Notas da autora: A esta altura, todo mundo já sabe que este é um trabalho de fã e não rende dinheiro. Se quiser uma explicação melhor, tente o capítulo 1...


A vida nos faz entender - Parte 5

 

"O que foi que eu fiz de errado?"

Essas foram as palavras no pensamento de Ken nos dias que se seguiram. O rapaz não conseguia entender o que Yolei tinha para, de uma hora para outra, mudar tanto assim. E, o que era pior, ter algum motivo para não falar mais com ele, sem nem mesmo explicar o que era.

Todas as vezes em que ele tentava ligar para ela, ou Poromon dizia que ela não estava, ou simplesmente tinha o telefone desligado na cara dele. Encontrar com ela por acidente não resolvia nada, e marcar para falar com ela, nem pensar. Por mais que ele refletisse sobre isso, nada poderia justificar esse comportamento tão repentino da garota.

Isso o estava deixando maluco. Mas, ao mesmo tempo, o deixava preocupado. Se havia algo de errado com a sua amiga, ele queria ao menos saber o que era. Mas quando mais ele se dispunha a perguntar, mais era ignorado.

E os dias foram passando. Ao contrário do que ele pensava, o tempo sem vê-la não o ajudou a esquecer dela. Ele sentia confusão, por não entender o que se passava. Ele sentia culpa, porque, intimamente, achava que tudo isso se devia a alguma coisa que ele tinha feito, embora não soubesse bem o quê. E a confusão vinha de novo.

Em certas horas, ele pensava em deixá-la em paz de uma vez e fingir que nada estava acontecendo. E ele tentou, de fato, fazer isso. Mas até mesmo Wormmon podia ver que essa não era a decisão que o deixava mais feliz...

- O Kenzinho não está bem? - perguntou o digimon a seu parceiro, ao vê-lo um tanto deprimido, sentado diante do computador.

- Me desculpe por te preocupar - ele respondeu, com um sorriso leve e um pouco vazio.

- Se você está triste, pode contar para mim o que você está sentindo, que eu ajudo...

- Pode soar meio idiota, mas eu estou preocupado com alguém que faz questão de fingir que eu não existo.

- Tá falando da Yolei, Ken?

- É, estou sim, Wormmon. Você tem visto como ela me trata nesses últimos tempos. - ele disse, embora seu tom de voz não tivesse nada de acusador. - Mas é engraçado, porque eu não sinto raiva dela.

- Isso é porque o Kenzinho é uma pessoa boa. Não dá de disfarçar o seu lado gentil, porque você sempre se preocupa com os outros, que eu sei. Especialmente quando são seus amigos.

Ken não disse nada. Se alguém o conhecia, esse alguém era Wormmon, e ouvir o que ele dizia era quase como ouvir a própria consciência.

- Você acha que eu fiz algo de errado? Eu penso, penso, mas...

- Você não fez nada de errado... - ele disse, de maneira consoladora. - A Yolei também é uma boa menina, Ken. Eu não acho que ela iria te maltratar desse jeito só para te ver mal. Se ela está agindo assim, talvez ela esteja passando por algum momento difícil.

- Eu sei, Wormmon, mas... eu queria que ela me contasse...

E foi então que Ken mostrou uma expressão quase indecifrável para aqueles que não o conheciam, mas inconfundível para seu amigo digimon. Wormmon achou melhor não dizer nada sobre o que tinha visto. Ao invés disso, concluiu:

- Hoje é dia da Yolei voltar mais tarde para casa, Ken. Quem sabe, se você procurá-la no caminho pelo qual ela passa, você possa falar com ela.

Ken parou por um instante, refletiu um pouco e levantou-se da cadeira.

- Você tem razão, Wormmon. Eu tenho que procurá-la e perguntar de uma vez. Você vem comigo?

- É melhor você ir. Eu tenho o que fazer em casa e não vou ser de muita ajuda...

- Você é quem sabe... se precisar, você me procura, tudo bem? - ele disse, já na porta do quarto.

- Tá bem... boa sorte, Kenzinho...

- Obrigado! Eu estou indo!

E o digimon permaneceu serenamente no quarto. Subiu até a altura da janela e observou seu parceiro sair correndo pela rua.

"Aquela expressão dele... tem algo mais na Yolei do que uma amiga para o Kenzinho, isso tem...".

 


Já era final da tarde, e Yolei voltava para casa depois de ajudar no laboratório de informática da escola. Sua mente, pela primeira vez em muito tempo, estava completamente vazia. Nada de preocupações, nada de pensamentos profundos. Um dia em que ela realmente se sentia em paz.

Mas ela não sorria.

O final de tarde se mostrava em sua beleza no céu cor-de-fogo. A rua vazia e silenciosa parecia refletir o estado de espírito daquela que por ali transitava.

Tão distraída estava a garota que, quando Ken apareceu de uma esquina, correndo, ela nem mesmo percebeu que era ele. Ou talvez, por um segundo, ela simplesmente não tenha percebido o significado de tudo isso.

De repente, ela parou, e tudo fez sentido. Aquele era Ken, e ali estava ele, vindo em sua direção. Ela pensou em fugir, mas não tinha como. Ela pensou em falar com ele, mas depois de tê-lo ignorado tanto, mal tinha como encará-lo. Tal indecisão a manteve parada até que ele estivesse a uns cinco passos dela, já caminhando.

Como um animal acuado, ela instintivamente colocou um dos pés para trás, enquanto ele se aproximava. Quando decidiu correr, já era tarde demais: ele já a segurava, como da outra vez, pelo braço, quase na altura do pulso.

Ela resistia em olhar para ele. Ken não disse uma palavra sequer, até que ela finalmente relaxou o braço o suficiente para mostrar que não ia mais correr. Mesmo assim, ele não a soltou.

- Antes que você vá embora de novo, eu preciso falar com você.

Por alguma razão, ela temia a reação dele. O tom de sua voz era sério e firme, quase como o de quem dá uma ordem. Ele provavelmente não estava nada feliz com ela, e tinha seus motivos.

- Me desculpa, Ken - ela disse, tão baixo que ele mal conseguiu ouvir.

- O quê?

A resposta verbal não veio. Toda a explicação dada por ela veio, sim, quando Ken ouviu que a menina de costas para ele estava chorando.

- Yolei, eu não sei o que foi que eu fiz de errado para você ficar desse jeito, mas se ao menos você dissesse para mim...

- Não tem nada a ver com você, Ken. Eu é que sou uma idiota - ela disse, num misto de tristeza e vergonha.

Apesar de todo um peso na consciência começar a deixar a mente do rapaz, este foi substituído por uma nova preocupação. Ela dizia que a culpa era dela, mas que culpa era aquela?

- Você? Mas... por quê? Eu não entendo!

Ela não sabia o que dizer. Ficou parada, de costas, chorando, tentando se livrar da pergunta que a pressionava. Ele esperava que ela dissesse alguma coisa, mas o silêncio de Yolei piorou ainda mais a situação. Ele precisava saber o que estava havendo.

- Olhe para mim, Yolei, por favor...

- Não... você não entenderia...

Aquilo já era demais. Não era mais o sofrimento de Yolei, mas o dele próprio que o sufocava. Machucado por dentro, ele a puxou em sua direção e repousou sua tristeza no corpo dela, num abraço desesperado.

- Não faça isso comigo! - ele disse, baixinho, meio para ela e meio para si mesmo. - Tudo que você faz é fugir de mim sem eu saber por quê... eu não agüento mais, eu juro que não...

O braço esquerdo dele lhe envolvia as costas. A mão direita em sua nuca forçava sua face contra a dele. Por essa, Yolei não esperava. Surpresa e rubra, com o coração acelerado, ele estava nos braços dele. Muitas tinham sido as vezes em que essa situação passara por sua cabeça, mas havia sido drasticamente expulsa por uma mente em confusão. Algo que ela se forçava a não querer, mas desejava do fundo do coração. E agora ela estava, de verdade, nos braços dele...

- Não vou mais deixar você fugir...

Quando o coração dela finalmente se deu por vencido, já não era mais possível conter o calor que se espalhava pelo seu corpo como uma onda. Yolei não quis falar, não quis pensar, não quis nada. Por ela só passava o desejo de que aquele momento não acabasse mais.

Aquele garoto que a abraçava era Ken Ichijouji, e ele era, definitivamente, especial para ela.

E ela estava para colocar isso a limpo. Tudo que conseguiu fazer foi erguer a mão direita e, para surpresa dele, também segurá-lo pela nuca. A leve distância que ele deixou do rosto dela foi apenas suficiente para olhar em seus olhos uma última vez, antes que ela se aproximasse de novo, mas, desta vez, para beijá-lo na boca.


Hosted by www.Geocities.ws

1