Di�rio de uma guerra �ntima: minhas impress�es como jornalista brasileiro nos EUA durante os terr�veis dias p�s 11 de setembro de 2001... |
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11 de setembro: o dia que mudou nossas vidas Apesar de um pouco envelhecida, esta cr�nica traz meus sentimentos, medos e sustos perante uma situa��o pela qual jamais esperaria viver aqui nos Estados Unidos. Semanas depois, ainda estamos sob o signo da tens�o, se bem que j� bem menor. Podem acreditar: as li��es foram muitas! S� n�o sei se queria passar por elas... ...................................................................... Adriano Messias de Oliveira West Palm Beach - Fl�rida 11-09-01 - �s 9 horas da manh�, hora local Estou agora assistindo pela TV ao ataque terrorista ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pent�gono, em Washington. Como espectador-jornalista, compartilho do horror e da perplexidade das narrativas entrecortadas pelo sil�ncio e pelos espasmos de emo��o de meus colegas. N�o fui trabalhar. �The World Trade Center have collapsed�, repete o narrador da CBS News, enquanto tento ligar para minha m�e, em Lavras, para dizer que est� tudo bem comigo, que a Fl�rida � muito longe dos centros do poder americanos. A Embratel, a ATT e outras operadoras ficaram congestionadas, tamanha a repercuss�o mundial desta cat�strofe hist�rica. Limito-me a escrever este artigo para e volto a pensar em portugu�s. Reflito sobre a pequenez de nossas possibilidades frente ao infort�nio, �s dificuldades que a emp�fia imp�e ao profissional descuidado. Grande li��o: o mundo est� chocado, at� os jornalistas, bichos im�veis e repetitivos nos canais que sintonizo agora. Liguei para a Reda��o e disse: �N�o tenho como ir para o trabalho. O �nibus n�o passou.� �ɔ, Barbra respondeu-me. �Explodiram Nova York.� De alguma forma, sua voz engasgada mostrava que o Sul da Fl�rida tinha sido atingido tamb�m. �N�o precisa vir hoje, Adrian. �s vezes, n�o h� o que escrever. O fato engole o homem e as palavras s�o in�teis�. Aeroportos fechados, todos em seus apartamentos com as TVs ligadas, ningu�m caminha pelo meu condom�nio. A na��o americana foi pega de surpresa por um fato inusistado. A primeira coisa que a imprensa daqui faz, em situa��es de proje��o mundial, � chamar os �experts�, que, quase sempre, tem pouco a dizer. Experts em terrorismo, em bombas, outro em �evacua��es de �reas amea�adas�. Um pa�s que tem a singularidade de permitir em um jornal impresso um an�ncio procurando pessoas com �piolhos vivos na cabe�a para servirem como volunt�rias em uma experi�ncia cient�fica remunerada� sabe tamb�m ficar com a pulga atr�s da orelha. Passando os impactos iniciais, e permanecendo os coment�rios de Sherlock Holmes, os jornalistas americanos, inconscientemente, trazem, em seus discursos, delicados ran�os da Guerra Fria e sutis suposi��es contra um mundo selvagem e teceiro-mundista, que amea�a a senilidade mal-humorada de Lady Liberty, cansada de segurar sua tocha. V�m-lhes � tona, em um brainstorm etnoc�ntrico, lembran�as do Pearl Harbor, do Vietn�, do Ir�, do Golfo P�rsico e, por fim, do Afeganist�o, o vil�o da moda. Enfim, dos b�rbaros que tentam invadir o Imp�rio (logicamente, considero aqui as patol�gicas fac��es fundamentalistas que tentam impor seu estilo de vida ao resto do mundo ou pregam o exterm�nio dos �gentios�, dos �infi�is� a todo custo, como � o caso do grupo terrorista taleban). Entretanto, os Estados Unidos, que se pretende asilo de refugiados, lar de todos os povos, ensina aos seus alunos de high school que a Amaz�nia � uma �rea de prote��o internancional, uma terra-de-ningu�m, e que, depois da �Am�rica�, � poss�vel, com boa vontade, encontrar, em um globo terrestre, alguns ap�ses de relevo, como Austr�lia, Canad�, England e... e outros. Imagino o choque � vaidade americana. N�o deixo de me apiedar das v�timas deste incidente dantesco e de suas fam�lias, mas tento assumir um distanciamento suficiente para entender que a legenda na TV, �Attack on America�, quer dizer muito mais do que apenas desmoronamentos de dois pr�dios importantes. Um adendo: dois dias depois, estando Fl�rida, em princ�pio, um lugar tranq�ilo, vivo a experi�ncia de permanecer sob �estado de emerg�ncia e seguran�a m�xima�, decretado pelo governo estadual. A Disney reabriu suas portas, a Nasa, a apenas uma hora de onde resido, permeneceu fechada, e West Palm Beach e arredores t�m a seguran�a redobrada em lugares estrat�gicos. Poderia eu adivinhar que o Bush seria irm�o do governador da Fl�rida? �N�o quero virar correspondente de guerra�, resmungo � minha noiva. O estado de estresse em que ficamos anteontem me obrigou a tomar um frontal para dormir depois de, como pediu o Presidente e os membros do Pent�gono, rezar. Ontem, �the day after�, encontraram uma casa suspeita em Vero Beach, h� uma hora de onde moro. Emocionei-me com as campanhas de solidariedade, com o ato de Fidel, oferecendo bancos de sangue e o Aeroporto de Havana ao seu arqui-inimigo, mas apenas hoje volto ao normal, como grande parte da Fl�rida. Alguns conhecidos meus, americanos e estrangeiros, perderam parentes e amigos que trabalhavam no World Trade Center. At� eu perdi um amigo nos montulhos de Nova York, cujo corpo n�o foi encontrado, e talvez jamais o seja. A ele, dedico esta cr�nica. |
Congelei o tempo! Aqui voc� vai ler o que eu escrevi enquanto via o World Trade Center sendo atacado e desmoronando, na manh� de 11 de setembro de 2001. Este texto integra um livro que escrevi... |
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