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Legião Urbana

Que País é Este 1978/1987 - 1987


Que País É Este 1978/1987 - 1987

A música título deste disco, Que País é Este, lançado em 1987, foi escrita em 78. Revoltado com a situação do Brasil, Renato dizia que nada tinha mudado. São desse disco "Faroeste Caboclo" (um dos sonhos de Renato era fazer uma másica longa, uns 10 minutos como "Hurricane", de Bob Dylan) e "Angra dos Reis".


1. Que Páis É Este
2. Conexão Amazônica
3. Tédio (Com Um T Bem Grande Pra Você)
4. Depois Do Começo
5. Química
6. Eu Sei
7. Faroeste Caboclo
8. Angra Dos Reis
9. Mais Do Mesmo

Que País é Este

Nas favelas, no Senado

Sujeira pra todo lado

Ninguém respeita a Constituição

Mas todos acreditam no futuro da nação.

Que país é este

No Amazonas, no Araguaia, na Baixada Fluminense

Mato Grosso, nas Geraes e no Nordeste tudo em paz

Na morte eu descanso mas o sangue anda solto

Manchando os papéis, documentos fiéis

Ao descanso do patrão.

Que país é este

Terceiro mundo se for

Piada no exterior

Mas o Brasil vai ficar rico

Vamos faturar um milhão

Quando vendermos todas as almas

Dos nossos índios em um leilão.

Que país é este.

Topo


Conexão Amazônica

Estou cansado de ouvir falar

Em Freud, Jung, Engels, Marx

Intrigas intelectuais

Rodando em mesas de bar

Yeah, yeah, yeah,

O que eu quero eu não tenho

O que eu não tenho eu quero Ter

Não posso Ter o que eu quero

E acho que isso não tem nada a ver

Yeah, yeah, yeah,

Os tambores da selva já começaram a rufar

A cocaína não vai chegar

Conexão Amazônica está interrompida

Yeah, yeah, yeah,

E você que ficar maluco sem dinheiro e acha que está tudo bem

Mas alimento pra cabeça nunca vai matar a fome de ninguém

Uma peregrinação involuntária talvez fosse solução

Auto–exílio nada mas é do que Ter seu coração na solidão

Yeah, yeah, yeah.

Topo


Tédio (Com Um T Bem Grande Pra Você)

Moramos na cidade, também o presidente

E todos vão fingindo viver decentemente

Só que eu não pretendo ser tão decadente não

Tédio com um T bem grande pra você

Andar a pé na chuva, às vezes eu me amarro

Não tenho gasolina, também não tenho carro

Também não tenho nada de interessante pra fazer

Tédio com um T bem grande pra você

Se eu não faço nada, não fico satisfeito

Eu durmo o dia inteiro e aí não é direito

Porque quando escurece, só estou a fim de aprontar

Tédio com um T bem grande pra você.

Topo


Depois Do Começo

Vamos deixar as janelas abertas

Deixar o equilíbrio ir embora

Cair como um saxofone na calçada

Amarrar um fio de cobre no pescoço

Acender um intervalo pelo filtro

Usar um extintor como lençol

Jogar pólo-aquático na cama

Ficar deslizando pelo teto

Da nossa casa cega e medieval

Cantar canções em línguas estranhas

Retalhar as cortinas desarmadas

Com a faca surda que a fé sujou

Desarmar os brinquedos indecentes

E a indecência pura dos retratos no salão

Vamos beber livros e mastigar tapetes

Catar pontas de cigarros nas paredes

Abrir a geladeira e deixar o vento sair

Cuspir um dia qualquer no futuro

De quem já desapareceu

Deus, Deus, somos todos ateus

Vamos cortar os cabelos do príncipe

E entregá-lo a um deus plebeu

E depois do começo

O que vier vai começar a ser o fim.

Topo


Química

Estou trancado em casa e não posso sair

Papai já disse, tenho que passar

Nem música eu posso mais ouvir

E assim não posso nem me concentrar

Não saco nada de Física

Literatura ou Gramática

Só gosto de Educação Sexual

E eu odeio Química

Não posso nem tentar me divertir

O tempo inteiro eu tenho que estudar

Fico só pensando se vou conseguir

Passar na porra do vestibular

Chegou a nova leva de aprendizes

Chegou a vez do nosso ritual

E se você quiser entrar na tribo

Aqui no nosso Belsen tropical

Ter carro do ano, tv a cores, pagar imposto, ter pistolão,

Ter filho na escola, férias na Europa, conta bancária, comprar feijão

Se responsável, cristão convicto, cidadão modelo, burguês padrão

Você tem que passar no vestibular.

Topo


Eu Sei

Sexo verbal não faz meu estilo

Palavras são erros e os erros são seus

Não quero lembrar que eu erro também

Um dia pretendo tentar descobrir

Porque é mais forte quem sabe mentir

Não quero lembrar que eu minto também

Eu sei

Feche a porta do seu quarto

Porque se toca o telefone pode ser alguém

Com quem você quer falar

Por horas e horas e horas

A noite acabou, talvez tenhamos que fugir sem você

Mas não, não vá agora, quero honras e promessas

Lembranças e estórias

Somos pássaro novo longe do ninho

Eu sei

Topo


Faroeste Caboclo

Não tinha medo, o tal João de Santo Cristo,

Era o que todos diziam quando ele se perdeu.

Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda

Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu.

Quando criança só pensava em ser bandido,

Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu

Era o terror da cercania onde morava

E na escola até o professor com ele aprendeu.

Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro

Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar.

Sentia mesmo que era mesmo diferente

E sentia que aquilo ali não era o seu lugar.

Ele queria sair para ver o mar

E as coisas que ele via na televisão

Juntou dinheiro para poder viajar

E de escolha própria escolheu a solidão.

Comia todas as menininhas da cidade

De tanto brincar de médico, aos doze era professor.

Aos quinze, foi mandado pro reformatório

Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.

Não entendia como a vida funcionava –

Discriminação por causa da sua classe ou sua cor

Ficou cansado de tentar achar resposta

E comprou uma passagem, foi direto a Salvador

E lá chegando foi tomar um cafezinho

E encontrou um boiadeiro com quem foi falar

E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem

Mas João foi lhe salvar.

Dizia ele: - Estou indo pra Brasília,

Neste país lugar melhor não há.

Estou precisando visitar a minha filha

Eu fico aqui e você vai no meu lugar.

E João aceitou sua proposta e num ônibus entrou no Planalto Central

Ele ficou bestificado com a cidade

Saindo da rodoviária, viu as luzes da Natal.

Meu Deus, mas que cidade linda,

No ano-novo eu começo a trabalhar.

Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro

Ganhava cem mil por mês em Taguatinga.

Na Sexta-feira ia pra zona da cidade

Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador

E conhecia muita gente interessante

Até um neto bastardo do seu bisavô:

Um peruano que vivia na Bolívia

E muitas coisas trazia de lá

Seu nome era Pablo e ele dizia

Que um negócio ele ia começar.

E o Santo Cristo até a morte trabalhava

Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar

E ouvia às sete horas o noticiário

Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar

Mas ele não queria mais conversa e decidiu que,

Como Pablo, ele ia se virar

Elaborou mais uma vez seu plano santo

E, sem ser crucificado, a plantação foi começar.

Logo logo os malucos da cidade souberam da novidade:

Tem bagulho bom aí!

E João de Santo Cristo ficou rico

E acabou com todos os traficantes dali.

Fez amigos, frequentava a Asa Norte

E ia pra festa de rock, pra se libertar

Mas de repente

Sob uma má influência dos boyzinhos da cidade

Começou a roubar

Já no primeiro roubo ele dançou

E pro inferno ele foi pela primeira vez

Violência e estupro do seu corpo

Vocês vão ver, eu vou pegar vocês.

Agora o Santo Cristo era bandido

Destemido e temido no Distrito Federal.

Não tinha nenhum medo de polícia

Capitão ou traficante, playboy ou general.

Foi quando conheceu uma menina

E de todos os pecados ele se arrependeu.

Maria Lúcia era uma menina linda

E o coração dele

Pra ela o Santo Cristo prometeu

Ele dizia que queria se casar

E carpinteiro ele voltou a ser

Maria Lúcia pra sempre vou te amar

E um filho com você eu quero ter.

O tempo passa e um dia vem a porta um senhor de alta classe com dinheiro na mão

E ele faz uma proposta indecorosa e diz que espera uma resposta.

Uma resposta de João:

Não boto bomba em banca de jornal, nem em colégio de criança

Isso eu não faço não

E não protejo general de dez estrelas que fica atrás da mesa com o cú na mão.

E é melhor o senhor sair da minha casa

Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião.

Mas antes de sair, com um ódio no olhar, o velho disse:

Você perdeu sua vida, meu irmão.

Você perdeu a sua vida meu irmão. Você perdeu a sua vida meu irmão.

Essas palavras vão entrar no coração

E eu vou sofrer as consequências como um cão.

Não é que o Santo Cristo estava certo

E seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar

Se embebedou e no meio da bebedeira descobriu que tinha outro trabalhando em sue lugar.

Falou com Pablo que queria um parceiro

E também tinha dinheiro e queria se armar

Pablo trazia o contrabando da Bolívia e Santo Cristo revendia em Planaltina.

Mas acontece que um tal de Jeremias, traficante de renome, apareceu por lá

Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo

E decidiu que, com João ele ia acabar.

Mas Pablo trouxe uma Winchester-22

E Santo Cristo já sabia atirar

E decidiu usar a arma só depois que Jeremias começasse a brigar.

(O Jeremias, maconheiro sem-vergonha,

organizou a Rockonha

E fez todo mundo dançar.)

Desvirginava mocinhas inocentes

E dizia que era crente mas não sabia rezar.

E Santo Cristo há muito não ia pra casa

E a saudade começou a apertar

Eu vou embora, eu vou ver Maria Lúcia

Já está em tempo de a gente se casar.

Chegando em casa então ele chorou

E pro inferno ele foi pela segunda vez

Com Maria Lúcia, Jeremias se casou

E um filho nela ele fez.

Santo Cristo era só ódio por dentro e então o Jeremias pra um duelo ele chamou

Amanhã às duas horas na Ceilândia, em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou

E você pode escolher as suas armas que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor

E mato também Maria Lúcia, aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

Santo Cristo não sabia o que fazer

Quando viu o repórter na televisão

Que deu notícia do duelo na TV

Dizendo a hora e o local e a razão

No Sábado então, às duas horas, todo o povo

Sem demora foi lá só pra assistir

Um homem que atirava pelas costas e acertou o Santo Cristo

E começou a sorrir.

Sentindo o sangue na garganta,

João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir

E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e

A gente da TV que filmava tudo ali.

E se lembrou de quando era uma criança e de tudo que vivera até ali

E decidiu entrar de vez naquela dança

Se a via-crucis virou circo, estou aqui.

E nisso o sol cegou seus olhos e então Maria Lúcia ele reconheceu.

Ela trazia a Winchester-22

A arma que seu primo Pablo lhe deu.

Jeremias, eu sou homem, coisa que você não é.

E não atiro pelas costas não.

Olha pra cá filha da puta, sem-vergonha,

Dá uma olhada no meu sangue

E vem sentir o seu perdão.

E Santo Cristo com a Winchester-22

Deu cinco tiros no bandido traidor

Maria Lúcia se arrependeu depois

E morreu junto com João, seu protetor.

E o povo declarava que João Santo Cristo era santo porque sabia morrer

E a alta burguesia da cidade não acreditou na estória que eles viram na TV

E João não conseguiu o que queria quando veio pra Brasília, com o Diabo ter

Ele queria era falar pro presidente,

Pra ajudar toda essa gente

Que só faz sofrer.

Topo


Angra Dos Reis

Deixa, se fosse sempre assim quente

Deita aqui perto de mim

Tem dias em que tudo está em paz

E agora os dias são iguais

Se fosse só sentir saudade

Mas tem sempre algo mais

Seja como for

É uma dor que dói no peito

Pode rir agora que estou sozinho

Mas não venha me roubar

Vamos brincar perto da usina

Deixa pra lá, a angra é dos reis

Por que se explicar se não existe perigo?

Senti seu coração perfeito batendo à toa

E isso dói

Seja como for

É uma dor que dói no peito

Pode rir agora que estou sozinho

Mas não venha me roubar

Vai ver que não é nada disso

Vai ver que já não sei quem sou

Vai ver que nunca fui o mesmo

A culpa é toda sua e nunca foi

Mesmo se as estrelas começassem a cair

E a luz queimasse tudo ao redor

E fosse o fim chegando cedo

E você visse o nosso corpo em chamas

Deixa pra lá.

Quando as estrelas começarem a cair

Me diz, me diz pra onde a gente vai fugir?

Topo


Mais Do Mesmo

Ei menino branco o que é que você faz aqui

Subindo o morro pra tentar se divertir

Mas já disse que não tem

E você ainda quer mais

Por que você não me deixa em paz?

Desses vinte anos nenhum foi feito pra mim

E agora você quer que eu fique assim igual a você

É mesmo, como vou crescer se nada cresce por aqui?

Quem vai tomar conta dos doentes?

E quando tem chacina de adolescentes

Como é que você se sente?

Em vez de luz tem tiroteio no fim do túnel.

Sempre mais do mesmo

Não era isso que você queria ouvir?

Bondade sua me explicar com tanta determinação

Exatamente o que eu sinto, como eu penso e como sou

Eu realmente não sabia que eu pensava assim

E agora você quer um retrato do país

Mas queimaram o filme

E enquanto isso, na enfermaria

Todos os doentes estão cantando sucessos populares

(e todos os índios foram mortos).

Topo


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