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Legião Urbana

Mais Do Mesmo - 1998

Mais Do Mesmo - 1998

Mais do Mesmo, de 98. São 16 faixas que foram selecionadas por Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. "Nenhuma das faixas exige apresentação, porque são clássicos. E os clássicos são clássicos porque sempre devem ser ouvidos, revistos e relidos", diz o encarte ...


1. Será
2. Ainda é Cedo
3. Geração Coca-Cola
4. Eduardo e Monica
5. Tempo Perdido
6. "Índios"
7. Que País é Este
8. Faroeste Caboclo
9. Há Tempos
10. Pais e Filhos
11. Meninos e Meninas
12. Vento No Litoral
13. Perfeição
14. Giz
15. Dezesseis
16. Antes Das Seis

Será

Tire suas mãos de mim.

Eu não pertenço a você.

Não é me dominando assim

Que você vai me entender

Eu posso estar sozinho

Mas eu sei muito bem aonde estou

Você pode até duvidar

Acho que isso não é amor

Será só imaginação?

Será que nada vai acontecer?

Será que é tudo isso em vão?

Será que vamos conseguir vencer?

Nos perderemos entre monstros

Da nossa própria criação

Serão noites inteiras

Talvez por medo da escuridão

Ficaremos acordados

Imaginando alguma solução

Pra que esse nosso egoísmo

Não destrua nosso coração

Será só imaginação?

Será que nada vai acontecer?

Será que é tudo isso em vão?

Será que vamos conseguir vencer?

Brigar pra que

Se é sem querer

Quem é que vai

Nos proteger?

Será que vamos Ter

Que responder

Pelos erros a mais

Eu e você?

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Ainda é Cedo

Uma menina me ensinou

Quase tudo que eu sei

Era quase escravidão

Mas ela me tratava como um rei

Ela fazia muitos planos

Eu só queria estar ali

Sempre ao lado dela

Eu não tinha aonde ir

Mas, egoísta que eu sou,

Me esqueci de ajudar

A ela como ela me ajudou

E não quis me separar.

Ela também estava perdida

E por isso se agarrava a mim também

E eu me agarrava a ela

Porque eu não tinha mais ninguém

E eu dizia: - Ainda é cedo.

Sei que ela terminou

O que eu não comecei

E o que ela descobriu

Eu aprendi também, eu sei.

Ela falou: - Você tem medo.

Aí eu disse: - Quem tem medo é você.

Falamos o que não devia

Nunca ser dito por ninguém

Ela me disse:

Eu não sei mais o que eu sinto por você.

Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê.

E eu dizia : - Ainda é cedo.

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Geração Coca-Cola

Quando nascemos fomos programados a receber o que vocês nos empurraram

Com os enlatados dos U.S.A de nove 9 às seis

Desde pequenos nós comemos lixo comercial e industrial

Mas agora chegou nossa vez –

Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês.

Somos os filhos da revolução

Somos burgueses sem religião

Nós somos o futuro da nação

Geração Coca-Cola.

Depois de vinte anos na escola

Não é difícil aprender

Todas as manhas do seu jogo sujo

Não é assim que tem que ser?

Vamos fazer nosso dever de casa

E aí então, vocês vão ver

Suas crianças derrubando reis

Fazer comédia no cinema com as suas leis.

Somos os filhos da revolução

Somos burgueses sem religião

Nós somos o futuro da nação

Geração Coca-Cola.

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Eduardo e Mônica

Quem um dia irá dizer

Que existe razão

Nas coisas feitas pelo coração?

E quem irá dizer

Que não existe razão?

Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar:

Ficou deitado e viu que horas eram

Enquanto Mônica tomava um conhaque,

N'outro canto da cidade,

Como eles disseram.

Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer

E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer.

Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse:

Tem uma festa legal e a gente quer se divertir.

Festa estranha com gente esquisita:

Eu não estou legal. Não aguento mais birita.

E a Mônica riu e quis saber um pouco mais

Sobre o boyzinho que tentava impressionar

E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa:

É quase duas, eu vou me ferrar.

Eduardo e Mônica trocaram telefone

Depois telefonaram e decidiram se encontrar.

O Eduardo sugeriu uma lanchonete

Mas a Mônica queria ver o filme do Godard.

Se encontraram então no parque da cidade

A Mônica de moto e o Eduardo de camelo.

O Eduardo achou estranho e melhor não comentar

Mas a menina tinha tinta no cabelo.

Eduardo e Mônica eram nada parecidos –

Ela era de Leão e ele tinha dezesseis.

Ela fazia Medicina e falava alemão

E ele ainda nas aulinhas de inglês.

Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus, de Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud

E o Eduardo gostava de novela e jogava futebol-de-botão com seu avô.

Ela falava coisas sobre o Planalto Central,

Também magia e meditação.

E o Eduardo ainda estava no esquema

"escola-cinema-clube-televisão".

E, mesmo com tudo diferente,

Veio mesmo, de repente,

Uma vontade de se ver

E os dois se encontravam todo dia

E a vontade crescia, como tinha de ser.

Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia, teatro, artesanato e foram viajar.

A Mônica explicava pro Eduardo coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar:

Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer e decidiu trabalhar;

E ela se formou no mesmo mês em que ele passou no vestibular.

E os dois comemoraram juntos e também brigaram junto, muitas vezes depois.

E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa. Que nem feijão com arroz.

Construíram uma casa uns dois anos atrás,

Mais ou menos quando os gêmeos vieram –

Batalharam grana e seguraram legal

A barra mais pesada que tiveram.

Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília

E a nossa amizade dá saudade no verão.

Só que nessas férias não vão viajar

Porque o filhinho do Eduardo

Tá de recuperação.

Quem um dia irá dizer

Que existe razão

Nas coisas feitas pelo coração?

E quem irá dizer

Que não existe razão?

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Tempo Perdido

Todos os dias quando acordo,

Não tenho mais o tempo que passou

Mas tenho muito tempo:

Temos todo o tempo do mundo.

Todos os dias antes de dormir,

Lembro e esqueço como foi o dia:

"Sempre em frente,

não temos tempo a perder."

Nosso suor sagrado

É bem mais belo que esse sangue amargo

E tão sério

E selvagem.

Veja o sol dessa manhã tão cinza:

A tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos.

Então me abraça forte e me diz mais uma vez

Que já estamos distantes de tudo:

Temos nosso próprio tempo.

Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas agora.

O que foi escondido é o que se escondeu

E o que foi prometido, ninguém prometeu.

Nem foi tempo perdido;

Somos tão jovens.

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"Índios"

Quem me dera, ao menos uma vez,

Ter de volta todo ouro que entreguei

A quem conseguiu me convencer

Que era prova de amizade

Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.

Quem me dera, ao menos uma vez,

Esquecer que acreditei que era por brincadeira

Que se cortava sempre um pano-de-chão

De linho nobre e pura seda.

Quem me dera, ao menos uma vez,

Explicar o que ninguém consegue entender:

Que o que aconteceu ainda está por vir

E o futuro não é mais como era antigamente.

Quem me dera, ao menos uma vez,

Provar que quem tem mais do que precisa Ter

Quase sempre se convence que não tem o bastante

E fala demais, por não Ter nada a dizer.

Quem me dera, ao menos uma vez,

Que o mais simples fosse visto como o mais importante,

Mas nos deram espelhos

E vimos um mundo doente.

Quem me dera, ao menos uma vez,

Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três

E esse mesmo Deus foi morto por vocês

Só maldade então, deixar um Deus tão triste.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.

Entenda – assim pude trazer você de volta para mim,

Quando descobri que é sempre só você

Que me entende do início ao fim

E é só você que tem a cura para o meu vício

De insistir nessa saudade que eu sinto

De tudo que eu ainda não vi.

Quem me dera, ao menos uma vez,

Acreditar por um instante em tudo que existe

E acreditar que o mundo é perfeito

E que todas as pessoas são felizes.

Quem me dera, ao menos uma vez,

Fazer com que o mundo saiba que seu nome

Está em tudo e mesmo assim

Ninguém lhe diz ao menos obrigado.

Quem me dera, ao menos uma vez,

Como a mais bela tribo, dos mais belos índios,

Não ser atacado por ser inocente.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.

Entenda – assim pude trazer você de volta para mim,

Quando descobri que é sempre só você

Que me entende do início ao fim

E é só você que tem a cura para o meu vício

De insistir nessa saudade que eu sinto

De tudo que eu ainda não vi.

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente –

Tentei chorar e não consegui.

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Que País é Este

Nas favelas, no Senado

Sujeira pra todo lado

Ninguém respeita a Constituição

Mas todos acreditam no futuro da nação.

Que país é este

No Amazonas, no Araguaia, na Baixada Fluminense

Mato Grosso, nas Geraes e no Nordeste tudo em paz

Na morte eu descanso mas o sangue anda solto

Manchando os papéis, documentos fiéis

Ao descanso do patrão.

Que país é este

Terceiro mundo se for

Piada no exterior

Mas o Brasil vai ficar rico

Vamos faturar um milhão

Quando vendermos todas as almas

Dos nossos índios em um leilão.

Que país é este.

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Faroeste Caboclo

Não tinha medo, o tal João de Santo Cristo,

Era o que todos diziam quando ele se perdeu.

Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda

Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu.

Quando criança só pensava em ser bandido,

Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu

Era o terror da cercania onde morava

E na escola até o professor com ele aprendeu.

Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro

Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar.

Sentia mesmo que era mesmo diferente

E sentia que aquilo ali não era o seu lugar.

Ele queria sair para ver o mar

E as coisas que ele via na televisão

Juntou dinheiro para poder viajar

E de escolha própria escolheu a solidão.

Comia todas as menininhas da cidade

De tanto brincar de médico, aos doze era professor.

Aos quinze, foi mandado pro reformatório

Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.

Não entendia como a vida funcionava –

Discriminação por causa da sua classe ou sua cor

Ficou cansado de tentar achar resposta

E comprou uma passagem, foi direto a Salvador

E lá chegando foi tomar um cafezinho

E encontrou um boiadeiro com quem foi falar

E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem

Mas João foi lhe salvar.

Dizia ele: - Estou indo pra Brasília,

Neste país lugar melhor não há.

Estou precisando visitar a minha filha

Eu fico aqui e você vai no meu lugar.

E João aceitou sua proposta e num ônibus entrou no Planalto Central

Ele ficou bestificado com a cidade

Saindo da rodoviária, viu as luzes da Natal.

Meu Deus, mas que cidade linda,

No ano-novo eu começo a trabalhar.

Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro

Ganhava cem mil por mês em Taguatinga.

Na Sexta-feira ia pra zona da cidade

Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador

E conhecia muita gente interessante

Até um neto bastardo do seu bisavô:

Um peruano que vivia na Bolívia

E muitas coisas trazia de lá

Seu nome era Pablo e ele dizia

Que um negócio ele ia começar.

E o Santo Cristo até a morte trabalhava

Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar

E ouvia às sete horas o noticiário

Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar

Mas ele não queria mais conversa e decidiu que,

Como Pablo, ele ia se virar

Elaborou mais uma vez seu plano santo

E, sem ser crucificado, a plantação foi começar.

Logo logo os malucos da cidade souberam da novidade:

Tem bagulho bom aí!

E João de Santo Cristo ficou rico

E acabou com todos os traficantes dali.

Fez amigos, frequentava a Asa Norte

E ia pra festa de rock, pra se libertar

Mas de repente

Sob uma má influência dos boyzinhos da cidade

Começou a roubar

Já no primeiro roubo ele dançou

E pro inferno ele foi pela primeira vez

Violência e estupro do seu corpo

Vocês vão ver, eu vou pegar vocês.

Agora o Santo Cristo era bandido

Destemido e temido no Distrito Federal.

Não tinha nenhum medo de polícia

Capitão ou traficante, playboy ou general.

Foi quando conheceu uma menina

E de todos os pecados ele se arrependeu.

Maria Lúcia era uma menina linda

E o coração dele

Pra ela o Santo Cristo prometeu

Ele dizia que queria se casar

E carpinteiro ele voltou a ser

Maria Lúcia pra sempre vou te amar

E um filho com você eu quero ter.

O tempo passa e um dia vem a porta um senhor de alta classe com dinheiro na mão

E ele faz uma proposta indecorosa e diz que espera uma resposta.

Uma resposta de João:

Não boto bomba em banca de jornal, nem em colégio de criança

Isso eu não faço não

E não protejo general de dez estrelas que fica atrás da mesa com o cú na mão.

E é melhor o senhor sair da minha casa

Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião.

Mas antes de sair, com um ódio no olhar, o velho disse:

Você perdeu sua vida, meu irmão.

Você perdeu a sua vida meu irmão. Você perdeu a sua vida meu irmão.

Essas palavras vão entrar no coração

E eu vou sofrer as consequências como um cão.

Não é que o Santo Cristo estava certo

E seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar

Se embebedou e no meio da bebedeira descobriu que tinha outro trabalhando em sue lugar.

Falou com Pablo que queria um parceiro

E também tinha dinheiro e queria se armar

Pablo trazia o contrabando da Bolívia e Santo Cristo revendia em Planaltina.

Mas acontece que um tal de Jeremias, traficante de renome, apareceu por lá

Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo

E decidiu que, com João ele ia acabar.

Mas Pablo trouxe uma Winchester-22

E Santo Cristo já sabia atirar

E decidiu usar a arma só depois que Jeremias começasse a brigar.

(O Jeremias, maconheiro sem-vergonha,

organizou a Rockonha

E fez todo mundo dançar.)

Desvirginava mocinhas inocentes

E dizia que era crente mas não sabia rezar.

E Santo Cristo há muito não ia pra casa

E a saudade começou a apertar

Eu vou embora, eu vou ver Maria Lúcia

Já está em tempo de a gente se casar.

Chegando em casa então ele chorou

E pro inferno ele foi pela segunda vez

Com Maria Lúcia, Jeremias se casou

E um filho nela ele fez.

Santo Cristo era só ódio por dentro e então o Jeremias pra um duelo ele chamou

Amanhã às duas horas na Ceilândia, em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou

E você pode escolher as suas armas que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor

E mato também Maria Lúcia, aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

Santo Cristo não sabia o que fazer

Quando viu o repórter na televisão

Que deu notícia do duelo na TV

Dizendo a hora e o local e a razão

No Sábado então, às duas horas, todo o povo

Sem demora foi lá só pra assistir

Um homem que atirava pelas costas e acertou o Santo Cristo

E começou a sorrir.

Sentindo o sangue na garganta,

João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir

E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e

A gente da TV que filmava tudo ali.

E se lembrou de quando era uma criança e de tudo que vivera até ali

E decidiu entrar de vez naquela dança

Se a via-crucis virou circo, estou aqui.

E nisso o sol cegou seus olhos e então Maria Lúcia ele reconheceu.

Ela trazia a Winchester-22

A arma que seu primo Pablo lhe deu.

Jeremias, eu sou homem, coisa que você não é.

E não atiro pelas costas não.

Olha pra cá filha da puta, sem-vergonha,

Dá uma olhada no meu sangue

E vem sentir o seu perdão.

E Santo Cristo com a Winchester-22

Deu cinco tiros no bandido traidor

Maria Lúcia se arrependeu depois

E morreu junto com João, seu protetor.

E o povo declarava que João Santo Cristo era santo porque sabia morrer

E a alta burguesia da cidade não acreditou na estória que eles viram na TV

E João não conseguiu o que queria quando veio pra Brasília, com o Diabo ter

Ele queria era falar pro presidente,

Pra ajudar toda essa gente

Que só faz sofrer.

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Há Tempos

Parece cocaína, mas é só tristeza, Talvez tua cidade.

Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.

E o descompasso e o desperdício herdeiros são agora da virtude que perdemos.

Há tempos tive um sonho não me lembro não me lembro.

Tua tristeza é tão exata e hoje o dia é tão bonito.

Já estamos acostumados a não termos mais nem isso.

Os sonhos vêm e os sonhos vão. O resto é imperfeito.

Disseste que se tua voz tivesse força igual

À imensa dor que sentes

Teu grito acordaria não só a tua casa mas a vizinhança inteira.

E há tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade.

Há tempos são os jovens que adoecem.

Há tempos o encanto está ausente e há ferrugem nos sorrisos

E só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção

Meu amor, disciplina é liberdade. Compaixão é fortaleza.

Ter bondade é Ter coragem.

E ela disse: - Lá em casa tem um poço mas a água é muito limpa.

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Pais e Filhos

Estátuas e cofres e paredes pintadas ninguém sabe o que aconteceu.

Ela se jogou da janela do quinto andar. Nada é fácil de entender.

Dorme agora: É só o vento lá fora. Quero colo.

Vou fugir de casa. Posso dormir aqui com vocês?

Estou com medo Tive um pesadelo Só vou voltar depois das três.

Meu filho vai Ter nome de santo Quero o nome mais bonito.

É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã

Porque se você parar pra pensar, Na verdade não há.

Me diz porque é que o céu é azul? Me explica a grande fúria do mundo.

São meus filhos que tomam conta de mim. Eu moro com a minha mãe,

mas meu pai vem me visitar. Eu moro na rua, não tenho ninguém.

Eu moro em qualquer lugar. Já morei em tanta casa que nem me lembro mais.

Eu moro com meus pais.

É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã

Porque se você parar pra pensar, Na verdade não há.

Sou uma gota d’água. Sou um grão de areia.

Você me diz que seus pais não entendem,

Mas você não entende seus pais. Você culpa seus pais por tudo

E isso é absurdo: São crianças como você.

O que você vai ser quando você crescer?

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Meninos e Meninas

Quero me encontrar, mas não sei onde estou.

Vem comigo procurar um lugar mais calmo.

Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita.

Tenho quase certeza que eu não sou daqui.

Acho que gosto de S. Paulo e gosto de S. João. Gosto de S. Francisco e S. Sebastião. E eu gosto de meninos e meninas.

Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre.

Vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente.

Estou cansado de bater e ninguém abrir.

Você me deixou sentindo tanto frio.

Não sei mais o que dizer.

Te fiz comida, Velei teu sono,

Fui teu amigo, Te levei comigo e me diz: pra mim o que é que ficou?

Me deixa ver como viver é bom.

Não é a vida como está e sim as coisas como são.

Você não quis tentar me ajudar.

Então, a culpa é de quem? A culpa é de quem?

Eu canto em português errado.

Acho que o imperfeito não participa do passado.

Troco as pessoas, Troco os pronomes.

Preciso de oxigênio. Preciso ter amigos.

Preciso Ter dinheiro. Preciso de carinho.

Acho que te amava, agora acho que te odeio.

São tudo pequenas coisas e tudo deve passar.

Acho que gosto de S. Paulo e gosto de S. João. Gosto de S. Francisco e S. Sebastião.

E eu gosto de meninos e meninas.

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Vento No Litoral

De tarde quero descansar, chegar até a praia

Ver se o vento ainda está forte

E vai ser bom subir nas pedras.

Sei que faço isso para esquecer

Eu deixo a onda me acertar

E o vento vai levando tudo embora.

Agora está tão longe

Vê, a linha do horizonte me distrai:

Dos nossos planos é que tenho mais saudade,

Quando olhávamos juntos na mesma direção.

Aonde está você agora

Além de aqui dentro de mim?

Agimos certo sem querer

Foi só o tempo que errou

Vai ser difícil sem você

Porque você está comigo o tempo todo.

Quando vejo o mar

Existe algo que diz:

A vida continua e se entregar é uma bobagem.

Já que você não está aqui,

O que posso fazer é cuidar de mim.

Quero ser feliz ao menos.

Lembra que o plano era ficarmos bem?

Ei, olha só o que achei: cavalos marinhos.

Sei que faço isso para esquecer

Eu deixo a onda me acertar

E o vento vai levando tudo embora.

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Perfeição

1 - Vamos celebrar a estupidez humana

A estupidez de todas as nações

O meu país e sua corja de assassinos

Covardes, estupradores e ladrões.

Vamos celebrar a estupidez do povo

Nossa polícia e televisão

Vamos celebrar nosso governo

E nosso Estado, que não é nação

Celebrar a juventude sem escola

As crianças mortas

Celebrar nossa desunião

Vamos celebrar Eros e Thanatos

Persephone e Hades

Vamos celebrar nossa tristeza

Vamos celebrar nossa vaidade.

2 - Vamos comemorar como idiotas

A cada Fevereiro e Feriado

Todos os mortos nas estradas

Os mortos por falta de hospitais

Vamos celebrar nossa justiça

A ganância e a difamação

Vamos celebrar os preconceitos

O voto dos analfabetos

Comemorar a água podre

E todos os impostos

Queimadas, mentiras e sequestros

Nosso castelo de cartas marcadas

O trabalho escravo

Nosso pequeno universo

Toda hipocrisia e toda afetação

Todo roubo e toda indiferença

Vamos celebrar epidemias:

É a festa da torcida campeã.

3 - Vamos celebrar a fome

Não ter a quem ouvir

Não se ter a quem amar

Vamos alimentar o que é maldade

Vamos machucar um coração

Vamos celebrar nossa bandeira

Nosso passado de absurdos gloriosos

Tudo o que é gratuito e feio

Tudo que é normal

Vamos cantar juntos o Hino Nacional

(a lágrima é verdadeira)

Vamos celebrar nossa saudade

E comemorar a nossa solidão.

4 - Vamos festejar a inveja

A intolerância e a incompreensão

Vamos festejar a violência

E esquecer a nossa gente

Que trabalho honestamente a vida inteira

E agora não tem mais direito a nada

Vamos celebrar a aberração

De toda a nossa falta de bom senso

Nosso descaso por educação

Vamos celebrar o horror

De tudo isso - com festa, velório e caixão

Está tudo morto e enterrado agora

Já que também podemos celebrar

A estupidez de quem cantou esta canção.

5 - Venha, meu coração está com pressa

Quando a esperança está dispersa

Só a verdade me liberta

Chega de maldade e ilusão.

Venha, o amor tem sempre a porta aberta

E vem chegando a primavera

Nosso futuro recomeça:

Venha, que o que vem é perfeição.

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Giz

E mesmo sem te ver

Acho até que estou indo bem

Só apareço, por assim dizer,

Quando convém

Aparecer ou quando quero.

Desenho toda a calçada

Acaba o giz, tem tijolo de construção

Eu rabisco o sol que a chuva apagou.

Quero que saibas que me lembro

Queria até que pudesses me ver

És parte ainda do que me faz forte

E, pra ser honesto,

Só um pouquinho infeliz.

Mas tudo bem

Tudo bem

Tudo bem

Lá vem lá vem lá vem

De novo:

Acho que estou gostando de alguém

E é de ti que não me esquecerei.

Mas tudo bem

Tudo bem

Tudo bem

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Dezesseis

João Roberto era o Maioral, o nosso Johnny era

um cara legal

Ele tinha um Opala metálico azul

Era o rei dos pegas na Asa Sul e em todo lugar

Quando ele pegava no violão

Conquistava as meninas e quem mais quisesse ver

Sabia tudo da Janis, do Led Zeppelin, dos

Beatles e dos Rolling Stones

Mas de uns tempos p'rá cá meio sem querer

alguma coisa aconteceu

Johnny andava meio quieto demais só que

quase ninguém percebeu

Johnny estava com um sorriso estranho

Quando marcou um super pega no

fim-de-semana

Não vai ser no CASEB, nem no Lago Norte

nem na UnB

As máquinas prontas, o ronco de motor

A cidade inteira se movimentou

E Johnny disse: - Eu vou p'rá Curva do Diabo

em Sobradinho e vocês?

E os motores saíram ligados a mil

P'rá estrada da morte, o maior pega que existiu

Só deu p'rá ouvir foi aquela explosão

E os pedaços do Opala azul de Johnny

pelo chão

No dia seguinte falou o diretor:

- O aluno João Roberto não está mais entre nós

Ele só tinha dezesseis

Que isso sirva de aviso p'rá vocês

E na saída da aula foi estranho e bonito

Todo mundo cantando baixinho:

*Strawberry Fields Forever

*Strawberry Fields Forever

E até hoje quem se lembra diz que não foi o caminhão

Nem a curva fatal e nem a explosão

Johnny era fera demais p'rá vacilar assim

E o que dizem é que foi tudo por causa de um

coração partido

Um coração

Bye bye Johnny

Johnny bye bye

Bye bye Johnny

Johnny bye bye

*Strawberry Fields Forever : de Lennon e McCartney

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Antes das Seis

Quem inventou o amor?

Me explica por favor

Quem inventou o amor?

Me explica por favor

Vem e me diz o que aconteceu

Faz de conta que passou

Quem inventou o amor?

Me explica por favor

Daqui vejo seu descanso

Perto do seu travesseiro

Depois quero ver se acerto

Dos dois quem acorda primeiro

Quem inventou o amor?

Me explica por favor

Quem inventou o amor?

Me explica por favor

Enquanto a vida vai e vem

Você procura achar alguém

Que um dia possa lhe dizer:

- Quero ficar só com você

Quem inventou o amor?

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