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- ESPIRITISMO KARDECISTA -
(RELIGIÃO CRISTÃ ESPÍRITA KARDECISTA)

 
 

EXPLICAÇÕES DE A - Z

 

OBS: estas respostas foram retiradas do LIVRO DOS MÉDIUNS
respondidas por diversos Espíritos de Luz e Superiores do Bem na Sociedade de Paris, tais:

São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, 

O Espírito
da Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, e outros.


159. Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é,
por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um
privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns
rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia,
usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra
bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então
depende de uma organização mais ou menos sensitiva. E de notar-se, além disso, que
essa faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos. Geralmente,
os médiuns têm uma aptidão especial para os fenômenos desta, ou daquela ordem,
donde resulta que formam tantas variedades, quantas são as espécies de manifestações.
As principais são: a dos médiuns de efeitos físicos; a dos médiuns sensitivos, ou
impressionáveis; a dos audientes; a dos videntes; a dos sonambúlicos; a dos
curadores; a dos pneumatógrafos; a dos escreventes, ou psicógrafos.

1. Médiuns de efeitos físicos

160. Os médiuns de efeitos físicos são particularmente aptos a produzir
fenômenos materiais, como os movimentos dos corpos inertes, ou ruídos, etc. Podem
dividir-se em médiuns facultativos e médiuns involuntários. (Veja-se a 2ª parte, caps. II e IV.)
Os médiuns facultativos são os que têm consciência do seu poder e que
produzem fenômenos espíritas por ato da própria vontade. Conquanto inerente à espécie
humana, conforme já dissemos, semelhante faculdade longe está de existir em todos no
mesmo grau. Porém, se poucas pessoas há em quem ela seja absolutamente nula, mais
raras ainda são as capazes de produzir os grandes efeitos tais como a suspensão de
corpos pesados, a translação aérea e, sobretudo, as aparições. Os efeitos mais simples
são a rotação de um objeto, pancadas produzidas mediante o levantamento desse objeto,
ou na sua própria substância. Embora não demos importância capital a esses fenômenos,
recomendamos, contudo, que não sejam desprezados. Podem proporcionar ensejo a
observações interessantes e contribuir para a convicção dos que os observem. Cumpre,
entretanto, ponderar que a faculdade de produzir efeitos materiais raramente existe nos
que dispõem de mais perfeitos meios de comunicação, quais a escrita e a palavra. Em
geral, a faculdade diminui num sentido à proporção que se desenvolve em outro.

161. Os médiuns involuntários ou naturais são aqueles cuja influência se exerce
a seu mau grado. Nenhuma consciência têm do poder que possuem e, muitas vezes, o que de anormal se passa em
torno deles não se lhes afigura de modo algum extraordinário. Isso faz parte deles,
exatamente como se dá com as pessoas que, sem o suspeitarem, são dotadas de dupla
vista. São muito dignos de observação esses indivíduos e ninguém deve descuidar-se de
recolher e estudar os fatos deste gênero que lhe cheguem ao conhecimento. Manifestamse
em todas as idades e, freqüentemente, em crianças ainda muito novas. (Veja-se acima,
o capítulo V, Das manifestações físicas espontâneas.)
Tal faculdade não constitui, em si mesma, indício de um estado patológico,
porquanto não é incompatível com uma saúde perfeita. Se sofre aquele que a possui,
esse sofrimento é devido a uma causa estranha, donde se segue que os meios
terapêuticos são impotentes para fazê-la desaparecer. Nalguns casos, pode ser
conseqüente de uma certa fraqueza orgânica, porém, nunca é causa eficiente. Não seria,
pois, razoável tirar dela um motivo de inquietação, do ponto de vista higiênico. Só
poderia acarretar inconveniente, se aquele que a possui abusasse dela, depois de se
haver tornado médium facultativo, porque então se verificaria nele uma emissão
demasiado abundante de fluido vital e, por conseguinte, enfraquecimento dos órgãos.

162. A razão se revolta à lembrança das torturas morais e corporais a que a
ciência tem por vezes sujeitado criaturas fracas e delicadas, para se certificar da
existência de fraude da parte delas. Tais experimentações, amiúde feitas maldosamente,
são sempre prejudiciais às organizações sensitivas, podendo mesmo dar lugar a graves
desordens na economia orgânica. Fazer semelhantes experiências é brincar com a vida.
O observador de boa-fé não precisa lançar mão desses meios. Aquele que está
familiarizado com os fenômenos desta espécie sabe, aliás, que eles são mais de ordem
moral, do que de ordem física e que será inútil procurar-lhes uma solução nas nossas
ciências exatas.
Por isso mesmo que tais fenômenos são mais de ordem moral, deve-se evitar
com escrupuloso cuidado tudo o que possa sobreexcitar a imaginação. Sabe-se que de
acidentes pode o medo ocasionar e muito menos imprudências se cometiam, se se
conhecessem todos os casos de loucura e de epilepsia, cuja origem se encontra nos
contos de lobisomens e papões. Que não será, se se generalizar a persuasão de que o
agente dos aludidos fenômenos é o diabo? Os que espelham semelhantes idéias não
sabem a responsabilidade que assumem: podem matar. Ora, o perigo não existe apenas
para o paciente, mas também para os que o cercam, os quais podem ficar aterrorizados,
ao pensarem que a casa onde moram se tornou um covil de demônios. Esta crença
funesta é que foi causa de tantos atos de atrocidade nos tempos de ignorância.
Entretanto, se houvesse um pouco mais de discernimento, teria ocorrido aos que os
praticaram que não queimavam o diabo, por queimarem o corpo que supunham
possesso do diabo. Desde que do diabo é que queriam livrar-se, ao diabo é que era
preciso matassem. Esclarecendo-nos sobre a verdadeira causa de todos esses
fenômenos, a Doutrina Espírita lhe dá o golpe de misericórdia. Longe, pois, de
concorrer para que tal idéia se forme, todos devem, e este é um dever de moralidade e
de humanidade, combatê-la onde exista.
O que há a fazer-se, quando uma faculdade dessa natureza se desenvolve
espontaneamente num indivíduo, é deixar que o fenômeno siga o seu curso natural: a
Natureza é mais prudente do que os homens. Acresce que a Providência tem seus
desígnios e aos maiores destes pode servir de instrumento a mais pequenina das
criaturas. Porém, forçoso é convir, o fenômeno assume por vezes proporções fatigantes
e importunas para toda gente (1).
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(1) Um dos fatos mais extraordinários desta natureza, pela variedade e singularidade dos
fenômenos, é, sem contestação, o que ocorreu em 1852, no Palatinado (Baviera renana), em
Bergzabern, perto de Wissemburg. É tanto mais notável, quanto denota, reunidos no mesmo indivíduo,
quase todos os gêneros de manifestações espontâneas: estrondos de abalar a casa, derribamento dos móveis,
arremesso de objetos ao longe por mãos invisíveis, visões e aparições, sonambulismo, êxtase, catalepsia,
atração elétrica, gritos e sons aéreos, instrumentos tocando sem contacto, comunicações inteligentes, etc. e, o
que não é de somenos importância, a comprovação destes fatos, durante quase dois anos, por inúmeras
testemunhas oculares, dignas de crédito pelo saber e pelas posições sociais que ocupavam. A narração
autêntica dos aludidos fenômenos foi publicada, naquela época, em muitos jornais alemães e, especialmente,
numa brochura hoje esgotada e raríssima. Na Revue Spirite de 1858 se encontra a tradução completa dessa brochura,
com os comentários e explicações indispensáveis. Essa, que saibamos, é a única publicação feita em
francês do folheto a que nos referimos. Além do empolgante interesse que tais fenômenos despertam,
eles são eminentemente instrutivos, do ponto de vista do estudo prático do Espiritismo.
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Eis, então, o que em todos os casos importa fazer-se. No capítulo V - Das
manifestações físicas espontâneas, já demos alguns conselhos a este respeito, dizendo
ser preciso entrar em comunicação com o Espírito, para dele saber-se o que quer. O
meio seguinte também se funda na observação.
Os seres invisíveis, que revelam sua presença por efeitos sensíveis, são, em geral,
Espíritos de ordem inferior e que podem ser dominados pelo ascendente moral. A
aquisição deste ascendente é o que se deve procurar.
Para alcançá-lo, preciso é que o indivíduo passe do estado de médium natural ao
de médium voluntário. Produz-se, então, efeito análogo ao que se observa no
sonambulismo. Como se sabe, o sonambulismo natural cessa geralmente, quando
substituído pelo sonambulismo magnético. Não se suprime a faculdade, que tem a alma,
de emancipar-se; dá-se-lhe outra diretriz. O mesmo acontece com a faculdade
mediúnica. Para isso, em vez de pôr óbices ao fenômeno, coisa que raramente se
consegue e que nem sempre deixa de ser perigosa, o que se tem de fazer é concitar o
médium a produzi-los à sua vontade, impondo-se ao Espírito. Por esse meio, chega o
médium a sobrepujá-lo e, de um dominador às vezes tirânico, faz um ser submisso e, não raro,
dócil. Fato digno de nota e que a experiência confirma é que, em tal caso, uma criança
tem tanta e, por vezes, mais autoridade que um adulto: mais uma prova a favor deste
ponto capital da Doutrina, que o Espírito só é criança pelo corpo; que tem por si mesmo
um desenvolvimento necessariamente anterior à sua encarnação atual, desenvolvimento
que lhe pode dar ascendente sobre Espíritos que lhe são inferiores.
A moralização de um Espírito, pelos conselhos de uma terceira pessoa influente
e experiente, não estando o médium em estado de o fazer, constitui freqüentemente
meio muito eficaz. Mais tarde voltaremos a tratar dele.

163. Nesta categoria parece, à primeira vista, se deviam incluir as pessoas
dotadas de certa dose de eletricidade natural, verdadeiros torpedos (*) humanos, a
produzirem, por simples contacto, todos os efeitos de atração e repulsão. Errado,
porém, fora considerá-las médiuns, porquanto a vera mediunidade supõe a intervenção
direta de um Espírito. Ora, no caso de que falamos, concludentes experiências hão
provado que a eletricidade é o agente único desses fenômenos. Esta estranha faculdade,
que quase se poderia considerar uma enfermidade, pode às vezes estar aliada à
mediunidade, como é fácil de verificar-se na história do Espírito batedor de Bergzabern.
Porém, as mais das vezes, de todo independe de qualquer faculdade mediúnica.
Conforme já dissemos, a única prova da intervenção dos Espíritos é o caráter inteligente
das manifestações. Desde que este caráter não exista, fundamento há para serem
atribuídas a causas puramente físicas. A questão é saber se as pessoas elétricas estarão
ou não mais aptas, do que quaisquer outras, a tornar-se médiuns de efeitos
físicos. Cremos que sim, mas só a experiência poderia demonstrá-lo.
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(*) Vide página 220, Nota da Editora (FEB).
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2. Médiuns sensitivos, ou impressionáveis

164. Chamam-se assim às pessoas suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos
por uma impressão vaga, por uma espécie de leve roçadura sobre todos os seus
membros, sensação que elas não podem explicar. Esta variedade não apresenta caráter
bem definido. Todos os médiuns são necessariamente impressionáveis, sendo assim a
impressionabilidade mais uma qualidade geral do que especial. É a faculdade rudimentar
indispensável ao desenvolvimento de todas as outras. Difere da impressionabilidade
puramente física e nervosa, com a qual preciso é não seja confundida, porquanto,
pessoas há que não têm nervos delicados e que sentem mais ou menos o efeito da
presença dos Espíritos, do mesmo modo que outras, muito irritáveis, absolutamente não
os pressentem.
Esta faculdade se desenvolve pelo hábito e pode adquirir tal sutileza, que aquele
que a possui reconhece, pela impressão que experimenta, não só a natureza, boa ou má,
do Espírito que lhe está ao lado, mas até a sua individualidade, como o cego reconhece,
por um certo não sei quê, a aproximação de tal ou tal pessoa. Torna-se, com relação aos
Espíritos, verdadeiro sensitivo. Um bom Espírito produz sempre uma impressão suave e
agradável; a de um mau Espírito, ao contrário, é penosa, angustiosa, desagradável. Há
como que um cheiro de impureza.

3. Médiuns audientes

165. Estes ouvem a voz dos Espíritos. É, como dissemos ao falar da
pneumatofonia, algumas vezes uma voz interior, que se faz ouvir no foro íntimo;
doutras vezes, é uma voz exterior, clara e distinta, qual a de uma pessoa viva. Os
médiuns audientes podem, assim, travar conversação com os Espíritos. Quando têm o
hábito de se comunicar com determinados Espíritos, eles os reconhecem imediatamente pela
natureza da voz. Quem não seja dotado desta faculdade pode, igualmente, comunicar
com um Espírito, se tiver, a auxiliá-lo, um médium audiente, que desempenhe a função
de intérprete.
Esta faculdade é muito agradável, quando o médium só ouve Espíritos bons, ou
unicamente aqueles por quem chama. Assim, entretanto, já não é, quando um Espírito
mau se lhe agarra, fazendo-lhe ouvir a cada instante as coisas mais desagradáveis e não
raro as mais inconvenientes. Cumpre-lhe, então, procurar livrar-se desses Espíritos,
pelos meios que indicaremos no capítulo da Obsessão.

4. Médiuns falantes

166. Os médiuns audientes, que apenas transmitem o que ouvem, não são,
a bem dizer, médiuns falantes. Estes últimos, as mais das vezes, nada ouvem. Neles, o
Espírito atua sobre os órgãos da palavra, como atua sobre a mão dos médiuns
escreventes. Querendo comunicar-se, o Espírito se serve do órgão que se lhe depara
mais flexível no médium. A um, toma da mão; a outro, da palavra; a um terceiro, do
ouvido. O médium falante geralmente se exprime sem ter consciência do que diz e
muitas vezes diz coisas completamente estranhas às suas idéias habituais, aos seus
conhecimentos e, até, fora do alcance de sua inteligência. Embora se ache perfeitamente
acordado e em estado normal, raramente guarda lembrança do que diz. Em suma, nele, a
palavra é um instrumento de que se serve o Espírito, com o qual uma terceira pessoa
pode comunicar-se, como pode com o auxilio de um médium audiente.
Nem sempre, porém, é tão completa a passividade do médium falante. Alguns há
que têm a intuição do que dizem, no momento mesmo em que pronunciam as palavras.
Voltaremos a ocupar-nos com esta espécie de médiuns, quando tratarmos dos médiuns
intuitivos.

5. Médiuns videntes

167. Os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver os Espíritos. Alguns
gozam dessa faculdade em estado normal, quando perfeitamente acordados, e
conservam lembrança precisa do que viram. Outros só a possuem em estado
sonambúlico, ou próximo do sonambulismo. Raro é que esta faculdade se mostre
permanente; quase sempre é efeito de uma crise passageira. Na categoria dos médiuns
videntes se podem incluir todas as pessoas dotadas de dupla vista. A possibilidade de
ver em sonho os Espíritos resulta, sem contestação, de uma espécie de mediunidade,
mas não constitui, propriamente falando, o que se chama médium vidente. Explicamos
esse fenômeno em o capítulo VI - Das manifestações visuais.
O médium vidente julga ver com os olhos, como os que são dotados de dupla
vista; mas, na realidade, é a alma quem vê e por isso é que eles tanto vêem com os olhos
fechados, como com os olhos abertos; donde se conclui que um cego pode ver os
Espíritos, do mesmo modo que qualquer outro que tem perfeita a vista. Sobre este
último ponto caberia fazer-se interessante estudo, o de saber se a faculdade de que
tratamos é mais freqüente nos cegos. Espíritos que na Terra foram cegos nos disseram
que, quando vivos, tinham, pela alma, a percepção de certos objetos e que não se
encontravam imersos em negra escuridão.

168. Cumpre distinguir as aparições acidentais e espontâneas da faculdade
propriamente dita de ver os Espíritos. As primeiras são freqüentes, sobretudo no
momento da morte das pessoas que aquele que vê amou ou conheceu e que o vêm
prevenir de que já não são deste mundo. Há inúmeros exemplos de fatos deste gênero,
sem falar das visões durante o sono. Doutras vezes, são, do mesmo modo, parentes, ou
amigos que, conquanto mortos há mais ou menos tempo, aparecem, ou para avisar de
um perigo, ou para dar um conselho, ou, ainda, para pedir um serviço.
O serviço que o Espírito pode solicitar é, em geral, a execução de uma coisa que lhe não
foi possível fazer em vida, ou o auxílio das preces. Estas aparições constituem fatos
isolados, que apresentam sempre um caráter individual e pessoal, e não efeito de uma
faculdade propriamente dita. A faculdade consiste na possibilidade, senão permanente,
pelo menos muito freqüente de ver qualquer Espírito que se apresente, ainda que seja
absolutamente estranho ao vidente. A posse desta faculdade é o que constitui,
propriamente falando, o médium vidente.
Entre esses médiuns, alguns há que só vêem os Espíritos evocados e cuja
descrição podem fazer com exatidão minuciosa. Descrevem-lhes, com as menores
particularidades, os gestos, a expressão da fisionomia, os traços do semblante, as vestes
e, até, os sentimentos de que parecem animados. Outros há em quem a faculdade da
vidência é ainda mais ampla: vêem toda a população espírita ambiente, a se mover em
todos os sentidos, cuidando, poder-se-ia dizer, de seus afazeres.

169. Assistimos uma noite à representação da ópera Oberon, em companhia de
um médium vidente muito bom. Havia na sala grande número de lugares vazios, muitos
dos quais, no entanto, estavam ocupados por Espíritos, que pareciam interessar-se pelo
espetáculo. Alguns se colocavam junto de certos espectadores, como que a lhes escutar
a conversação. Cena diversa se desenrolava no palco: por detrás dos atores muitos
Espíritos, de humor jovial, se divertiam em arremedá-los, imitando-lhes os gestos de
modo grotesco; outros, mais sérios, pareciam inspirar os cantores e fazer esforços por
lhes dar energia. Um deles se conservava sempre junto de uma das principais cantoras.
Julgando-o animado de intenções um tanto levianas e tendo-o evocado após a
terminação do ato, ele acudiu ao nosso chamado e nos reprochou, com severidade, o
temerário juízo: "Não sou o que julgas, disse; sou o seu gula e seu Espírito protetor; sou
encarregado de dirigi-la." Depois de alguns minutos de uma palestra muito séria,
deixou--nos, dizendo: "Adeus; ela está em seu camarim; é preciso que vá vigiá-la." Em seguida,
evocamos o Espírito Weber, autor da ópera, e lhe perguntamos o que pensava da
execução da sua obra. "Não de todo má; porém, frouxa; os atores cantam, eis tudo. Não
há inspiração. Espera, acrescentou, vou tentar dar-lhes um pouco do fogo sagrado." Foi
visto, daí a nada, no palco, pairando acima dos atores. Partindo dele, um como eflúvio
se derramava sobre os intérpretes. Houve, então, nestes, visível recrudescência de
energia.

170. Outro fato que prova a influência que os Espíritos exercem sobre os
homens, à revelia destes: Assistíamos, como nessa noite, a uma representação teatral,
com outro médium vidente. Travando conversação com um Espírito espectador, dissenos
ele: "Vês aquelas duas damas sós, naquele camarote da primeira ordem? Pois bem,
estou esforçando-me por fazer que deixem a sala." Dizendo isso, o médium o viu ir
colocar-se no camarote em questão e falar às duas. De súbito, estas, que se mostravam
muito atentas ao espetáculo, se entreolharam, parecendo consultar-se mutuamente.
Depois, vão-se e não mais voltam. O Espírito nos fez então um gesto cômico, querendo
significar que cumprira o que dissera. Não É tornamos a ver, para pedir-lhe explicações
mais amplas. assim que muitas vezes fomos testemunha do papel que os Espíritos
desempenham entre os vivos. Observamo-los em diversos lugares de reunião, em bailes,
concertos, sermões, funerais, casamentos, etc., e por toda parte os encontramos
atiçando paixões más, soprando discórdias, provocando rixas e rejubilando-se com suas
proezas. Outros, ao contrário, combatiam essas influências perniciosas, porém,
raramente eram atendidos.

171. A faculdade de ver os Espíritos pode, sem dúvida, desenvolver-se, mas é
uma das de que convém esperar o desenvolvimento natural, sem o provocar, em não se
querendo ser joguete da própria imaginação. Quando o gérmen de uma faculdade existe, ela
se manifesta de si mesma. Em princípio, devemos contentar-nos com as que Deus nos outorgou,
 sem procurarmos o impossível, por isso que, pretendendo ter muito, corremos o risco de perder o que possuímos.
Quando dissemos serem freqüentes os casos de aparições espontâneas (n. 107),
não quisemos dizer que são muito comuns. Quanto aos médiuns videntes, propriamente
ditos, ainda são mais raros e há muito que desconfiar dos que se inculcam possuidores
dessa faculdade. E prudente não se lhes dar crédito, senão diante de provas positivas.
Não aludimos sequer aos que se dão à ilusão ridícula de ver os Espíritos glóbulos, que
descrevemos no n. 108; falamos apenas dos que dizem ver os Espíritos de modo
racional. E fora de dúvida que algumas pessoas podem enganar-se de boa-fé, porém,
outras podem também simular esta faculdade por amor-próprio, ou por interesse. Neste
caso, é preciso, muito especialmente, levarem conta o caráter, a moralidade e a
sinceridade habituais; todavia, nas particularidades, sobretudo, é que se encontram
meios de mais segura verificação, porquanto algumas há que não podem deixar suspeita,
como, por exemplo, a exatidão no retratar Espíritos que o médium jamais conheceu
quando encamados. Pertence a esta categoria o fato seguinte:
Uma senhora, viúva, cujo marido se comunica freqüentemente com ela, estava
certa vez em companhia de um médium vidente, que não a conhecia, como não lhe
conhecia a família. Disse-lhe o médium, em dado momento: - Vejo um Espírito perto da
senhora. - Ah! disse esta por sua vez: E com certeza meu marido, que quase nunca me
deixa. - Não, respondeu o médium, é uma mulher de certa idade; está penteada de modo
singular; traz um bandó branco sobre a fronte.
Por essa particularidade e outros detalhes descritos, a senhora reconheceu, sem
haver possibilidade de engano, sua avó, em quem naquele instante absolutamente não
pensava. Se o médium houvesse querido simular a faculdade, fácil lhe fora acompanhar o pensamento da dama.
Entretanto, em vez do marido, com quem ela se achava preocupada, ele vê uma mulher, com uma particularidade no
penteado, da qual coisa alguma lhe podia dar idéia. Este fato prova também que a
vidência, no médium, não era reflexo de qualquer pensamento estranho. (Veja-se o n.102.)

6. Médiuns sonambúlicos

172. Pode considerar-se o sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica,
ou, melhor, são duas ordens de fenômenos que freqüentemente se acham reunidos. O
sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; é sua alma que, nos momentos
de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. O que ele externa
tira-o de si mesmo; suas idéias são, em geral, mais justas do que no estado normal, seus
conhecimentos mais dilatados, porque tem livre a alma. Numa palavra, ele vive
antecipadamente a vida dos Espíritos. O médium, ao contrário, é instrumento de uma
inteligência estranha; é passivo e o que diz não vem de si Em resumo, o sonâmbulo
exprime o seu próprio pensamento, enquanto que o médium exprime o de outrem. Mas,
o Espírito que se comunica com um médium comum também o pode fazer com um
sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado de emancipação da alma facilita
essa comunicação. Muitos sonâmbulos vêem perfeitamente os Espíritos e os descrevem
com tanta precisão, como os médiuns videntes. Podem confabular com eles e transmitirnos
seus pensamentos. O que dizem, fora do âmbito de seus conhecimentos pessoais,
lhes é com freqüência sugerido por outros Espíritos. Aqui está um exemplo notável, em
que a dupla ação do Espírito do sonâmbulo e de outro Espírito se revela e de modo
inequívoco.

173. Um de nossos amigos tinha como sonâmbulo um rapaz de 14 a 15 anos, de
inteligência muito vulgar e instrução extremamente escassa. Entretanto, no estado de sonambulismo, deu provas
de lucidez extraordinária e de grande perspicácia. Excedia, sobretudo, no tratamento das
enfermidades e operou grande número de curas consideradas impossíveis. Certo dia,
dando consulta a um doente, descreveu a enfermidade com absoluta exatidão. Não
basta, disseram-lhe, agora é preciso que indiques o remédio. Não posso, respondeu, meu
anjo doutor não está aqui. Quem é esse anjo doutor de quem falas? - O que dita os
remédios. - Não és tu, então, que vês os remédios? - Oh! não; estou a dizer que é o meu
anjo doutor quem mos dita.
Assim, nesse sonâmbulo, a ação de ver o mal era do seu próprio Espírito que,
para isso, não precisava de assistência alguma; a indicação, porém, dos remédios lhe era
dada por outro. Não estando presente esse outro, ele nada podia dizer. Quando só, era
apenas sonâmbulo; assistido por aquele a quem chamava seu anjo doutor, era
sonâmbulo-médium.

174. A lucidez sonambúlica é uma faculdade que se radica no organismo e que
independe, em absoluto, da elevação, do adiantamento e mesmo do estado moral do
indivíduo. Pode, pois, um sonâmbulo ser muito lúcido e ao mesmo tempo incapaz de
resolver certas questões, desde que seu Espírito seja pouco adiantado. O que fala por si
próprio pode, portanto, dizer coisas boas ou más, exatas ou falsas, demonstrar mais ou
menos delicadeza e escrúpulo nos processos de que use, conforme o grau de elevação,
ou de inferioridade do seu próprio Espírito. A assistência então de outro Espírito pode
suprir-lhe as deficiências. Mas, um sonâmbulo, tanto como os médiuns, pode ser
assistido por um Espírito mentiroso, leviano, ou mesmo mau. AI, sobretudo, é que as
qualidades morais exercem grande influência, para atraírem os bons Espíritos. (Veja-se:
O Livro dos Espíritos, "Sonambulismo", n. 425, e, aqui, adiante, o capítulo sobre a
"Influência moral do médium".)

7. Médiuns curadores

175. Unicamente para não deixar de mencioná-la, falaremos aqui desta espécie
de médiuns, porquanto o assunto exigiria desenvolvimento excessivo para os limites em
que precisamos ater-nos. Sabemos, ao demais, que um de nossos amigos, médico, se
propõe a tratá-lo em obra especial sobre a medicina intuitiva. Diremos apenas que este
gênero de mediunidade consiste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas de
curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de qualquer
medicação. Dir-se-á, sem dúvida, que isso mais não é do que magnetismo.
Evidentemente, o fluido magnético desempenha aí importante papel; porém, quem
examina cuidadosamente o fenômeno sem dificuldade reconhece que há mais alguma
coisa. A magnetização ordinária é um verdadeiro tratamento seguido, regular e
metódico; no caso que apreciamos, as coisas se passam de modo inteiramente diverso.
Todos os magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, desde que saibam conduzirse
convenientemente, ao passo que nos médiuns curadores a faculdade é espontânea e
alguns até a possuem sem jamais terem ouvido falar de magnetismo. A intervenção de
uma potência oculta, que é o que constitui a mediunidade, se faz manifesta, em certas
circunstâncias, sobretudo se considerarmos que a maioria das pessoas que podem, com
razão, ser qualificadas de médiuns curadores recorre à prece, que é uma verdadeira
evocação. (Veja-se atrás o n. 131.)

176. Eis aqui as respostas que nos deram os Espíritos às perguntas que lhes
dirigimos sobre este assunto:

1ª a Podem considerar-se as pessoas dotadas de força magnética como formando
uma variedade de médiuns?
"Não há que duvidar."

2ª Entretanto, o médium é um intermediário entre os Espíritos e o homem; ora, o
magnetizador, haurindo em si mesmo a força de que se utiliza, não parece que seja intermediário de nenhuma
potência estranha.
"É um erro; a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada
pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxilio. Se magnetizas com o propósito de
curar, por exemplo, e invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente,
ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades
necessárias."

3ª Há, entretanto, bons magnetizadores que não crêem nos Espíritos?
"Pensas então que os Espíritos só atuam nos que crêem neles? Os que
magnetizam para o bem são auxiliados por bons Espíritos. Todo homem que nutre o
desejo do bem os chama, sem dar por isso, do mesmo modo que, pelo desejo do mal e
pelas más intenções, chama os maus."

4ª Agiria com maior eficácia aquele que, tendo a força magnética, acreditasse na
intervenção dos Espíritos?
"Faria coisas que consideraríeis milagre."

5ª Há pessoas que verdadeiramente possuem o dom de curar pelo simples
contacto, sem o emprego dos passes magnéticos?
"Certamente; não tens disso múltiplos exemplos?"

6ª Nesse caso, há também ação magnética, ou apenas influência dos Espíritos?
"Uma e outra coisa. Essas pessoas são verdadeiros médiuns, pois que atuam sob
a influência dos Espíritos; isso, porém, não quer dizer que sejam quais médiuns
curadores, conforme o entendes."

7ª Pode transmitir-se esse poder?
"O poder, não; mas o conhecimento de que necessita, para exercê-lo, quem o
possua. Não falta quem não suspeite sequer de que tem esse poder, se não acreditar que
lhe foi transmitido."

8ª Podem obter-se curas unicamente por meio da prece?
"Sim, desde que Deus o permita; pode dar-se, no entanto, que o bem do doente
esteja em sofrer por mais tempo e então julgais que a vossa prece não foi ouvida."

9ª Haverá para isso algumas fórmulas de prece mais eficazes do que outras?
"Somente a superstição pode emprestar virtudes quaisquer a certas palavras e
somente Espíritos ignorantes, ou mentirosos podem alimentar semelhantes idéias,
prescrevendo fórmulas. Pode, entretanto, acontecer que, em se tratando de pessoas
pouco esclarecidas e incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, o uso
de determinada fórmula contribua para lhes infundir confiança. Neste caso, porém, não é
na fórmula que está a eficácia, mas na fé, que aumenta por efeito da idéia ligada ao uso
da fórmula."

8. Médiuns pneumatógrafos

177. Dá-se este nome aos médiuns que têm aptidão para obter a escrita direta, o
que não é possível a todos os médiuns escreventes. Esta faculdade, até agora, se mostra
muito rara. Desenvolve-se, provavelmente, pelo exercício; mas, como dissemos, sua
utilidade prática se limita a uma comprovação patente da intervenção de uma força
oculta nas manifestações. Só a experiência é capaz de dar a ver a qualquer pessoa se a
possui Pode-se, portanto, experimentar, como também se pode inquirir a respeito um
Espírito protetor, pelos outros meios de comunicação. Conforme seja maior ou menor o
poder do médium, obtêm-se simples traços, sinais, letras, palavras, frases e mesmo
páginas inteiras. Basta de ordinário colocar uma folha de papel dobrada num lugar
qualquer, ou indicado pelo Espírito, durante dez minutos, ou um quarto de hora, às
vezes mais. A prece e o recolhimento são condições essenciais; é por isso que se pode
considerar impossível a obtenção de coisa alguma, numa reunião de pessoas pouco
sérias, ou não animadas de sentimentos de simpatia e benevolência.
(Veja-se a teoria da escrita direta, capítulo VIII, Laboratório do mundo invisível,
n. 127 e seguintes, e capítulo XII, Pneumatografia.)
Trataremos de modo especial dos médiuns escreventes nos capítulos que se
seguem.
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Nota da Editora (FEB) - No original francês está no grifo. "Torpilles humaines” (Vide página
208). Torpille é um peixe semelhante à raia, ou arraia, que tem órgãos capazes de emitir descargas
elétricas. É o peixe-torpedo, à seme1hança das denominações que damos, de "enguia-elétrica" ou
"peixe-elétrico", ao peixe poraquê amazônico.

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Médiuns mecânicos, intuitivos, semimecânicos, inspirados ou involuntários; de pressentimentos.

178. De todos os meios de comunicação, a escrita manual é o mais simples,
mais cômodo e, sobretudo, mais completo. Para ele devem tender todos os esforços,
porquanto permite se estabeleçam, com os Espíritos, relações tão continuadas e
regulares, como as que existem entre nós. Com tanto mais afinco deve ser empregado,
quanto é por ele que os Espíritos revelam melhor sua natureza e o grau do seu
aperfeiçoamento, ou da sua inferioridade. Pela facilidade que encontram em exprimir-se
por esse meio, eles nos revelam seus mais íntimos pensamentos e nos facultam julgá-los
e apreciar-lhes o valor. Para o médium, a faculdade de escrever é, além disso, a mais
suscetível de desenvolver-se pelo exercício.

Médiuns mecânicos

179. Quem examinar certos efeitos que se produzem nos movimentos da mesa,
da cesta, ou da prancheta que escreve não poderá duvidar de uma ação diretamente
exercida pelo Espírito sobre esses objetos. A cesta se agita por vezes com tanta
violência, que escapa das mãos do médium e não raro se dirige a certas pessoas da
assistência para nelas bater. Outras vezes, seus movimentos dão mostra de um
sentimento afetuoso. O mesmo ocorre quando o lápis está colocado na mão do médium;
freqüentemente é atirado longe com força, ou, então, a mão, bem como a cesta, se
agitam convulsivamente e batem na mesa de modo colérico, ainda quando o médium
está possuído da maior calma e se admira de não ser senhor de si Digamos, de
passagem, que tais efeitos demonstram sempre a presença de Espíritos imperfeitos; os
Espíritos superiores são constantemente calmos, dignos e benévolos; se não são
escutados convenientemente, retiram-se e outros lhes tomam o lugar. Pode, pois, o
Espírito exprimir diretamente suas idéias, quer movimentando um objeto a que a mão do
médium serve de simples ponto de apoio, quer acionando a própria mão.
Quando atua diretamente sobre a mão, o Espírito lhe dá uma impulsão de todo
independente da vontade deste último. Ela se move sem interrupção e sem embargo do
médium, enquanto o Espírito tem alguma coisa que dizer, e pára, assim ele acaba.
Nesta circunstância, o que caracteriza o fenômeno é que o médium não tem a
menor consciência do que escreve. Quando se dá, no caso, a inconsciência absoluta;
têm-se os médiuns chamados passivos ou mecânicos. E preciosa esta faculdade, por não
permitir dúvida alguma sobre a independência do pensamento daquele que escreve.

Médiuns intuitivos

180. A transmissão do pensamento também se dá por meio do Espírito do
médium, ou, melhor, de sua alma, pois que por este nome designamos o Espírito encarnado.
O Espírito livre, neste caso, não atua sobre a mão, para fazê-la escrever; não a toma, não a guia.
Atua sobre a alma, com a qual se identifica. A alma, sob esse impulso, dirige a mão e esta dirige o lápis.
Notemos aqui uma coisa importante: é que o Espírito livre não se substitui à alma, visto
que não a pode deslocar. Domina-a, mau grado seu, e lhe imprime a sua vontade. Em tal
circunstância, o papel da alma não é o de inteira passividade; ela recebe o pensamento
do Espírito livre e o transmite. Nessa situação, o médium tem consciência do que
escreve, embora não exprima o seu próprio pensamento. E o que se chama médium
intuitivo.
Mas, sendo assim, dir-se-á, nada prova seja um Espírito estranho quem escreve e
não o do médium. Efetivamente, a distinção é às vezes difícil de fazer-se, porém, pode
acontecer que isso pouca importância apresente. Todavia, é possível reconhecer-se o
pensamento sugerido, por não ser nunca preconcebido; nasce à medida que a escrita vai
sendo traçada e, amiúde, é contrário à idéia que antecipadamente se formara. Pode
mesmo estar fora dos limites dos conhecimentos e capacidades do médium.
O papel do médium mecânico é o de uma máquina; o médium intuitivo age como
o faria um intérprete. Este, de fato, para transmitir o pensamento, precisa compreendêlo,
apropriar-se dele, de certo modo, para traduzi-lo fielmente e, no entanto, esse
pensamento não é seu, apenas lhe atravessa o cérebro. Tal precisamente o papel do
médium intuitivo.

Médiuns semimecânicos

181. No médium puramente mecânico, o movimento da mão independe da
vontade; no médium intuitivo, o movimento é voluntário e facultativo. O médium
semimecânico participa de ambos esses gêneros. Sente que à sua mão uma impulsão é
dada, mau grado seu, mas, ao mesmo tempo, tem consciência do que escreve, à medida
que as palavras se formam. No primeiro o pensamento vem depois do ato da escrita; no
segundo, precede-o; no terceiro, acompanha-o. Estes últimos médiuns são os mais numerosos.

Médiuns inspirados

182. Todo aquele que, tanto no estado normal, como no de êxtase, recebe, pelo
pensamento, comunicações estranhas às suas idéias preconcebidas, pode ser incluído na
categoria dos médiuns inspirados. Estes, como se vê, formam uma variedade da
mediunidade intuitiva, com a diferença de que a intervenção de uma força oculta é aí
muito menos sensível, por isso que, ao inspirado, ainda é mais difícil distinguir o
pensamento próprio do que lhe é sugerido. A espontaneidade é o que, sobretudo,
caracteriza o pensamento deste último gênero. A inspiração nos vem dos Espíritos que
nos influenciam para o bem, ou para o mal, porém, procede, principalmente, dos que
querem o nosso bem e cujos conselhos muito amiúde cometemos o erro de não seguir.
Ela se aplica, em todas as circunstâncias da vida, às resoluções que devamos tomar. Sob
esse aspecto, pode dizer-se que todos são médiuns, porquanto não há quem não tenha
seus Espíritos protetores e familiares, a se esforçarem por sugerir aos protegidos
salutares idéias. Se todos estivessem bem compenetrados desta verdade, ninguém
deixaria de recorrer com freqüência à inspiração do seu anjo de guarda, nos momentos
em que se não sabe o que dizer, ou fazer. Que cada um, pois, o invoque com fervor e
confiança, em caso de necessidade, e muito freqüentemente se admirará das idéias que
lhe surgem como por encanto, quer se trate de uma resolução a tomar, quer de alguma
coisa a compor. Se nenhuma idéia surge, é que é preciso esperar. A prova de que a idéia
que sobrevém é estranha à pessoa de quem se trate esta em que, se tal idéia lhe existira
na mente, essa pessoa seria senhora de, a qualquer momento, utilizá-la e não haveria
razão para que ela se não manifestasse à vontade. Quem não é cego nada mais precisa
fazer do que abrir os olhos, para ver quando quiser. Do mesmo modo, aquele que possui idéias
próprias tem-nas sempre à disposição. Se elas não lhes vêm quando quer, é que está obrigado a
buscá-las algures, que não no seu intimo.
Também se podem incluir nesta categoria as pessoas que, sem serem dotadas de
inteligência fora do comum e sem saírem do estado normal, têm relâmpagos de uma
lucidez intelectual que lhes dá momentaneamente desabitual facilidade de concepção e
de elocução e, em certos casos, o pressentimento de coisas futuras. Nesses momentos,
que com acerto se chamam de inspiração, as idéias abundam, sob um impulso
involuntário e quase febril. Parece que uma inteligência superior nos vem ajudar e que o
nosso espírito se desembaraçou de um fardo.

183. Os homens de gênio, de todas as espécies, artistas, sábios, literatos, são
sem dúvida Espíritos adiantados, capazes de compreender por si mesmos e de conceber
grandes coisas. Ora, precisamente porque os julgam capazes, é que os Espíritos, quando
querem executar certos trabalhos, lhes sugerem as idéias necessárias e assim é que eles,
as mais das vezes, são médiuns sem o saberem. Têm, no entanto, vaga intuição de uma
assistência estranha, visto que todo aquele que apela para a inspiração, mais não faz do
que uma evocação. Se não esperasse ser atendido, por que exclamaria, tão
freqüentemente: meu bom gênio, vem em meu auxílio?
As respostas seguintes confirmam esta asserção:
a) Qual a causa primária da inspiração?
"O Espírito que se comunica pelo pensamento."

b) A revelação das grandes coisas não é que constitui o objeto único da inspiração?

"Não, a inspiração se verifica, muitas vezes, com relação às mais comuns
circunstâncias da vida. Por exemplo, queres ir a alguma parte: uma voz secreta te diz
que não o faças, porque correrás perigo; ou, então, te diz que faças uma coisa em que
não pensavas. É a inspiração. Poucas pessoas há que não tenham sido mais ou menos
inspiradas em certos momentos."

c) Um autor, um pintor, um músico, por exemplo, poderiam, nos momentos de
inspiração, ser considerados médiuns?

"Sim, porquanto, nesses momentos, a alma se lhes torna mais livre e como que
desprendida da matéria; recobra uma parte das suas faculdades de Espírito e recebe mais
facilmente as comunicações dos outros Espíritos que a inspiram."
Médiuns de pressentimentos

184. O pressentimento é uma intuição vaga das coisas futuras. Algumas pessoas
têm essa faculdade mais ou menos desenvolvida. Pode ser devida a uma espécie de
dupla vista, que lhes permite entrever as conseqüências das coisas atuais e a filiação dos
acontecimentos. Mas, muitas vezes, também é resultado de comunicações ocultas e,
sobretudo neste caso, é que se pode dar aos que dela são dotados o nome de médiuns
de pressentimentos, que constituem uma variedade dos médiuns inspirados.

Aptidões especiais dos médiuns. Quadro sinóptico das diferentes espécies de médiuns.

185. Além das categorias de médiuns que acabamos de enumerar, a
mediunidade apresenta uma variedade infinita de matizes, que constituem os chamados
médiuns especiais, dotados de aptidões particulares, ainda não definidas, abstração feita
das qualidades e conhecimentos do Espírito que se manifesta.
A natureza das comunicações guarda sempre relação com a natureza do Espírito
e traz o cunho da sua elevação, ou da sua inferioridade, de seu saber, ou de sua
ignorância. Mas, em igualdade de merecimento, do ponto de vista hierárquico, há nele
incontestavelmente uma propensão para se ocupar de uma coisa preferentemente a
outra. Os Espíritos batedores, por exemplo, jamais saem das manifestações físicas e,
entre os que dão comunicações inteligentes, há Espíritos poetas, músicos, desenhistas,
moralistas, sábios, médicos, etc.
Falamos dos Espíritos de mediana categoria, por isso que, chegando eles a um certo
grau, as aptidões se confundem na unidade da perfeição. Porém, de par com a aptidão
do Espírito, há a do médium, que é, para o primeiro, instrumento mais ou menos
cômodo, mais ou menos flexível e no qual descobre ele qualidades particulares que não
podemos apreciar.
Façamos uma comparação: um músico muito hábil tem ao seu alcance diversos
violinos, que todos, para o vulgo, são bons instrumentos, mas que são muito diferentes
uns dos outros para o artista consumado, o qual descobre neles matizes de extrema
delicadeza, que o levam a escolher uns e a rejeitar outros, matizes que ele percebe por
intuição, visto que não os pode definir. O mesmo se dá com relação aos médiuns. Em
igualdade de condições quanto às forças mediúnicas, o Espírito preferirá um ou outro,
conforme o gênero da comunicação que queira transmitir. Assim, por exemplo,
indivíduos há que, como médiuns, escrevem admiráveis poesias, sendo certo que, em
condições ordinárias, jamais puderam ou souberam fazer dois versos; outros, ao
contrário, que são poetas e que, como médiuns, nunca puderam escrever senão prosa,
mau grado ao desejo que nutrem de escrever poesias. Outro tanto sucede com o
desenho, com a música, etc. Alguns há que, sem possuírem de si mesmos conhecimentos
científicos, demonstram especial aptidão para receber comunicações eruditas; outros,
para os estudos históricos; outros servem mais facilmente de intérpretes aos Espíritos
moralistas.. Numa palavra, qualquer que seja a maleabilidade do médium, as
comunicações que ele com mais facilidade recebe trazem geralmente um cunho especial;
alguns existem mesmo que não saem de uma certa ordem de idéias e, quando destas se
afastam, só obtêm comunicações incompletas, lacônicas e não raro falsas. Além das
causas de aptidão, os Espíritos também se comunicam mais ou menos preferentemente
por tal ou qual intermediário, de acordo com as suas simpatias. Assim, em perfeita
igualdade de condições, o mesmo Espírito será muito mais explícito com certos médiuns, apenas
porque estes lhe convêm mais.

186. Laboraria, pois, em erro quem, simplesmente por ter ao seu alcance um
bom médium, ainda mesmo com a maior facilidade para escrever, entendesse de querer
obter por ele boas comunicações de todos os gêneros. A primeira condição é, não há
contestar, certificar-se a pessoa da fonte donde elas promanam, isto é, das qualidades do
Espírito que as transmite; porém, não é menos necessário ter em vista as qualidades do
instrumento oferecido ao Espírito. Cumpre, portanto, se estude a natureza do médium,
como se estuda a do Espírito, porquanto são esses os dois elementos essenciais para a
obtenção de um resultado satisfatório. Um terceiro existe, que desempenha papel
igualmente importante: é a intenção, o pensamento íntimo, o sentimento mais ou menos
louvável de quem interroga. Isto facilmente se concebe. Para que uma comunicação
seja boa, preciso é que proceda de um Espírito bom; para que esse bom Espírito a
POSSA transmitir indispensável lhe é um bom instrumento; para que QUEIRA
transmiti-la, necessário se faz que o fim visado lhe convenha. O Espírito, que lê o
pensamento, julga se a questão que lhe propõem merece resposta séria e se a pessoa que
lha dirige é digna de recebê-la. A não ser assim, não perde seu tempo em lançar boas
sementes em cima de pedras e é quando os Espíritos levianos e zombeteiros entram em
ação, porque, pouco lhes importando a verdade, não a encaram de muito perto e se
mostram geralmente pouco escrupulosos, quer quanto aos fins, quer quanto aos meios.
Vamos fazer um resumo dos principais gêneros de mediunidade, a fim de
apresentarmos, por assim dizer, o quadro sinóptico de todas, compreendidas as que já
descrevemos nos capítulos precedentes, indicando o número onde tratamos de cada uma
com mais minúcias.
Grupamos as diferentes espécies de médiuns por analogia de causas e efeitos,
sem que esta classificação algo tenha de absoluto. Algumas se encontram com facilidade;
outras, ao contrário, são raras e excepcionais, o que teremos o cuidado de indicar. Estas
últimas indicações foram todas feitas pelos Espíritos, que, aliás, reviram este quadro com particular cuidado e o
completaram por meio de numerosas observações e novas categorias, de sorte que o
dito quadro é, a bem dizer, obra deles. Mediante aspas, destacamos as suas observações
textuais, sempre que nos pareceu conveniente assiná-las. São, na sua maioria, de Erasto
e de Sócrates.

187. Podem dividir-se os médiuns em duas grandes categorias:
Médiuns de efeitos físicos, os que têm o poder de provocar efeitos materiais, ou
manifestações ostensivas. (N. 160.)
Médiuns de efeitos intelectuais, os que são mais aptos a receber e a transmitir
comunicações inteligentes. (N. 65 e seguintes.)
Todas as outras espécies se prendem mais ou menos diretamente a uma ou outra
dessas duas categorias; algumas participam de ambas. Se analisarmos os diferentes
fenômenos produzidos sob a influência mediúnica, veremos que, em todos, há um efeito
físico e que aos efeitos físicos se alia quase sempre um efeito inteligente. Difícil é muitas
vezes determinar o limite entre os dois, mas isso nenhuma conseqüência apresenta. Sob
a denominação de médiuns de efeitos intelectuais abrangemos os que podem, mais
particularmente, servir de intermediários para as comunicações regulares e fluentes. (N.133.)

188. Espécies comuns a todos os gêneros de mediunidade
Médiuns sensitivos: pessoas suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos, por
uma impressão geral ou local, vaga ou material. A maioria dessas pessoas distingue os
Espíritos bons dos maus, pela natureza da impressão. (N. 164.)
"Os médiuns delicados e muito sensitivos devem abster-se das comunicações
com os Espíritos violentos, ou cuja impressão é penosa, por causa da fadiga que daí
resulta."
Médiuns naturais ou inconscientes: os que produzem espontaneamente os
fenômenos, sem intervenção da própria vontade e, as mais das vezes, à sua revelia.
(N. 161.)
Médiuns facultativos ou voluntários: os que têm o poder de provocar os
fenômenos por ato da própria vontade. (N. 160.)
"Qualquer que seja essa vontade, eles nada podem, se os Espíritos se recusam, o
que prova a intervenção de uma força estranha."

189. Variedades especiais para os efeitos físicos
Médiuns tiptólogos: aqueles pela influência dos quais se produzem os ruídos, as
pancadas. Variedade muito comum, com ou sem intervenção da vontade.

Médiuns motores: os que produzem o movimento dos corpos inertes. Muito
comuns. (N. 61.)

Médiuns de translações e de suspensões: os que produzem a translação aérea e a
suspensão dos corpos inertes no espaço, sem ponto de apoio. Entre eles há os que
podem elevar-se a si mesmos. Mais ou menos raros, conforme a amplitude do
fenômeno; muito raros, no último caso. (Ns. 75 e seguintes; n. 80.)

Médiuns de efeitos musicais: provocam a execução de composições, em certos
instrumentos de música, sem contacto com estes. Muito raros. (N. 74, perg. 24.)

Médiuns de aparições: os que podem provocar aparições fluídicas ou tangíveis,
visíveis para os assistentes. Muito excepcionais. (N. 100, perg. 27; n. 104.)

Médiuns de transporte: os que podem servir de auxiliares aos Espíritos para o
transporte de objetos materiais.

Variedade dos médiuns motores e de translações. Excepcionais. (N. 96.)

Médiuns noturnos: os que só na obscuridade obtêm certos efeitos físicos. É a
seguinte a resposta que nos deu um Espírito à pergunta que fizemos sobre se se podem
considerar esses médiuns como constituindo uma variedade:
"Certamente se pode fazer disso uma especialidade, mas esse fenômeno é devido
mais às condições ambientes do que à natureza do médium, ou dos Espíritos. Devo
acrescentar que alguns escapam a essa influência do meio e que os médiuns noturnos,
em sua maioria, poderiam chegar, pelo exercício, a operar tão bem no claro, quanto na
obscuridade. É pouco numerosa esta espécie de médiuns. E, cumpre dizê-lo, graças a
essa condição, que oferece plena liberdade ao emprego dos truques da ventriloquia e
dos tubos acústicos, é que os charlatães hão abusado muito da credulidade, fazendo-se
passar por médiuns, a fim de ganharem dinheiro. Mas, que importa? Os trampolineiros
de gabinete, como os da praça pública, serão cruelmente desmascarados e os Espíritos
lhes provarão que andam mal, imiscuindo-se na obra deles. Repito: alguns charlatães
receberão, de modo bastante rude, o castigo que os desgostará do oficio de falsos
médiuns. Aliás, tudo isso pouco durará." - ERASTO.

Médiuns pneumatógrafos os que obtêm a escrita direta. Fenômeno muito raro e,
sobretudo, muito fácil de ser imitado pelos trapaceiros. (N. 177.)
NOTA. Os Espíritos insistiram, contra a nossa opinião, em incluir a escrita direta
entre os fenômenos de ordem física, pela razão, disseram eles, de que: "Os efeitos
inteligentes são aqueles para cuja produção o Espírito se serve dos materiais existentes
no cérebro do médium, o que não se dá na escrita direta. A ação do médium é aqui toda
material, ao passo que no médium escrevente, ainda que completamente mecânico, o
cérebro desempenha sempre um papel ativo."

Médiuns curadores: os que têm o poder de curar ou de aliviar o doente, pela só
imposição das mãos, ou pela prece.
"Esta faculdade não é essencialmente mediúnica; possuem-na todos os
verdadeiros crentes, sejam médiuns ou não. As mais das vezes, é apenas uma exaltação
do poder magnético, fortalecido, se necessário, pelo concurso de bons Espíritos." (N.175.)

Médiuns excitadores: pessoas que têm o poder de, por sua influência,
desenvolver nas outras a faculdade de escrever.
"Aí há antes um efeito magnético do que um caso de mediunidade propriamente
dita, porquanto nada prova a intervenção de um Espírito. Como quer que seja, pertence
à categoria dos efeitos físicos." (Veja-se o capítulo Da formação dos médiuns.)

190. Médiuns especiais para efeitos intelectuais.
Aptidões diversas

Médiuns audientes: os que ouvem os Espíritos. Muito comuns. (N. 165.)
"Muitos há que imaginam ouvir o que apenas lhes está na imaginação."
Médiuns falantes: os que falam sob a influência dos Espíritos. Muito comuns.
(N. 166.)

Médiuns videntes: os que, em estado de vigília, vêem os Espíritos. A visão
acidental e fortuita de um Espírito, numa circunstância especial, é muito freqüente; mas,
a visão habitual, ou facultativa dos Espíritos, sem distinção, é excepcional. (N. 167.)
"É uma aptidão a que se opõe o estado atual dos órgãos visuais. Por isso é que
cumpre nem sempre acreditar na palavra dos que dizem ver os Espíritos."

Médiuns inspirados: aqueles a quem, quase sempre mau grado seu, os Espíritos
sugerem idéias, quer relativas aos atos ordinários da vida, quer com relação aos grandes
trabalhos da inteligência. (N. 182.)

Médiuns de pressentimentos: pessoas que, em dadas circunstâncias, têm uma
intuição vaga de coisas vulgares que ocorrerão no futuro. (N. 184.)

Médiuns proféticos: variedade dos médiuns inspirados, ou de pressentimentos.
Recebem, permitindo-o Deus, com mais precisão do que os médiuns de
pressentimentos, a revelação de futuras coisas de interesse geral e são incumbidos de dálas
a conhecer aos homens, para instrução destes.
"Se há profetas verdadeiros, mais ainda os há falsos, que consideram revelações
os devaneios da própria imaginação, quando não são embusteiros que, por ambição, se
apresentam como tais." (Veja-se, em O Livro dos Espíritos, o n. 624 - "Características
do verdadeiro profeta".)

Médiuns sonâmbulos: os que, em estado de sonambulismo, são assistidos por
Espíritos. (N. 172.)

Médiuns extáticos: os que, em estado de êxtase, recebem revelações da parte
dos Espíritos.
"Muitos extáticos são joguetes da própria imaginação e de Espíritos zombeteiros
que se aproveitam da exaltação deles. São raríssimos os que mereçam inteira confiança."
Médiuns pintores ou desenhistas: os que pintam ou desenham sob a influência
dos Espíritos. Falamos dos que obtêm trabalhos sérios, visto não se poder dar esse
nome a certos médiuns que Espíritos zombeteiros levam a fazer coisas grotescas, que
desabonariam o mais atrasado estudante.
Os Espíritos levianos se comprazem em imitar. Na época em que apareceram os
notáveis desenhos de Júpiter, surgiu grande número de pretensos médiuns desenhistas,
que Espíritos levianos induziram a fazer as coisas mais ridículas. Um deles, entre outros,
querendo eclipsar os desenhos de Júpiter, ao menos nas dimensões, quando não fosse na
qualidade, fez que um médium desenhasse um monumento que ocupava muitas folhas de
papel para chegar à altura de dois andares. Muitos outros se divertiram fazendo que os
médiuns pintassem supostos retratos, que eram verdadeiras caricaturas. (Revue Spirite,
agosto de 1858.)

Médiuns músicos: os que executam, compõem, ou escrevem músicas, sob a
influência dos Espíritos. Há médiuns músicos, mecânicos, semimecânicos, intuitivos e inspirados, como os há para as
comunicações literárias. (Veja-se - Médiuns para efeitos musicais.)

VARIEDADES DOS MÉDIUNS ESCREVENTES
191. 1º - Segundo o modo de execução

Médiuns escreventes ou psicógrafos: os que têm a faculdade de escrever por si
mesmos sob a influência dos Espíritos.

Médiuns escreventes mecânicos: aqueles cuja mão recebe um impulso
involuntário e que nenhuma consciência têm do que escrevem. Muito raros. (N. 179).

Médiuns semimecânicos: aqueles cuja mão se move involuntariamente, mas que
têm, instantaneamente, consciência das palavras ou das frases, à medida que escrevem.
São os mais comuns. (N. 181.)

Médiuns intuitivos: aqueles com quem os Espíritos se comunicam pelo
pensamento e cuja mão é conduzida voluntariamente. Diferem dos médiuns inspirados
em que estes últimos não precisam escrever, ao passo que o médium intuitivo escreve o
pensamento que lhe é sugerido instantaneamente sobre um assunto determinado e
provocado. (N. 180.)
"São muito comuns, mas também muito sujeitos a erro, por não poderem, multas
vezes, discernir o que provem dos Espíritos do que deles próprios emana."

Médiuns polígrafos: aqueles cuja escrita muda com o Espírito que se comunica,
ou aptos a reproduzir a escrita que o Espírito tinha em vida. O primeiro caso é muito
vulgar; o segundo, o da identidade da escrita, é mais raro. (N. 219.)

Médiuns poliglotas: os que têm a faculdade de falar, ou escrever, em línguas que
lhes são desconhecidas. Muito raros.

Médiuns iletrados: os que escrevem, como médiuns, sem saberem ler, nem
escrever, no estado ordinário.
"Mais raros do que os precedentes; há maior dificuldade mater ial a vencer."

192. 2º - Segundo o desenvolvimento da faculdade

Médiuns novatos: aqueles cujas faculdades ainda não estão completamente
desenvolvidas e que carecem da necessária experiência.
Médiuns improdutivos: os que não chegam a obter mais do que coisas
insignificantes, monossílabos, traços ou letras sem conexão. (Veja-se o capítulo "Da
formação dos médiuns”.)

Médiuns feitos ou formados: aqueles cujas faculdades mediúnicas estão
completamente desenvolvidas, que transmitem as comunicações com facilidade e
presteza, sem hesitação. Concebe-se que este resultado só pelo hábito pode ser
conseguido, porquanto nos médiuns novatos as comunicações são lentas e difíceis.
Médiuns lacônicos: aqueles cujas comunicações, embora recebidas com
facilidade, são breves e sem desenvolvimento.

Médiuns explícitos: as comunicações que recebem têm toda a amplitude e toda a
extensão que se podem esperar de um escritor consumado.
"Esta aptidão resulta da expansão e da facilidade de combinação dos fluidos. Os
Espíritos os procuram para tratar de assuntos que comportam grandes
desenvolvimentos."

Médiuns experimentados: a facilidade de execução é uma questão de hábito e
que muitas vezes se adquire em pouco tempo, enquanto que a experiência resulta de um
estudo sério de todas as dificuldades que se apresentam na prática do Espiritismo. A
experiência dá ao médium o tato necessário para apreciar a natureza dos Espíritos que
se manifestam, para lhes apreciar as qualidades boas ou más, pelos mais minuciosos
sinais, para distinguir o embuste dos Espíritos zombeteiros, que se acobertam com as
aparências da verdade. Facilmente se compreende a importância desta qualidade, sem a qual
todas as Outras ficam destituídas de real utilidade. O mal é que muitos médiuns confundem a
experiência, fruto do estudo, com a aptidão, produto da organização física. Julgam-se mestres,
porque escrevem com facilidade; repelem todos os conselhos e se tomam presas de Espíritos mentirosos e
hipócritas, que os captam, lisonjeando-lhes o orgulho. (Veja-se, adiante, o capítulo "Da obsessão".)

Médiuns maleáveis: aqueles cuja faculdade se presta mais facilmente aos
diversos gêneros de comunicações e pelos quais todos os Espíritos, ou quase todos,
podem manifestar-se, espontaneamente, ou por evocação.
"Esta espécie de médiuns se aproxima muito da dos médiuns sensitivos."
Médiuns exclusivos: aqueles pelos quais se manifesta de preferência um Espírito,
até com exclusão de todos os demais, o qual responde pelos outros que são chamados.
"Isto resulta sempre de falta de maleabilidade. Quando o Espírito é bom, pode
ligar-se ao médium, por simpatia, ou com um intento louvável; quando mau, é sempre
objetivando pôr o médium na sua dependência. E mais um defeito do que uma qualidade
e muito próximo da obsessão." (Veja-se o capítulo "Da obsessão".)

Médiuns para evocação: os médiuns maleáveis são naturalmente os mais
próprios para este gênero de comunicação e para as questões de minudências que se
podem propor aos Espíritos. Sob este aspecto, há médiuns inteiramente especiais.
"As respostas que dão não saem quase nunca de um quadro restrito,
incompatível com o desenvolvimento dos assuntos gerais."
Médiuns para ditados espontâneos: recebem comunicações espontâneas de
Espíritos que se apresentam sem ser chamados. Quando esta faculdade é especial num
médium, torna-se difícil, às vezes impossível mesmo, fazer-se por ele urna evocação.
"Entretanto, são mais bem aparelhados que os da classe precedente. Atenta em
que o aparelhamento de que aqui se trata é o de materiais do cérebro, pois mister se faz, freqüentemente, direi
mesmo - sempre, maior soma de inteligência para os ditados espontâneos, do que para
as evocações. Entende por ditados espontâneos os que verdadeiramente merecem essa
denominação e não algumas frases incompletas ou algumas idéias corriqueiras, que se
deparam em todos os escritos humanos."

193. 3º - Segundo o gênero e a particularidade das comunicações

Médiuns versejadores: obtêm, mais facilmente do que outros, comunicações em
verso. Muito comuns, para maus versos; muito raros, para versos bons.

Médiuns poéticos: sem serem versificadas, as comunicações que recebem têm
qualquer coisa de vaporoso, de sentimental; nada que mostre rudeza. São, mais do que
os outros, próprios para a expressão de sentimentos ternos e afetuosos. Tudo, nas suas
comunicações, é vago; fora inútil pedir-lhes idéias precisas. Muito comuns.

Médiuns positivos: suas comunicações têm, geralmente, um cunho de nitidez e
precisão, que muito se presta às minúcias circunstanciadas, aos informes exatos. Muito
raros.

Médiuns literários: não apresentam nem o que há de impreciso nos médiuns poéticos,
nem o terra-a-terra dos médiuns positivos; porém, dissertam com sagacidade. Têm o
estilo correto, elegante e, freqüentemente, de notável eloqüência.

Médiuns incorretos: podem obter excelentes coisas, pensamentos de inatacável
moralidade, mas num estilo prolixo, incorreto, sobrecarregado de repetições e de termos
impróprios.
"A incorreção material do estilo decorre geralmente de falta de cultura
intelectual do médium que, então, não é, sob esse aspecto, um bom instrumento para o
Espírito, que a isso, aliás, pouca importância liga. Tendo como essencial o pensamento,
ele vos deixa a liberdade de dar-lhe a forma que convenha. Já assim não é com relação às
idéias falsas e ilógicas que uma comunicação possa conter, as quais constituem sempre um
índice da inferioridade do Espírito que se manifesta."

Médiuns historiadores: os que revelam aptidão especial para as explanações
históricas. Esta faculdade, como todas as demais, independe dos conhecimentos do
médium, porquanto não é raro verem-se pessoas sem instrução e até crianças tratar de
assuntos que lhes não estão ao alcance. Variedade rara dos médiuns positivos.

Médiuns científicos: não dizemos sábios, porque podem ser muito ignorantes e,
apesar disso, se mostram especialmente aptos para comunicações relativas às ciências.

Médiuns receitistas: têm a especialidade de servirem mais facilmente de
intérpretes aos Espíritos para as prescrições médicas. Importa não os confundir com os
médiuns curadores, visto que absolutamente não fazem mais do que transmitir o
pensamento do Espírito, sem exercerem por si mesmos influência alguma. Muito
comuns.

Médiuns religiosos: recebem especialmente comunicações de caráter religioso,
ou que tratam de questões religiosas, sem embargo de suas crenças, ou hábitos.
Médiuns filósofos e moralistas: as comunicações que recebem têm geralmente
por objeto as questões de moral e de alta filosofia. Muito comuns, quanto à moral.
"Todos estes matizes constituem variedades de aptidões dos médiuns bons.
Quanto aos que têm uma aptidão especial para comunicações científicas, históricas,
médicas e outras, fora do alcance de suas especialidades atuais, fica certo de que
possuíram, em anterior existência, esses conhecimentos, que permaneceram neles em
estado latente, fazendo parte dos materiais cerebrais de que necessita o Espírito que se
manifesta; são os elementos que a este abrem caminho para a transmissão de idéias que
lhe são próprias, porquanto, em tais médiuns encontra ele instrumentos mais inteligentes
e mais maleáveis do que num ignaro." - (Erasto.)

Médiuns de comunicações triviais e obscenas: estas palavras indicam o gênero
de comunicações que alguns médiuns recebem habitualmente e a natureza dos Espíritos que as dão.
Quem haja estudado o mundo espírita, em todos os graus da escala, sabe que Espíritos há, cuja
perversidade iguala à dos homens mais depravados e que se comprazem em exprimir
seus pensamentos nos mais grosseiros termos. Outros,, menos abjetos, se contentam
com expressões triviais. E natural que esses médiuns sintam o desejo de se verem livres
da preferência de que são objeto por parte de semelhantes Espíritos e que devem invejar
os que, nas comunicações que recebem, jamais escreveram uma palavra inconveniente.
Fora necessário uma estranha aberração de idéias e estar divorciado do bom senso, para
acreditar que semelhante linguagem possa ser usada por Espíritos bons.

194. 4º - Segundo as qualidades físicas do médium

Médiuns calmos: escrevem sempre com certa lentidão e sem experimentar a
mais ligeira agitação.

Médiuns velozes: escrevem com rapidez maior do que poderiam
voluntariamente, no estado ordinário. Os Espíritos se comunicam por meio deles com a
rapidez do relâmpago. Dir-se-ia haver neles uma superabundância de fluido, que lhes
permite identificarem-se instantaneamente com o Espírito. Esta qualidade apresenta às
vezes seu inconveniente: o de que a rapidez da escrita a toma muito difícil de ser lida,
por quem quer que não seja o médium.
"É mesmo muito fatigante, porque desprende muito fluido inutilmente."
Médiuns convulsivos: ficam num estado de sobreexcitação quase febril. A mão e
algumas vezes todo o corpo se lhes agitam num tremor que é impossível dominar. A
causa primária desse fato está sem dúvida na organização, mas também depende muito
da natureza dos Espíritos que por eles se comunicam. Os bons e benévolos produzem
sempre uma impressão suave e agradável; os maus, ao contrário, produzem-na penosa.
 
"É preciso que esses médiuns só raramente se sirvam de sua faculdade
mediúnica, cujo uso freqüente lhes poderia afetar o Sistema nervoso." (Capítulo "Da
identidade dos Espíritos", diferenciação dos bons e maus Espíritos.)

195. 5º - Segundo as qualidades morais dos médiuns
Mencionamo-las sumariamente e de memória, apenas para completar o quadro,
visto que serão desenvolvidas adiante, nos capítulos: Da influência moral do médium,
Da obsessão, Da identidade dos Espíritos e outros, para os quais chamamos
particularmente a atenção do leitor. Aí se verá a influência que as qualidades e os
defeitos dos médiuns pode exercer na segurança das comunicações e quais os que com
razão se podem considerar médiuns imperfeitos ou bons médiuns.

196. Médiuns imperfeitos

Médiuns obsidiados: os que não podem desembaraçar-se de Espíritos
importunos e enganadores, mas não se iludem.

Médiuns fascinados: os que são iludidos por Espíritos enganadores e se iludem
sobre a natureza das comunicações que recebem.

Médiuns subjugados: os que sofrem uma dominação moral e, muitas vezes,
material da parte de maus Espíritos.

Médiuns levianos: os que não tomam a sério suas faculdades e delas só se
servem por divertimento, ou para futilidades.

Médiuns indiferentes: os que nenhum proveito moral tiram das instruções que
obtêm e em nada modificam o proceder e os hábitos.

Médiuns presunçosos: os que têm a pretensão de se acharem em relação
somente com Espíritos superiores. Crêem-se infalíveis e consideram inferior e errôneo
tudo o que deles não provenha.
 
Médiuns orgulhosos: os que se envaidecem das comunicações que lhes são
dadas; julgam que nada mais têm que aprender no Espiritismo e não tomam para si as
lições que recebem freqüentemente dos Espíritos. Não se contentam com as faculdades
que possuem, querem tê-las todas.

Médiuns suscetíveis: variedade dos médiuns orgulhosos, suscetibilizam-se com
as críticas de que sejam objeto suas comunicações; zangam-se com a menor contradição
e, se mostram o que obtêm, é para que seja admirado e não para que se lhes dê um
parecer. Geralmente, tomam aversão às pessoas que os não aplaudem sem restrições e
fogem das reuniões onde não possam impor-se e dominar.
"Deixai que se vão pavonear algures e procurar ouvidos mais complacentes, ou
que se isolem; nada perdem as reuniões que da presença deles ficam privadas." -
ERASTO.

Médiuns mercenários: os que exploram suas faculdades.

Médiuns ambiciosos: os que, embora não mercadejem com as faculdades que
possuem, esperam tirar delas quaisquer vantagens.

Médiuns de má-fé: os que, possuindo faculdades reais, simulam as de que
carecem, para se darem importância. Não se podem designar pelo nome de médium as
pessoas que, nenhuma faculdade mediúnica possuindo, só produzem certos efeitos por
meio da charlatanaria.

Médiuns egoístas: os que somente no seu interesse pessoal se servem de suas
faculdades e guardam para si as comunicações que recebem.
Médiuns invejosos: os que se mostram despeitados com o maior apreço
dispensado a outros médiuns, que lhes são superiores.
Todas estas más qualidades têm necessariamente seu oposto no bem.

197. Bons médiuns

Médiuns sérios: os que unicamente para o bem se servem de suas faculdades e
para fins verdadeiramente úteis. Acreditam profaná-las, utilizando-se delas para satisfação de curiosos e de
indiferentes, ou para futilidades.

Médiuns modestos: os que nenhum reclamo fazem das comunicações que
recebem, por mais belas que sejam. Consideram-se estranhos a elas e não se julgam ao
abrigo das mistificações. Longe de evitarem as opiniões desinteressadas, solicitam-nas.

Médiuns devotados: os que compreendem que o verdadeiro médium tem uma
missão a cumprir e deve, quando necessário, sacrificar gostos, hábitos, prazeres, tempo
e mesmo interesses materiais ao bem dos outros.

Médiuns seguros: os que, além da facilidade de execução, merecem toda a
confiança, pelo próprio caráter, pela natureza elevada dos Espíritos que os assistem; os
que, portanto, menos expostos se acham a ser iludidos. Veremos mais tarde que esta
segurança de modo 'algum depende dos nomes mais ou menos respeitáveis com que os
Espíritos se manifestem.
"É incontestável, bem o sentis, que, epilogando assim as qualidades e os defeitos
dos médiuns, isto suscitará contrariedades e até a animosidade de alguns; mas, que
importa? A mediunidade se espalha cada vez mais e o médium que levasse a mal estas
reflexões, apenas uma coisa provaria: que não é bom médium, isto é, que tem a assisti-lo
Espíritos maus. Ao demais, como já eu disse, tudo isto será passageiro e os maus
médiuns, os que abusam, ou usam mal de suas faculdades, experimentarão tristes
conseqüências, conforme já se tem dado com alguns. Aprenderão à sua custa o que
resulta de aplicarem, no interesse de suas paixões terrenas, um dom que Deus lhes
outorgara unicamente para o adiantamento moral deles. Se os não puderdes reconduzir
ao bom caminho, lamentai-os, porquanto, posso dizê-lo, Deus os reprova." -
(ERASTO.)
"Este quadro é de grande importância, não si para os médiuns sinceros que,
lendo-o, procurarem de boa-fé preservar-se dos escolhos a que estão expostos, mas
também para todos os que se servem dos médiuns, porque lhes dará a medida do que
podem racionalmente esperar. Ele deverá estar constantemente sob as vistas de todo
aquele que se ocupa de manifestações, do mesmo modo que a escala espírita, a que
serve de complemento. Esses dois quadros reúnem todos os princípios
da Doutrina e contribuirão, mais do que o supondes, para trazer o Espiritismo ao
verdadeiro caminho." (SÓCRATES.)

198. Todas estas variedades de médiuns apresentam uma infinidade de graus em
sua intensidade. Muitas há que, a bem dizer, apenas constituem matizes, mas que, nem
por isso, deixam de ser efeito de aptidões especiais. Concebe-se que há de ser muito
raro esteja a faculdade de um médium rigorosamente circunscrita a um só gênero. Um
médium pode, sem dúvida, ter muitas aptidões, havendo, porém, sempre uma
dominante. Ao cultivo dessa é que, se for útil, deve ele aplicar-se. Em erro grave incorre
quem queira forçar de todo modo o desenvolvimento de uma faculdade que não possua.
Deve a pessoa cultivar todas aquelas de que reconheça possuir os gérmens. Procurar ter
as outras é, acima de tudo, perder tempo e, em segundo lugar, perder talvez,
enfraquecer com certeza, as de que seja dotado.
"Quando existe o princípio, o gérmen de uma faculdade, esta se manifesta
sempre por sinais inequívocos. Limitando-se à sua especialidade, pode o médium tornarse
excelente e obter grandes e belas coisas; ocupando-se de todo, nada de bom obterá.
Notai, de passagem, que o desejo de ampliar indefinidamente o âmbito de suas
faculdades é uma pretensão orgulhosa, que os Espíritos nunca deixam impune. Os bons
abandonam o presunçoso, que se torna então joguete dos mentirosos. Infelizmente, não
é raro verem-se médiuns que, não contentes com os dons que receberam, aspiram, por
amor-próprio, ou ambição, a possuir faculdades excepcionais, capazes de os tornarem
notados. Essa pretensão lhes tira a qualidade mais preciosa: a de médiuns seguros." -
(SÓCRATES.)

199. O estudo da especialidade dos médiuns não só lhes é necessário, como
também ao evocador. Conforme a natureza do Espírito que se deseja chamar e as
perguntas que se lhe quer dirigir, convém se escolha o médium mais apto ao que se tem
em vista. Interrogar o primeiro que apareça é expor-se a receber respostas incompletas,
ou errôneas. Tomemos aos fatos comuns um exemplo. Ninguém confiará a redação de
qualquer trabalho, nem mesmo uma simples cópia, ao primeiro que encontre, apenas
porque saiba escrever. Suponhamos um músico, que queira seja executado um trecho de
canto por ele composto. Muitos cantores, hábeis todos, se acham à sua disposição. Ele,
entretanto, não os tomará ao acaso: escolherá, para seu intérprete, aquele cuja voz, cuja
expressão, cujas qualidades todas, numa palavra, digam melhor com a natureza do
trecho musical. O mesmo fazem os Espíritos, com relação aos médiuns, e nós devemos
fazer como os Espíritos.
Cumpre, além disso, notar que os matizes que a mediunidade apresenta e aos
quais outros mais se poderiam acrescentar, nem sempre guardam relação com o caráter
do médium. Assim, por exemplo, um médium naturalmente alegre, jovial, pode obter
comumente comunicações graves, mesmo severas e vice-versa. E ainda uma prova
evidente de que ele age sob a impulsão de uma influência estranha. Voltaremos ao
assunto, no capítulo que trata da influência moral do médium.
 

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