MPB – MUSICÍDIO POPULAR BRASILEIRO – Um protesto veemente contra a banalização do mau-gosto e da despreeocupação dos meios de comunicação em zelar pela nossa cultura, além de sacrificar nossos ouvidos com músicas “vendáveis” mais facilmente.
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“Funk nada mais é do que um punk fanho.”
Mesmo correndo o risco de ser apedrejado em praça pública,
confesso que gosto de funk. Trata-se de um ritmo dos mais deliciosos, como
todos os ritmos de origem negra. Primo do boogie, do twist, do blues e rock’n
roll, o funk ganhou especial reconhecimento e popularidade nos EUA e no resto
do mundo, lá pelo final dos românticos anos 60 e permaneceu vivo nos
conturbados anos 70. Mas, antes que me imolem em holocausto, deixem-me
esclarecer. Falo do funk, música e não do funk lixo, essa pobre e triste
releitura da qual nossos ouvidos são vítimas hoje em dia. Falo de Jackson Five,
de James Brown... e de outros tantos Artistas com A maiúsculo.
Infelizmente, a falta de criatividade de nossos pretensos
artistas modernos, em especial os tupiniquins, resultam em verdadeiros
assassinatos de ritmos e estilos maravilhosos. O que dizer da onda funk que
invade nossas danceterias? Que dizer de tanto mau gosto reunido em um só
“movimento” musical? Estive pensando que o presente acinte aos nossos tímpanos
e inteligência, não são privilégios exclusivos dos funkeiros de plantão.
O caso, é que algumas pessoas que simplesmente não têm a
menor idéia do que seja música, enxergaram um brilhante e valioso filão nessa
forma de expressão artística. Como não são capazes de criar absolutamente nada
novo, usam a velha forma de reinventar a roda. E a reinventam quadrada.
Assim, percebendo que o Samba é e sempre será de agrado do
povo brasileiro, inventaram o pagode, para o nosso desespero. Para popularizar
a música caipira e regional entre os mauricinhos e patricinhas brasileiros,
incorporaram o country americano à nossa música sertaneja e criaram esse
desastre de péssima estética que vende milhões de discos. Quase nos convencem
de que o homem do sertão nacional se veste como Billy the Kid e anda por aí
dando cavalos de pau em pickups importadas. Para aproveitarem-se da
popularidade da música afro-brasileira do Olodum e outros grupos baianos de
raiz, inventaram a tal axé-music, onde sobra bunda e falta talento, bom gosto e
significado.
Mas, para amenizar nossa culpa, isso não acontece só em
nível de Brasil. Senão, que dizer da música eletrônica, a popularíssima
tecno-music? Meu Deus... que saudades de grupos como Kraftwerk! Alí sim, víamos
(e ouvíamos) a utilização de tecnologia para produzir arte. O artista tinha que
saber muito mais do que apertar botões e programar softwares... tinha que saber
música. Hoje, qualquer imbecil faz um balanço no computador e vende horrores.
Nem o rock n’roll escapou, haja visto o surgimento de grupos
como Hanson, Back Street Boys e similares no exterior e coisas como um tal de
Tijuana aqui no Brasil. O triste é lembrar que vimos surgir preciosidades como
Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Plebe Rude e tantos
outros. Até a musica punk e hardcore do saudoso Detrito Federal, hoje é
insultada por moleques que tocam apenas uma nota na guitarra e montam uma banda
para participar do Porão do Rock. Antes os punks tocavam pelo menos três notas
e tinham estilo contestador, que se fazia notar pelas letras rebeldes de suas
músicas. Era barulho, mas conseguíamos ouvir e gostar.
Mas, num país onde se coloca Sandy e Júnior e Daniela
Mercury (Fred Mercury, você tem que perdoar o Brasil por isso) para se
apresentar no que se diz ser o maior festival de rock do planeta, é claro que
temos que ver, ainda que incrédulos, o assassinato da música brasileira e
mundial. O que fazem hoje com o funk, é apenas mais um desses assassinatos.
Desse jeito, nem a autêntica música brega escapa. Já posso até ver Reginaldo
Rossi reclamando de terem deturpado sua música.
Qual será o próximo musicídio? Às vezes torço para que
esqueçam do chorinho... esqueçam que ele existe... senão é capaz de surgir
algum novo “artista” a tentar popularizá-lo e lá se vai para o beleléu um de
nossos últimos símbolos ainda intactos.
Diria Hebert Viana, talvez referindo-se às ousadas
revoluções poéticas “Assaltaram a Gramática, assassinaram a lógica, meteram poesia, na
bagunça do dia-a-dia. Sequestraram a fonética, violentaram a métrica, meteram
poesia, onde devia e não devia...” Hoje, podemos cantar no ritmo dos
Paralamas: “Assaltaram a poética,
violentaram a música, meteram porcaria, na cultura do dia-a-dia. Sequestraram a
ética, violentaram a estética, meteram porcaria, em nosso ouvido todo dia...”