MANIFESTO PARDO-MESTIÇO

NÓS OS PARDOS, os da cor da terra, os mestiços: cabocos, mamelucos, cafuzos, mulatos, nós que temos corpos e rostos e que representamos 38% da população do Brasil. Nós somos os mestiços, este amalgama de raças. Em nossas veias pulsa misturado, em percentuais diferentes, o sangue do índio, o sangue do negro, o sangue do branco, o sangue do amarelo; nós somos a diluição destes fenótipos, na formação do fenótipo brasileiro. O pardo, que geneticamente é uma meta-raça, a pardo-mestiça, que é esta mistura bonita, esta beleza que encanta os olhos do mundo, que ao mesmo tempo em que é todos fenótipos juntos, não é nenhum, em sua pureza específica, mas um outro muito distinto que se apresenta com a cor da terra, dos troncos das árvores da floresta, dos donos da terra. Nós somos a meta-etnia mestiça, e nossa cultura é a soma da cultura do índio, do negro, do branco e do amarelo. Não reconhecer o mestiço, o pardo, como fenótipo dominante na sociedade brasileira é a forma mais eficaz de não lhes conferir nenhum direito. Nós somos a meta-etnia parda, culturalmente somos herdeiros dos índios, dos negros dos brancos: o sangue indígena que circula em nossas veias nos dá os mesmos direitos indígenas à posse da terra porque somos seus descendentes diretos: se nossos avós eram os donos da terra, nós seus descendentes diretos temos os mesmos direitos pelo direito de herança, e baseados no direito de herança queremos a nossa parte de terra que foi roubada de nós pelos colonizadores - o governo nos deve terra e respeito; o sangue negro que circula em nossas veias nos dá os mesmos direitos que os negros têm à posse da terra e ao acesso às políticas sociais, pois também nós devemos ter acesso aos benefícios compensatórios pelo trabalho escravo roubados de nossos avós - o governo nos deve terra e respeito. Queremos a reforma agrária e urbana justas e equânimes. Nós os pardos queremos ser reconhecidos como pardos. Nossos traços mostram as nossas diferenças, que os governos querem negar.

Os movimentos populares do Norte do Brasil sempre foram muito ativos, o maior exemplo é a Cabanagem, único movimento popular e social da historia do Brasil, a tomar o poder e governar uma região inteira. Por isso seus autores e atores foram vitimas de uma limpeza étnica, como foram nossos antepassados indígenas e as comunidades mestiças de Canudos e do Contestado. Já os movimentos de brancos como o Farroupilha foram tratados de forma muito especial até incorporando os comandantes farrapos ao exercito regular, por ai tiramos que o governo brasileiro sempre teve dois pesos e duas medidas para resolver os mesmos impasses provocados por brancos e  pelos outros. Por isso gritamos igualdade Étnica e racial entre Pardos (mestiços), Índios, Negros, Amarelos e Brancos.

Quando a dita elite brasileira percebe que o movimento mestiço é o que mais risco oferece à sua injusta ordem política e social trata de usurpar nossos direitos, querendo impedir de forma totalitária o exercício de nossa cidadania como autores e atores dos movimentos de afirmação de identidade, negando a nós direitos constitucionais fundamentais ao exercício da nossa liberdade de consciência e de expressão política, como o da soberania da pessoa e o direito de autodeterminação. Fingindo valorizar a diversidade, a impõem de cima para baixo, disfarçando seu próprio racismo. Não reconhecer os pardos, os mestiços como meta-raça e meta-etnia é também uma manobra política racista do governo brasileiro marionete dos impérios e que tem por objetivo negar a existência do direito do mestiço à terra. Por esse motivo, somos completamente contrários ao Projeto de Lei 4776/2005, que entrega a Amazônia em fatias ao FMI, ao BM, e ao imperialismo europeu e ianque. Lotear a Amazônia é trair a Nação brasileira e entregar o país. Defendemos também o princípio constitucional de igualdade entre todos os brasileiros, independentemente da origem.

Desde quando a cultura da colonização chegou com sua moral de ladra, que tenta comer nossas mentes, que tenta nos ensinar o medo, a feiúra, a letargia, a obediência, a servidão voluntária, a baixa estima, o fracasso, a derrota sem luta, a incapacidade, e agora a completa alienação de nossa condição humana. Mas nós somos fortes e resistimos, nós somos guerreiros mestiços, filhos de índios, de negros, de brancos e de amarelos, todos estes povos guerreiros. Nós somos livres, nós somos os donos da terra e da água, os donos da Amazônia, os donos do Brasil. Este país é nosso, suas riquezas nos pertencem.

Mas ainda hoje, as famílias ditas tradicionais e ou endinheiradas, são as que detém o poder em suas mãos e conduzem e perpetuam a colonização do país, um grupo de traidores que vendem nossas riquezas a preço de banana e dão de brinde aos impérios direitos sobre nosso território.     

O governo usando eficazmente a sentença maquiavélica do dividir para dominar quer convencer os negros e indígenas de que não existe o mestiço, adotando uma postura nazi-fascista-sionista de tratar os pardos, nos colocando numa posição bastante fragilizada, porque tende a anular o nosso discurso e sem discurso, não somos nada - não esqueçamos que o homem é o seu discurso. Nós os mestiços somos herdeiros dos movimentos populares; nossas reivindicações ainda são as mesmas.

Jamais vamos concordar com este crime que estão cometendo contra nós, aceitar o silencio neste momento é aceitar a morte e a submissão como destino e o mestiço nasceu livre, é livre e morrerá livre. Temos o direito de mostramos nossos traços que são só nossos e que nos torna singulares. A luta dos mestiços, negros e índios é a mesma, sempre foi a mesma: o que queremos é igualdade de acesso à terra, à política públicas e afirmativas e às cotas para universidade assim como todos os direitos que nos foram roubados durante historia do Brasil. Reformas agrária e urbana já! Um só sangue – um só povo – um só Brasil.

 

IVAN VIANA DO NASCIMENTO

JERSON CESAR LEÃO ALVES

Hosted by www.Geocities.ws

1