Trecho da descrição do quarto paulista de Álvares de Azevedo

    "A mesa de estudo eram duas lousas, sôbre cavaletes encarnados; e a livraria, que ocupava todo o espaço de uma parede, constituia-se da reunião de cinco pedras tumulares, intercaladas de crânios, e dispostas em prateleiras. Sôbre a plancha de mármore superior várias corujas e morcegos empalhados; e à cabeceira de aludido leito, solene urubu-rei, cujas asas abertas abrigavam o poeta, adormecido dos besouros que, desertando do cemitério, invadiam-lhe o retiro, perturbando-o em seus devaneios.
     Não se utilizava das velas como luz durante o trabalho mental; alumiava-se com tochas de entêrro, fincadas aqui, acolá. Sua mesa de estudo era simplicíssima: por tinteiro, uma rótula cavada no centro, posta sôbre duas clavículas em cruz; por castição, um osso longo em que implantava a vela de cêra de que se utilizava nas prolongadas meditações.
     Alguns crânios de feto, dispersos e sem ordem, parelhando com os demais objetos de escritório, serviam-lhe de guarda-penas, lacre, obreiras, selos e etc... Por bacia de rosto, quebrada pia de água benta, trazida da derrocada capelinha da solitária necrópole. Era realmente um compartimento bizarro e extravagante, onde tudo parecia encaminhar o pensamento à vida de além-túmulo".

Fonte: Pires de Almeida, "A Escola Byroniana no Brasil".
Agradecimentos a Cid Vale Ferreira, que disponibilizou o material através da Lista Sepiazine.

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