No passado, no tempo da escravidão, os negros recebiam uma calça e uma camisa de algodão cru por semestre, pois, os Senhores procuravam gastar o mínimo possível com os escravos. A camisa, logo se esfarrapava com os trabalhos pesados sob sol e chuva e a calça, era amarrada à cintura com cordas ou cordões, pois não lhes davam cintos; nessa época, o uniforme, ou melhor, a indumentária do capoeira era essa.

           Com o passar do tempo, aumentou a necessidade de mão-de-obra escrava nas casas senhoriais e nos meios urbanos, com isso, a roupa dos escravos que serviam nesses locais, em geral, foi melhorada, inclusive em quantidade, contudo, apesar de receberem cintos às calças e usarem as camisas por dentro delas, continuavam andando descalsos e chamados de moleques, não importando a sua idade e, como a capoeira alastrava-se pelas cidades, principalmente as portuárias, a indumentária do capoeira era essa.

       

          No final da escravidão e no começo da República, os capoeiras, tendo resistido a anos de perseguição e tentativas de extermínio, já haviam se infiltrado na burguesia, trabalhando como Capangas, Leões de Chácara ou Seguranças Particulares. As feições do capoeira, nessa época, também já haviam se tornado mestiça, mulata e até mesmo branca, e sua indumentária também era a roupa do próprio cotidiano, ou seja, sapatos, calça social e cinto, camisa de manga comprida por dentro das calças, paletó e chapéu. Alguns de maior influência e prestígio não dispensavam o terno, a gravata ou lenço de seda no pescoço (para não sujar o colarinho, mas que na verdade era usado para a proteção contra navalhadas), bengala ou guarda-chuva. Era assim, portanto, que estavam prontos para o “jogo” ou para o “jogo da vida” e por volta de 1930 começaram a se denominar "Angoleiros" ou "praticantes de Capoeira Angola."

Seguindo essa tradição, na ABCAL jogamos a Capoeira Angola, praticamente, com as mesmas roupas que andamos nas ruas: “Sapatos ou tênis pretos; calças do cotidiano (social ou jeans) e cinto, pretos; camiseta da associação (amarela ou branca) e gorro, boina ou chapéu, ficando à critério de quem é Mestre vestir-se ou não, completamente, de branco.” O que realmente importa, através do fundamento absorvido dessa tradição, é observar e respeitar as indumentárias dos capoeiras no dia-a-dia de cada época e jogar, a Capoeira Angola, pronto para o cotidiano e estar pronto no cotidiano, para a Capoeira Angola!

 

 

                                                           Mestre Vandir Nunes

                                                                        01/2003

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