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Nance Beyer Nardi
Depto. de Genética, UFRGS
"Quando
descobrires um motivo, me avisa", comentou comigo um
colega - pesquisador de sucesso - ao saber do tema.
Na verdade, não é uma pergunta facimente respondida. Ao
considerar os prós e contras de uma carreira, quando vai
se aproximando o momento do vestibular por exemplo, vários
pontos são analisados. Entre os mais comuns encontram-se:
eu gosto desta atividade? Qual o mercado de trabalho?
Qual o nível de comprometimento exigido? Qual o retorno
financeiro da atividade? Qual o nível de poder pessoal
que posso esperar atingir? Diferentes pessoas atribuem
diferentes pessos a estas questões, mas de mogo geral
buscamos uma carreira que nos dê prazer, um nível de
envolvimento que permita uma vida pessoal e familiar
plenas, emprego garantido, um retorno financeiro adequado
para os dias atuais (e próximos...) e, se possível, um
pouquinho de poder e glória.
Com pouco mais de 20 anos de atividades exercidas no
ensino superior e na pesquisa, posso considerar estas
questões de um ângulo certamente diferente daquele que
me levou a escolher esta carreira. Sei hoje que a
carreira de pesquisador no Brasil é árdua,
principalmente em áreas que envolvem a necessidade de
atividades de laboratório. Os recursos são obtidos com
grande dificuldade, e sua utilização é muitas vezes
mais difícil ainda, principalmente em se tratando de
produtos importados; o pesquisador deve exercer múltiplos
papéis - orientador, administrador, office boy,
contador, negociador de preços e produtos com
fornecedores; deficiências de infra-estrutura ou espaço
físico muitas vezes impedem instalações adequadas para
os projetos de pesquisa ou põem a perder projetos em
andamento; etc; etc... Tendo já vivido a experiência da
pesquisa em países do primeiro mundo, a sensação geral
é de que, enquanto lá o pesquisador sério e bem
sucedido é prestigiado e incentivado a produzir cada vez
mais, aqui sempre temos que pedir que por favor nos
permitam trabalhar... Certamente não se fica rico
vivendo da atividade de pesquisa e apenas muito raramente
se experimenta a sensação de glória ou poder.
Este tom parece muito pessimista? Ele reflete a realidade
da pesquisa científica no Brasil, onde dependemos quase
exclusivamente de recursos de um Governo Federal que tem
muitas outras prioridades antes desta. Em conclusão: não
vale a pena seguir a carreira de pesquisador em nosso país?
Experimente fazer esta pergunta aos bons pesquisadores
que você conhece: todos eles vão dizer que SIM, VALE A
PENA, apesar de todos estes problemas. Por quê?
Pode responder a esta pergunta aquele que já muitas
vezes chegou ao trabalho ansioso e foi correndo conferir
o resultado de um experimento realizado com tanto
cuidado; quem está lendo um trabalho científico e de
repente tem A IDÉIA sobre como responder àquela questão
que há tanto tempo vem nos perseguindo; quem termina de
montar uma tabela e vê com prazer o conjunto e o
significado dos dados agora já analisados; quem recebe
daquela revista a notícia de que seu trabalho foi aceito
para publicação; quem acorda de repente no meio da
noite com a solução ao problema experimental que o
incomodou durante uma semana; ou quem vê com orgulho o
seu orientado de bacharelado, mestrado ou doutorado
formar-se com brilho, graças a uma orientação bem
conduzida. Enfim, as recompensas da carreira de
pesquisador não são convencionais, e podem talvez ser
difíceis de compreender para quem precisa fazer o cálculo
do custo/benefício de uma profissão. A resposta talvez
se concentre em palavras como curiosidade, impulso ou
paixão, e na verdade surge apenas muitos anos depois de
ter-se ingressado nesta carreira - um ingresso que ocorre
ao natural, sem muito pensar, apenas porque você sabe
que é isto que você quer - ou mais que isto, você
precisa - fazer. Em outras palavras: provavelmente só se
realizará na carreira de pesquisador aquele que não
precisa fazer a pergunta "por que abraçar a
carreira de pesquisador?"
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