MPB – MUSICÍDIO POPULAR BRASILEIRO – Um protesto veemente contra a banalização do mau-gosto e da despreeocupação dos meios de comunicação em zelar pela nossa cultura, além de sacrificar nossos ouvidos com músicas “vendáveis” mais facilmente.

 

VOLTAR

_____________________________________________________________________________________

 

MPB – Musicídio Popular Brasileiro

Fabiano Queiroga

 

“Funk nada mais é do que um punk fanho.”

 

Mesmo correndo o risco de ser apedrejado em praça pública, confesso que gosto de funk. Trata-se de um ritmo dos mais deliciosos, como todos os ritmos de origem negra. Primo do boogie, do twist, do blues e rock’n roll, o funk ganhou especial reconhecimento e popularidade nos EUA e no resto do mundo, lá pelo final dos românticos anos 60 e permaneceu vivo nos conturbados anos 70. Mas, antes que me imolem em holocausto, deixem-me esclarecer. Falo do funk, música e não do funk lixo, essa pobre e triste releitura da qual nossos ouvidos são vítimas hoje em dia. Falo de Jackson Five, de James Brown... e de outros tantos Artistas com A maiúsculo.

 

Infelizmente, a falta de criatividade de nossos pretensos artistas modernos, em especial os tupiniquins, resultam em verdadeiros assassinatos de ritmos e estilos maravilhosos. O que dizer da onda funk que invade nossas danceterias? Que dizer de tanto mau gosto reunido em um só “movimento” musical? Estive pensando que o presente acinte aos nossos tímpanos e inteligência, não são privilégios exclusivos dos funkeiros de plantão.

 

O caso, é que algumas pessoas que simplesmente não têm a menor idéia do que seja música, enxergaram um brilhante e valioso filão nessa forma de expressão artística. Como não são capazes de criar absolutamente nada novo, usam a velha forma de reinventar a roda. E a reinventam quadrada.

 

Assim, percebendo que o Samba é e sempre será de agrado do povo brasileiro, inventaram o pagode, para o nosso desespero. Para popularizar a música caipira e regional entre os mauricinhos e patricinhas brasileiros, incorporaram o country americano à nossa música sertaneja e criaram esse desastre de péssima estética que vende milhões de discos. Quase nos convencem de que o homem do sertão nacional se veste como Billy the Kid e anda por aí dando cavalos de pau em pickups importadas. Para aproveitarem-se da popularidade da música afro-brasileira do Olodum e outros grupos baianos de raiz, inventaram a tal axé-music, onde sobra bunda e falta talento, bom gosto e significado.

 

Mas, para amenizar nossa culpa, isso não acontece só em nível de Brasil. Senão, que dizer da música eletrônica, a popularíssima tecno-music? Meu Deus... que saudades de grupos como Kraftwerk! Alí sim, víamos (e ouvíamos) a utilização de tecnologia para produzir arte. O artista tinha que saber muito mais do que apertar botões e programar softwares... tinha que saber música. Hoje, qualquer imbecil faz um balanço no computador e vende horrores.

 

Nem o rock n’roll escapou, haja visto o surgimento de grupos como Hanson, Back Street Boys e similares no exterior e coisas como um tal de Tijuana aqui no Brasil. O triste é lembrar que vimos surgir preciosidades como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Plebe Rude e tantos outros. Até a musica punk e hardcore do saudoso Detrito Federal, hoje é insultada por moleques que tocam apenas uma nota na guitarra e montam uma banda para participar do Porão do Rock. Antes os punks tocavam pelo menos três notas e tinham estilo contestador, que se fazia notar pelas letras rebeldes de suas músicas. Era barulho, mas conseguíamos ouvir e gostar.

 

Mas, num país onde se coloca Sandy e Júnior e Daniela Mercury (Fred Mercury, você tem que perdoar o Brasil por isso) para se apresentar no que se diz ser o maior festival de rock do planeta, é claro que temos que ver, ainda que incrédulos, o assassinato da música brasileira e mundial. O que fazem hoje com o funk, é apenas mais um desses assassinatos. Desse jeito, nem a autêntica música brega escapa. Já posso até ver Reginaldo Rossi reclamando de terem deturpado sua música.

 

Qual será o próximo musicídio? Às vezes torço para que esqueçam do chorinho... esqueçam que ele existe... senão é capaz de surgir algum novo “artista” a tentar popularizá-lo e lá se vai para o beleléu um de nossos últimos símbolos ainda intactos.

 

Diria Hebert Viana, talvez referindo-se às ousadas revoluções poéticas “Assaltaram a Gramática, assassinaram a lógica, meteram poesia, na bagunça do dia-a-dia. Sequestraram a fonética, violentaram a métrica, meteram poesia, onde devia e não devia...” Hoje, podemos cantar no ritmo dos Paralamas:   “Assaltaram a poética, violentaram a música, meteram porcaria, na cultura do dia-a-dia. Sequestraram a ética, violentaram a estética, meteram porcaria, em nosso ouvido todo dia...”

Hosted by www.Geocities.ws

1