Como lidar com o CRIACIONISMO?

O mundo, inclusive as estrelas e galáxias, foi criado em 3761 AC, conforme o calendário judaico, que se baseia no Livro de Gênesis.

Conforme Gênesis, o mundo estava dividido em o nosso mundo (não havia o conceito de planeta Terra) e a abóboda celeste, aonde ficavam os astros: as estrelas, a lua e o sol, ou seja: não havia outros planetas, muito menos galáxias. Esses astros se movimentavam sobre o nosso mundo - nem se imaginava rotação, eles simplesmente apareciam no horizonte e corriam o céu. Os seres vivos eram todos vegetarianos, homem e mulher vieram do mesmo modo, por uma vontade divina, que deu vida a algo feito do pó da terra, entretanto, há uma segunda versão da Criação em Gênesis, com a mulher sendo criada a partir de um pedaço do homem.

Para a Bíblia, os pensamentos e emoções humanas ocorriam no coração, menstruação era um sinal de impureza da mulher e a morte era detectada pela presença ou não da respiração... há muitas outras coisas na Bíblia inaceitáveis hoje diante dos conhecimentos desenvolvidos nos últimos 3 séculos, ou mesmo diante do bom senso.

Em Gênesis não há qualquer referência aos povos asiáticos, nem aos americanos (índios), há algo a respeito dos negros e dos euro-asiáticos; não há referências a geleiras, aos pólos, nem das grandes florestas, muito menos a lagartos voadores, dinossauros, etc. Isso porque, Gênesis foi escrito para um povo das estepes, dos campos áridos do Oriente Médio, gente semi-nômade, que conhecia os egípcios (negros, e não brancos como Holywood mostra) e os povos da pérsia e grécia. Gênesis é a versão israelita, do povo que saiu da Mesopotâmia.

Entretanto, o teor da Bíblia, principalmente o Livro de Gênesis, foi dedicado ao homem comum desprovido dos meios que temos para pesquisar o mundo e a vida, foi escrito para a infância de um povo, por homens também desprovidos dessa ciência atual, mas dotados de profunda preocupação em achar explicações para as angústias humanas. Vê-se como as conclusões ou mesmo as teses da ciência são duras demais para algumas pessoas aceitarem, ainda hoje, soando a elas absurdas, mesmo que sua crença não seja a judaica ou outra bíblica.

Por outro lado, a ciência que trata do passado baseia-se em sinais, restos, estimativas, não se podendo dizer que "foi assim" mas "pode ter sido assim" - não podemos encarar a ciência e suas colocações como artigos de fé. Os dinossauros existiram, mas ninguém pode dizer com certeza absoluta dos detalhes de cor, de comportamento, etc. Os hominídeos existiram, mas não se pode dizer com exatidão que eles agiam desse ou daquele jeito, tinham essa ou aquela cor de pele.

O grande drama dos fundamentalistas cristãos é a tese de Darwin que liga o homem ao macaco. O macaco sempre foi mal visto pelas pessoas e culturas moralistas, preocupadas em conter os ímpetos animais do homem, porque o macaco é visto como um pequeno homem degenerado. Poderíamos dizer que isso é um exagero do orgulho humano ou um sinal de extrema baixa estima existencial, o homem não aceitando descender do macaco - talvez, se fosse do leão ou da águia, a estória seria outra...

Para o fundamentalista e para o homem comum, sem os recursos da ciência ou incapaz de compreender sua profundidade, o macaco não passa de um homem que, um dia no passado, degenerou-se. Pode ser? Sim, pode ser, mas, pode ser também que o homem veio de ancestrais simiescos, como a sequência que vem sendo montada alude, inspira, sugere. Ninguém viu a evolução do homem nestes últimos 2 milhões de anos, mas a ciência é capaz de fazer uma reconstituição e criar hipóteses bastante fortes.

A Teoria da Evolução foi lançada por Darwin, mas foi sendo trabalhada por outros cientistas, que juntaram a teoria às pesquisas genéticas, geológicas, etc, de modo que a Evolução é uma ciência complexa, que envolve várias disciplinas, profissionais.

Não há problema algum ao cristão aceitar o Evolucionismo, primeiro, porque a teoria se baseia em fatos das leis da natureza e em uma bem intencionada análise de achados da história natural, segundo, porque o Gênesis é aquilo que foi dito acima: uma versão apropriada para quem tem uma compreensão limitada da vida e do passado.

A ciência, por seu lado, afastou-se demais da compreensão do homem comum, pelos seguintes motivos: ela se aprofundou e está muito além dos meios que o homem comum dispõe para entender o mundo (basicamente, seus cinco sentidos), por outro lado, o ensino não conseguiu estabelecer caminhos para a fácil compreensão pelos alunos - ficamos sem pontes - por fim, vivemos um tempo de supervalorização da superficialidade. Além disso, para aceitar certas coisas da ciência é preciso ter coragem e estômago, o que muitos de nós não está disposto porque o abandono das certezas e tradições é um ato perigoso diante das dificuldades da vida.

Apesar de ser hoje uma importante fonte da verdade, determinando os passos do homem, a Ciência deixou órfão o homem comum que, na sua busca por certezas e referências acessíveis, diante das dificuldades da vida, acaba por optar pelas verdades simples e enfáticas dos fundamentalistas.

O que devem fazer os professores?

Se o professor é professor de ciências, deve se dedicar a estabelecer essa ponte entre a compreensão dele e do aluno e a ciência avançada, a paleontologia, a arqueologia, etc. Professor de ciência não é para ensinar religião, isso é ato de má fé, mesmo que ingênuo.

Cabe ao professor de ciência, que vive num Estado laico (graças a Deus) e numa democracia, ensinar ciência, mas sempre levando em conta os aspectos relativos dessa ou daquela teoria - porque é teoria. Se quiser mencionar as teorias ou crenças religiosas sobre a origem do mundo e da vida, então deverá mencionar não apenas as de sua crença pessoal, mas as das crenças demais, como as africanas, as indigenas nativas, etc.

Não cabe ao professor de ciências fazer catecismo de sua fé.

Por fim, o professor tem que entender que durante séculos a religião impediu que a ciência prosperasse, pelos motivos conhecidos, vários foram as pessoas impedidas de fazer ciência e divulgar suas conclusões, uma delas, como bem se sabe, foi Galileu. O preço pago foi alto e não se justifica agora um retorno ao passado.

Por outro lado, ao professor sem crença definida ou mesmo incrédulo de tudo, apenas na ciência, entender que a compreensão varia entre pessoas, que muitos de nós vive algo como uma infância ou uma adolescência, alguns eterna, quanto ao conhecimento, e que a ciência, quando trata de teses e teorias sobre o passado deve ter humildade e não se transformar em uma crença!

Salvador Benevides - Eng. Florestal

 

 
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