25. 03. 2003 Mia Couto: CARTA AO PRESIDENTE BUSH |
25. 03. 2003 Mia Couto: Brief an Präsident Bush |
Senhor Presidente: Sou um escritor de uma nação pobre, um país que já esteve na vossa lista negra. Milhões de moçambicanos desconheciam que mal vos tínhamos feito. Éramos pequenos e pobres: que ameaça poderíamos constituir? A nossa arma de destruição massiva estava, afinal, virada contra nós: era a fome e a miséria. Alguns de nós estranharam o critério que levava a que o nosso nome fosse manchado enquanto outras nações beneficiavam da vossa simpatia. Por exemplo, o nosso vizinho - a África do Sul do apartheid - violava de forma flagrante os direitos humanos. Durante décadas fomos vítimas da agressão desse regime. Mas o apartheid mereceu da vossa parte uma atitude mais branda: o chamado "envolvimento positivo". O ANC esteve também na lista negra como uma "organização terrorista!". Estranho critério que levaria a que, anos mais tarde, os taliban e o próprio Bin Laden fossem chamadas de "freedom fighters" por estrategas norte-americanos. Pois eu, pobre escritor de um pobre país, tive um sonho. Como Martin Luther King certa vez sonhou que a América era uma nação de todos os americanos. Pois sonhei que eu era não um homem mas um país. Sim, um país que não conseguia dormir. Porque vivia sobressaltado por terríveis factos. E esse temor fez com que proclamasse uma exigência. Uma exigência que tinha a ver consigo, Caro Presidente. E eu exigia que os Estados Unidos da América procedessem à eliminação do seu armamento de destruição massiva. Por razão desses terríveis perigos eu exigia mais: que inspectores das Nações Unidas fossem enviados para o vosso país. Que terríveis perigos me alertavam? Que receios o vosso país me inspirava ? Não eram produtos de sonho, infelizmente. Eram factos que alimentavam a minha desconfiança. A lista é tão grande que escolherei apenas alguns:
Acordei do pesadelo do sono para o pesadelo da realidade. A guerra que o Senhor Presidente teimou em iniciar poderá libertar-nos de um ditador. Mas ficaremos todos mais pobres. Enfrentaremos maiores dificuldades nas nossas já precárias economias e teremos menos esperança num futuro governado pela razão e pela moral. Teremos menos fé na força reguladora das Nações Unidas e das convenções do direito internacional. Estaremos, enfim, mais sós e mais desamparados. Senhor Presidente: O Iraque não é Saddam. São 22 milhões de mães e filhos, e de homens que trabalham e sonham como fazem os comuns norte-americanos. Preocupamo-nos com os males do regime de Saddam Hussein que são reais. Mas esquece-se os horrores da primeira guerra do Golfo em que perderam a vida mais de 150 000 homens. O que está destruindo massivamente os iraquianos não são armas de Saddam. São as sanções que conduziram a uma situação humanitária tão grave que dois coordenadores para ajuda das Nações Unidas (Dennis Halliday e Hans Von Sponeck) pediram a demissão em protesto contra essas mesmas sanções. Explicando a razão da sua renúncia, Halliday escreveu: "Estamos destruindo toda uma sociedade. É tão simples e terrível como isso. E isso é ilegal e imoral". Esse sistema de sanções já levou à morte meio milhão de crianças iraquianas. Mas a guerra contra o Iraque não está para começar. Já começou há muito tempo. Nas zonas de restrição áreea a Norte e Sul do Iraque acontecem continuamente bombardeamentos desde há 12 anos. Acredita-se que 500 iraquianos foram mortos desde 1999. O bombardeamento incluiu o uso massivo de urânio empobrecido (300 toneladas, ou seja 30 vezes mais do que o usado no Kosovo) Livrar-nos-emos de Saddam. Mas continuaremos prisioneiros da lógica da guerra e da arrogância. Não quero que os meus filhos (nem os seus) vivam dominados pelo fantasma do medo. E que pensem que, para viverem tranquilos, precisam de construir uma fortaleza. E que só estarão seguros quando se tiver que gastar fortunas em armas. Como o seu país que despende duzentos e setenta biliões de dólares por ano para manter o arsenal de guerra. O senhor bem sabe o que essa soma poderia ajudar a mudar o destino miserável de milhões de seres. O bispo americano Monsenhor Robert Bowan escreveu-lhe no final do ano passado uma carta intitulada "Porque é que o mundo odeia os EUA ?" O bispo da Igreja católica da Florida é um ex-combatente na guerra do Vietname. Ele sabe o que é a guerra e escreveu: "O senhor reclama que os EUA são alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Que absurdo, Sr. Presidente! Somos alvos dos terroristas porque, na maior parte do mundo, o nosso governo defendeu a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos dos terroristas porque somos odiados. E somos odiados porque o nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos países agentes do nosso governo depuseram lideres popularmente eleitos substituindo-os por ditadores militares, fantoches desejosos de vender o seu próprio povo às corporações norte-americanas multinacionais? E o bispo conclui: O povo do Canadá desfruta de democracia, de liberdade e de direitos humanos, assim como o povo da Noruega e da Suécia. Alguma vez o senhor ouviu falar de ataques a embaixadas canadianas, norueguesas ou suecas? Nós somos odiados não porque praticamos a democracia, a liberdade ou os direitos humanos. Somos odiados porque o nosso governo nega essas coisas ao povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados pelas nossas multinacionais." Senhor Presidente: Sua Excelência parece não necessitar que uma instituição internacional legitime o seu direito de intervenção militar. Ao menos que possamos nós encontrar moral e verdade na sua argumentação. Eu e mais milhões de cidadãos não ficamos convencidos quando o vimos justificar a guerra. Nós preferíamos vê-lo assinar a Convenção de Kyoto para conter o efeito de estufa. Preferíamos tê-lo visto em Durban na Conferência Internacional contra o Racismo. Não se preocupe, senhor Presidente. A nós, nações pequenas deste mundo, não nos passa pela cabeça exigir a vossa demissão por causa desse apoio que as vossas sucessivas administrações concederam apoio a não menos sucessivos ditadores. A maior ameaça que pesa sobre a América não são armamentos de outros. É o universo de mentira que se criou em redor dos vossos cidadãos. O maior perigo não é o regime de Saddam., nem nenhum outro regime. Mas o sentimento de superioridade que parece animar o seu governo. O seu inimigo principal não está fora. Está dentro dos EUA. Essa guerra só pode ser vencida pelos próprios americanos. Eu gostaria de poder festejar o derrube de Saddam Hussein. E festejar com todos os americanos. Mas sem hipocrisia, sem argumentação para consumo de diminuídos mentais. Porque nós, caro Presidente Bush, nós, os povos dos países pequenos, temos uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar. |
Herr Präsident, ich bin ein Schriftsteller einer armen Nation, einem Land, das bereits auf Ihrer schwarzen Liste stand. Millionen Mosambikaner wussten nicht, was wir Ihnen Übles angetan hatten. Wir waren klein und arm: Welche Bedrohung könnten wir nur darstellen? Unsere Massenvernichtungswaffe war schließlich gegen uns selbst gerichtet: der Hunger und das Elend... Einige von uns fragten sich, was wohl dazu geführt haben könnte, dass unser Name so befleckt wurde, während andere Nationen Ihre Sympathie genossen. Zum Beispiel, unser Nachbar das Südafrika der "Apartheid" , das in flagranter Weise die Menschenrechte missachtete. Jahrzehntelang waren wir den Angriffen dieses Regimes ausgesetzt. Aber das Regime der "Apartheid" erfuhr von Ihnen eine mildere Behandlung: die sog. "positive Einmischung". Der ANC stand auch auf Ihrer schwarzen Liste als "terroristische Organisation"! Eine seltsame Einsicht führte dann einige Jahre später dazu, dass die Taliban und selbst Bin Laden von US-Strategen als "freedom fighters" bezeichnet wurden. Nun hatte ich, armer Schriftsteller eines armen Landes, einen Traum. So wie Martin Luther King einmal träumte, dass Amerika eine Nation für alle Amerikaner sei. Ich träumte, ich sei gar kein Mensch, sondern ein Land. Ja, ein Land, das nicht schlafen konnte. Weil es angesichts fürchterlicher Umstände in ständigem Schrecken lebte. Aus dieser Angst heraus proklamierte es eine Forderung. Eine Forderung, die etwas mit Ihnen, sehr geehrter Präsident, zu tun hat. Ich forderte, dass die USA die Zerstörung ihrer Massenvernichtungswaffen vornehmen sollten. Und auf Grund dieser schrecklichen Gefahren forderte ich weiter: Dass Kontrolleure der Vereinten Nationen in Ihr Land geschickt würden. Welch schreckliche Gefahren hatten mich geschreckt? Welche Furcht hatte Ihr Land mir eingeflößt? Leider waren das gar keine Traumbilder: Tatsachen nährten mein Misstrauen. Die Liste ist so lang, dass ich nur einige davon auswähle:
Ich erwachte aus dem Schlaf-Alptraum in den Wirklichkeits-Alptraum. Der Krieg, den Sie,
Herr Präsident, unbedingt beginnen wollten, kann uns von einem Diktator befreien. Aber
wir werden dadurch alle ärmer. Wir stehen mit unseren schwachen Volkswirtschaften noch
größeren Schwierigkeiten gegenüber, und wir haben noch weniger Hoffnung, dass die
Zukunft von Vernunft und Moral geleitet wird. Wir haben weniger Vertrauen in die
Regulierungsmacht der Vereinten Nationen sowie der Konventionen des internationalen
Rechts. Kurz, wir werden noch einsamer und noch ungeschützter sein. Herr Präsident: Der Irak ist nicht Saddam. Es sind 22 Millionen Mütter und Kinder, und es sind Männer, die arbeiten und träumen, wie auch die gewöhnlichen Amerikaner. Die Übel des Regimes von Saddam Hussein, die niemand leugnen kann, machen auch uns Sorgen. Aber vergessen wir nicht die Schrecken des ersten Golfkrieges, in dem mehr als 150 000 Menschen ihr Leben ließen. Es sind aber nicht Saddams Waffen, die das irakische Volk massiv vernichten. Die Sanktionen sind es, die zu einer derart prekären humanitären Situation geführt haben, dass zwei der Leiter des Hilfsprogramms der Vereinten Nationen (Dennis Halliday e Hans Von Sponeck) aus Protest gegen ebendiese Sanktionen ihre Kündigung einreichten. Als Begründung für seine Amtsniederlegung schrieb Halliday: "Wir sind dabei, eine ganze Gesellschaft zu zerstören. So einfach und so schrecklich ist das. Das ist illegal und unmoralisch." Dieses System der Sanktionen kostete bereits einer halben Million irakischen Kindern das Leben. Aber der Krieg gegen den Irak hat nicht eben erst begonnen, er ist schon lange im Gange. In den Flugverbotszonen im Norden und Süden des Irak finden seit zwölf Jahren ständig Luftangriffe statt. Man nimmt an, dass 500 Iraker seit 1999 getötet wurden. Bei den Bombardierungen wurde massiv abgereichertes Uran eingesetzt (300 Tonnen, also 30 Mal mehr als im Kosovo). Wir werden also Saddam los. Aber wir bleiben Gefangene der Logik des Krieges und der Arroganz. Ich möchte nicht, dass meine (und Ihre) Kinder von dem Gespenst der Angst beherrscht leben. Und glauben, dass sie eine Festung bauen müssen, um in Frieden leben zu können. Und nur dann sicher sind, wenn sie ein Vermögen für Waffen ausgeben können. So wie Ihr Land, das 270 000 000 000 $ (zweihundert und siebzig Billionen Dollar) pro Jahr aufwendet, um das Kriegsarsenal aufrecht zu erhalten. Sie wissen sehr gut, dass diese Summe helfen könnte, das elende Schicksal von Millionen von Lebewesen zu wenden. Der amerikanische Bischof Robert Bowan schrieb Ihnen Ende des letzten Jahres einen Brief mit der Überschrift: "Warum nur hasst die Welt die USA?" Der Bischof der katholischen Kirche von Florida ist Kriegsveteran von Vietnam. Es weiß also recht gut, was Krieg bedeutet, und er schrieb: "Sie behaupten, dass die USA Ziel des Terrorismus sind, weil wir Demokratie, Freiheit und Menschenrechte verteidigen. Welch ein Unsinn, Herr Präsident! Wir sind Ziele der Terroristen, weil unsere Regierung in weiten Teilen der Welt Diktatur, Sklaverei und die Ausbeutung der Menschen verteidigt. Wir sind Ziele der Terroristen, weil wir gehasst werden. Weil unsere Regierung hassenswerte Dinge gemacht hat. In wie vielen Ländern haben Agenten unserer Regierung vom Volk gewählte Politiker abgesetzt und sie durch Militärdiktaturen ersetzt, Marionetten, die begierig ihr eigenes Volk an die amerikanischen Multis verschachern?" Und der Bischof schließt so: "Das Volk Kanadas genießt Demokratie, Freiheit und Menschenrechte, wie auch das Volk von Norwegen und Schweden. Haben Sie je von Anschlägen auf kanadische, norwegische oder schwedische Botschaften gehört? Wir werden nicht gehasst, weil wir Demokratie, Freiheit und Menschenrechte hochhalten. Wir werden gehasst, weil unsere Regierung diese Dinge den Völkern der Länder der Dritten Welt vorenthält, und unsere Multis gieren nach ihren Ressourcen."
Herr Präsident, Sie scheinen keine internationale Einrichtung zu brauchen, die Ihre militärische Intervention legitimiert. Wenn wir wenigstens Moral und Wahrheit in ihrer Argumentation finden könnten! Als wir Sie diesen Krieg verteidigen sahen, haben Sie mich und viele Millionen Bürger nicht überzeugt. Wir hätten es lieber gesehen, wenn Sie die Konvention von Kyoto unterzeichnet hätten, um den Treibhauseffekt einzugrenzen. Wir hätten Sie lieber in Durban auf der Internationalen Konferenz gegen den Rassismus gesehen. Aber sorgen Sie sich nicht, Herr Präsident. Wir, die kleinen Nationen dieser Welt denken ja gar nicht daran, wegen der Unterstützung, die die aufeinanderfolgenden Regierungen Ihres Landes den nicht weniger aufeinanderfolgenden Diktatoren zuteil werden ließen, Ihren Rücktritt zu fordern. Die größte Bedrohung, die auf Amerika lastet, sind nämlich nicht Waffen der anderen. Es ist das Universum der Lüge, das um Ihre Bürger herum geschaffen wurde. Die Gefahr ist nicht das Regime von Saddam, noch irgendein anderes Regime. Sondern das Gefühl der Überheblichkeit, das Ihre Regierung zu treiben scheint. Ihr Hauptfeind ist gar nicht auswärts. Er ist in den USA selbst. Dieser Krieg kann nur von den Amerikaner selbst gewonnen werden. Ich würde gerne den Sturz von Saddam Hussein feiern können. Und zusammen mit allen Amerikanern feiern. Aber ohne Scheinheiligkeit, ohne eine Argumentation zum Gebrauch von Verblödeten. Denn wir, sehr verehrter Präsident Bush, wir, die Völker der kleinen Länder, haben eine Massenerrichtungswaffe: die Fähigkeit zu denken. |