Legião Urbana
O Caderno Perdido Do Aborto Elétrico
Renato Russo queria de volta o caderno do Aborto Elétrico, que estava com Fê Lemos, provavelmente por causa dessas músicas nunca gravadas. Mas Renato morreu sem rever esse caderno. Todas as letras são de Renato Russo :
Benzina : "Não quero cocaína, não quero benzedrina, não quero heroína, vou cheirar benzina." Em Brasília, Renato Russo cheirou benzina alguma vezes, mas ainda não tinha experimentado cocaína nem heroína quando escreveu essa letra.
O Despertar dos Mortos : Segundo Fê, uma frase da letra, "menos guerra, mais pão, vocês de direita, vocês de esquerda são todos babacas, velhos demais, vivendo intrigas de tempos atrás", foi tirada de uma música do The Clash. Renato estava sempre pescando influências nos grupos que admirava.
Admirável Mundo Novo : A música foi composta por André Pretorius e Renato fez a letra inconformista com "vocês tentaram e continua tudo dando errado, a sua tal experiência é coisa do passado."
Helicópteros No Céu : Estilo B-52's, uma das bandas cultuadas pelo Aborto Elétrico. Era sempre tocada nos shows. Um dos clássicos perdidos do grupo.
Heroína : Foi escrita com a colaboração de um junkie muito especial : Ércole Fortuna, um primo carioca de Renato Russo. O título informal dessa música era "Quero Ser Um Vegetal". O tema é pesadíssimo.
Não estou mais a fim de estudar
Não vou fazer mais vestibular
Não estou mais a fim de me escravizar!
Não vou, não vou, não vou trabalhar!
O que eu quero mesmo é agitar!
O que eu quero mesmo é agitar!
Sentado embaixo do bloco sem ter o que fazer
Olhando as meninas que passam
Matando tempo procurando uma briga
sem ter dinheiro nem pro guaraná
Não vou de tarde pro Conjunto Nacional
Contar os pobres e os cegos e os ladrões
Com muita coisa na cabeça mas no bolso nada
Sempre com medo dos PMs
E chega o fim de semana e todos se agitam
sempre à procura de uma festa
Os carros rodam enquanto se tem gasolina
e ninguém nunca agita nada
Sujeira quando a sua turma é menor de idade
Não podem ir pro mesmo lado que você
E a vida que a gente leva não é nada igual
Aos anúncios de refrigerantes
Você me faz pensar demais
Sempre quando quero tentar
Ser só mais um que quer você
Ah. Não quero entender porquê eu quero você.
Não consigo saber.
Faça um favor a si mesmo : cometa suicídio.
Se jogue do andar mais alto de um dos seus edifícios.
Assalto à mão armada, eu quero a sua vida eu quero ver você no chão.
Pisar nas flores, destruir/construir um estacionamento.
As crianças vão ter que brincar num labirinto de cimento.
Eu quero acidentes, eu quero confusão: ferros e freios na contramão.
Metrópole fez cinza o meu sangue.
E aí, você por aqui?
Parece que a gente vive se encontrando
Uma conversa de bar é tão natural
Quando se vive a mesma de bar em bar
Que mais existe aí pra ver
Queria conversar com você
Tentar não é tão fácil assim
Será que você pensa como eu
Que tudo é sempre igual
Como tudo quase sempre é
Como voltar pra casa
Se você não encontra nada lá
Ou em qualquer outro lugar
Eu acho que sei como você se sente
Ficar aqui fora sem saber continuar
Que mais, que mais você vai fazer
E se você se sente assim
Você sabe que não adianta
Dizer que não sabe o que se passa com você
Então tenta voltar pra algum lugar
Yeah, yeah, yeah, yeah...
Às vezes fica cinza quando a chuva cai
Sempre em volta de você
Mas será que não é tempo de saber o que se quer
E que seria bom se alguém dissesse
Que não adianta contar estrelas por aí.
Tudo o que você faz
Um dia volta pra você
Tudo o que você faz
Um dia volta pra você
E se você fizer o mal
Com o mal mais tarde você vai ter de viver
Não me entregue o seu ódio
Sua crise existencial
Preliminares não me atingem
O que interessa é o final
E não me venha com problemas
Sinta sozinho o seu mal
Por que tentar sentir demais?
E você só me usou
Eu tentava ajudar
E você só me queimou
Mas é errando que se aprende
Minha boa vontade se esgotou
Os aborígenes na Austrália
Com o boomerang vão caçar
O boomerang vai e volta e só fica quando consegue acertar
E eu sou como um boomerang
Quando eu acerto é pra matar
Como um boomerang tudo vai voltar
E a ferida que você me fez é em você que vai sangrar
Eu tenho cicatrizes
Mas eu não me importo não
Melhor que a sua ferida aberta
E o sangue ruim do seu coração
Eu só não entendo como fui cair
Dentro da sua teia e não tentei fugir
Me sinto mal lembrando o que aconteceu
Você tentou roubar
Mas o boomerang agora é meu
Cuidado pessoal, aí vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado
Dentro, dois ou três tarados
Assassinos armados, uniformizados
Veraneio Vascaína vem dobrando a esquina
Porque pobre quando nasce com instinto assassino
Já sabe o que vai ser quando crescer desde menino
Ou ladrão pra matar, marginal pra roubar
Papai eu quero ser policial quando eu crescer
Cuidado pessoal, aí vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado
Dentro, dois ou três tarados
Assassinos armados, uniformizados
Veraneio Vascaína vem dobrando a esquina
Se eles vem, como ensino
É melhor sair da frente
Tanto faz, ninguém se importa se você é inocente
Com uma arma na mão
Boto fogo no país
Não vai ter problema, eu sei
Vou estar do lado da lei
Cuidado pessoal, aí vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado
Dentro, dois ou três tarados
Assassinos armados, uniformizados
Veraneio Vascaína vem dobrando a esquina
Veraneio Vascaína vem dobrando a esquina
Veraneio Vascaína vem dobrando a esquina
Todos os dias quando acordo de manhã
Não tenho mais o tempo do dia que passou
Mas tenho muito tempo para acabar com essa indecisão
Espero sinceridade e perigo
Todos os dias tento chegar em algum lugar
Só pra depois dizer que não quero fical lá
Não é coincidência
Essa minha indiferença
É que está me faltando motivo
Responsabilidade me deixa sem saber
Qual é a interferência ou como deve ser
Todos os dias quando eu deito pra dormir
Fico pensando em todas as coisas que eu não fiz
Só não pense no futuro
Sempre com uma leve preocupação
Se não lembrar qual foi o aviso
Todos os dias quando eu tento esquecer
Todas as coisas que eu não quero mais fazer
É só inconseqüência
O tempo continua com a oscilação
E eu não consigo ficar indeciso
Pontos de referência
Perdi meu referencial
E quase como sempre não foi proposital
1977
Começaram a brincar com eletricidade
1977
Quero ficar na cidade ou não