São Bernardo do Campo - Suzano - Mogi das Cruzes - Bertioga - Santos
18 de fevereiro de 2006

Depois de ler uma proposta do Kenji no fórum, convidando qualquer maluco que quisesse fazer uma pedalada até Bertioga, lembrei que já tive esse percurso nos meus planos, mas nunca realizei essa pedalada. Era uma boa oportunidade para fazê-la, pois é difícil reunir mais malucos para pedalar por aí, principalmente quando o local não é "badalado".
Deixei expresso meu interesse, mas ainda sem confirmação, já que nem sempre estamos dispostos o suficiente para encarar um dia de muito suor, com risco de sol, chuva, ventos, intermináveis subidas, possíveis imprevistos e etc.
Lembro que sugeri para o sábado seguinte a data da pedalada. Eu mesmo me questionava sobre meu estado de sanidade. Minha esperança era que a semana seguisse com as chuvas que vinham caindo nos dias úteis e, como cada final de semana é tempo de virada, dessa vez o tempo virasse, e virou de chuvoso para nublado sem chuva.
Eu já havia combinado com o Kenji, meio por cima, que sairia de casa lá pelas 5h da manhã. Digamos que em um "último momento", o Nelson me mandou uma mensagem dizendo que também iria. Liguei para ele e passei o que estava combinado com o Kenji, que eu sairia de casa umas 5h. Já com esses horários estabelecidos, combinamos nos encontrar na cidade de Mauá por volta de 6h. As distâncias percorridas por ele e por mim até esse ponto são mais ou menos as mesmas.
Já estava acostumado com os incovenientes de uma insônia que me aflige há 15 anos, e que geralmente não me deixa dormir numa noite anterior a um grande dia como esse mas, para minha surpresa, consegui dormir de meia noite e pouco até 3:20h. O programado era acordar 4:20h, mas ao acertar o despertador, acabei adiantando sem querer em uma hora o relógio. Quando percebi o engano, já tinha feito vários preparativos. Mesmo assim, tentei cochilar mais um pouco, já que o dia seria pesado, e não tinha dormido muito. Bom, cochilar foi só o que eu consegui. Às 4:20h eu estava levantando novamente.
Dessa vez não havia grandes planos. Sem saber muito bem onde, quando e quantas vezes parar pelo caminho, minha maior preocupação era evitar minha compulsão por levar bagagem demais. Sou meio aficcionado pela autonomia, então procuro exageradamente me precaver contra imprevistos e previstos. Claro que isso se reflete em uma bagagem excessiva, com itens que só fazem peso e volume. Apesar de estar preocupado com esse aspecto, não consegui me livrar totalmente dessa compulsão, mas reduzi bastante a bagagem que costumaria levar numa pedalada dessas.
Acabei saindo atrasado de casa (5:20h) e tive que manter um rítimo acima do que eu gostaria, para chegar menos atrasado ao encontro com o Nelson. Cheguei a Mauá às 6:10h, com as costas doendo bastante por causa da má acomodação da bagagem na mochila. Conversei com o Nelson sobre o caminho que faríamos até Suzano, onde encontraríamos o Kenji, enquanto eu rearrumava a bagagem na mochila. Tínhamos duas opções.
Uma delas era fazer um caminho já bem conhecido, usando uma estrada rural asfaltada entre Ribeirão Pires e Suzano, que tem a vantagem de cortar caminho e ter menor risco de acidente, mas a desvantagem de ser muito esburacada e cheia de subidas e descidas, o que talvez nos custasse um esforço precioso para completar a viagem, já que o plano inicial era descer e subir a serra pedalando.
A outra opção era seguir a avenida principal até a Rodovia Índio Tibiriçá, em Ribeirão Pires, onde a seguiríamos até Suzano. Eu sabia que o caminho era mais longo e mais perigoso por causa do movimento de caminhões e principalmente pelo alto índice de neblina, mas tinha a vantagem de não ser esburacada e ter subidas e descidas mais longas, como na maioria das estradas, o que nos permitiria fazer uma velocidade média maior. Imaginei que o aumento na distância fosse em torno de 5 km em relação ao outro caminho, e como não havia indício de neblina, resolvemos ir pela Rodovia.
Estávamos no último dia do horário de verão. Começou a amanhecer por volta de 6:45h. Nessa manhã de sábado, o tráfego de caminhões na Rodovia não era muito intenso, o que era muito bom para nós. Também não havia neblina, como podíamos imaginar. A temperatura naquela manhã era bem razoável, e o céu estava encoberto, mas sem chuva. Em resumo, o tempo estava muito favorável para pedalar naquele dia.
Eu imaginava que chegaríamos a Suzano por volta de 7:30h. O que eu não sabia mas começava a me dar conta é que o caminho pela rodovia era bem mais extenso do que eu imaginava. Passávamo por bairros e bairros de Ribeirão Pires à beira da Rodovia, e nada se chegar a Suzano. Percebendo que chegaríamos bem mais tarde que o previsto, resolvi ligar para o Kenji avisando. Paramos em frente a um mercado de bairro, logo após cruzar uma via férrea. Meu celular já contava 5 ligações não atendidas. Realmente não dava para ouvi-lo tocar dentro da mochila. Liguei para o Kenji, avisei onde estávamos e ele mesmo deduziu que demoraríamos. Perguntei como são as indicações das placas para Suzano (se havia, se era fácil chegar pela Rodovia..). O pai dele me passou alguns pontos de referência, e seguimos. Ainda pedalamos muito até chegar aos pontos de referência, mas realmente não foi difícil chegar a Suzano. Apenas demorado. Eram quase 15km a mais que pelo outro caminho. Da próxima vez, sem dúvida o outro caminho será o escolhido.
Paramos numa loja grande de som automotivo, que deveria ser uma referência fácil para o Kenji. Liguei para ele, e uns 5 minutos depois ele estava conosco. Meu velocímetro já marcava 50 km percorridos. Comi umas bananas que levei de casa (ninguém se arriscou a aceitar uma), e seguimos em direção a Mogi das Cruzes, de onde sai a Rodovia conhecida por Mogi - Bertioga. Um pouco antes de sairmos de Suzano, o Kenji nos avisou que o Guiné queria um relato com bastante fotos. Eu estava com minha câmara, mas até aí não tinha tirado nenhuma foto. Paramos e tiramos as primeiras, ainda na avenida que liga Suzano a Mogi das Cruzes.
Nas fotos, o de azul é o Nelson e o de vermelho é o Kenji. Para me identificar, basta dizer que não tenho traços japoneses.
Seguimos por essa avenida até uma rotatória, onde uma placa indica que ciclistas devem utilizar a Av. Anchieta, que tem uma ciclofaixa. As fotos mostram a tal ciclofaixa, que acompanha a via férrea. Seguimos por ela até o primeiro viaduto, que passa por cima da avenida em que estávamos. Como referência, há um posto de gasolina nesse ponto, e a avenida passa a ser de mão única. Se não me engano, o nome do viaduto é Professor Argeu, e tem um sobrenome, que não me lembro mais. Mas lembro que meu velocímetro marcava 60,08 km, nesse ponto. Esse viaduto é, se não me engano, o fim da estrada que liga Mogi das Cruzes à Rodovia Ayrton Senna, e termina no começo da avenida que leva à Mogi-Bertioga. Por referência, há um quartel de bombeiros ao lado do viaduto.
O Kenji pensou que logo começaríamos a descer a serra, mas eu me lembrava que a descida não começava tão perto assim (eu já havia descido de moto uns dois anos antes). Pedalamos pela avenida, que depois de alguns quilômetros se tornou uma subida bem forte, em que caminhões usavam as marchas reduzidas, e carros com motor 1.0 talvez não subissem se tivessem mais de 4 ocupantes. Depois dessa subida, uma descida de mesma intensidade, onde atingi 71 km/h. Ao final, a rodovia que nos levaria até Bertioga passava perpendicularmente. Pegamos a direita e paramos logo depois para mais fotos. A placa indica o nome verdadeiro da rodovia conhecida como Mogi - Bertioga. Engraçado lembrar disso, mas logo que voltamos a pedalar, testemunhamos um carro cujo motorista se recusou a dar passagem a uma viatura da polícia que vinha em alta velocidade e teve que frear bruscamente para não colidir. Claro que logo após passar, os policiais encostaram e pararam aquele motorista que não seguiu a regra de liberar o caminho para viaturas oficiais. Isso aconteceu na pista de sentido oposto ao que estávamos.
A Rodovia seguia com suas curvas, aclives e declives, mas agora em pista simples de mão dupla. Se parece muito com a estrada que liga Mogi das Cruzes à Rodovia Tamoios, na cidade de Salesópolis. Em muitos trechos, ela continua com acostamento de terra, como podemos ver em algumas fotos. A propósito, o Kenji também estava com uma câmara, e tem mais fotos. Lembro de um comentário do Kenji, dizendo que cada vez que parávamos, ele se convencia de instalar um descanso lateral em sua bike de cicloturismo, vendo a minha...
Seguimos por esse trecho de estrada com acostamento de terra. Íamos pela beiradinha do asfalto, sobre a faixa branca, o que nos rendia algumas eventuais buzinadas, de alguns dos menos cultos e ecléticos escravos dos usineiros e petroleiros.
Em um ponto, havia um mini comando policial, com uma viatura e dois ou três policiais parando carros, motos e caminhões. No sentido em que estávamos, um caminhão e um policial ocupavam todo o acostamento, o que nos forçaria a passar pela pista e, possivelmente, resultaria em uma bronca desse policial. Mas eles estavam em frente a uma ilha de entrada de um comércio de beira de estrada. Como eu estava na frente, resolvi cortar pelo estacionamento do comércio, de terra, para demonstrar responsabilidade com a segurança. Ao ver do que se tratava o comércio, sugeri a oKenji e ao Nelson pararmos. Era uma queijaria.
Me bateu uma grande vontade de comer um queijo, e talvez algum doce. Eu estava com fome, porque esqueci de jantar na noite anterior. Encostamos as bikes sem nos preocupar e entramos. Afinal, o risco de roubarem uma bike ali era baixo. Em uma das prateleiras tinha doces "caseiros", porém com embalagens muito industriais.... Fiquei de olho nuns brigadeiros... Mas eu tava afim mesmo é de comer queijo. O balconista nos atendeu muito bem!! Nos ofereceu uma "amostra grátis" de um queijo delicioso!! Era muito forte, mas delicioso mesmo!!
Comida muito salgada não combinava muito com a pedalada que estávamos fazendo, então preferi um queijo fresco. 240g foram suficientes. O Kenji pegou um outro tipo, e o Nelson não quis nenhum. Antes de voltar para as bikes, pedi apenas 50g daquele primeiro queijo, só para matar a vontade, e o cara foi muio gente boa e não quis nem me cobrar! Esqueci de tirar fotos do lugar, mas o Kenji tirou. Voltamos para as bikes. Eu terminei de comer o queijo fresco, o kenji comeu bolacha, se não me engano, e voltamos para a estrada. Se eu lembrasse o nome do lugar, escreveria, pois recomendo! Talvez uma foto do Kenji revele.
A estrada continuou com suas curvas e desníveis, se acentuando um pouco, mais a frente. O ambiente, embora um pouco mais quente, continuava muito favorável, sem sol e sem chuva. O Kenji me perguntava a cada descida se era o começo da serra, e eu dizia que havia uma placa avisando e aconselhando a testar os freios. Não adiantava... ele sempre perguntava! Num momento cheguei a achar que era o começo do trecho de serra, embora não tivesse visto a placa. Me enganei. Só aos 89 km de meu odômetro que vimos a tal placa, e começou a descida da serra.
Nã havia mais acostamento, em nenhum dos sentidos. O asfalto estava bom, visivelmente recém recapeado. O movimento não era tão intenso, apesar de ser mais ou menos 11:30h. Não olhava muito para o velocímetro, porque estava bem atento à estrada. O Nelson ressaltou que era possível sentir os ouvidos "tampando" por causa da diferença de pressão. Eu estava na frente, e entrei no estacionamento de um monumento à beira da estrada, um dos dois únicos pontos de parada, ambos no sentido que desce. Fiz essa parada porque li uma placa indicando uma fonte de água potável, e porque parecia que o Kenji havia ficado para trás. A fonte, além de seca, estava tão imunda quanto qualquer monumento depredado. O Kenji chegou logo. Sugeriram tirar fotos, mas já estávamos meio atrasados, levando em conta que cogitávamos subir pedalando. Além disso, o monumento estava muito vandalizado, e por isso não seria interessante vasculhar a mochila para pegar a câmara. Nem desci da bike, já me dirigi à saída da área do monumento, esperei os carros passarem, e voltei para a estrada. Percebi que o Nelson e o Kenji demoraram um pouco para me seguir, e vi um carro surgindo mais acima. Imaginei que talvez eles fossem esperar aquele carro passar e, assim, demorariam um pouco, então fui descendo e verificando se eles estavam vindo ou não, mas não diminuí muito a velocidade, porque não queria que o carro me alcançasse.
Como não via o Nelson, nem o Kenji, fui diminuindo aos poucos, e verificando o tempo todo. Nada dos dois. Me perguntei se poderia ter aparecido mais carros e eles poderiam ter esperado, ou se havia acontecido alguma coisa. Encostei e esperei um minuto parado. Nada deles. Eu não fiquei muito preocupado porque já tinha pedalado com o Nelson e sabia que ele era experiente, então as chances de ter acontecido alguma coisa eram pequenas. Por outro lado, a alta preocupação ou mesmo desespero pode piorar uma situação já complicada. Prestei atenção aos carros, e nenhum me fez sinal com os faróis ou buzina. Depois de um minuto parado resolvi subir, mas não tinha pernas para pedalar, então fui empurrando. Logo depois os dois apareceram, e pararam.
Perguntei o que havia acontecido, e o Nelson disse que caiu. Foi aí que percebi que a bermuda dele estava com um rasgo na perna, e o joelho estava ralado. Ele mostrou também o cotovelo e um dos dedos, e percebi que perto da barriga havia mais uma área esfolada. Me veio a sensação de tombos que eu já levei, e senti minha pressão baixar um pouco. Procurei não pensar nisso, e perguntei ao Nelson se ele se sentia bem, se queria voltar, chamar uma ambulância, continuar, ou o quê. Ele disse que estava bem, e que continuaria. Como estávamos na sarjeta da estrada, sugeri que continuassemos até o mirante, que não estava longe. Foi o que fizemos, em baixa velocidade.
Chegando ao mirante, paramos num canto e avaliamos melhor o que aconteceu no tombo. Parecia não haver nada grave. Felizmente não havia nenhum carro em nenhum dos sentidos no momento do tombo, segundo o Nelson e o Kenji. O Nelson disse que estava a uns 50 km/h quando caiu, e que a causa foi o desnível entre o asfalto e a sarjeta. Esse desnível fez com que ele perdesse o controle da direção, quando o pneu dianteiro escorregou para a sarjeta. Já me vi nesse tipo de situação algumas vezes, mas felizmente sem acidentes, apenas sustos. Lembro que uma vez um amigo chamado Maurício, também do fórum, caiu pelo mesmo motivo, em uma pedalada onde voltávamos de Paranapiacaba.
O Kenji disse que viu tudo. O Nelson contava os pensamentos durante o tombo. Achei engraçado quando ele disse que procurava um jeito de parar de rolar no asfalto e que a bicicleta, que estava rolando junto, estava atrapalhando. Achei engraçado pelo jeito que ele contou, e porque comigo os tombos costumam ser "vapt-vupt", ou seja, quando me dou conta, já foi. Claro, se ele não estivesse bem, não teria graça nenhuma!
Ficamos um bom tempo no mirante. Acho que uns 30 minutos. O mato lá estava muito alto, o lugar estava em estado de abandono. Consegui atravessar a selva e sentar num banco. Saquei minhas bananas e as estraçalhei. Também tomei bastante suco de laranja que fiz em casa. O farofeiro estava em seu pique-nique rumo à praia... Pra completar, o Kenji ainda tinha queijo, e estava geladinho, porque congelou seu camelbak. A água dele acabava toda hora, porque ainda não tinha fundido todo o gelo. Tiramos mais fotos.
O Nelson estava preocupado com o câmbio dianteiro, que parecia estar danificado pelo tombo. Isso seria mesmo um problema, se pretendíamos voltar pedalando. Ele parecia o mais disposto a continuar, aliás. Muito sóbrio.
Do mirante era possível ver o mar. Bom, isso se o tempo estivesse bom. Naquele dia, só podíamos estimar ver o mar. Não me lembro se o relógio marcava 11:55h no momento em que saimos so mirante ou no momento em que saimos da queijaria, mas acho que foi o segundo caso. Continuamos a descer, em velocidades mais moderadas, mas para isso tínhamos que andar pela sarjeta, o que era horrível. Quando parecia não ter carros por perto, eu voltava ao asfalto e deixava a bike ganhar velocidade. O Nelson e o Kenji faziam o mesmo. Nos deparamos com um caminhão mais a frente. Ele ia bem devagar. Num primeiro momento, achei bom, pois podíamos ir devagar, pelo asfalto, e os carros tinham que desviar. Mas percebi que o Nelson e o Kenji queriam ultrapassá-lo. Por mim, ficariamos atrás do caminhão, que seria bem mais seguro, mas... acabamos ultrapassando e seguindo com velocidade. Não demorou muito até terminarmos a descida.
Terminando a descida da serra, a estrada se torna um retão, com mato dos dois lados. Meu velocímetro marcava 100,01 km de distância percorrida. O ar estava bem abafado, ao contrário do que estava antes de descermos a serra. A umidade também era maior. Nesse trecho já havia acostamento, que aliás era muito bom. Não havia sol, mas o mormaço castigava um pouco. Pedalamos até a Rodovia Rio-Santos. Não lembro de ter conferido a distância, mas deve ter sido uns 5 km do final da descida. Entrando na Rio-Santos, passamos a nos relacionar com um movimento bem maior de carros, ônibus e caminhões. Também tinha um número bem maior de bicicletas, quase todas aparentemente de uso "local". Eu já estava bem cansado, enquanto o Nelson e o Kenji pareciam estar ainda bem dispostos. Uma placa indicava que Bertioga estava a 8 km de distância. Percebi que quando olhava para baixo, sentia um grande alívio no pescoço. Por isso comecei a pedalar olhando para o movimento central, olhando para frente só a cada 50 metros, mais ou menos. Fazendo isso, a sensação de velocidade aumentava, vendo o chão passar, e assim eu não ficava pensando em quanto faltava. Como a paisagem é meio vasta na Rio-Santos, que também tem grandes retas, olhando para frente se tem a impressão que está bem mais devagar. Enquanto observava o trabalho do movimento central e da corrente, também fiquava imaginando aquelas velhas máquinas a vapor, que trabalhavam com rotações bem menores e torques muito maiores que os motores mais comuns de hoje. Bom, era um jeito de me distrair enquanto não chegávamos...
O Kenji e o Nelson vinham logo atrás. Num momento, reparei que eles distanciaram um pouco e conversavam, mas não faço idéia do quê nem de quanto. Pensei "Será que ninguém vai dividir esse vento comigo? Quando eu vou poder aproveitar o vácuo? Será que é por isso que o Nelson parece bem menos cansado que eu, apesar de ter percorrido quase a mesma distância?". Fui pedalando de cabeça abaixada até o trevo de Bertioga. Ao chegarmos lá, vi a tal barraca do famoso pastel do trevo de Bertioga. Achei uma boa idéia parar para comer um pastel. Avisei ao Kenji, e ele teve a mesma idéia. O Nelson concordou. Atravessamos o trevo e chegamos ao tão famoso ponto do trevo de Bertioga, às 13:00 h. Fiquei imaginando uma conexão entre as pedaladas que fazemos e as pedaladas do Cronópio, também do fórum. Uma pena ter acontecido aquele acidente e ele estar impossibilitado de pedalar. Mas tenho grande esperança que tudo se normalize o quanto antes, e possamos ainda marcar um encontro no trevo de Bertioga.
Paramos as bikes na guia, bem de frente para a banca de pastel, para mais fotos. O tema é "Invadimos a praia do Cronópio!". Depois colocamos as bikes num canto, e fomos provar o tal pastel, tão famoso. O preço assusta no início, mas em copensação, o pastel é de primeira!!! Aprovado!! Tanto que cancelamos nosso plano de almoçar... Ficamos por lá um bom tempo, acho que mais ou menos uma hora. O Kenji aproveitou para tomar água de coco, que um abulante vendia ao lado. Inclusive abriu e comeu o coco.
Tiramos mais fotos, e depois de me refrescar lavando bem o rosto e molhando a cabeça e a camiseta numa torneira que tem lá, seguimos pela avenida principal, procurando uma farmácia onde o Nelson pudesse comprar algum anticéptico para seus ferimentos. Demorou até que conseguíssemos achar uma farmácia. Já estava pensando que em Bertioga ninguém ficava doente.. O Nelson comprou o produto e usou, enquanto o Kenji e eu conversávamos. Um ciclista local veio falar conosco. Perguntou de onde vinhamos e nos aconselhou a tomarmos cuidado, pois era grande o risco de assalto. Agradecemos, e ele seguiu caminho. Uma cena muito interessante se formou com algumas nuvens carregadas próximas à serra, e resolvi tirar algumas fotos. Num momento, suspeitei de um cara que passou e ficou olhando. Depois ficou parado a uns 15 metros de nós. Quando ele falou brevemente com um motociclista que estava passando por ali, e que parecia ser conhecido dele, fiquei realmente preocupado. O motociclista saiu logo, e o cara continuou ali, parado. Por precaução, sugeri ao Nelson e ao Kenji que saíssemos logo de lá. E foi o que fizemos.
Seguimos por algumas avenidas e perguntamos, num posto, onde ficava a rodoviária da cidade. Disseram que não havia rodoviária, mas que os ônibus para outras cidades saíam de pontos que ficam no final daquela avenida. Seguimos até o final, onde ficava a balsa para Guarujá. Achamos os guichês das empresas de ônibus rodoviários, e perguntamos quais eram os destinos e os horários. Descobrimos que apenas uma empresa fazia transporte para Suzano. Havia outros destinos, mas nenhum era interessante para mim e para o Nelson. então decidimos que o Kenji subiria às 16:30h para Suzano, e o Nelson e eu pedalaríamos até Santos, para pegar lá um ônibus para São Bernardo do Campo ou Santo André. O Kenji teve que comprar duas passagens para ter o direito de levar a bicicleta. Eu acho isso injusto, pois a bicicleta é apenas uma bagagem, não um passageiro. Foi por isso que aconselhei ao Kenji que não perguntasse, na hora de comprar a passagem, se era permitido ou não levar a bicicleta, mas ele preferiu perguntar, e a resposta foi negativa.
Depois de resolvido o que faríamos, fomos até a praia descansar e matar o tempo. Apesar de não haver luz direta do sol, foi bom andar pela praia. Duas vezes fui até o mar molhar os pés. Eu não poderia pedalar até o litoral e não fazer pelo menos isso. Na verdade cheguei a entrar na água até molhar as coxas. ainda peguei algumas conchinhas para levar como um presente simbólico para minha noiva (e ela gostou!!). Perto das 16h, choveu um pouco. O Kenji tomou o ônibus, e depois o Nelson e eu atravessamos pela balsa para o Guarujá. Para pedestres e ciclistas a travessia é gratuita. Tirei várias fotos durante a travessia, e mais algumas depois. Meu velocímetro marcava 119km percorridos. Antes de atravessarmos, o Nelson encontrou um conhecido dele que, pelo que entendi, também tinham pedalado até lá, mas estavam hospedados na casa de alguém, e subiriam de carro.
Em terra firme, continuamos pedalando, agora por uma estradinha sinuosa e agradável. A estrada é de mão dupla também, e o acostamento é bom em alguns trechos e não tão bom em outros. Ainda no começo, o Nelson estava reclamando um pouco do funcionamento do seu câmbio traseiro, que foi afetado pelo tombo, então paramos para que ele o regulasse. Levamos uns 10 minutos. Segundo o Nelson, não estava bom, mas já tinha melhorado bastante. A estimativa é que chegaríamos a Santos lá pelas 18:30h. As paisagens pela estradinha Guarujá-Bertioga eram muito mais agradáveis que as da Rio-Santos. Além disso, o movimento de carros também era bem menor. Passamos por condomínios, estaleiros, vilarejos e até um heliporto. Apesar de não estarmos longe do mar, havia algumas subidas e descidas. Não eram fortes, mas eu já estava cansado depois de 130 km de caminhos bem variáveis. Nesse trecho também revesei o vácuo com o Nelson. Assim mantínhamos uma velocidade de 23 km/h, em média. Um dos vilarejos tinha lombadas enormes. O Nelson comentou isso, e eu brinquei dizendo que serviam para a prática de freestyle...
Finalmente chegamos à orla de Guarujá. Logo que chegamos, um senhor ciclista, aparentando ser um médico em dia de folga, ou algo assim, nos pediu ajuda. O selim da bicicleta dele estava solto. Como costumo levar ferramentas, apertei um parafuso e tudo se resolveu. Ele agradeceu e voltou a pedalar. O Nelson e eu seguimos pela mesma avenida, até que mais uma vez, pude conferir um ponto já retratado nos relatos do Cronópio. Era a ciclovia. Mais ou menos no meio dela, paramos para tirar umas fotos do lugar. Seguindo pela ciclovia, que tinha ciclistas e também corredores, chegamos a um local onde estavam montando um palco ou estande. Ficava no final da ciclovia. O trânsito estava impedido naquele local. Talvez isso tenha feito com que o movimento de carros na rua posterior fosse grande. Foi um pouco difícil passar por lá. Saimos em um bairro nobre do Guarujá, e fomos seguindo as indicações das placas. Em um cruzamento com uma grande avenida, perguntei para um casal em uma moto como ir em direção à balsa para Santos. Eles nos indicaram seguir pela tal avenida, até um viaduto, onde o tomaríamos sentido Santos. Seguimos a ciclovia por essa avenida, passamos por baixo do viaduto e tomamos a esquerda. Havia um certo fluxo de bicicletas nesse caminho, então deduzi que se tratava dos ciclistas que utilizam a balsa entre Guarujá e Santos. Eu já sabia que esse fluxo era grande. Tanto que o prefeito de Santos até queria criar leis que obrigassem o emplacamento das bicicletas de Santos.... Acho que é desnecessário fazer comentários sobre isso.
Seguindo o fluxo e as placas, chegamos à balsa. Essa também é gratuita para pedestres e ciclistas. Estranho que a balsa que usamos só tinha pedestres e ciclistas. Parece que esse fluxo é mesmo tão grande que uma das balsas ficou reservada para esse transporte, embora nequele fim de tarde de sábado a balsa não ficasse muito cheia. Tirei mais fotos. Chegamos a Santos, e tirei mais algumas. Fomos até o guichê de uma conhecida empresa de ônibus rodoviários que o Nelson sabia que tinha ônibus para o bairro em que ele mora. Chegamos às 18:55h, e o guichê havia acabado de fechar o caixa. O cara que trabalha lá disse que um ônibus com esse destino sairia às 7:20h, mas apenas da rodoviária. Para o Nelson, não dava tempo. Como o próximo ônibus dessa linha só sairia às 22:30h, o Nelson resolveu subir comigo na linha para São Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano do Sul. O cara do guichê disse que poderíamos esperar lá, pois um ônibus da viação passaria por lá e nos daria uma carona até a rodoviária. Esse ônibus saiu desse ponto às 19:50h. Chegamos à rodoviária às 20:30h, para pegarmos o ônibus das 20:35h, que atrasou.
Sugeri ao Nelson que comprássemos as passagens sem perguntar nada sobre as bicicletas, pois se fosse realmente proibido (o que mais uma vez eu digo que não é justo, e acho que também ilegal), o balconista do guichê nos avisaria e, ainda se não o fizesse, o motorista o faria. O balconista não disse nada. Eu combinei com o Nelson que se tivesse que pagar outra passagem para subir com a bicicleta, ele usaria minha passagem e eu pedalaria até a Praia Grande, onde mora minha mãe.
Quando o ônibus chegou, esperamos ao lado para que o motorista abrisse o bagageiro. Na hora em que o motorista veio, perguntou se estávamos com as notas fiscais das bicicletas. Com cara de espanto, olhei para o Nelson e de volta para o motorista, que disse que se houvesse uma batida policial na estrada, teríamos que apresentar as notas. Eu não disse nada. Acho que o Nelson também não. Então o motorista disse que era brincadeira...... Naquela situação de cansaço, eu não estava no espírito de brincadeira, mas fiquei quieto... Colocamos as bicicletas no bagageiro e subimos no ônibus. Eu estava aliviado por estar dentro do ônibus, pronto para subir a serra.
Durante a subida, fomos analisando onde seria melhor cada um de nós descer. Eu ia descer no centro de São Bernardo, e o Nelson ia descer em Santo André. Acabei mudando de idéia e no final das contas desci no ponto final, em São Caetano do Sul. Quase me arrependi disso, com um acidente que quase aconteceu em Santo André, um pouco depois que o Nelson desceu. Mas isso não tem nada a ver com bike, então não vem ao caso...
Depois de descer em São Caetano, pedalei até minha casa (uns 6 ou 7 km), chegando às 22:40h. Só lembro de tomar um mega banho e cair na cama........................

Logo colocarei os dados do velocímetro.

Para ver as fotos, clique no link.

Um grande abraço!

Alexandre
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