ELEGIA DOS PÉS – Texto criado em junho de 2001, a princípio para ser usado como locução off de comercial de TV para uma marca de calçados. A peça acabou tendo outra destinação e faz parte da série “Corpo”.
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Elegia dos Pés
Fabiano Queiroga
Os pés... base do ser humano. Princípio ou término de
nossos corpos?
Os pés são a síntese de nossas atitudes. Se acuados, fogem. Se ameaçados,
chutam. Se felizes dançam. Se assustados crispam-se. Se indecisos, tropeçam. Se
vingativos, esmagam. Se humildes, curvam-se.
Os pés são ferramentas poderosas. O orgulho do atleta, o martírio do romeiro, a
precisão do equilibrista.
O homem inicia sua jornada com passos tímidos, que seus pés arriscam. E quando
seus pés já não podem manter-se sobre o solo é a jornada que chega ao fim.
Os pés dão ao homem o conhecimento do mundo, porque são os pés que levam-no a
todos os lugares.
Os pés servem para perseguir, para deslizar, para saltar, para correr. Os pés
operam máquinas e dão golpes de karatê.
Os pés despertam desejos, lascívia e pode-se dizer que ajudam o homem na sua
missão de perpetuar a espécie.
Pés grã-finos, bem calçados com sapatos aristocráticos. Pés violentos de
coturnos e botinas. Pés aventureiros com tênis e botas de alpinismo. Pés
submarinos, imitando pés-de-pato. Pés artistas que calçam sapatilhas e
chuteiras. Pés livres que só calçam o que querem e que preferem o descalço, com
certo descaso. Pés miseráveis, descalços na marra.
Os pés. Parte nobre do corpo humano. Os pés, firmeza. Os pés, equilíbrio. Os
pés, beleza.