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LAUDO FERREIRA JÚNIOR

 

Laudo Ferreira,talento invulgar dos quadrinhos nacionais,sempre aparecendo em importantes publicações.Tive o prazer de conhecer este grande artista no Terceiro Fest-Comix,de onde saiu a idéia desta entrevista.Conheça um pouco mais desta interessante personalidade,artística e humana.

 

eentreEntrevistador: Laudo, começa entregando o ouro para o bandido,,nome completo,data de nascimento,como iniciou sua carreira,etc.

Laudo:Laudo Ferreira Júnior,nasci há 38 anos atrás,no dia 08/04/1964 em São Vicente,litoral de São Paulo.Aquela velha história ,desenho desde molecão mesmo,já fazia lá meus gibis e vendia para os coleguinhas.

Leio quadrinhos desde muito cedo mesmo,tive inclusive a sorte de ter conhecido algumas obras do quadrinho nacional como "Pelotão Suicida","Fikom","Seleções de Terrir" e aqueles maravilhosos quadrinhos do Drácula,desenhados pelo grande Nico Rosso.Não fui um menino de ler coisas do tipo Tio Patinhas,Turma da Mônica,etc.Minha leitura era algo,digamos,mais"Hard".Claro,tinha os super-heróis que a Ebal publicava também.

No campo profissional,foi em 1983 na hoje extinta PRESS EDITORIAL,através do Franco de Rosa.Desenhei para a editora uns quadrinhos eróticos e policiais.Foi uma primeira fase muito boa,onde tive uma primeira noção de como se deveria fazer as coisas,logicamente foram lentas as descobertas,assim como continuam até hoje e é assim que tem que ser.

Fale sobre os álbuns "Hugo Terrara"e "Balada para o futuro".

Nossa !São trabalhos bem antigos,o traço está amador,principiante,completa falta de técnica.Mas todas estas coisas são olhando com olhos" um pouco calejados",mas também ainda hoje é gostoso ver o tesão,a testosterona queimando neste trabalho.Bom,"Balada

...foi publicada em 1987 e "Hugo Terrara"em 1988,embora este tenha sido desenhado bem anteriormente,acho que pelo menos uns dois anos.O"Balada..."gosto,curto folheá-lo ainda hoje.Na época em que estava desenhando o quadrinho foi quando a coisa da AIDS começou a pegar fogo;uma preocupação geral já havia se instalado,quer dizer,houve na época,dentro do meu modo de pensar na ocasião,uma preocupação de passar um sentimento de que precisamos tomar um grande cuidado,não só com doenças,pragas,mas principalmente com o meio-ambiente,nossa casa,tão mal-cuidada .

Quer dizer,se a coisa desmoronar,pra onde vamos correr?Enfim,o gibi caminhava por aí.Houve uns tempos depois uma idéia de uma continuação,que chegou até a ter o roteiro,se chamaria "Deimalus"-Deus mal,no latim.A HQ contaria,alguns séculos depois,onde a Terra estaria.Literalmente vivendo uma nova Idade Média.Cheguei inclusive a produzir algumas páginas,mas o projeto não andou.O roteiro havia sido escrito pelo então parceiro na ocasião Mentori Conti,o mesmo que escreveu"Hugo Terrara".O Mentore tinha consigo umas idéias muito depressivas,pra baixo para escrever roteiros.

A coisa era muito sem futuro,isto na época e hoje ainda me incomoda,não acredito que se deva enfiar a cabeça na terra e esperar a boiada passar.Quem pôde ler o "Terrara" pode perceber isto que falo.O personagem do gibi,o próprio Hugo Terrara é um bundão,um perdedor,nada a ver.Mas aí você pode perguntar-me: "Então porque desenhou cara?".Aquela coisa de amigos,paceiros e " vamos lá!".Mas durante o processo de desenho comecei a não curtir a personagem.

Se você observar ,na HQ(quem pôde ler!!)verá que mesmo Mentori Conti matando o Terrara no fim,poderá sacar que na última página dei um toque totalmente meu,para que a coisa não ficasse tão negra.Considero este quadrinho 100% do Mentore,julgo apenas te-lo ilustrado.

Vale dizer que estes dois trabalhos saíram das gavetas graças ao prof.Luiz Carlos Cascaldi,grande amigo meu na época e dono de um centro cultural que bancou as duas publicações.O cara enfrentou inclusive alguns problemas pela parte do "Balada..",pessoas que patrocinaram e depois meteram a boca,dizendo que o gibi era pornô,por causa de várias cenas de nudez.O gráfico que imprimiu a revista era crente e não quis montá-la e grampeá-la,deixando este serviço para nós.Um absurdo!

Cara,como isso faz tempo!!Mas enfim,o Cascaldi é um cara que até hoje,fazendo muitos e muitos anos sem ver-nos,mesmo assim,tenho grande carinho pelo crédito e força que me deu.Onde quer que este cara esteja hoje,sabe que ele tem espaço em minha galeria.

Fale sobre seu trabalho em SUBVERSIVOS.

Conheço o André Diniz há alguns anos e sempre fui grande fã de seus enredos,sua forma de contar uma história,de seus personagens,tudo!Como o cara vivia vindo direto para São Paulo,sempre nos encontrávamos,mesmo que para um almoço.Houve inúmeras idéias,durante alguns destes encontros,de armarmos uma parceria,porém a coisa só ficava no papo.Quando então o Diniz lançou o primeiro "Subversivos"com desenhos seus,juntamente com o pontapé inicial de sua editora Nona-Arte,ví que suas idéias já estavam tomando novas formas.Foi aí que ele me apresentou dois roteiros para uma nova publicação.Estava a chance de se parir esta parceria.Resolvi desenhar justamente o roteiro em que mostrava a continuação do primeiro gibi.Ao contrário do primeiro,este segundo,"Companheiro Germano",deixava um pouco de lado a coisa de mostrar a luta dos jovens,as torturas,algo de um plano mais amplo e cornum,um lado mais pessoal.O texto do Diniz foi precioso no mostrar o psicológico da trindade de personagens centrais da história,mudando até mesmo o rumo que a primeira revista parecia dar a série."Subversivos"tanto como o anterior,como o que fizemos e as HQs posteriores,é um trabalho de alto nível do André:Consciente,honesto,sem ser piegas,e muito menos demagogo.Para mim,foi um grande aprendizado,me abriu a cabeça em muitas coisas,quando achei que deveria me permitir relachar o cinto,na hora de desenhar o quadrinho.

Vale contar,que conversamos muitas vezes,eu e o Diniz,sobre a possibilidade de produzirmos um "Subversivos"com a Liliana,uma personagem secundária em "Companheiro Germano"mas que acabou se tornando uma figura marcante na HQ.Não sei,se enfim,isto acabará acontecendo,pois atualmente o próprio Diniz mudou sua visão sobre o rumo que pretende dar a esta série .

Nesta HQ,você,que tem um estilo mais realista,optou por um desenho mais caricatural,porque?

Estou sempre buscando novidades,descobertas,aquele prazer meio que partindo do zero.E isto às vezes pode não contentar a maioria,mas o que realmente importa é a nossa busca e não o que os outros acham que devemos buscar.Realmente fiz muito tempo o traço mais sério,bem fotográfico.Inclusive dentro desta linha há trabalhos que considero bons,outros sofríveis.Mas é assim mesmo,não?

O fato é que na obssessão,vamos dizer assim,em desenhar a HQ acadêmica,fotográfica,comecei aos poucos a perceber que sacrificava imensamente minha visão d'uma página,minha visão de uma cena e principalmente a expressividade dos personagens, e isto é algo que busco sempre.

Os desenhos tem que mostrar alma,mas, o que estava acontecendo:O meu traço já havia ficado maneirista,aquela coisa pousada,sem emoção alguma.Isso aos poucos começou a me incomodar,embora eu relutasse muito e continuasse à desenhar o traço normal;tem muita coisa inédita ainda neste estilo.Só quando apareceu a idéia de fazer o "Subversivos"é que resolvi arriscar.Foi excitante;há tempos não tinha o sabor de pegar um papel em branco e dar vida à ele,tirando tudo de minha cabeça e mão.

A constatação definitiva veio quando fui iniciar os desenhos de "Ele",onde aí resolvi soltar mais a franga do que em "Subversivos"e não dando muito limite ao que busco d'uma expressão corporal,facial ou emoção de cena.O melhor disso é saber que pelo fato de não estar mais com o compromisso das imagens fotográficas,a figura humana desenhada corretamente,percebo um leque de possibilidades no que quero fazer.Me revigora!

O que acha da proposta de roteiros do André Diniz?

O Diniz é um grande roteirista, sabe trabalhar com o real ser chato , piegas ou intelectualóide.A sua forma e assuntos que procura contar em seus roteiros parece muito com a minha forma de pensar HQs.Vale acrescentar que o tipo de história que ele conta agrada tanto ao leitor de quadrinhos quanto ao não leitor.E este é um "tempêro" imprescindível.

Que comentários você faria daquela sua HQ do Zé do Caixão?

Você deve estar se referindo ao álbum "A meia-noite levarei sua alma" lançado pela editora Nova Sampa,em 95,que é o primeiro trabalho com o personagem que fiz.É difícil tecer qualquer comentário;principalmente à respeito de um trabalho que foi desenhado hà alguns anos.Sou extremamente crítico comigo,passado algum tempo da realização quando torno a olhar fico angustiado.Por ver muitas falhas,erros,coisas que poderiam ser melhores definidas e por aí vai.

Com este gibi não é o contrário.Acho até hoje louvável o trabalho de pegar um clássico do cinema nacional e encarar a idéia de adaptá-lo para os quadrinhos,trabalhar com determinação.Foi um aprendizado para mim.Mas como disse:Sou muito crítico comigo e não costumo ficar revendo velhos trabalhos.O que foi feito,foi feito.

Gosta de mangás,super-heróis?

Não sou aficcionado por nenhum dos doi gêneros.Com relação ao gênero heróis,também não sou daqueles que vivem metendo o pau e levantando bandeiras.Isso é chato.O gênero está desgastado pacas.Mas vez ou outra aparece algo que me interessa ler.Mangás leio quase nada,embora ache fabuloso o tratamento gráfico,cenográfico,figurinos que alguns artistas cometem.Mas por outro lado,veja só,a melhor coisa que tenho lido é "Vagabond"deTakehiko Inoue,publicado pela Conrad.Desenho estupendo e roteiro muito bem delineado.

Qual o melhor desenhista brasileiro?

O meio de profissionais e mesmo amadores dos quadrinhos nacionais tem caras bom pacas,feras de altíssimo escalão.Acho que não é por aí,ficar apontando este ou aquele,falo isso sem estar em cima do muro.A produção brasileira de HQs embora pequena,possui muitas tendências ,muitos estilos diferentes;então não dá para falar mesmo.

E estrangeiro?

Não há nada que me deixe babando baldes hoje em dia.Há alguns americanos de linha de heróis que me agradam,como Travis Charest,John Romita Jr.,Adam Hugues e outros.Há os europeus clássicos,tipo Manara,que curto sua linha meio surreal e erótico;Bilal,Moebius.Mas como disse,atualmetne não há nada que me faça ficar alucinado.

Têm algum grande projeto em mente,engavetado ou ainda por desenhar?

Há um grande projeto,pelo menos para mim,que há muitos anos mesmo venho alimentando e que só agora,há dois anos aproximadamente venho desenhando,que é a vida de Jesus,numa versão particular.Será um trabalho grande,pelo menos em número de páginas!!Feito com meu parceiro,o arte-finalista Omar Viñole e com roteiro meu.Apesar de eu tomar muitas licenças em cima da história que a Igreja nos deu,estou construindo o enredo em cima de muita pesquisa,para isso tenho lido os mais diversos livros,dos mais diferentes rumos que o tema leva.

Fale sobre seu trabalho com caricaturas.

Trata-se de algo curioso.Meu trabalho como caricaturista se restringe quase só em eventos como congressos,feiras,convenções;onde,nestes casos,sou contratado como atração de determinada empresa para ficar desenhando caricatura das pessoas.Algo rápido,feito em cinco minutos,mais ou menos.Falo que se trata de algo curioso,porque quando comecei a trabalhar com este segmento,até então,nunca havia feito nada,só em brincadeiras com amigos e coisas assim.Já meu trabalho de estúdio,produzindo ilustrações editoriais e publicitárias,é outra coisa,muito raramente tem algo como fazer caricaturas.

Comecei a trabalhar com este segmento,há uns sete/oito anos atrás,como um bico,à convite d`uma amiga,a atriz Mara Mazan,que na ocasião tinha uma agência de eventos.Hoje em dia,já não trato como mero "bico",já fazendo parte de minhas atividades profissionais.O trabalho em si é uma aula para você treinar sua habilidade,técnica,o modo de olhar,observação.Às vezes um evento é cansativo,pois ficar quatro/cinco horas desenhando pessoa a cada cinco minutos,deixa você no final completamente exaurido.Mas passado este momento,você sempre percebe que sua técnica melhora,em todos os sentidos.

Já publicou,ou pensa em publicar,algo no exterior?

Publiquei algum tempo em Portugal as tiras"A voz do Louco" em dois jornais de Algarve e Portimão.Quadrinhos,algumas coisas numa revista catalã chamada"Califa",cheguei até a produzir material inédito para ela e que nunca publiquei aqui.Mas nada disso foi de grande repercussão.Porém,acredito que para tentar viabilizar algum projeto no exterior,eu precisaria estar acessorado por um agente,coisa imprecindível,mas os compromissos profissionais,o famoso"correndo atrás do dinheiro",falta tempo de estruturar um esquema deste.

Que achou da grande baixa que os quadrinhos tiveram com a morte de John Buscema?

Sem dúvida trata-se d`uma grande perda.Mas devo admitir que apesar de admirar muito a arte do Buscema,principalmente seu trabalho em "Conan",nunca fui fã ardoroso,aliás não possuo nenhum artista americano do qual sou fã de carteirinha,embora tenha uma porrada desde o passado até o presente do qual sou admirador,mas nada excepcional.Mas trata-se da perda de um grande mestre,de traço soberbo e que influenciou muita gente.É sempre fim de um ciclo.Como falei,ninguém mais faria e fará o Conan melhor que ele.

O que faz nas suas horas vagas,vai ao cinema,ao shopping,vê fitas de vídeo,passeia,etc?

Quase tudo isso aí.Eu e minha esposa somos cinéfilos,então estamos sempre indo à cinemas ou assitindo vídeos.Vamos muito ao teatro também.O que às vezes complica,que tanto eu como ela,temos horários loucos devido aos nossos trabalhos,e temos que adequar as coisas ou na pior das hipóteses perdemos algo que queríamos ver.

Qual HQ mais gostou de ter feito?

Bem...esta pergunta terá duas respostas e você entenderá por quê:Pelo lado técnico,estilo,arte-final(de primeiríssima do mister Omar) e por ser a porta para a descoberta de uma série de possibilidades,foi sem dúvida "Subversivos".Mas pelo lado afetuoso,de tesão puro,ainda é "O duelo",embora passados muitos anos de sua publicação e principalmente da elaboração dos desenhos.

O melhor de tudo é que esse velho tesão voltou redobrado na HQ que estou fazendo no momento,"Ele",algo que já há um bom tempo eu não sentia.

É possível viver de desenho no Brasil?

Não.Este assunto é velho.Infelizmente ganhasse nada pela produção,criação de HQs aqui,a não ser quando se produz quadrinhos institucionais,para publicidade,aí é outra história.Uma pena,se pensarmos o tanto de talento dos quadrinhos que acabam até abandonando a produção pelas séries de contras que nossa HQ tem;os que ainda labutam é porque a paixão ainda tá mandando.

Se você tivesse que fazer uma biografia em quadrinhos de uma personalidade,quem você escolheria?

Gosto muito de História,e existem alguns períodos que realmente me fascinam,como por exemplo a Idade Média.Mas entre as inúmeras personalidades,admiro a de Jesus!Não quero dar aquela impressão de clichê católico,"good guy",looooonge disso!!!Mas todo o misticismo,mistério e principalmente o abismo que separa o que realmente foi e o que foi transformado deste homem e suas palavras,independente se foi ou não verdadeiramente o messias,o Filho de DEUS,isto sempre me interessou falar.Como o ser humano transformou e transforma para sua conveniência,a religiosidade(não confundam com religião!).Trabalhos como "O duelo",por exemplo já deu para dar uma namorada no assunto,mas agora,com a produção da HQ"Ele",tô me entregando por completo na figura de Jesus e colocando meu modo de pensar sobre várias coisas que o cercam.Logicamente,não se trata de uma biografia quadrinizada,pois não existe "uma biografia" do próprio, o que sabemos sobre Jesus está nos Evangelhos canônicos,nos apócrifos e em outros ,mas nada com base histórica mesmo,daí o grande interesse nesta figura única:É louco,se pensarmos que bases da sociedade estão aliceçadas em supostos mitos,lendas;nada que se tenha realmente prova,por outro lado,isto é a essência da fé.Paradoxos.

O assunto realmente me fascina e tenho me entregado de corpo e alma neste trabalho já há dois anos.Não há pressa para término,pois quero entregar um resultado com o melhor de mim.Quem se interessar é só aguardar mais um pouco.

Comente sobre a época que você publicava em fanzines.

Resumindo em duas palavras:Prazer puro.Não há definição melhor.Conheci pessoas incríveis,que produziam e ainda produzem grandes publicações alternativas.Desenhistas feras,onde pude aprender bastante,tanto em troca de correspondências como vendo minhas HQs sendo analisadas por um ou outro cara. Mas o que era mágico mesmo,era ver trabalhos meus circulando em zines que iam de Porto Alegre até Belém do Pará.Estar junto de grandes feras que começavam a despontar no movimento fanzineiro como Calazans,Gary Andraus,Jaepelt,Joacy James,Emir Ribeiro,Edgar Guimarães,e uma porrada de gente boa.Dois momento deste período que foram de grande importância:Participar dos zines "Repórter HQ",da Biblioteca Nacional de Histórias em Quadrinhos de Belo Horizonte do Antonio Roque Gobbo.

Era delicioso receber mensalmente os zines,ler as matérias,secção de cartas,tudo!Fora o próprio Gobbo que era um sujeito formidável,mesmo fazendo muitos anos que não o vejo,espero que hoje em dia ele esteja bem.E o outro momento foi participar da coletânea de HQs feita pelo editor Independente Edgar Guimarães,"DEUS" , com a HQ "Quando se está só". Trata-se de um período fértil,testosterona queimada a 1.000.000;mesmo período aliás que fiz o"O Duelo".

Atualmente minha participação em zines está reduzida a praticamente nada.Esporadicamente faço uma capa ou um Pin-up para este ou aquele fanzine.A falta de tempo,com certeza,é a fonte principal do meu afastamento.Uma outra coisa é que, creio eu,e é obvio também,o movimento fanzineiro mudou muito deste período para cá,principalmente com o advento da Internet,nestes vai e vem;com meu total afastamento do meio,não sei dizer com certeza à quantas anda o meio hoje.

Já que em Subversivos você criou uma HQ política,qual sua posição política?

Não acredito(como boa parte do povo brasileiro)neste jeito de fazer político que está aí.Não importa qual político seja.Não convence mais aquela postura :"Agora,comigo a coisa vai!!" Política e religião não se discute.Ponto final.E as duas coisas são idênticas,principalmente pelo lado dos relacionamentos": Todos tem a salvação,só que a do vizinho não presta,porque só a minha é boa".Aí uns se matam,vão na TV e rádio se degladiarem e tudo mais.O povão fica com aquela cara vendo tudo e pagando o "parto".

Saúde,uma gigantesca vergonha.Educação é uma vergonha.A Lei é um caso de polícia,e por aí vai.Este jeito da classe dominante,dos politiqueiros tratarem a ala do "rodapé",é histórico,veja a história do nosso país,tá aí.Aqueles que estão no poder e aqueles que estão no chão(nós todos)são dois mundos completamente diferentes.Todos são bons,todos querem o melhor para todos,desde que "todos"tragam algum benefício.Aí vamos abraçar pobre na rua,dar comida pra criança desnutrida,vamos rezar missa com Padre Marcelo,depois entramos em nossa BMW e vamos pra nossa "casa " em Alphaville.É como diz aquela velha música do Mílton:"...e lá se vai mais um dia...

Trata-se d'uma bola de neve que vai atropelando só o povão,esta é a verdade.Nada do que está aí vale.O ser humano só sabe viabilizar política? Não existe o humanismo.Pensemos aonde queremos levar nossa casa,com tudo,tudo que se faz.Não dá pra acreditar.E a solução à princípio,mas só lá no princípio é muito simples.Mas quem quer ser... simples?

O que acha da união Internet-quadrinhos?

Acho importante,fundamental.Para os quadrinhos trata-se inclusive de mais um meio.Não acredito que a Internet vá tirar aquele negócio de você comprar um gibi na banca ou um àlbum,que seja,numa livraria especializada.É o mesmo que ocorre com os livros,a leitura aliada ao ato de manusear um exemplar,pegar seu exemplar na mão,sentir o cheiro de um exemplar recém-lançado(porque tem isso sim!!!).

Não é a mesma coisa de você ficar com os olhos vidrados na tela,com o mouse ali e tudo mais.Mas é hoje outro veículo imprescindível.Sites como "Universo HQ"e "Omelete" tornaram-se peças fundamentais para produtores e fàs de quadrinhos manterem-se informados sobre o meio,com informações de ponta.Os caras estão fazendo um trabalho nota mil.Há também o site da editora Nona -arte,divulgando os quadrinhos de uma penca de artistas,com a moçadinha baixando HQs adoidado.Algo que soube recentemente foi que a história"O anjo exterminador"com minha personagem Meia-Lua ,estava até uns dias atrás com mais de quatro mil dowloads em menos de dois meses no site da Nona-arte.Algo que me surpreendeu e principalmente deixou-me felicíssimo.

Quer dizer,resumindo a história,se por um lado,às vezes as coisas podem não estar indo tão bem,o outro arrasa.Um acaba apoiando o outro.

Qual material você costuma usar para desenhar?

Para desenhar HQs:Papel Opaline gramatura 240, pois é ótimo tanto para desenhar quanto para arte-finalizar.Na página,faço um primeiro estudo com lápisHB ou 4H,depois faço já o desenho com grafite azul 0,5mm e como trabalho com um arte-finalista,faço o lápis bem definido,com sombras,volumes,e tudo mais usando o grafite preto 0,5 mm.É um processo que lendo-do parece demorado,mas não é.Todo este processo é rápido e enfim,cada um tem seu método de trabalho.

Você não acha que o quadrinho europeu anda meio em baixa? Quais artistas europeus admira?

Olha ,não sou um grande conhecedor de quadrinhos,não sei muito bem o que está em voga.O grande alvoroço hoje são os mangás,certo?Acredito que ainda estejam produzindo grandes obras os desenhistas europeus,porém como deste lado do mundo as informações nos veêm à marretada,no que se refere a arte,só temos olhos para o que vêm dos Estados Unidos.Acredito também que mestres como Moebius,Crepax,Manara,Bilal e tantos outros,se produzem(Crepax sumiu),produzem numa quantidade infinitamente menor que a vinte/trinta anos atrás.Por outro lado ainda estão aí estas deliciosas obras;Tex,Martim Mystere,Dylan Dog,assim como Ken Parker ,Diabolik,ou seja,os italianos estão aí mantendo estes grandes personagens,entretendo o público e fazendo grandes obras.

Atistas que admiro,que li muito,mas muito,em uma certa época:Moebius,Manara,Crepax,Bilal,Hugo Pratt,Liberatore.Leitura básica que tantos leram.

Quais suas influências?

Houve um período,há uns quinze anos atrás,quando estava descobrindo muita coisa,tinha muita influência dos europeus,principalmente do Moebius e do Manara(e o primeiro também exerceu muita influência no segundo).Mas atualmente é um "samba do crioulo doido",tenho influência de segmentos mais variados,pode ser difícil entender,algo como dança,por exemplo,mas é.Porém de uns três anos para cá,os grandes mestres da pintura e do desenho(e alguns nem tão famosos!)me fazem a cabeça.

É domínio de técnica,é beleza,é poesia,é excitação,é caos,é gritante e muito mais.É o que me interessa ver hoje.E houve e há a música.Não dá para descrever a reação que certaz músicas me fazem na hora em que estou produzindo.Vai direto no ponto.

Se não fosse desenhista,que profissão seguiria?

Músico.Sem titubear.É inevitável,eu teria que me envolver com arte de qualquer jeito.Toquei em shows,bailes e festivais de música no período de 1979 até 1986.

Cheguei até a montar uma banda-"Lã de Vidro",onde tocava,compunha,o diabo!!me enveredei(fora violão e guitarra)por contrabaixo e teclado.Atualmente pego vez ou outra no violão e como apareceu um tecladinho aqui em casa,vez ou outra tô lá eu brincando de tirar"solinhos"de música com a mão direita.Mas hoje em dia não passa disto.Parei de tocar em 1986 para trabalhar definitivamente com o desenho.Embora ainda fale "que tenho algo mal resolvido com a música",o desenho é tudo que está agregado a ele,fala mais alto em mim.

Mande um recado para fãs e para iniciantes nos quadrinhos.

Para a moçadinha que tá labutando seus quadrinhos,cuidado com o ego!!!Nunca se julgue "o desenhista",porque na realidade você sempre irá topar com alguém melhor que você.Nunca pense que também já basta o que sabe: Porque não há um ponto final,enquanto for possível,sempre haverá descobertas,pois é sempre assim: Você,o papel em branco e o lápis.Seguir sua estrela é o caminho.Saber como você quer contar uma história é que poderá ser o diferencial.E para os fãs:Continuem à bordo,a viagem não acabou,tem chão pela frente!!

 

 

10-REFLEXÕES

 

Cite um filme que o emocionou.

Sou cinéfilo.Assisto tudo quanto é gênero e creia,já assisti filme pacas na minha vida.Mas vai lá,um filme que vi recentemente e que me emocionou muitíssimo-"Buena Vista social Club"-do diretor Win Wenders.Um documentário,mostrando uma viagem do guitarrista Ry Cooder até Cuba,para reagrupar velhos músicoa,cantores e cantoras do dito Buena Vista.Um filme belo,mostrando arte em estado puro,sem modismos,estrelismos ou intelctualismos.

Qual sua música preferida?

Música é outro caso.Seríssimo.Ouço de tudo,só desconte pagode e sertanejo.Clássico,MPB,música SACRA,Rock,tudo mesmo.Mas para não ficar em cima do muro,tô ouvindo no momento o CD de um grupo finlandês (!!!) chamado Värttinä,que mistura temas folclóricos de seu país com pop.

Fale sobre uma grande HQ.

"Valentina"do Guido Crepax.Lembro-me da primeira vez que li uma HQ desta personagem,final dos anos 70,molecão de tudo,só acostumado a ler heróis Marvel/DC e material nacional,tive um grande impacto,tanto pelo tipo de contar uma história quanto pelos desenhos.Foi à partir daí que fui descobrir o resto dos europeus.

Um grande livro.

"Macunaíma" do Mário de Andrade.Visão absoluta de nosso país,ainda.Obra fundamental que é para ser lida e relida.O personagem é maravilhoso e o seu bordão,como disse,resume bem a nossa cara: "Muita saúva e pouca saúde,os males do Brasil são!"

Quem é melhor,Burne Hogarth ou Alex Ross?

Os dois são bárbaros,muito embora eu não babe baldes por nenhum dos dois.Mas como se trata de escolha,fico com Burne Hogarth,que mesmo comprometido com o acadêmico,era muito mais solto,mais gracioso que o Alex Ross,que me pega um pouco no excesso fotográfico,no hiper-realismo.

Stan Lee ou Alan Moore?

Cada um tem seu valor.Mas sou mais o Alan Moore,é um pouco meu jeito de pensar histórias.Seus roteiros em "Monstro doPântano","V de vingança", "Watchmen"e "Do Inferno" são pérolas !

Leonardo da Vinci ou Michelângelo?

Ambos gênios,maravilhosos.Artistas com uma enorme parcela divina.Então qual escolher?Não dá.Porém,na questão preferência sou Michelângelo,é bárbaro,magnânimo.Sou muito minúsculo para falar dele.

Estar em uma praia rodeada de gente ou estar em um sítio bem afastado?

Apesar de estar necessitando muito "salgar a bunda",ou seja,pegar uma praia,ultimamente estou muito mais para um lugar beeeem afastado.Eu e Deus.Tô carecendo colocar as coisas em ordem.

Roc'n'roll ou MPB?

Hum...atualmente venho ouvindo um pouco mais de rock.Porém,rock anos 70,há coisas maravilhosas ali.O mesmo digo sobre MPB.Não enxergo nada de bom na MPB atual,salvo raríssimas excessões.Francamente falando,meu gosto musical atualmente caminha para outras direções,mesmo curtindo alguma coisa do rock,do pop,do techno e até do que se diz ser da MPB,nada me seduz muito.

Rob Liefeld é o pior desenhista do mundo?

Não.Tem muito neguinho desenhando mal pacas por aí.Mas que o cara é ruim,isso não se discute.

 

THE END


 

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