 a 1 sobre o River, com gols de Cândido Almeida e Alberto Costa.

   Com o passar do tempo, o que se viu foi uma organização mais apurada por parte dos vascaínos e a conseqüente evolução do time. Havia um segredo: ao contrário das demais equipes que disputavam os torneios de futebol, o Vasco arrebanhava para seu time trabalhadores comuns, negros que, misturados aos portugueses, formaram a estrutura que mudaria os rumos do futebol brasileiro. Na época, Flamengo, Fluminense, Botafogo e América, os chamados grandes, só permitiam jogadores brancos em seus times. O Paysandu e o Rio Cricket iam mais longe: só aceitavam jogadores descentes de ingleses.

O Primeiro Título do Futebol

   Em 1917, o Vasco conquistou sua ascensão para a segunda divisão, onde permaneceu até 1920, quando uma nova modificação criou duas categorias na primeira divisão, A e B. O Vasco foi conduzido para a B e, em 1922, conquistou seu primeiro troféu no futebol, a Taça Constantino. O feito empurrou o Vasco para a companhia dos temíveis grandes.

   Perturbados pela arrogância e pelo preconceito, Flamengo, Fluminense, Botafogo e América não perceberam, na chegada do novo adversário, recheado de operários e negros, algo que pudesse ameaçá-los. Pagaram caro já no primeiro ano.

   Comandado pelo uruguaio Ramon Platero, que fora tricampeão com o Fluminense, o Vasco foi atropelando seus adversários. No primeiro turno, por exemplo, o time não perdeu um jogo sequer e, pelo estilo de jogo, atraía mais e mais gente aos seus jogos. Havia alguns segredos: homem exigente, Platero fazia seus jogadores treinarem todos os dias, técnica e fisicamente, enquanto os demais times, como era comum, só se exercitavam duas ou no máximo três vezes por semana.

   Para os adversários era inadmissível que seus jogadores, geralmente com formação universitária e de famílias ricas, fossem subjugados por um time de negros e operários. Mas foram, e o título só não veio de forma invicta porque, na última rodada, uma desastrada atuação do juiz Carlito Rocha prejudicou o time na derrota para o Flamengo: ele anulou um gol que seria o de empate.

   Com o título, a popularidade vascaína aumentou. O Vasco, definitivamente, não era mais o clube apenas dos portugueses radicados no Rio, mas dos cariocas das mais diversas origens e de todas as camadas da sociedade.

A Reação dos Grandes – O Preconceito

   Apavorados com o crescente prestígio vascaíno, especialmente depois da conquista do título de 1923, os clubes grandes de então reuniram-se para exigir que o Vasco e os demais pequenos se submetessem a uma investigação em torno das posições sociais de seus atletas. A ordem era que se eliminassem os jogadores profissionais ou que não fossem capazes de assinar a súmula das partidas.

   O Vasco contava com vários analfabetos no time e, numa iniciativa pioneira, costumava a ofertar a seus jogadores galinhas, porcos e patos quando vencia numa premiação que acabaria apelidada de "bicho" e que ganharia outros contornos na fase do profissionalismo explícito. As manobras antivascaínas porém, não deram certo.

   Desesperados, os grandes partiram pra outra alternativa. Abandonaram a Liga Metropolitana e criaram a Associação Metropolitana de Esportes Amadores (AMEA). O Vasco tentou filiar-se, mas foi impedido sob o argumento de que não possuía um campo apropriado (o clube disputava seus jogos no campo da rua Moraes e Silva). Não era bem esse o problema. Tanto que foi proposto ao Vasco eliminar doze de seus jogadores, exatamente os negros e operários, para que o aceitassem na nova entidade. Não havia mais dúvida: era racismo mesmo.

     Coube ao presidente vascaíno, José Augusto Prestes, enviar ao presidente da AMEA, Arnaldo Guinle, uma carta – sem dúvida, o mais belo documento da História brasileira em defesa da democracia no futebol – manifestando o repúdio do Vasco ao racismo e deixando clara a posição do clube em relação à exigência do afastamento dos seus doze jogadores. "Estamos certos", escreveu José Augusto Prestes, "de que V. Excia. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno de nossa parte sacrificar, ao desejo de filiar-se à AMEA, alguns dos que lutaram para que tivéssemos, entre outras vitórias, a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923. São doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de suas carreiras. Um ato público que os maculasse nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles com tanta galhardia cobriram de glórias. Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Excia. que desistimos de fazer parte da AMEA."

   Em 1924, fora da liga "racista", o Vasco fez a melhor campanha da História do Campeonato Carioca: 16 vitórias em 16 jogos, ou seja, 100% por cento de aproveitamento. Esta performance, não igualada até hoje, deu ao Vasco da Gama seu primeiro título invicto.

A Construção de São Januário

   Decididos a fazer do Vasco um clube grande, os vascaínos partiram então para a construção de um estádio, passando a angariar fundos entre 1924 e 26. Listas corriam pela cidade, onde muita gente assinava, dando a contribuição que podia. O êxito foi tanto que, ao final de 1926, oito mil novos sócios tinham ingressado no clube. Em 1925, foi adquirido um terreno numa colina em São Cristóvão, que havia sido ocupada no século XIX por uma chácara doada por D. Pedro I `a Marquesa de Santos. Com a sua popularidade e seu quadro social crescendo rapidamente, e com o grande sucesso de seu plano de construção do estádio, o Vasco foi admitido na AMEA, em igualdade de condições com os clubes grandes, ainda em tempo para o campeonato de 1925. A construção do estádio coube a Cristiani & Nielsen, prestigiosa firma que pouco antes havia erguido o Jockey Club Brasileiro no hipódromo da Gávea. A pedra fundamental foi lançada no dia 6 de junho de 1926. Raul da Silva Campos era o presidente do Vasco. Menos de 11 meses depois, o clube entregava ao futebol brasileiro o estádio Vasco da Gama, mais tarde popularmente denominado de São Januário. A relação e' apenas geográfica, pois tem esse nome a rua que e' uma das principais vias de acesso ao estádio - foi aliás a única durante muito tempo, onde circulavam os bondes que levavam e traziam os torcedores - e em cujo final estão situados os portões das arquibancadas destinadas aos não-socios. Na época da sua inauguração, São Januário era o maior estádio da América do Sul e, até a inauguração do Pacaembu em 1940, seria o maior do Brasil. Jogos da seleção brasileira foram regularmente realizados em São Januário até a inauguração do Maracanã em 1950, destacando-se a conquista do Campeonato Sul-Americano pelo Brasil em 1949. Ainda hoje, São Januário é o maior e o melhor estádio particular do Rio de Janeiro. Seu recorde de publico e' de 40.209 pagantes, registrado na partida Vasco 0 x Londrina 2, em 19/2/78. Além de sua importância esportiva, o estádio foi palco de diversos eventos marcantes da História do Brasil, como comícios políticos e assembléias de sindicatos de trabalhadores. Foi durante um histórico comício de 1o. de maio em São Januário que o presidente Getulio Vargas anunciou as primeiras leis trabalhistas do Brasil.

A Inauguração do Estádio

   No jogo inaugural do seu estádio, na ensolarada tarde de 21 de abril de 1927, o Vasco enfrentou a equipe do Santos, famosíssima então pela força arrasadora do seu ataque. O Santos venceu por 5 a 3, apos um empate de 1 a 1 no primeiro tempo. Evangelista (2), Feitiço, Omar e Araken marcaram pelos santistas e Galego - o primeiro gol do Vasco no seu novo estádio -, Negrito e Pascoal pelos cruzmaltinos. Antes da partida houve várias solenidades, culminando com o corte de uma fita simbólica pelo aviador português Sarmento de Beires, realizador da travessia Lisboa-Rio comandando o avião "Argos". Várias autoridades se fizeram presentes, inclusive o presidente da República, Washington Luís. Os refletores foram inaugurados praticamente um ano depois, em 31 de março de 1928, com a realização de uma partida internacional (fato raro na época) contra o Wanderers, de Montevidéu. O Vasco venceu por 1 a 0, gol olímpico do ponta-esquerda Santana.

Os Anos 30

   Nos anos 30, muitos craques de renome vestiram a camisa do Vasco da Gama, até então sempre negra com uma faixa branca (daí o apelido de "os camisas negras"). Dentre estes craques (Russinho, Pascoal, Feitiço, Niginho), destacavam-se três gênios: Fausto (que graças à sua participação na Copa do Mundo do Uruguai em 1930 foi apelidado de "Maravilha Negra"), Domingos da Guia (considerado por muitos o melhor zagueiro da História do futebol brasileiro) e Leônidas da Silva, o "Diamante Negro", que dispensa comentários. Com esta verdadeira constelação, o Vasco foi campeão carioca em 1934 e 1936, além de ter cedido jogadores para as os selecionados nacionais que disputaram as Copas do Mundo de 30, 34 e 38.

   No remo, simplesmente não havia adversários. O Vasco foi duas vezes hexacampeão, entre 1927 e 1932 e entre 1934 e 1939. Entre 27 e 39, portanto, apenas um título escapou, o de 1933.

O "Expresso da Vitória"

   Havia uma maldição no ar até aquele ano de 1945. Oito anos antes, o Vasco humilhara o Andaraí com uma goleada de 12 a 0. Segundo a lenda, revoltado, o ponta esquerda do Andaraí, Arubinha, teria enterrado um sapo no campo de São Januário, praguejando um jejum de 12 anos sem títulos para o Vasco. O sapo jamais foi encontrado, mas o fato é que, nos anos que se seguiram, o que se viu foram tormentas incríveis cruzando o caminho vascaíno. Para se ter uma idéia, em 1942, a equipe terminou o Campeonato Carioca em sétimo lugar, uma de suas piores colocações em toda a história. Para os supersticiosos, não havia dúvida: a praga de Arubinha dera certo.

   Nada disso. Em 1943, com a contratação de Ademir, o Vasco iniciava a montagem do maior time de sua história e um dos maiores de todos os tempos no futebol brasileiro. Time que começaria a mostrar seu potencial no ano seguinte, quando ficou em segundo lugar no Campeonato Carioca, contrariando todos os prognósticos que o davam como campeão de 1944. O Vasco só não foi campeão por causa de um gol polêmico marcado pelo rubro-negro Valido, na decisão contra o Flamengo.

O Título Invicto de 1945

   Porém, em 1945, com o trio adquirido do Madureira (Lelé, Isaías e Jair, que a imprensa esportiva apelidou de "Os Três Patetas"), alem de além de Berascochea, Eli, Chico e, claro Ademir, o Vasco conquistaria seu segundo título invicto – o primeiro fora em 1924, pela Liga Metropolitana – numa campanha irretocável, sob o comando do técnico uruguaio Ondino Vieira.

   Com um ataque forte, não demoraram a surgir as goleadas. A primeira delas logo na estréia, 5 a 1 sobre o Bangu. E, no primeiro turno, um único resultado surpreendente, o empate de 1 a 1 com o Canto do Rio. O Botafogo não resistiu e perdeu por 1 a 0, o Fluminense também caiu (3 a 1) e o Flamengo achou ótimo perder de apenas 2 a 1.

   No segundo turno veio a maior goleada do campeonato, 9 a 0 sobre o Bonsucesso. Na última rodada, um empate de 2 a 2 com o Flamengo em plena Gávea garantiu o título. Esta partida, porém, quase não terminou. Inconformados com a espetacular reação vascaína, que perdia por 2 a 0 no primeiro tempo e, graças a dois gols de Isaías, chegou ao empate no segundo, os rubro-negros iniciaram uma briga que obrigou o juiz Alceu Rosa de Carvalho a interromper o jogo aos 26 minutos do segundo tempo. Os 19 minutos restantes só seriam disputados dois dias depois, nas Laranjeiras, estádio do Fluminense, e o resultado foi mantido. Nem o sapo de Arubinha poderia conter um time como aquele.

   O artilheiro do time foi Lelé, com 13 gols, seguido de Ademir com 12 e Chico, 8. Foram 18 jogos, 13 vitórias e cinco empates, 58 gols pró e 15 contra. O time base foi Rodrigues, Augusto e Rafanelli; Berascochea, Eli e Argemiro; Djalma, Ademir, Lelé, Isaías (Jair) e Chico.

   Começava a surgir o "Expresso da Vitória", que, dois anos depois, sob orientação do técnico Flávio Costa, tinha forma definida, era a base da seleção brasileira e realmente era muito difícil de ser derrotado.

O Título Invicto de 1947

   No Campeonato Carioca de 1947 o Vasco foi mesmo invencível, em que pese o bom nível de seus mais diretos adversários e a ausência de Ademir, que se transferira para o Fluminense. Em seu lugar atuou o centro-avante Dimas, o artilheiro do campeonato. Com Barbosa no gol, Augusto e Rafanelli na zaga, Danilo e Maneca no meio, Friaça, Dimas, Lelé e Chico na frente, quem venceria o Vasco?

   O Flamengo chegou até a sonhar, mas acordou com um realista 2 a 1. O Botafogo nem gol fez, ficou no 2 a 0 e o Fluminense sofreu com os atacantes vascaínos. Apesar de contar com Ademir, autor de dois gols naquele jogo, o tricolor perdeu por 5 a 3. A exemplo de 1945, a maior goleada da competição foi do Vasco: 14 a 1 no Canto do Rio, o mesmo que lhe roubara um ponto na magnífica conquista de 1945. Esta foi a maior goleada da História do futebol profissional no Rio de Janeiro.

   No segundo turno a maior vítima foi o Flamengo. Engoliu um 5 a 2, em plena Gávea, em um jogo curioso. O Vasco fez 2 a 0, com gols de Friaça e Lelé no primeiro tempo. Certo que a vitória estava assegurada, o time não cumpriu as determinações de Flávio Costa, que sempre exigia seriedade de seus jogadores, e permitiu o empate rubro negro. O que poderia ser uma virada histórica do Flamengo se transformou numa humilhante goleada. Maneca e novamente Friaça, duas vezes, se encarregaram de mostrar que o Vasco era mais time do que qualquer um, em qualquer campo. Mostrou também que ainda não seria daquela vez que o Flamengo venceria o Vasco, fato que não acontecia desde 1944.

   Foram 20 jogos, 17 vitórias e 3 empates, com 68 gols pró e 20 contra. Dimas, com 18 gols, foi o artilheiro da equipe, seguido de Maneca, com 13 e Lelé, com 10. O time base foi Barbosa, Augusto e Rafanelli; Eli, Danilo e Jorge; Friaça (Djalma), Maneca, Dimas, Lelé e Chico.

   Na esteira do sucesso estrondoso do time de futebol, o de basquete conquistava seu primeiro título (1946) e a equipe de remo iniciava em 1944 a maior série de títulos consecutivos da História do Campeonato Estadual desse esporte, que só iria terminar em 1959.

O Sul-Americano de 1948

   Que aquele time, com Barbosa, Augusto e Wilson; Eli, Danilo e Jorge; Djalma, Maneca, Friaça, Ademir e Chico, era formidável, todos os brasileiros que acompanhavam o futebol estavam cansados de saber. Mas certamente os organizadores do primeiro Campeonato Sul-Americano de Clubes, realizado em 1948, no Chile, não tinham idéia do que veriam quando fizeram o convite ao campeão carioca invicto de 1947 para representar o Brasil na competição.

   Falava-se muito dos argentinos do River Plate, liderados pelo extraordinário Alfredo Di Stefano, provavelmente o Pelé da época, e do cerebral Miguel Angel Labruna, ambos craques da seleção Argentina, a mais forte do continente. Ou do perigosíssimo artilheiro Atílio Garcia, craque do Nacional do Uruguai, outro clube convidado. Mas o fato é que, depois daquele 14 de março de 1948, quando o Vasco ergueu o troféu, a fama do Expresso da Vitória atravessou as fronteiras internacionais. O Vasco conquistou o título de maneira invicta, com 4 vitórias e 2 empates. Na partida final, um heróico empate em 0 a 0 com o River Plate, houve de tudo: pênalti defendido por Barbosa, gol anulado de Chico... Resultado: primeiro título de uma equipe brasileira no exterior, incluindo aí a Seleção Brasileira.

   O Vasco era a base da Seleção Brasileira que conquistou o Sul-Americano de 1949 e que foi vice-campeã do mundo em 1950. Nesta Copa do Mundo, nada menos do que seis jogadores eram da equipe titular do Brasil: Barbosa, Augusto, Danilo, Maneca, Ademir e Chico. Isso sem contar dois reservas (Alfredo II e Eli) e dois jogadores que haviam saído do Vasco pouco tempo antes da Copa (Jair e Friaça). Ou seja, quase um time inteiro. Ademir foi o artilheiro da Copa do Mundo com 9 gols, marca jamais superada por outro brasileiro em uma Copa. O Vasco da Gama, que ainda foi bicampeão carioca em 1949 (mais uma vez invicto) e 1950, era provavelmente o melhor time do mundo nesta época.

Os Vitoriosos Anos 50

   Na década de 50, o Vasco foi um dos clube brasileiros mais convidados a disputar torneios no exterior, graças ao prestígio alcançado pelo Expresso da Vitória. Entre os torneios internacionais conquistados, encontram-se o Torneio Internacional do Chile em 53, dois torneios internacionais no Rio naquele mesmo ano e, culminando, em 57, com as conquistas dos Torneios de Lima e Santiago, na América do Sul, e do Torneio de Paris e da Taça Teresa Herrera, durante uma arrasadora excursão a Europa. O técnico Martim Francisco pegou as equipes estrangeiras totalmente desprevenidas com a sua tática, que utilizava a descida dos homens de meio-campo para as conclusões como fator surpresa. Os apoiadores Laerte e Valter Marciano acabaram entre os principais artilheiros da excursão. Valter, inclusive, foi imediatamente contratado por um clube espanhol, mas pouco depois faleceu tragicamente num acidente automobilístico. No âmbito estadual, o Expresso da Vitória ainda deu uma última alegria à torcida, com o título de 1952. E em 56, Ademir, já no fim da carreira, despediu-se em grande estilo: Vasco campeão carioca de 1956

   Em 1958, o Vasco forneceu três jogadores a seleção campeã mundial, Bellini, Orlando e Vavá. Diga-se de passagem que Bellini foi o capitão do time (o primeiro brasileiro a erguer a Taça Jules Rimet) e que Vavá foi o artilheiro do Brasil na Copa com 5 gols. Naquele ano glorioso, o Vasco conquistou pela primeira vez o Torneio Rio-São Paulo e venceu o Campeonato Carioca de forma particularmente emocionante. Faltando duas rodadas, o Vasco levava quatro pontos de vantagem sobre Flamengo e Botafogo, mas perdeu as duas últimas partidas exatamente para estes adversários. Foi então necessário um supercampeonato entre os três, que também terminou empatado, sendo então disputado um super-supercampeonato, finalmente vencido pelo Vasco, já depois de iniciado o ano de 59. Mais uma vez o Vasco tinha um grande número de atacantes de categoria em seu plantel e se deu ao luxo de vender o campeão mundial Vavá para o Atlético de Madri ainda no início do campeonato. Mas ficaram Almir, Delém, Wilson Moreira, Roberto Pinto e Valdemar, que se revezaram no time titular nas posições do miolo do ataque, além dos pontas Sabará e Pinga, em ótima forma.

   A década de 50 também registrou o auge do Vasco da Gama em dois esportes amadores: remo e atletismo. No remo, o Vasco conseguiu em 1959 o hexadecacampeonato, ou seja, 16 títulos seguidos, numa série iniciada em 1944. No atletismo, a glória foi ainda maior: o tetracampeonato do Troféu Brasil (52/53/54/55), o mais importante torneio da modalidade no país. A principal estrela do Vasco era ninguém menos que Adhemar Ferreira da Silva, o único esportista brasileiro até hoje a ser bicampeão olímpico (duas medalhas de ouro no salto triplo, em 52 e 56). O Vasco ainda conquistou o Troféu Brasil novamente em 1958.

Os Anos 60

   Os anos 60 foram os os piores da História do Vasco em termos de conquistas. Ainda assim, o clube foi o primeiro campeão da Taça Guanabara, torneio instituído em 1965 (e que, até 1972, era disputado separadamente do Campeonato Carioca) e levou ainda, "de quebra", um Torneio Rio-São Paulo, num título que acabou dividindo com Santos, Corinthians e Botafogo. Se o futebol fraquejava, o basquete mostrava sua força: campeão carioca em 63, 65 e 69, em uma época que o Brasil era bicampeão mundial desse esporte (59/63).

A Década de 70 - O Primeiro Título Brasileiro

   Na década de 70, o primeiro título do Vasco foi o de campeão carioca de 1970, quebrando um jejum de 12 anos neste certame. Em 74, tornou-se o primeiro clube do Rio de Janeiro a levantar o Campeonato Brasileiro. Este título parecia impossível face a qualidade individual das equipes adversárias (os adversários do Vasco na fase final foram ninguém menos do que o Santos, de Pelé e Clodoaldo, o Cruzeiro, de Dirceu Lopes e Nelinho, e o Inter, de Falcão e Figueroa). Mas o Vasco terminou por arrancar o título, exibindo muita garra, coração e conjunto, derrotando o Cruzeiro na decisão por 2 a 1. O gol da vitória histórica foi marcado pelo ponta Jorginho Carvoeiro, que viria a falecer pouco mais de um ano depois. O time contava com uma forte defesa, onde pontificavam o goleiro Andrada e os zagueiros Miguel e Moisés, e uma aplicada meia-cancha jogando em função de Roberto Dinamite, que tornou-se o artilheiro da competição e consagrou-se definitivamente, partindo daí para vôos mais altos.

   Em 1977 o Vasco conquistou o campeonato carioca com uma campanha incrível: em 29 jogos, 25 vitórias, 3 empates e apenas uma derrota (América 1 a 0). Como se não bastasse, a defesa levou apenas 5 gols nestes 28 jogos, incluindo uma série de 17 jogos sem tomar gol. O título veio na decisão do segundo turno, contra o Flamengo, numa disputa de pênaltis após o placar de 0 a 0 no tempo normal. Roberto Dinamite - sempre ele - converteu a última cobrança.

   No  esporte amador, só para não perder o hábito, o Vasco continuava destroçando adversários, fosse no atletismo (campeão do Troféu Brasil em 73, 75 e 76), fosse no basquete (tetracampeão estadual em 78/79/80/81 e municipal em 79/80/81/82). O remo ainda nos deu um título estadual (e conseqüentemente um título de terra e mar) em 1970.

Roberto Dinamite - Um Capítulo à Parte

   Lançado no time quando ainda era ainda juvenil, em 1971, Roberto estufou com tal violência as redes do Internacional em um jogo pelo Brasileirão daquele ano que ganhou o apelido de "Dinamite", que o acompanhou por toda a vida. Quando abandonou a carreira, em 1993, 1110 jogos pelo Vasco e 698 gols depois, Roberto Dinamite contabilizava os seguintes feitos: três vezes artilheiro do Campeonato Carioca (1978, 1981 e 1985); duas vezes artilheiro do Campeonato Brasileiro (1974 e 1984); maior artilheiro da História do Campeonato Brasileiro (190 gols sendo 181 pelo Vasco), do Campeonato Carioca (286 gols), do Estádio de São Januário (184 gols) e do Maracanã. Isso sem falar nos títulos cariocas de 1977, 1982, 1987, 1988 e 1992 e no título brasileiro de 1974.

   Convocado para a Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 78, acabou como artilheiro do Brasil, com 3 gols, ao lado do também vascaíno Dirceu. Na Copa de 82, foi injustiçado e só foi convocado tarde demais. Acabou não entrando em nenhum jogo. Uma ironia do destino, já que justamente em 1982 Roberto atravessava a melhor fase de sua carreira. Foi o ano em que completou 500 gols e levou o Vasco ao campeonato carioca que não conquistava desde 1977. Talvez, com Roberto em campo, o Brasil tivesse tido melhor sorte no jogo contra a Itália, em que acabou derrotado por 3 a 2.

Os Anos 80

   A década de 80 foi generosa com esporte amador do Vasco da Gama. Além do título de Campeão dos Campeões do Brasil conquistado pelo basquete em 1981, o Vasco deu as cartas também no futebol de salão (campeão brasileiro e sul-americano em 1983) e no remo, onde conquistou o Troféu Brasil em 1987. No plano estadual, a Cruz de Malta ainda abocanhou os estaduais de remo em 82 (terra-e-mar) e de basquete em 83, 87 e 89.

   Porém, o melhor de tudo foi o título de Campeão Estadual de 1982, conquistado no futebol, quebrando um jejum de 5 anos (e incrivelmente de 5 vice-campeonatos seguidos) e derrotando o então campeão brasileiro, sul-americano e mundial, o Flamengo. O Vasco ainda repetiria a façanha de derrotar um campeão do mundo em 84, quando humilhou o Grêmio por 3 a 0 nas semifinais do Brasileiro de 84. Neste ano, o Vasco acabou vice-campeão brasileiro.

O Bicampeonato Estadual em 87/88

   Em 85, subiu para equipe profissional do Vasco um baixinho invocado com toda a pinta de ser o sucessor de Roberto, e os dois formaram uma das duplas mais diabólicas que já militaram no futebol carioca - a dupla "Ro-Ro", que liderou a relação de artilheiros entre 85 e 87. No campeonato carioca de 87, o Vasco foi implacável. Mais uma vez o time de melhor campanha e possuindo o ataque mais positivo, o Vasco afinal fez prevalecer a justiça numa memorável final contra o Flamengo, com um gol de Tita concluindo um passe de Roberto. Tiveram atuações destacadas ao longo de todo o campeonato Acácio, Mazinho, Dunga, Geovani e Tita, além, é claro, da dupla "Ro-Ro". No ano seguinte, reforçado pelas revelações dos juniores Sorato e Bismarck, o Vasco conquistou o bicampeonato, em que não faltou uma memorável seqüência de quatro vitórias sobre o Flamengo, coroadas com um golaço do obscuro reserva Cocada. Entre 87 e 89, o Vasco também venceu os significativos torneios internacionais Ramon de Carranza (tri em 87/88/89), na Espanha, e Copa de Ouro (87), em Los Angeles.

  O Campeonato Brasileiro de 89

Com o dinheiro arrecadado com a venda de Romário, Geovani e vários outros jogadores para o exterior, o Vasco tirou de maneira espetacular Bebeto do Flamengo, clube com o qual o jogador estava em litígio, ao depositar na federação a quantia equivalente ao seu passe. Com Bebeto e outros reforços (Zé do Carmo, Tato, Luís Carlos Wink, Boiadeiro e até uma "estrela internacional", o equatoriano Quiñónez), além da jovem promessa Mazinho (mais tarde campeão do mundo pelo Brasil), o Vasco sagrou-se em 89 campeão brasileiro pela segunda vez, derrotando o São Paulo na final em pleno Morumbi por 1 a 0, gol de Sorato.

O Tricampeonato Estadual em 92/93/94

   O campeonato estadual invicto de 92 foi conquistado até com uma certa facilidade, mesmo com o time sentindo a falta de Bebeto, vendido antes do inicio da competição ao La Coruña. No primeiro turno, o Vasco terminou com dois pontos de vantagem, e no segundo, com seis, tendo assegurado o título com duas rodadas de antecedência. Foi o quinto título estadual invicto do Vasco.

   Em 93 e 94, a disputa foi mais dura, e o Vasco teve que decidir contra o Fluminense em ambas as ocasiões. Em 93, numa melhor de quatro pontos, em que o time estava muito desfalcado mas mesmo assim garantiu o bicampeonato num empate sem gols na partida final, com Bismarck ainda perdendo um pênalti. Em 94, na ultima rodada do quadrangular final, novamente venceu o mesmo adversário, que outrora fora sempre tão difícil de superar, por 2 a 0, gols de Jardel. O Vasco, que já havia vencido o Flu na partida decisiva da Taça Guanabara com uma goleada de 4 a 1, permaneceu invicto até quatro partidas antes do fim do campeonato, quando sofreu o que viria a ser a sua única derrota numa partida contra o Flamengo, com uma arbitragem muito contestada e os jogadores ainda traumatizados pelo falecimento do jogador Dener num acidente automobilístico dias antes. Dener, uma das grandes revelações do futebol brasileiro, havia sido emprestado ao Vasco pela Portuguesa de Desportos no início do ano. E foi o primeiro nome a ser lembrado pela torcida quando o juiz apitou o final do jogo Vasco 2 x 0 Fluminense, no dia 15 de maio de 1994. Antes mesmo do tradicional "Tricampeão", podiam-se ouvir os gritos de "Olê, olê olê olê, Dener, Dener".

   No esporte amador, mais alguns títulos: a Taça São Paulo de Futebol Junior (o torneio mais importante da categoria), ganho em 1992, e o "banho" dado pelo time de futebol feminino, hexacampeão do Rio de Janeiro (92/93/94/95/96/97) e bicampeão brasileiro em 1993 e 1994. O Vasco foi, durante esta época, um dos clubes que mais cedeu atletas para as seleções brasileiras de juniores (campeã mundial em 93 com Jardel, Bruno Carvalho, Yan e Gian) e de mulheres (4o. lugar nas Olimpíadas de Atlanta com Pretinha e Meg). O basquete, só para não perder o hábito, ainda nos brindou com mais dois Estaduais: 1992 e 1997.

O Terceiro Título Brasileiro

   O Vasco começou sua participação no Campeonato Brasileiro de 1997 com um elenco reformulado. Sem ganhar nenhum título importante desde o tri carioca em 94, era chegada a hora de acabar com o "mini-jejum", que já estava começando a incomodar. O Vasco, então, reforçou-se com nomes consagrados (Mauro Galvão e Evair) e jovens promessas (Odvan e Nasa) em busca do título brasileiro que o credenciaria a disputar a Libertadores no ano do Centenário. Após um início ruim, o time foi galgando posições na tabela de classificação e não tardou em alcançar a liderança, que manteve até o fim da primeira fase. Merece destaque a excelente fase atravessada por Edmundo, que, artilheiro absoluto do certame, ainda bateu o recorde de gols em um único jogo em Campeonatos Brasileiros, ao marcar todos os gols do jogo Vasco 6 x 0 União São João. Mais tarde, ele ainda bateria um outro recorde: o de maior artilheiro de uma edição do Brasileirão, com 29 gols, superando a Reinaldo, que em 1978 havia marcado 28.

   O Vasco, primeiro classificado na primeira fase, na fase semifinal passou de passagem por Juventude (3 a 0 e 1 a 1), Portuguesa (2 a 1 e 3 a 1) e seu arqui-rival Flamengo, que após um empate em 1 a 1 teve que amargar uma derrota por 4 a 1 para o ‘Bacalhau’, em dia inspirado de Edmundo, que fez 3 gols. O Vasco chegava a final contra o Palmeiras, o vencedor do outro grupo, com a vantagem da igual diferença de gols. A primeira partida, no Morumbi, e a segunda, no Maracanã, foram duríssimas mas, com dois empates sem gols, o Vasco conquistou o seu terceiro título brasileiro, com todo o merecimento. Chegava assim o Vasco ao ano do seu Centenário laureado como campeão brasileiro, com uma oportunidade de tentar vencer a Taça Libertadores e sonhar com o Mundial de Clubes em Tóquio. Infelizmente, todavia, sem Edmundo, que deixava o Vasco rumo à Itália, para jogar pela Fiorentina.

1998: O Ano do Centenário

   Ciente da importância do ano de 1998 para a História do Vasco e consciente de que seria decepcionante se o clube atravessasse o ano sem nenhum título de envergadura, a diretoria do clube começou a investir alto ainda em 1997 e o Vasco iniciou 1998 já com dois títulos no bolso: Campeão Brasileiro de Futebol e Campeão Estadual de Basquete.

   Com um planejamento sério e cuidadoso, o objetivo era não só conseguir títulos de expressão para marcar o ano do Centenário como também promover eventos comemorativos desta data tão importante. Os eventos foram muitos: uma etapa da Copa do Mundo de natação no parque aquático do Vasco, torneios semanais de futebol de praia em Copacabana e shows com ilustres cantores vascaínos como Martinho da Vila, além de um páreo do Jockey Club Brasileiro dedicado ao Vasco e um jantar de gala no Copacabana Palace. Entretanto, nada disso teria graça se não viessem mais algumas taças para a já vasta galeria de troféus de São Januário. E é claro que isto também aconteceu.

   O Vasco logo disparou no Campeonato Carioca, ganhando o primeiro turno e motivando uma campanha maldosa dos outros três clubes grandes para desmoralizar a competição, campanha esta que não foi bem sucedida. No dia 14/5/98, o Vasco ganhou de 1 a 0 do Bangu em Moça Bonita, com um gol de Mauro Galvão já nos acréscimos, e sagrou-se campeão carioca no ano de seu Centenário.

   Entretanto, o melhor ainda estava por vir: o título da Taça Libertadores da América, conquistado após um início ruim (duas derrotas por 1 a 0), uma desgastante viagem ao México e, nas fases eliminatórias, partidas duríssimas contra os 3 últimos campeões da competição: Grêmio (1995), River Plate (1996) e Cruzeiro (1997). Na final, os equatorianos do Barcelona tentaram endurecer, transformando a disputa em uma guerra, mas no final não resistiram à maior qualidade do time cruzmaltino: perderam por 2 a 0 no Rio e por 2 a 1 em Guayaquil. Donizete e Luizão, contratados no início do ano, foram os grandes nomes da conquista: um foi o melhor jogador do torneio e, o outro, artilheiro do time. O Vasco era Bicampeão Sul-Americano, primeiro clube do Rio de Janeiro a conseguir este feito.

   Obviamente, o esporte amador não poderia de forma alguma ficar de fora da festa do Centenário. E por isso o remo, motivo primeiro da fundação do clube, deixou todos os adversários para trás e sagrou-se campeão estadual com uma regata de antecipação, recuperando a hegemonia do esporte no estado e conquistando o campeonato de terra e mar, que o Vasco não vencia desde 1982. O basquete também não decepcionou: ficou entre os semifinalistas no Campeonato Brasileiro e conquistou o Sul-Americano, primeiro título oficial do Basquete carioca.

1999-2000: Rumo ao Século XXI

   O Vasco entrou em 1999 com uma filosofia até então inédita no Brasil de investir pesado nos esportes olímpicos. Para isso, trouxe cerca de 90% dos atletas brasileiros de ponta em cada modalidade, com destaque para Adriana Behar e Shelda (Vôlei de Praia), Rodrigo Pessoa (Hipismo), Robert Scheidt (Vela) e Guilherme Tâmega (Body-boarding). Todos esses atletas são, no mínimo, os atuais tricampeões mundiais em suas modalidades. Os títulos conquistados pelo Vasco foram a conseqüência natural deste investimento: Liga Sul-Americana de Basquete, Bicampeonato Sul-Americano de Basquete, Estadual e Brasileiro de Natação, Estadual e Brasileiro de Remo... para ficar só nos mais importantes. Os pontos altos dessa história de sucesso foram, sem dúvida, as 34 medalhas conquistadas pelos atletas vascaínos nos Jogos Panamericanos de Winnipeg e a participação do time de Basquete no McDonald's Open, no qual enfrentou outros campeões continentais e tournou-se o primeiro time da América do Sul a enfrentar uma equipe da NBA, o San Antonio Spurs.

   No Futebol, o Vasco conquistou pela terceira vez o Torneio Rio-São Paulo e repatriou dois de seus maiores ídolos em todos os tempos: Edmundo e Romário. Acabou como vice-campeão carioca e 6º colocado no Campeonato Brasileiro. A confirmação do Vasco como representante sul-americano no 1º Campeonato Mundial de Clubes da FIFA fez com que o Clube corresse atrás de mais reforços ainda: Jorginho, Júnior Baiano, Válber e Alexandre Torres, todos eles craques de primeira grandeza com passagens pela Seleção Brasileira. Esses jogadores, aliados à base formada pelo Clube entre 1997 e 1999  e sob o comando de Antônio Lopes, partiram para a conquista do inédito título de campeão do mundo. Só que infelizmente, após de 3 vitórias memoráveis sobre South Melbourne, Manchester United (então campeão europeu e considerado por muitos o melhor time do mundo) e Necaxa, o Vasco não saiu do 0 a 0 contra o Corinthians e perdeu o título mundial nos pênaltis.

   A tristeza pela perda do título mundial foi sendo, aos poucos, sendo aplacada com a bela campanha no Torneio Rio-São Paulo e a conquista, de forma invicta, da Taça Guanabara, com uma goleada humilhante em cima do Flamengo, no Maracanã, por 5 a 1.

   O Vasco encerra o século XX, portanto, como a maior potência olímpica do mundo e dono, no futebol, de um dos melhores elencos do mundo. E certo de que o século vindouro reservará glórias ainda maiores para o time fundado há 102 anos na Rua da Saúde.

 

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