Televisão X Cinema

As histórias da televisão e do cinema são Universos conflitantes?

Antes de mais nada, é necessário que se explique a origem do sucesso "Highlander". O personagem do Guerreiro Imortal foi inventado por Gregory Widen, à época um rapaz mal saído da escola de cinema que escreveu o roteiro enquanto trabalhava como assistente em um estúdio de Hollywood. Widen levou sua obra ao australiano Russell Mulcahy, famoso diretor de videoclips que ficou seduzido pelo que leu: "É uma das melhores histórias que li nos últimos tempos, e olha que eu tenho lido mil roteiros. Este é um verdadeiro milagre de imaginação", declarou Mulcahy, segundo reportagem sobre o filme publicado pela revista BIZZ quando do lançamento no Brasil.

O filme "Highlander" foi considerado um marco na linguagem visual do cinema por ter introduzido o estilo videoclip e pela trilha sonora fantástica, com músicas de Michael Kamen e a banda Queen num dos melhores momentos de sua carreira, além de criar um herói completamente diferente de todos os personagens já conhecidos: um Imortal que precisa decapitar seus semelhantes para absorver seus poderes numa explosão de transferência chamada "Iluminação" (Quickening) e sobreviver ao chamado "Jogo" (Game) até a época da "Reunião" (Gathering), em que os últimos Imortais do mundo lutarão até que apenas um saia vencedor e conquiste o "Prêmio" (The Prize), possuindo a força e a inteligência de todos os Imortais juntos e podendo assim dirigir os destinos da Humanidade. Como há Imortais bons e maus, o Jogo é na verdade uma luta para decidir se a raça humana será guiada por um Sábio ou cairá nas mãos do pior tirano que se possa imaginar... Some-se a isso uma carga de efeitos especiais grandiosos e tem-se um sucesso estrondoso, especialmente entre os jovens.

No filme, o personagem central é o Imortal escocês Connor MacLeod, vivido por Christopher Lambert. Connor seria um dos últimos Imortais vivos e é o herói que derrota o malvado Kurgan na batalha final, recebendo então o Prêmio da suprema sabedoria e a glória de tornar-se um mortal comum, após 450 anos de lutas. Com o sucesso do primeiro filme, logo inventou-se uma sequência, "Highlander 2", onde pretendeu-se explicar a origem da raça dos Imortais como sendo rebeldes exilados do planeta Zeist, extraterrestres que usariam a Terra como um campo de batalha para purgarem seus crimes contra o tirano de seu planeta de origem. O Prêmio mudou de figura e passou a ter uma opção: ou a vida como um mortal comum e extremamente sábio na Terra, ou ser perdoado e voltar a Zeist. Com isso, Connor, um mortal já velho e vivendo numa Nova York sombria num futuro distante, miraculosamente volta a ser jovem para enfrentar novos ETs que vieram para levá-lo de volta a Zeist à força. O público detestou a idéia estapafúrdia e o filme foi um fracasso. Para tentar levantar a moral da personagem, criou-se "Highlander 3: O Feiticeiro", que pretendia ser a continuação do primeiro filme do ponto onde havia parado, mas deletando a idéia de que Connor tenha sido o último Imortal: haveria outro inimigo de Connor, que estaria preso há séculos numa caverna no Oriente, mas que foi libertado por escavações arqueológicas. Como a história também não colou e os efeitos especiais serviam apenas para disfarçar um péssimo roteiro, o filme caiu no esquecimento.

Paralelo ao Universo do cinema, em 1992 a produtora independente Rysher lançou a série "Highlander" para a televisão. Para evitar brigas com os fãs do filme original, criou-se a personagem Duncan MacLeod, interpretado por Adrian Paul, como outro Imortal nascido décadas depois no mesmo clã de Connor e, portanto, seu parente mais novo. Connor teria sido o primeiro professor Imortal de Duncan, no século XVII. O primeiro episódio da série traz inclusive os dois "primos" juntos, com Connor visitando Duncan nos dias atuais para lembrá-lo de que a época do Grande Encontro está próxima e ajudá-lo a combater um Imortal de maus bofes. Connor nunca mais apareceu em nenhum outro dos 119 episódios da série, que terminou em 1998, mas é constantemente citado por Duncan como seu mestre e grande ídolo, com quem teria se encontrado diversas vezes ao longo de seus 400 anos de vida.

A série é um sucesso ainda hoje e o ardor de seus fãs só encontra comparação nos Trekkers, fãs de "Star Trek" ("Jornada nas Estrelas"), e nos X-ers, fãs de "X-Files" ("Arquivo X"). Para aproveitar o mercado, a Rysher lançou a série "Highlander: The Raven", baseada na ladra Imortal Amanda, amante de Duncan na série original. Infelizmente a produtora não teve dinheiro para continuar o projeto e a série acabou no fim do primeiro ano, deixando uma legião ainda maior de fãs ansiando por novas histórias. Há ainda a série de desenhos animados, surgida em 1994, baseada tanto nos filmes quanto na série de TV e ambientada num futuro distante onde os Imortais combateriam robôs.

Para piorar a bagunça, em setembro de 2000 foi lançado nos EUA o quarto filme, "Highlander: Endgame", onde Connor e Duncan, assombrados por eventos do passado, precisam se unir para derrotar o poderoso Imortal Jacob Kell e sua gangue nada amistosa. Só que, para vencê-lo, um dos dois heróis terá que entregar a vida ao outro, para que seus poderes somados possam superar os de Kell. Como Christopher Lambert já não estava mais disposto a reviver seu personagem no cinema e o Universo das séries parecia mais promissor para gerar novas continuações, com Methos e os Watchers estreando na telona, Connor é quem acaba perdendo a cabeça para Duncan, que logicamente vence o malvadão da vez. É óbvio que essa solução desagradou a muitos fãs, mesmo os das séries...

A última investida foi a microssérie animada "The Methos Chronicles", disponível apenas pela internet em episódios de um minuto, narrando uma aventura ligada ao passado remoto de Methos, o Imortal mais velho ainda vivo e amigo de Duncan. Apesar de contar com a dublagem do ator Peter Wingfield, que interpretou Methos na primeira série e no cinema, os desenhos de baixa qualidade foram duramente criticados pelos fãs, que preferiam que Methos aparecesse em uma terceira série na TV. Assim, a microssérie acabou no final da primeira temporada, com apenas oito capítulos, interrompendo a aventura pela metade, e foi logo retirada do ar.

Como se não bastassem tantas histórias, foram lançadas em vídeo, DVD e laserdisc versões diferentes para os quatro filmes, as chamadas "Director's Cut" ("Edição do Diretor"), "Renegade Version" ("Versão Renegada"), "Expanded Version" ("Versão Expandida") e outras, que alteraram bastante o conteúdo original das histórias. O segundo filme, por exemplo, eliminou todos os vestígios de Zeist de sua história em seu "Director's Cut"!

Nem é preciso dizer que, com tantos filmes e séries, o chamado Cânon, ou as leis básicas do Universo dos Imortais, acabou um bocado deturpado e confuso. Alguns fãs do primeiro filme decidiram ignorar as continuações do cinema e as duas séries, alegando que Connor ganhou o Prêmio e ponto final. Outros, seduzidos pelas séries, fecham os olhos a esse "detalhe" (Connor "achou" que tivesse ganho o Prêmio...) e, também ignorando os outros dois filmes (ou pelo menos o segundo), tomam Duncan como sucessor de Connor a partir de "Endgame"; Amanda, queridinha de Duncan, foi adotada por tabela com seu terceiro Universo. Outros ainda tentam um meio termo, em que os Universos do cinema e da TV são apenas paralelos, não se excluindo mutuamente.

Como sou fã tanto de Duncan quanto de Connor (e agradeço por seu sucesso, senão Duncan e todos os outros jamais teriam sido criados!) e de todos os outros Imortais de todos os Universos, não critico nenhuma postura e aceito qualquer um como vencedor do Prêmio. Não estou aqui para discutir, apesar de ter minha torcida secreta, é claro!

Aka Draven MacWacko

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