Parábola do Jardineiro
Conta-se
de um homem, que amava o seu jardim. Por isto dele se
ocupava, com todo o cuidado que só o amor pode inspirar.
Com carinho, absorvia-se no trato da terra. E esta lhe
retribuía com flores silvestres que, embora humildes,
embelezavam a sua vida e perfumavam o ar que respirava.
Assim, era feliz o jardineiro. Porque a felicidade não
está em conquistar sempre mais, e sim em reconhecer o
valor do que se possui.
Porém, todos lhe repetiam que não deveria cultivar
aquelas flores; que ninguém pode ser feliz com flores
singelas, que apenas embelezam e perfumam, mas não têm
qualquer valor que traga segurança ao cotidiano.
De tanto ouvir as vozes do mundo, houve um dia em que o
jardineiro lançou os olhos sobre o jardim do vizinho. As
flores que ali vicejavam, embora não tivessem a beleza e
o perfume do seu jardim, eram procuradas por todos; e
por isto lhe pareceram mais desejáveis que as suas
próprias flores.
Deste dia em diante, foi-se a felicidade do pobre
jardineiro. Que já não se satisfazia com o seu jardim;
mas tampouco se animava a dele arrancar as flores, que
lhe ofereciam a beleza e o perfume que em nenhum outro
jardim encontrara.
Foi-se o sono tranqüilo, que tão belos sonhos lhe
trazia; os seus olhos, que dantes guardavam doces
imagens do jardim querido sob o sol, agora fitavam
insones as trevas da noite.
Dividido entre os sentimentos contrastantes, já não era
com o mesmo encanto que apreciava a beleza das suas
flores, ou inspirava o seu perfume. Aos poucos, deixou
de dedicar o mesmo carinho à terra e o mesmo cuidado ao
jardim.
Assim, foram as flores perdendo o viço e, com ele, a
beleza e o perfume. Dia após dia, tornava-se mais feio o
antes lindo jardim, e mais sofria o pobre jardineiro.
Como acontece a tantos, que um dia foram felizes, mas
deixaram-se seduzir pelo brilho que julgavam descobrir
nos jardins alheios.
E esqueceram de cuidar das próprias flores...