Notas da autora: Digimon não meu! Povo não meu! Mim fã! Mim sem grana! Não processar! Agradecer! Uga, uga! :P


A vida nos faz entender - Parte 4

 

A animação era geral. Garotas, rapazes e digimons se divertiam todos juntos como há muito tempo não faziam. Mal repararam eles quando a porta se abriu para o último dos digiescolhidos.

- Er... sinto muito, gente, mas não consegui vir mais cedo...

Yolei bem que tentou, mas não conseguiu ficar indiferente à chegada de Ken. Ela havia acabado uma música há pouco. De certa fora, agradeceu por isso, porque se ele a visse dançar...

Ela virou-se, foi até ele e cumprimentou-o com um sorriso forçado. Ele sentou-se e conversou normalmente com todo mundo. Wormmon tinha vindo junto, e também entrou rápido na conversa. Espiava o parceiro de vez em quando, com seu olhar zeloso de sempre. Mas também reparava na súbita mudança de comportamento de Yolei.

Todo mundo, na verdade, achou estranho ela ter dispensado o karaoke e reclamado de dor nos pés, negando-se a dançar mais. Quanto mais o tempo passava, mas ela se sentia desconfortável à presença do garoto de cabelos azuis. Mal falava com ele, inventava mil desculpas. Ela odiava isso, mas não podia evitar. Nem as conversas, nem as risadas eram capaz de tirá-la daquela situação.

Uma hora depois, Yolei decidiu que não valia a pena continuar ali. Ela só ia se incomodar e trazer um clima chato à festa. Inventando uma desculpa qualquer, despediu-se de todos, tentando aparentar a alegria de sempre. Falou com Poromon para que ele fosse sozinho para casa mais tarde, aproveitando a festa mais um pouco. Saiu pela porta como se nada fosse nada. Mas, por dentro, sentia-se mal. Sentia-se estranha, desconfortável consigo mesma.

Quando Ken viu que ela estava de saída, pediu licença e foi em direção à porta. Tinha algo errado com ela.

Ela parou no corredor, assim que fechou a porta atrás dela. Ficou ali parada, sem motivo, por algum tempo. "A festa ia muito bem. Eu estava contente de ver meus amigos de novo. Eu dancei, ri, me diverti. Aí, ele chegou. E eu fui incapaz de continuar eu mesma. Ele não tem culpa de nada. Não me fez nada. Eu não faço por querer. Mas se ninguém faz nada, porque eu estou assim? Por que isso está acabando comigo? Mas que droga!!!"

- Yolei?

"Hã?" - foi tudo o que pôde pensar, ao ouvir a voz que vinha de alguém atrás dela. Virou-se e viu Ken, como ela já sabia. Não tinha vontade de simplesmente fugir dele. Queria dar uma ótima explicação para a sua atitude, mas não tinha nenhuma.

- Você já vai mesmo?

- É, eu vou, sim... acho que... acabei abusando no início e fiquei cansada - conseguiu inventar.

- Mas que pena! A gente não conseguiu conversar quase nada...

- É... tem razão. Mas eu estou mesmo cansada, então eu já vou...

- Yolei! - ele chamou, subitamente, segurando-a pelo braço. Ele a segurava de maneira gentil, porém firme. Ela se lembrava da sensação. Ela se sentia horrível, porque, realmente, não queria estar pensando nisso num momento sério como aquele. Tudo o que queria era se livrar daquela situação que a encurralava.

- Tive a impressão de que você me evitou na festa. Por que não me conta o que você tem?

Como se já não fosse demais a ter prendido ali, ele a forçava, inconscientemente, a ouvir sua voz. Ela não tinha saída. Agora, ela queria fugir. Só que algo dentro dela a implorava para ficar. Ao mesmo tempo, aquilo a torturava e a seduzia. Uma contradição gigantesca surgiu em sua cabeça, como sempre. Era demais para ela.

- Eu... eu...

E Yolei começou a chorar. Foi um choque para Ken. Tão surpreso estava, que soltou um pouco o braço da garota. Ela não precisou fazer muita força para livrar-se dele e sair correndo, tão rápido quanto suas pernas lhe permitiam. Ela nunca teria uma resposta para ele enquanto não compreendesse o que se passava em sua própria cabeça - e seu próprio coração.


Ken voltou para a festa, que não estava muito longe do final, de qualquer maneira. Assim que entrou na sala, todos voltaram sua atenção para ele, como se Ken pudesse lhes dar alguma explicação.

- O que houve com ela, Ken? Ela falou por que foi embora? - perguntou Izzy.

- Não, ela não disse nada. Só repetiu o que disse aqui dentro e saiu... - o garoto respondeu, quase decepcionado.

- Ora, gente! - exclamou Davis. - Como vocês são desconfiados! Se ela disse que estava cansada, é porque ela estava cansada!

- Você é tão ingênuo, Davis... - disse Kari, num tom de crítica que deixou o garoto pouco à vontade. - Eu não sei bem, mas de repente ela ficou esquisita... será que se sentiu mal ou alguma coisa?

- Não tenho nem idéia - afirmou Tai. - Mas, mesmo assim, porque ela não contaria nada para a gente?

- Talvez para não atrapalhar com o clima da festa. Ela pode ter tentado sair de fininho pensando na gente - Mimi opinou.

- Tarde demais... - disse Matt, encerrando a discussão. De fato, era tarde demais. O fato de Yolei ter saído dessa maneira realmente afetou o humor de todo mundo.

- Bom, eu tinha mesmo que ir embora... - Cody disse, apanhando suas coisas. Em pouco tempo, estavam todos se arrumando para ir. Ninguém tinha mais ânimo de continuar uma festa entre amigos depois daquilo.

Ken ficou até o final para ajudar a organizar a casa dos Kamiya, do jeito que podia. Depois, despediu-se que quem ainda estava lá, pegou Wormmon no colo e saiu para voltar para casa. Parecia tudo bem com ele, mas, por dentro...

"Não sei por que, mas tenho a impressão de que... foi culpa minha..."


No dia seguinte, as aulas foram normais. Yolei fez o máximo possível para não se sentir culpada, mas obviamente não conseguiu, especialmente depois que Poromon disse a ela que a reunião tinha acaba logo depois de ela ter saído. O que parecia ser o melhor para todo mundo acabou não sendo. O digimon perguntou a ela qual era o problema, mas sem sucesso. Cody também a visitou e saiu da casa dela mais em dúvida do que entrou.

"Eu tenho sido uma estúpida, ultimamente... Quanto mais eu tento me esquecer disso, mas eu venho me dando conta de que não dá. É algo meio súbito, mas acho que..."

O sinal tocou, deixando pouco tempo para ela e suas reflexões. Ao final das aulas, ela voltou para casa e percebeu que, milagrosamente, ela era a única ali dentro. Isso definitivamente não era comum, mas Yolei preferiu não desperdiçar a oportunidade. Jogou-se no sofá, ligou a TV da sala e pôde, pela primeira vez em muito tempo, assistir ao programa que ela escolheu...

Poromon logo se juntou a ela. Yolei distraiu-se totalmente, diante daquele programa que, no fundo, nem era assim tão espetacular. O digimon parecia bem mais interessado, de fato.

Por isso mesmo, quando o telefone tocou, foi a garota que se dispôs a atender, com preguiça.

- Alô, é da casa dos Inoue.

- Alô? É você, Yolei? Você saiu tão rápido que me deixou preocupado. Você está bem?

Naquele momento, o susto quase a fez ficar sem ar. Ela mal escutava o que, exatamente, estava sendo falado.

- Yolei?

Nisso, a primeira reação dela foi desligar o telefone. Inconscientemente, ela acabou batendo o telefone na cara dele. Só foi se dar conta disso alguns momentos depois.

"Minha nossa, o que foi que eu fiz?", pensou, assustada consigo mesma.

- Yolei, o que foi? - seu parceiro perguntou.

- Nada, não é nada! Foi só engano! - tentou disfarçar, com um sorriso amarelo. Só que não conseguiu.

- Eu... acho que sei quem era ao telefone... - ele disse, com cuidado. Ela permaneceu calada. - Por que você está evitando o Ken, Yolei? Ele te fez alguma coisa?

A pergunta foi feita, e lá estava ela, encurralada novamente.

- É tão óbvio assim que eu o estou evitando?

- Não, não é, não. Mas eu sou o seu parceiro, e eu te conheço bem. Se você fica assim, é porque algo está te perturbando. Além do mais, eu sou mais esperto do que você pensa. Agora, eu vou repetir a pergunta: ele te fez alguma coisa?

Constrangida, não sabia exatamente para onde olhar, mas também sabia que não havia escapatória. Mais cedo ou mais tarde, ela teria que responder.

- Ele não me fez nada, Poromon. Eu é que estou agindo esquisito, e nem sei por que direito... isso está me deixando louca...

- Mas por que você foge? Está com medo de alguma coisa?

E a garota não deu resposta alguma, esperando que o digimon não fizesse a pergunta que ela mais temia. Uma pergunta que ela não sabia responder nem para si própria...

- Você tá gostando dele, Yolei?

Ela ficou um tanto sem reação por um tempinho, depois esbravejou, vermelha e constrangida:

- Eu não estou gostando do Ken!!!

Mas, logo em seguida, baixou a cabeça. Olhou no mais profundo de sua alma. Se queria ficar em paz, tinha que começar acabando com as mentiras.

- Talvez eu... esteja gostando dele... eu realmente não sei lidar com isso... - ela disse, de cabeça baixa, de modo que seus olhos não pudessem ser vistos. - Quando eu o achava lindo, quando eu tinha uma queda por ele, era muito fácil. Eu o admirava quase como uma fã. Mas agora, quando eu chego perto dele... acontece algo... algo mais forte, que varre meu corpo inteiro. Isso mexe comigo, eu começo a me sentir insegura, até tímida. Eu não sou assim... eu me sinto mal! Acho que é por isso que... eu fujo...

Ela mal havia se dado conta de que tinha dito tudo aquilo em voz alta, mas, de qualquer forma, as coisas pareciam um pouco mais claras depois dessas conclusões.

Satisfeito com o que acabara de descobrir, o digimon deixou sua parceira em paz. Nada mais de perguntas para ela. Em silêncio, ele esperou até que Yolei fosse para o quarto e continuou a ver televisão, fingindo que não era da sua conta. Apesar disso, no fundo, ele sabia que esse desabafo ia ajudar a sua amiga.


Os dias foram passando um a um. Rotina. As aulas continuavam a todo vapor, e todos os digiescolhidos se concentravam (uns mais, outros menos) nos seus estudos. Yolei não fugia à regra e, ainda por cima, tentava usar isso para desviar seus pensamentos do "problema maior". Ela já começava a lidar, pouco a pouco, com as emoções dentro de si, mas falar com o rapaz como se nada fosse nada ainda era uma tarefa complicada.

Os dias logo deram lugar às semanas. A garota seguia sua vida normalmente. Tinha ido fazer algumas compras para a mãe como desculpa para sair de casa. A sacola não era pesada, mas uma certa dor nos pés já a incomodava.

"Ai, por que eu inventei isto? Será que eu não tinha nada melhor para fazer, não?"

Nisso, ela olhou para a frente. A calçada era larga, e a esquina se aproximava a cada passo. Foi quando se deu conta de que alguém vinha em sua direção...

Ken vinha em direção contrária, na mesma calçada que Yolei. Por algum motivo, trazia a pasta da escola e parecia um pouco cansado e distante, enquanto caminhava olhando para o chão. Um barulho de passos rápidos chamou a atenção dele. Alguém estava passando bem do seu lado. Não teria valido o esforço de erguer a cabeça para olhar quem era se não fosse aquele sinal...

Aquele rastro de lavanda...

Quando se deu conta, já era tarde demais para evitar um pequeno esbarrão na garota. Ele viu que ela o olhou de relance, mas nem por um segundo ela parou. Andando ainda mais rápido, prosseguiu seu caminho sem nem mesmo cumprimentá-lo.

Isso não era normal.

Ela já ia longe, quando Ken parou no meio da calçada e ficou vendo Yolei prosseguir seu caminho apressadamente.

"Tenho certeza de que ela me viu. Mas ela não me deu sequer chance de falar com ela. Ela está me evitando, eu sei que está. Por que, Yolei? O que foi que eu fiz de errado?"


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