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CORRESPONDÊNCIA

13 de abril de 1842

Mamãe,
Estimo que passe bem, eu por mim não tenho gozado de boa saúde, pois que segunda-feira tive uma grande indigestão e ontem o Dr. Geraldo disse que eu mais o Antônio Carlos estávamos com uma febre gástrica e estamos desde ontem a uso de remédio. O Sr. Stoll me mandou levantar hoje às 9 horas.
Lembranças a todos lá de casa e principalmente a Papai. -
Adeus, minha cara Mãe.
Eu sou seu filho obediente

M. Azevedo.

*

Botafogo, 25 de setembro de 1842

Minha cara Mãe.
Estimo que passe bem, assim como Papai, que veio cá me visitar quarta-feira.
Na quarta-feira teve lugar a tão afamada experiência do homem-peixe, que entrou no mar e saiu dizendo que ia buscar mais sete libras,a s quais trouxe, e entrou n'água; ele tinha uma roda de vidro à roda da cabeça, que vinha a acabar no pescoço, donde continuava em folha de Flandres; trazia na mão uma caixa de folha onde haviam duas bexigas cheias d'ar e que tinham um canudo de goma elástica que ia até a máscara, que estava cheia de vento; ele tendo entrada n'água ficou dois minutos, foi muito assobiado e querendo dar satisfações ao público, foi respondido com empurrões (o que achei mal feito).
Soubemos depois que ele tinha feito tão mal as experiências, porque tendo visto o tempo algum tanto mau, pôs-se a beber.
Assim mesmo minha Mãe lembre-se do homem das botas de cortiça em Lisboa.
Se o Mr. Beaudoin (assim chama-se o homem-peixe) sabia fazer suas habilidade, por que tinha ele precisão de experimentá-lo? E mesmo para que as não foi fazer a uma praia deserta, como: cá a Praia Vermelha, na Praia Grande, a ponta d'Areia, Gragoatá, etc.? enfim, minha Mãe lembre-se do homem das botas de cortiça.
Quando me mandar buscar mande outras calças para ir para casa, porque as de casimira estão rotas no joelho.
Minha cara Mãe,
Sou seu filho do c.

M. A. A. Azevedo

P.S. - Lembranças a todos de lá de casa e mande-me dizer o que me dão pelo dia de meus anos.
Mande-me sapatos, porque os meus estão rotos.

*

Rio, 29 de fevereiro de 1843

Mamãe,
Estimo que tenha passado bem, assim como Papai, Nhanhã, Sinhá e Quinquin; hoje não fui a casa de D. Maria Amália, porque D. Maria Goulart e a Rosinha estão doentes, porém eu creio que não é nada mais que uma simples dor de cabeça.
Por isso nem eu nem o João Viana, o Juca de D. Maria do Lúcio, nem o filho do Caldas, fomos a casa de D. Maria.
Eu cá de Botafogo sempre vi os foguetinhos que se atacaram na quinta-feira em Jurujuba.
Todos esses dias temos ido passear pelo luar, e na quinta-feira vi um fogo lá, e depois percebi que deviam ser girândolas, lembrando-me que Papai tinha saído juiz da festa e que ele tinha dito que havia de ir nessa semana à Jurujuba.
Adeus, minha cara Mãe.
Sou com muito respeito seu filho do c.

M. A. A. Azevedo

N. B. - Lembranças a todos que se lembrarem de mim.

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