Sexto Trabalho:

Apoderando-se do Cinto da União


Após a experiência marcante com o leão de Neméia, Hércules está mais seguro de si, e o grande Ser do Conselho Secreto aprova sua nova incursão nos fatos da vida. Este grande Ser é um dos membros da Hierarquia, o qual, como tantos vela constantemente pela evolução dos universos.


Diz-nos o mito que, numa região litorânea, existe uma rainha que lidera bravas guerreiras. Nenhum homem habita aquele insólito reino. As mulheres oferecem, diariamente, sacrifícios ao seu Deus, a quem erigiram um grande templo. Como seres do sexo masculino não entram naquele reino, uma vez por ano as guerreiras vão à aldeia vizinha, onde há homens, para se fecundarem. Certa vez, depois de voltarem de tal aldeia, a rainha lhes anuncia uma visita inusitada: Hércules está vindo. Dos degraus do altar, conta ela às guerreiras que, em obediência a uma ordem de Deus, deverá entregar ao herói o cinto simbólico que ela costumava usar. ''Devemos mesmo cumprir a ordem e entregar o cinto, ou não?", pergunta ela, em tom firme, às guerreiras. Enquanto estas refletem sobre a resposta a ser dada à rainha, Hércules chega, antes da hora combinada, sem que elas, juntas, pudessem manifestar-se. Buscando o precioso cinto, vai direto à rainha e com ela empreende uma luta. O debate impede que Hércules escute as palavras gentis que a rainha tenta transmitir-lhe. Ele acaba puxando com violência o cinto, supondo que ela se estivesse negando a entregar-lho. Só depois é que descobre que, na verdade, ela já estava vindo ao seu encontro para fazê-lo. Tarde demais! Tamanha foi a violência ao arrancar o cinto, que Hércules provoca a morte da governante guerreira. Um pouco sem jeito, o herói apanha o cinto e, sem dizer palavra, toma o caminho de volta. Atrás de si ficam as guerreiras, pesarosas por terem perdido sua rainha. Agora, sem a direção que sempre tiveram, vão sentir falta do amor que ela lhes dedicava. Na verdade, o cinto simboliza aqui a unidade e o amor. Paradoxalmente, Hércules sacrifica justamente aquela que vem oferecer-lhe o que está buscando. Essa é uma situação desconcertante, que, no entanto, costuma acontecer na vida de todos nós, ainda que envolvendo fatos e graus diferentes para cada um. "Por que se mata o que está próximo e é querido? Por que se mata o que é tão necessário?" Essas perguntas são feitas a Hércules, subjetivamente, pelo seu Instrutor. "Por que você mata aquilo que ama?", pergunta-lhe este. Não há resposta. Parece que Hércules não compreende, ainda, certo sentido da vida. Com isso, a tarefa, neste ponto do seu desenvolvimento, é considerada um fracasso. Então, é pedido a ele que se redima do fato, sob pena de não mais voltar a ouvir seu Instrutor. Com essas palavras ressoando em seu ouvido interno, Hércules caminha pelo litoral. Cabeça baixa, passos lentos, o tempo parece não passar. Esse é um daqueles momentos nos quais o indivíduo se sente numa espécie de limbo. Ao aproximar-se de uma escarpa, o herói vê um monstro, vindo das profundezas, que traz presa em sua enorme boca uma jovem que se debate, sem poder soltar-se. Ele pode ouvir os seus gritos de dor e os seus pedidos de socorro. Esquecendo-se de si mesmo e do arrependimento que lhe corrói o peito, rapidamente caminha para junto do monstro, tentando alcançar-lhe a boca. Contudo, a jovem é engolida pelo animal, resvalando pela sua garganta alongada, que mais parece uma caverna sem fim. O herói não hesita: penetra na boca do monstro e desce por sua garganta estreita. Chegando ao ventre, encontra a jovem ainda viva. Com um braço, segura-a bem junto de si e, com o outro, abre a barriga do monstro, usando de uma espada. Desse modo, ambos retornam à luz do dia: a moça está salva. Nesse momento, para surpresa de Hércules, a voz do Instrutor faz-se ouvir novamente, pois com essa façanha ele equilibra sua ação anterior em que eliminara a rainha das guerreiras. Tudo isso nos mostra que cada um de nossos atos se reflete até os confins do universo, movendo vibrações em todos os níveis de consciência. A prática de atos contrários à desarmonia equilibra uma ação anterior não-harmônica. No caso em questão, Hércules matara quem o recebera bem. Agora, salva alguém que precisava de liberdade. Amadurecido para compreender melhor os caminhos que no fundo são um só apesar de terem nomes diferentes, o herói pode agora descansar em paz por certo tempo.


As partes mais elevadas da consciência do indivíduo vêm ao encontro das demais, fazendo-se sentir por meio de provas específicas (no caso de Hércules, a de matar a quem mais ama, para depois reconhecer esse acontecimento como algo a ser definitivamente redimido e superado). Nessa fase do processo da alma do herói, o eu consciente é colocado de modo bem claro diante do antagonismo e, assim, sente o impacto da separatividade básica a ser resolvida, a partir do plano físico. Isso será feito, porém, com a ajuda das energias mais elevadas do ser, para as quais tal problema não é tão agudo.


Este sexto Trabalho de Hércules sugere também que reflitamos sobre o que é, verdadeiramente, a maternidade. Como já dissemos, o antagonismo entre as polaridades existe por desconhecermos o real significado de um estado pelo qual homens e mulheres, indistintamente, passam: a gestação, no íntimo do ser, da realidade espiritual interna, até então oculta. Quando esta se torna finalmente consciente e manifestada, eis aí nosso verdadeiro nascimento; tudo o que antes ocorreu em nossa vida nada mais foi do que mera preparação para a esse acontecimento. Começamos então a viver, pois passamos a ser úteis ao Plano Evolutivo. Tal processo de gestação e nascimento não depende do tipo de corpo físico no qual nos encontramos encarnados. O reconhecimento do próprio ser interno que habita mundos sutis é para ser aperfeiçoado continuamente, unificando-se, assim, as polaridades.


Conforme mencionamos, o cinto, na história de Hércules que também é a nossa, é símbolo da união das duas polaridades, a masculina e a feminina. Tanto o comportamento da rainha como o das guerreiras e o de Hércules revelam pontos de crise diante da energia amorosa e manifestam atitudes a serem mudadas na mentalidade corrente. Vejamos, então esse assunto. A rainha, ao dispor-se a entregar o cinto, não o faz espontaneamente, movida por uma decisão interna, própria, mas sim porque recebeu uma ordem para isso. Ela obedece, o que já é uma boa qualidade, a essa altura do processo evolutivo. Todavia, quando estamos dentro da pura energia, não mais obedecemos, ou tampouco seguimos alguma sugestão; ao contrário, somos o próprio amor, porque já nos tornamos inclusivos. Devido à sua limitação, a rainha, simbolicamente, morre, deixando as guerreiras sem liderança. Observe-se que aquelas mulheres vivem numa comunidade à parte, indo regularmente à aldeia dos homens com a finalidade de serem fecundadas. Fazem isso por uma razão utilitária. Esse é o comportamento que normalmente temos diante do amor. Na realidade, o amor não tem utilidade nem explicações mas é, em si, o seu próprio motivo. Neste episódio, há o interesse de reprodução da espécie. Isso explica o fato de as guerreiras passarem por uma situação causada por alguém do sexo oposto (no caso, Hércules): a morte de sua governante. E o herói? Que atitude sua precisa ser revista, a fim de estar preparado para fases posteriores da vida de sua alma? Matando sem necessidade, também ele não pode compreender profundamente sua própria tarefa diante do sexo. Essa forma ainda inconsciente de agir é para ser subordinada à vontade e à sabedoria daquilo que deve nascer em nós: a nossa realidade interna. Mas, se o homem se julga um forte, um corajoso, um impulsivo, e não se equilibra com as qualidades femininas que também tem ocultas dentro de si, o resultado é a ação instintiva e subconsciente, contrária ao nível de clareza que ele já atingiu em sua evolução.


Já nos níveis de existência onde nossa alma habita, a diferença de polaridades não é percebida como antagonismo. Enquanto, como personalidade, buscamos a complementação em outro indivíduo (nosso pólo oposto), como alma, buscamos a nossa realidade mais profunda, onde a totalidade é conhecida e não mais são necessárias complementações. Nesse nível, portanto, vai-se ao encontro da essência, que tem, incluído, o aspecto oposto àquele que está mais evidente. Assim, uma alma não busca outra alma, como alguns pensam, mas o próprio centro, onde encontra a presença de todas as outras almas.


Este sexto Trabalho oferece-nos, também, importante esclarecimento sobre o processo de equilíbrio cármico. Clareando pontos cármicos que estejam obscuros, abrandamos o antagonismo. À medida que o carma é equilibrado em cada ser, as polaridades também se equilibram, inexplicavelmente.

Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE. Trigueirinho.


O cinturão é um símbolo da unidade conquistada através da luta, do conflito, da aspiração, um símbolo da maternidade e da sagrada Criança para quem toda a vida humana está verdadeiramente voltada. Diz o Tibetano: "a simbologia de Virgem concerne ao inteiro objetivo do processo evolutivo, o qual é proteger, nutrir e finalmente revelar a oculta realidade espiritual. Esta, toda forma encobre, mas a forma humana está equipada e ajustada para manifestá-la de maneira diferente de qualquer outra expressão da divindade e assim tomar tangível e objetivo aquilo para quê todo o processo criativo foi destinado" .


Assim a guerra entre os sexos é de antiga origem; na verdade, está inerente na dualidade da humanidade e do sistema solar. A este fato nossas cortes de divórcio dão alto testemunho; e a competição surge tanto nos negócios quanto no lar. Há pequenos mas importantes pontos na história, que não devem ser desprezados. Em que a rainha Hipólita contribuiu para o erro? Talvez nisso: ela ofereceu a Hércules o cinturão da unidade, que lhe fora dado por Vênus, porque ela ouvira que o Ser Que Presidia lhe houvera assim ordenado, e não porque ela sentisse a unidade. Teria ela agido assim sob compulsão mas não por amor? E assim ela morreu. Ainda assim, dizem-nos que o mal deve vir, mas ai daqueles através de quem ele vem, e assim Hércules não conseguiu compreender sua missão espiritual, embora houvesse obtido o que buscava.


O Tibetano diz: "o mau uso da substância e a prostituição da matéria para maus fins é um pecado contra o Espírito Santo". Foi este pecado, o maior de toda a sua peregrinação, que Hércules cometeu em Virgem, quando ele não compreendeu que a rainha das Amazonas devia ser redimida pela unidade, não morta. O Tibetano seguidamente dá ênfase ao fato de que é "através da humanidade que uma consumação de luz efetivamente ocorrerá que tornará possível a expressão do todo". Ainda cometemos o erro de Hércules, quando esquecemos que o triângulo da Trindade é um triângulo equilátero com todos os ângulos sendo de igual importância, para a consumação do Plano (astrologia Esotérica, pp 558 e seguinte). É em Virgem, após completa individualização em Leão, que o primeiro passo para a missão do espírito e a matéria é dado, "a subordinação da vida da forma à vontade do Cristo que nela habita".

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey


1. Reconhecer os aspectos masculinos e femininos dentro de si.

2. Buscar o auto-aperfeiçoamento através do equilíbrio entre as polaridades, superando uma característica negativa por meio do desenvolvimento da positiva equivalente na polaridade oposta.


Positivas

Masculinas

Negativas

Masculinas

Positivas

Femininas

Negativas

Femininas

Coragem

Capacidade de decisão

Caráter direto

Firmeza

Magnanimidade

Sinceridade

Generosidade

Dureza de coração

Cinismo

Grosseria

Impetuosidade

rodigalidade

Impaciência

Primitivismo

Compaixão

Modéstia

Suavidade

Prudência

Economia

Paciência

Sensibilidade

Timidez

Falta de confiança em si

Insinceridade

Inconstância

Inclinação a devaneios

Retraimento

Mesqinharia

 

Positivas

Masculinas

Negativas

Masculinas

Positivas

Femininas

Negativas

Femininas

Lógica

Exatidão

Concisão de expressão

Pensamento filosófico

Avaliação subjetiva

Retidão de pensamento

Insensibilidade mental

Deduções sem base

Falta de senso de realidade

Orgulho mental

Afirmações só teóricas

Inflexibilidade mental

Cristalização, formalismo

Abertura intuitiva

Análise cuidadosa

Criatividade prática

Consciência dos limites do intelecto

Flexibilidade mental

Rapidez de compreensão

Falta de lógica

Contradição e confusão mental

Verbosidade, falta de clareza

Incapacidade de pensamento abstrato

Subjetivismo no pensamento

RetraimentoAstúcia mental

Nota: Estas características foram apresentadas por G. O. Mebes, ocultista eslavo que escreveu OS ARCANOS MENORES DO TARÔ, Editora Pensamento, 1984. Observe que as características negativas de uma polaridade são opostas às positivas da outra polaridade, o que é chave para a aplicação proposta.


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