monólogo de uma senhora

 

 

 

A Morte me livrou da contingência
A que a matéria bruta não escapa,
De ver meu rosto, etapa por etapa,
Murcho, mirrado, coriáceo, ausência.

O Anjo iníquo da degenerescência
Que azeda o vinho, a alma e a garapa,
E cobre o mundo com a negra capa,
Povoa a terra toda de excrescênclia.

Quando da vida me arrancou chorosa,
Deteve o bisturi da ruga odiosa,
E o triunfo rude da madrasta História.

Liberta dessa carne miserável
Fico guardada bela, inalterável,
Nos Arcanos insondáveis da Memória."

 

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