Os mais novos brasileiros
                 
                                       

 

Biólogo identifica no meio da selva amazônica duas espécies de macacos jamais vistas.

CALLITHRIX ACARIENSIS
saguizinha branca
que briga com fêmeas de outras espécies

Mesmo após 500 anos de estudo – e devastação – a biodiversidade das florestas brasileiras continua revelando segredos, e nos surpreendendo. É que o País acaba de ganhar dois novos habitantes. Eles têm menos de 20 centímetros de altura, pesam entre 350 e 450 gramas, adoram subir em árvores e brincar nos ombros de seu maior amigo humano, o biólogo Marc van Roosmalen, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus. São duas novas espécies de saguis amazônicos, batizadas Callithrix manicorensis e Callithrix acariensis. Ao todo, o Brasil é agora lar de 79 espécies primatas. O País, que já era campeão mundial isolado em biodiversidade primata (existem 240 espécies no planeta, contando-se aí os chimpanzés, os gorilas e nós, humanos), aumenta assim sua vantagem em relação ao segundo colocado, o Zaire, com 45 espécies.


CALLITHRIX MANICORENSIS
localizada às
margens do rio Aripuanã.

Roosmalen encontrou um exemplar do manicorensis em julho de 1996 com caboclos que vivem perto da cidade de Manicoré, localizada a 300 quilômetros de Manaus e nas margens do rio Aripuanã. Quando viu aquele animalzinho com parte da pelagem branca, parte cinzenta, o cientista percebeu que se tratava de uma nova espécie e trouxe o animal para Manaus. O mesmo aconteceu um mês depois, quando Roosmalen encontrou uma saguizinha branca como a neve e dotada de um rabinho preto, diferente de todas que já tinha visto. Vivia como animal de estimação de uma família no rio Acari, daí a escolha do seu nome científico, acariensis. “Ela morou muito tempo aqui no meu quintal até morrer numa briga com fêmeas de outras espécies. Quando entram no cio, elas podem matar umas às outras. Mas o manicorensis continua vivo e aqui em casa”, explica num português macarrônico esse holandês de nascimento que mora em Manaus há 12 anos.

Marc, seu filho Tomas e dois outros biólogos, o inglês Anthony Rylands e o americano Russell Mittermeier, preparam-se para publicar a descrição dos dois animais no jornal Neotropical Primates, da Conservation International, organização presidida por Mittermeier e uma das líderes mundiais na luta pela preservação do meio ambiente. Essa não é a primeira vez que Roosmalen revela a existência de novas espécies, nem será a última.

Em 1987, ele já havia descrito um primeiro mico, o sagui-anão-de-cor-preta, ou Callithrix humeles, que habita a mesma região do rio Aripuanã. E prepara para os próximos anos a descrição de pelo menos sete outros saguis, além de cinco espécies de pássaros, um porco-espinho ou caititu-anão e – acredite se quiser – uma onça-preta! “Será a descoberta do século, ou melhor, do novo século. Ela existe. Estou plenamente convencido.

Só falta conseguir uma pele ou um crânio do animal.” Se isso realmente acontecer, será como avistar uma nova ilha insuspeita bem no meio do Atlântico. Ocorre que, dos estimados 30 milhões de espécies que habitam o planeta, só conhecemos 1,5 milhão. A maioria, desconhecida, é composta por micróbios e plantas. É raro, ou melhor, raríssimo, adicionar um espécime à lista dos 4.800 mamíferos. Desde os anos 90, só existem dois locais no mundo onde isso acontece. Um é a Amazônia e o outro, o Vietnã, cujas florestas foram preservadas do avanço da agricultura por meio século de guerras.

Lá, recentemente, foram descobertos dois antílopes de grande porte, diz Mittermeier. Se essa descoberta já deixou os zoólogos de cabelos em pé, já pensaram no que vai acontecer quando se achar um novo tipo de onça? “Não tenho dúvida que ainda dá pra descobrir muita coisa”, afirma o americano. Marc van Roosmalen se naturalizou brasileiro em 1998. “Fiz isso para trabalhar melhor aqui. Antes, me consideravam estrangeiro.”

Segundo ele, era muito difícil enviar material genético dessas novas espécies para análise em laboratórios no Exterior. “Era preciso ter uma licença do Ibama e, sendo estrangeiro, era difícil obtê-la. Aí, me acusavam de biopirataria. Essa xenofobia, essa paranóia de que os estrangeiros roubam as riquezas do Brasil não existe no Peru, na Venezuela, Colômbia ou nas Guianas”, desabafa. Depois da naturalização, Marc diz que tudo mudou. “A diferença foi significativa. Agora, o pessoal gosta mais do meu trabalho. E o relacionamento com as entidades
governamentais, como o Ibama, melhorou muito.”

                 
                                       

 

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