Meus pais vieram de família humilde. Meu pai era filho de um
doceiro e minha mãe de um comerciante. Ambos deram um duro para
crescer na vida. Meu pai se formou em Medicina, fez doutorado no Rio
de Janeiro e trabalhou por anos como patologista em Passo Fundo, foi
professor da UPF. Foi onde conheceu a minha mãe que era contadora
do hospital da Cidade em Passo Fundo. Casaram e em 1977 eu nasci.
Meu avô e avó paternal eram de estatura
normal, as filhas mulheres deles também eram, porém
o meu pai acabou tendo problemas de crescimento. Ele tinha apenas
1,18 m. (A mesma altura que eu tenho). Como meu pai não
podia competir com os outros pela força, decidiu vencer pela
intelectualidade, e realmente conseguiu êxito. Mesmo estudado
em escolas públicas sempre foi bom aluno e passou na primeira
tentativa para a concorrida Universidade de Santa Maria para o curso
de Medicina. Meu pai foi um homem famoso. Ele era o menor médico
do mundo. Em detrimento da estatura meu pai tinha um diferencial emocional
e intelectual, vinte anos depois de sua morte ele foi homenageado
na academia de Medicina passo-fundense.
Papai participou de programas de TV, deu entrevista
para revistas e tinha alguns amigos pessoais de renome, entre eles
o Nelson
Ned,
na época de não cristão, ambos faziam “farra”
juntos. Meu pai descobriu o poder de viver uma vida com propósito.
Ele colocou algo em mente, se focou e foi extremamente exitoso
em tudo o que emprendeu. Um homem de excelente coração,
ao exemplo também da minha mãe, sempre ajudando os
necessitados.
Há um ditado popular que diz que o peixe morre
pela boca. A bíblia
afirma esta verdade em Provérbios 18:21. Papai sempre dizia
que antes dos 40 anos iria morrer. De fato, aconteceu, com 39 anos
faleceu.
Mesmo tendo pai por pouco tempo guardo coisas muito
boas dele no meu coração. Me lembro que papai sempre me levava para dar
uma volta com a Brasília Amarela dele no quarteirão todos
os dias antes de ir ao trabalho. Comprava para mim álbuns de
figurinhas, que eu adorava e sempre me trazia presentes. Mesmo sendo
muito ocupado e doente, papai sempre foi presente na minha vida. Recordo
muito bem que ele me deu uma churrasqueira e me ensinou a fazer churrasquinho.
Aprendi a jogar cartas com ele, pescar e muitas outras coisas. Eu amava
meu pai. Com 8 anos de idade perdi papai. Ele acabou falecendo em virtude
de problemas respiratórios, asma. Eu não entendia
a morte,
Minha mãe decidiu depois da morte do meu pai de nos mudarmos
para outra cidade e recomeçar a vida. Viemos então morar
em Bento Gonçalves. Nesta época mamãe já tinha
passado em um concurso para Auditor do INSS, o que garantia
o sustento da casa com certa facilidade.
Fui uma criança que tudo o que eu queria ganhava, pedia vídeo-games,
raquetes de tênis, bolas, brinquedos e ganhava tudo o que pedia.
Eu era uma pessoa que tinha tudo, mas ao mesmo tempo eu não
tinha nada.Havia um grande vazio dentro de mim, eu não
era feliz. Meus pais fizeram o melhor que podiam por mim,
mas não
conseguiram resolver o vazio da minha alma.
Ao exemplo de meu pai, também passei por muitas
enfermidades na infância. Me lembro de ter que ir ao hospital
várias
vezes em virtudes de crises de asma. Fiz quatro operações
bem novinho ainda. A pior delas foi das mãos,
eu tinha uma doença
chamada “dedos de martelo”, os dedos ficavam trancados
e eu não
conseguia movimentá-los. Operei e fiquei 30 dias
sem poder brincar, somente olhando um time de futebol
de botão e uma revista dos
Thundercats que a minha mãe tinha me dado. Aqueles
brinquedos foram a minha esperança. Para uma criança
hiperativa aqueles dias para mim não foram fáceis.
Graças as condições financeiras
da família,
sempre estudei em escolas particulares, nas melhores.
Isso não
me isentou de sofrimento. Me lembro que por ser menor
que os colegas muitas vezes eu era humilhado e não tinha como
me defender. Algumas lembranças da infância foram muito
traumáticas.
Recordo de crianças na rua passando por mim
e ficar rindo e fazendo deboche por causa da minha
estatura. Uma pergunta que realmente
me irritava era: “que idade você tem?”. Percebia
muitas pessoas se aproximarem de mim somente para saber
da minha vida e ficar comentando
para os outros “tu viu aquele guri...”. Comecei a ficar
com uma espécie
de fobia social. Conhecer pessoas novas para mim era
extremamente traumático,
pois poucos se importavam comigo, mas sim em me chamar
de coitadinho e falar da minha vida.Muitos acreditavam
que a capacidade de um homem esta em sua estatura física.
Como a psicologia explica, desenvolvi um mecanismo
de auto-preservação
muito forte. Passei a fazer amigos, eles me protegiam
dos outros. Sempre fui fiel aos meus amigos. Sempre
tive “melhores
amigos”.
Amizade tinha
um conceito muito alto na minha vida.
Situações traumáticas fizeram brotar no meu coração
um sentimento muito forte de ira. Eu passei a ser dirigido por este
sentimento. A ira realmente é um veneno. Em casa eu passei a
ser um filho rebelde, não tolerava os erros de ninguém
e não sabia perdoar. Mesmo o amor que a minha mãe e família
devotava o meu caso só piorava. Fui amado, mas eu não
sabia amar. Ninguém pode dar uma coisa que não tem. Eu
não tinha amor no meu coração. Só havia ódio,
e era isso que eu dava.
Desde pequenino fui ensinado a ser um menino religioso,
sempre estudei em colégios de orientação
cristã,
ia sempre nas reuniões todos os domingos. Me lembro
de rezar todas as noites três
aves-maria, um sequeri, um Pai-Nosso e um Santo
Anjo.
Havia uma triste realidade na minha vida, eu tinha
uma religião,
mas não tinha Deus. Como eu já disse,
havia um grande vazio em minha vida. Aos domingos
eu ia a minha igreja, tentando preencher este
vazio, mas tudo era inútil, pois eu não
conhecia Deus, eu não sabia que Jesus
Cristo havia levado todos os meus pecados, minhas
enfermidades, eu não sabia que eu era
livre, que Jesus havia pago o preço por
todas as minhas transgressões, meus erros.
Eu não conhecia Deus. Havia um peso sobre
a minha alma.
Eu nunca fui um devasso, uma pessoa de má índole, mesmo
assim havia um peso no meu interior que não
me deixava ter paz.
No final do segundo grau houve outra situação muito interessante,
eu pensei que ia viver a vida inteira com os meus amigos, mas percebi
que cada um havia tomado um rumo diferente, um tinha estudado para
Direito, outro para Médico, outro engenheiro, e eu nem sabia
o que ia fazer de faculdade. Fiz um teste vocacional e o religioso
que o aplicou disse que eu não tinha vocação pra
nada e que nem valia a pena eu fazer faculdade. Apenas me mandou praticar
a religião. Minha vida estava baseada nos meus amigos. Quando
percebi que todos iam embora parece que se abriu o chão. Se
foi a minha base de sustentação.
Tive uma experiência religiosa muito traumática,
numa reunião a ministra não quis me servir a eucaristia
porque ela acreditava que eu era uma criancinha que não
tinha feito a primeira comunhão. Pensei comigo: “bom, se na
religião tal
eles não se importam comigo vou
conhecer a religião do meu amigo.”
O Dr. Roberto Nichetti, psiquiatra, na época
meu colega de aula e amigo íntimo
congregava numa igreja evangélica vivia
me falando de Jesus e me contava que Deus tinha
mudado a vida dele. Pensei comigo: “bom, esse cara é bem
mais inteligente que eu, se Deus mudou a vida dele
muda a minha também.”
Pedi pra ele pra visitar a “religião dele”,
já que o religioso
do meu teste vocacional disse que eu deveria praticar
a religião.
De fato, Deus mudou muito a minha vida, mas ele
teve muito trabalho comigo. O Roberto falou para
mim do
poder do evangelho
em 1993,
mas fui realmente
fazer uma entrega da minha vida no dia 10/02/1997
num evento para jovens em Morungava - RS. Demorou
muito. Primeira ação
de Deus: Fechar todos os cinemas de Bento, pois
eu era viciado em cinema e não
queria ir numa igreja se eu pudesse assistir um
filme. Se eu tivesse que escolher
, ir ao cinema ou a igreja, com certeza escolheria
o cinema. Vejam só que distorção,
preferindo uma ficção a pensar numa
realidade espiritual. Muitas vezes nossos valores
estão distorcidos!
Depois que a cidade ficou
sem cinemas havia ainda um leão maior
para Deus matar, o meu orgulho. Mesmo indo a
uma igreja
o sentimento de auto-suficiência e aquela
história
de “eu não preciso de ninguém”
se encaixava muito bem em mim. Comecei a freqüentar
os cultos numa igreja dita evangélica em 10/1996,
os jovens me convidaram para ir num retiro, meio
constrangido
fui, gostei muito dos amigos que conheci lá,
o principal foi o próprio Deus que veio
habitar dentro de mim. Coisa para mim até então
desconhecida. Sempre tive uma idéia que
Deus estava lá no trono e eu era um coitadinho
aqui na Terra. Quando me falaram que Deus se
importava comigo e tinha mandado Jesus morrer
por mim na
cruz para
que eu fosse perdoado e o próprio Deus
viesse habitar dentro de mim a coisa se tornou
extremamente
interessante. E foi o que fiz, o preletor ficou
os 4 dias do retiro fazendo apelo para quem queria
fazer uma entrega de sua vida
a Jesus, no último dia eu disse: “vou?
Não
vou?” Meu amigo Gerson me deu um empurrãozinho
e disse: “vai”. Fui. Me lembro que não
senti nada, mas a minha vida foi radicalmente
transformada. Inclusive, o meu pente de cabelo,
aqueles duros,
no dia que eu aceitei Jesus, o meu pente entortou,
mas graças a Deus a minha vida endireitou.
Naquele dia eu recebia a Jesus Cristo como meu
único e suficiente Senhor e Salvador, o vazio
da minha alma foi preenchido. Percebi que poderia
ser feliz, que Deus me amava e que eu tinha valor.
Descobri que só Jesus tem poder pra me livrar do que eu guardo no porão
da minha alma. O sentimento da ira, que me acompanhava, perdeu lugar no meu coração.
Em vez de ser conduzido pela ira, passei a ser dirigido por Deus. É muito
melhor. Aprendi a perdoar e a pedir perdão. E como precisei fazer isso.
Com a minha mãe, alguns amigos e principalmente
com Deus.
Deus começou a falar comigo. Antes eu ia para os barzinhos na noite. Um
dia, o Espírito de Deus me disse: “O que tu ta fazendo aí?”. Nunca
mais saí à noite para “fazer
farra”. Foi Deus.
Te lembra da fobia social? Eu
escolhi fazer faculdade de Ciências Contábeis
porque eu tinha trauma de gente. Raciocinei
da seguinte forma: “faço contabilidade,
me tranco num escritório e não
preciso ficar agüentando piadinha
dos outros...”. Depois de Cristo Deus fez
o contrário. Hoje sou funcionário
da Caixa Federal e trabalho o dia inteiro
com gente, e falo a verdade, amo o que eu
faço! Amo trabalhar com pessoas.
Deus me tem dado amor por elas!
Meu primo que eu não via a muito tempo me encontrou esses dias e me disse:
“cara, tu, um cristão, não dá pra acreditar, tu era tão
bicho do mato que nem cumprimentava os parentes...” E realmente eu era assim,
recordo que uma vez discuti com a minha mãe e disse pra ela “por que eu
vou dizer ‘bom-dia’ se o meu dia não é bom”. Deus mudou também
isso. Fui civilizado por Deus.
Minha boca era uma geradora de problemas,
para os outros e para mim. Vivia na derrota
porque
falava só de derrota e desgraças. Eu amava desgraças
e falar delas. Deus mudou a minha maneira
de falar.
Minha saúde melhorou consideravelmente quando
fiz uma aliança com
Deus. Não posso dizer que fui
curado de tudo, mas para quem vivia
em hospital ficar 8 anos sem pisar
nele já é um ótimo
começo. Deus restaurou a minha
saúde.
E a paz? Oh, que bem precioso. Deus
tirou a ira do meu interior e colocou
uma paz
que independente
das
minhas
circunstâncias exteriores a paz reina no
meu interior. Isso é fantástico!!!
Não estou fazendo propaganda dos Tabajara. Estou
falando de um Deus real que mudou o meu interior. Na realidade, depois
que eu fiz uma entrega da
minha vida pra Deus as circunstâncias
exteriores muitas vezes pioraram,
mas a força que havia no
meu interior era muito maior e
transformadora. Os meus amigos,
que eu mais amava, perdi quase
todos porque não quiseram
mais ter um amigo cristão.
Mas depois de nove anos, vi promessas
de Deus se cumprindo na minha vida.
Hoje tenho mais amigos que naquele
tempo, e amizades
de qualidade. Deus é fiel
comigo!
Mesmo não sendo médico
ao exemplo do meu pai, hoje tenho
ido aos
hospitais
compartilhado com os
enfermos
estas verdades
que
transformaram a minha
vida. Tenho visto pessoas sido
tocadas por Deus, muitas delas
curadas milagrosamente
e a maioria
delas
fazendo
uma entrega
sincera e
verdadeira de suas vidas
para
Jesus.
Hoje tenho estabilidade financeira,
uma família abençoada, quase
todos os bens que eu desejo, mas a maior riqueza que eu tenho é Jesus,
a vida nova que ele me deu é algo
sobrenatural.
Mesmo humanamente ainda não tendo alcançado tudo na vida, Deus
tem dirigido palavras sobre toda a minha vida, e eu sei que quem já fez
tanto no meu passado pode garantir
o meu futuro.
Falar com Deus pra mim hoje
não é mais peso, é alegria.
Conhecer a Deus é o meu prazer. Muitas pessoas não sabem, mas como é precioso
ter a paz de Deus no nosso coração. Hoje até posso ficar
sem nada, mas eu tenho TUDO que é Cristo na minha vida! Isso que é vida
abundante!
Quem me conhece de perto
sabe que eu tenho tido
experiências diariamente
com Deus. Jesus não
está restrito ao
meu passado, ele é um
Deus presente na minha
vida.
Descobri uma grande verdade.
Não interessa
a nossa religião.
Interessa quem temos
dentro de nós
e em quem temos crido.
E você, já tem esse Deus dentro de você?
Fábio Luiz Köche Trindade (Reunião
Plenária
do capítulo
dia 06/11/2006).