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Dispersos

Reúnem-se aqui três poemas de Álvares de Azevedo nunca publicados nas edições de suas obras: uma quadra em francês escrita em álbum de sua irmã, e dois poemas da extrema juventude, revelando, sobretudo o soneto, a forma ainda muito canhestra do poeta adolescente.

Adieu

Adieu, ma soeur, souer de mon coeur,
Adieu! en quittant cette plage,
J'y laisse avec toi mon bonheur
Et un adieu sur cette page.

1847

Soneto

Oferecido ao meu amigo Luís Antônio da Silva, no dia 2 de junho de 1847, seu aniversário natalício.

Perdoa se hoje em verso rude não cadente
Ledos os sentimentos de minha alma exprimo:
Tu verás que na arte de poeta eu não primo
Porém verás que só digo o que meu peito sente.

Mas os teus anos que me alegram a mente,
Triste pensamento me faz vir do imo
De meu peito alegre. De ti que eu tanto estimo
Para o ano, em igual dia hei de estar ausente!

Mas se de ti separar-me a extensão tão imensa,
A grande distância que entre nós estiver
Lembrança de ti não me fará perder.

Faz que tua alma a distância também vença,
Neste dia entre os amigos não te esquece
Daquele em quem tua lembrança não fenece.

Imitação

O tempo alegre corria
Da infância nos anos meus;
O céu azul me sorria;
Que esperança, oh meu Deus!
Via uma verde campina,
Nele uma flor peregrina;
Tinha uma crença querida,
Sonhava glórias brilhantes,
No porvir da minha vida.

Dias de gozo e ventura,
Manhãs de purpúrea cor,
Tardes de elísia doçura,
Noites de ameno frescor;
O sol doirado fulgindo;
A lua argêntea luzindo;
Tudo, tudo prometia
Alegrias amorosas;
Canções do céu tão mimosas!
Tudo, tudo repetia.

Haver pensara no mundo
Uma sincera afeição
Amor leal e profundo,
Santo amor do coração;
Sonhava fruir delícias,
Ternas e meigas carícias;
Mulheres belas gozar,
Mais belas que a do Profeta,
Puro amor como o de poeta
Rendido lhes consagrar.

Mas de tantas ilusões
Dos fagueiros sonhos meus
Apenas recordações
Hoje me restam, meu Deus!
Não achei felicidade,
Nem amor, nem lealdade;
Não vejo o céu me sorrir,
Não vejo mais a campina,
Não vejo a flor peregrina,
Nada espero do porvir.

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