Já existem diversos livros que contam a vida e a obra de Renato, entre eles "Renato de A a Z" e "Conversações com Renato Russo". Agora, o jornalista carioca Arthur Dapieve está lançando um livro que traça o perfil do compositor Renato Manfredini Jr., falecido em outubro de 1996. "Renato Russo - O Trovador Solitário" (co-editação da Prefeitura do Rio e Relume Dumará) integra a coleção "Perfis do Rio" e é divido em cinco capítulos, dois deles dedicados à cronologia e discografia do ex-músico do Legião Urbana.

Arthur Dapieve, colunista do jornal "O Globo", acompanhou passo a passo a evolução da Legião Urbana e do seu líder e agora faz um relato da trajetória deste rapaz tímido, talentoso e polêmico, o irmão mais velho de toda uma geração, que transformou em sucesso tudo que tocou.

Momentos importantes, como o tumultuado show realizado em Brasília, em 1988, são narrados com todos os detalhes que só alguém que esteve presente pode dar. Além disso, Renato Russo via Dapieve como profissional confiável, tendo sido jornalista escolhido quando o músico decidiu falar sobre sua homossexualidade.

Para escrever este "Perfil", Arthur Dapieve rebobinou as fitas que registraram as conversas e entrevistas que fez com Renato, e voltou a conversar com todos os que percorreram a mesma estrada, incluindo a família, a banda, os amigos dos anos punk em Brasília, os novos "amigos de infância" conquistados no Rio de Janeiro, além de jornalistas e empresários. O resultado é esta pequena obra-prima, reunindo e encadeando com sensibilidade, informações indispensáveis e muitas vezes inéditas, para que o grande público possa acompanhar, sem clima de fofoca, a tormentosa e brilhante trajetória do artista e agora fenômeno Renato Russo.

Fenômeno porque, na morte, Renato Russo revelou ter uma imensa legião de fãs, que chorou e mobilizou-se em homenagens pelo Brasil adentro. Aqueles que não o conheciam, se surpreenderam com a sua condição de ídolo maior da música jovem e viram uma cobertura de imprensa jamais imaginada: cadernos especiais nos maiores jornais do País e metade do Jornal Nacional, da TV Globo, dedicado à vida e aos funerais do roqueiro líder da Legião Urbana. Porém o mais espantoso é que, de lá para cá, a idolatria por Renato Russo só faz aumentar, surgindo milhares de novos fãs a cada ano, as FMs tocando suas músicas sem cessar, e a obra registrada em CD (seis da banda e três solo) quebrando sucessivos recordes de vendas. Segundo informações extra-oficiais, seriam até hoje cerca de 12 milhões de discos vendidos em pouco mais de 15 anos.

Ao escolher a frase "Urbana Legio Omnia Vincit" como lema da banda que criou na década de 1980, Renato Russo previu o futuro: Legião Urbana a tudo vence. O tempo inclusive. Letras como "Geração Coca-Cola", "Faroeste Caboclo", "Índios", entre outras, até hoje estão na ponta da língua de milhares de pessoas. E mesmo os que nunca assistiram um show do grupo, isto é os mais novos e os mais velhos, já descobriram o trabalho dos legionários.

Dapieve, de 37 anos, inicia o livro justamente com a morte do músico, provocada pela AIDS, e a atuação dos meios de comunicação diante da notícia e de seus bastidores. Ele conta por exemplo que Lilian Witte Fibe, então apresentadora do Jornal Nacional, não estava de acordo com o tempo, um excesso para ela do noticiário dedicado ao "legionário". E que tempo: a metade do programa.

 Ele queria liderar a Legião Urbana até os 40 anos. Depois, até os 60 anos, dedicar-se ao cinema. Aí poderia ser escritor. Não teve tempo de fazer uma coisa nem outra. Renato Manfredini Jr., mais conhecido como Renato Russo, morreu em 11 de outubro de 1996, vítima de complicações decorrentes da AIDS. Renato tinha 36 anos.

 Seu plano de vida reflete uma personalidade meticulosa, muitas vezes obsessiva, que é descrita com detalhes pelo jornalista Arthur Dapieve em "Renato Russo - O Trovador Solitário". Embora tenha nascido e montado sua banda em Brasília, Renato Russo teve uma forte ligação com o Rio de Janeiro. Foi lá que ele passou sua infância. E foi para cá que ele voltou, em 1985, após gravar o primeiro disco, "Legião Urbana", um arrasa quarteirão que continha clássicos como "Ainda é Cedo" e "Será".

 Dapieve abre o livro com uma curiosa discussão nos bastidores do Jornal Nacional, da Rede Globo, em que uma indiferente Lilian Witte Fibe não concordava em dedicar metade do jornal daquele fatídico 11 de outubro de 1996 ao líder da Legião Urbana. Foi convencida pelo então colega William Bonner, que ameaçou recitar no ar os 159 versos de "Faroeste Caboclo". A música, com nove minutos de duração, faz parte do disco "Que País é este".

 O autor não esconde a admiração pelo músico que encarnava o mito autodestrutivo dos ídolos que morrem cedo, capaz de beber um copo duplo de Cointreau numa manhã ensolarada e de interromper uma excursão pelo meio, após quebrar o quarto de um hotel em Natal. Mas Dapieve não entra em detalhes sobre o pansexualismo, modo de vida definido pelo próprio Renato, que levou o músico a contrair AIDS. Prefere explicar como o mito foi crescendo até sair de controle, provocando o efeito chamado de "Religião Urbana".

 Neste aspecto, o livro, que traz cronologia e discografia ... é indispensável,  assim como toda a obra de Renato e sua eterna Legião ...