Cap�tulo I - Washington D. C.
Wilbur levantou-se e foi direto para o chuveiro. Era um daqueles dias em que as horas demorariam a passar e tudo levava a crer que ele n�o iria se concentrar no servi�o. Tamb�m, pudera, era dif�cil para algu�m como ele se acostumar com a rotina de um escrit�rio. Passava semanas em viagens designadas pela chefia, � procura de vest�gios que pudessem manchar a soberania americana. Todos eram suspeitos e, por via das d�vidas, era conveniente que fossem investigados bem de perto. N�o t�o perto a ponto de permitir sua identifica��o. Ele era craque em disfarces, para isso havia sido arduamente treinado. O treino consistira em seis meses num pr�dio da CIA em Washington, D.C., onde a poder das mais duras penas, ele fora aprovado e colocado em campo. Por essa raz�o, no retorno para a sede ao fim de cada miss�o, ele ficava enfastiado com a monotonia dos hor�rios e com o barulho das m�quinas de escrever.

Nicholas Kern escolhera um rapaz �gil, de r�pido racioc�nio, com n�vel de conhecimento acima da m�dia para sua idade e alto. N�o t�o alto a ponto de chamar a aten��o por onde passasse. Ele era um jovem americano, cuja descend�ncia germ�nica se traduzia em seus cabelos loiros e olhos azuis, com grandes ambi��es e princ�pios de honestidade � toda prova. Ou seja, Wilbur O'Brien era o "all-american-boy", um nativo dos Estados Unidos da Am�rica pura e simplesmente. Kern escolheu-o dentre duas dezenas de candidatos sem pestanejar. As miss�es �s vezes eram arriscadas e ele n�o poderia confi�-las a um indiv�duo cuja apar�ncia pudesse destac�-lo na multid�o. Para o servi�o, o agente deveria passar desapercebido na medida do poss�vel e o escolhido era ningu�m menos que Wilbur. Bastava para isso que ele fosse aprovado no teste de aptid�o e enfrentasse os rigorosos meses de treinamento. Kern n�o decepcionou-se.

Era uma manh� de movimento fora do comum no escrit�rio. Wilbur cumprimentou Jane Shine e, antes que pudesse refugiar-se em sua escrivaninha, ela chamou-o e sussurrou-lhe ao ouvido:
- Parece que voc� tem mais um abacaxi para descascar...
- Do que voc� est� sabendo?
- S� isso... O chefe deve cham�-lo daqui a pouco.
Invariavelmente, a secret�ria era a primeira a contar-lhe as novidades, algo que j� tornara-se um h�bito. Era sempre de forma casual, num clima de mexerico e mist�rio, que ela adorava. Da mesma forma, ele tamb�m apreciava muito essa esp�cie de antecipa��o da comunica��o formal, efetuada pela chefia. Podia preparar-se e muitas vezes lhe era bastante �til, pois nunca era pego de surpresa. Mas quando Jane comentou de sua nova incumb�ncia, ele logo raciocinou que era algo a ver com o conflito europeu. O governo americano acabara de tomar partido de sua aliada mais importante, a Inglaterra, que, sob uma chuva de bombeios alem�es, lhe suplicava por socorro.

Deveras, Wilbur recebeu a seguinte miss�o de sua chefia direta, cujo respons�vel era o velho Nicholas Kern, seu grande incentivador e �ntegro parceiro: deveria seguir para a Alemanha e, sob a prote��o dos aliados, desceria de p�ra-quedas, � noite, nas redondezas de Berlim. Ali, pessoas ligadas � resist�ncia o conduziriam a Oranienburg, onde ele seria devidamente treinado. Passaria dez dias em companhia de pessoas que o preparariam e o deixariam em condi��es de cumprir uma designa��o t�o importante quanto espantosa: atender servi�os dom�sticos na resid�ncia de Rudolf Hitzinger, um temido tenente da Gestapo, auxiliar direto de Reinhard Heydrich, o chefe nazista.
Sua fun��o seria simples: um mixto de ajudante de cozinha e auxiliar na limpeza. Uma vez infiltrado na casa, teria acesso f�cil ao escrit�rio de Rudolf, onde ele localizaria documentos de vital import�ncia que deveriam ser micro-fotografados e enviados aos EUA. Em seu fanatismo pela corpora��o, Rudolf tinha mania de trazer grandes quantidades de trabalho para serem executados em casa durante as horas de folga. Os filmes deveriam ser entregues �s pessoas que estariam em contato com Wilbur, que se encarregariam da remessa.
- Por que eu? - Wilbur perguntou a Nicholas.
- Porque � jovem, fala o alem�o com perfeito sotaque de alde�o, n�o levantaria suspeitas.
- Desta vez a coisa n�o � brincadeira. Basta um descuido apenas e eu vou parar na forca...
- Sim, tenho plena consci�ncia disso. Mas este um assunto de extrema import�ncia, n�o s� para mim como representante deste departamento, como tamb�m para o pa�s. � uma quest�o de patriotismo tamb�m, Wilbur. Venceremos os alem�es a qualquer custo, n�o h� outra alternativa para o mundo civilizado.
O jovem agente concordou imbu�do de forte convic��o. N�o havia d�vida, ser dominado por um louco, um fasc�nora, n�o era desejo de nenhuma na��o no mundo, com exce��o dos pa�ses do eixo. Mas, para todos os efeitos, ser colocado no meio da troca de tiros n�o era uma op��o muito atraente para Wilbur. Ela sabia que tudo estava em jogo a partir daquele momento: seus planos para o futuro, sua carreira profissional e, mais importante, sua vida.
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Agente Especial

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