Editor: Wolfram da Cunha Ramos  
AOS JUÍZES E A SOCIEDADE
Marcos Salles *
 
    A recente conquista dos Juízes Paraibanos na luta pela garantia de direitos constitucionalmente assegurados (diferença dos 10% entre vencimentos de juízes e desembargadores – não confundirem os menos desavisados, diferença com aumento salarial – posto que o primeiro é preceito constitucional insculpido no art. 93, inc. V, CF) e a união da Magistratura Nacional em torno das prerrogativas do magistrado, mostrando a sociedade, sobretudo, que prerrogativa não é privilégio, nos serve de exemplo de que só a união em torno de um ideal é que nos trás a verdadeira conquista. Lembro ainda, que o ser racional vale pelo ideal que almeja e luta e não pelo ter, mera efemeridade da matéria.
    Trago a baila o pensamento cuja autoria é atribuída a Victor Hugo ao se posicionar nos primórdios do ideal republicano, defendendo este ideal ainda latente nas democracias incipientes, assim vaticinou: "se houver mil em torno do ideal republicano, eu serei um deles; se existirem apenas cem a integrarem o movimento, eu estarei entre eles; se houver apenas um, certamente eu serei ele". Cidadania e justiça são objetivos inseparáveis. Um não se reafirma sem o outro. É hora da Magistratura Nacional sair do silêncio sepulcral, tumular, que não levará a sociedade, a quem prestamos serviços e a nós mesmos como Poder que representamos, a lugar nenhum. Repito, prerrogativa não é privilégio, é sobretudo, garantia de cidadania, democracia, liberdade do jurisdicionado que detém por via dos predicativos da magistratura a segurança da inviolabilidade de seus direitos e, mesmo que momentaneamente violados, a certeza da punição dos algozes por juízes independentes protegidos pelos predicativos da magistratura (vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade), balizados apenas pela lei e a consciência crítica de cada um, aí sim, efetivamente um instrumento de garantia de justiça e cidadania.
    É inadiável mostrar a sociedade, num primeiro plano, e aos nossos parlamentares, num segundo plano, porém mais imediato nos interesses a serem politicamente protegidos por via do Congresso Nacional Reformador, de que cidadania e justiça não se farão com juízes amordaçados, dominados por uma ordem constitucional que se pretende reformar e sabe lá a quem se prestam os verdadeiros objetivos dessa reforma açodada que "globalizando internacionaliza e internacionalizando escraviza". Assim se concretizando, certamente se constituirá num golpe certeiro na cidadania posto que mortalmente atingida a Justiça.
    Se na Idade Média fomos submetidos a inquisição, se na ditadura de 64 nos usurparam pela força ilegítima das armas o predicativo da vitaliciedade, legítima força da democracia, ao final do segundo milênio e limiar do terceiro, não nos deixem sem Justiça, conseqüentemente, sem cidadania.
    As atitudes pusilânimes e o silêncio mais característico a determinada ordem sacerdotal do que a nós magistrados, reitero, não nos levará a lugar nenhum, ao contrário, caminhamos céleres no retorno aos obscuros períodos da história da humanidade. E o que é pior, levando conosco a cidadania, a essa altura capenga, moribunda, ultrajada pela ausência de Justiça. Precisamos de reformas mas não essas que nos apresentam. Obviamente que o Poder Judiciário precisa mudar, mas para melhor, tornar-se mais célere, democrático e acessível a todos, pobres - maioria ainda discriminada pela nossa democracia, pretos, prostitutas e as minorias indistintamente, não destinando as estas apenas os presídios como depósitos de seres humanos e como instrumento legal de proteção apenas a Lei das Execuções Penais.
    Não somos cordeiros e não pretendemos feras, simplesmente cidadãos brasileiros.
    Marcos Salles *

  



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