21 de Abril de 2000


Uma Câmara só prà gente...

 


O relacionamento do PS com a Comunicação Social recorda o aforismo popular: "não acredito em bruxas, pero que las hay - hay"... Estava o eng. Pina Moura com o aumento dos combustíveis e a ser zelosamente esfaqueado pelo dr. Jorge Coelho, eis que as primeiras páginas se enchem com a embrulhada da Universidade Moderna - incluindo a lesta libertação...

Seguem-se outros episódios, o 3-2 que afastou o Benfica do título, mas chegou a tragédia da discoteca Luanda, impressionando consciências e originando mais umas indecentes picardias governamentais, com o dr. Gomes a falar em nome da PJ do dr. Costa e etc.

Passadas horas, incendeia-se a PSP, com decisões jurídicas seguramente da mais pura e cega cepa magistral, mas que puseram em pé de guerra uma instituição que visa garantir a paz dos cidadãos. O dr. Gomes mudou de gravata e fez mais umas declarações, bem como o eng. Guterres, só que este último em Bruxelas, Kuala Lumpur ou Budapeste. Já é um pouco difícil distinguir o itinerário do nosso Philéas Fogg governativo.

Esta catadupa de títulos afastou convenientemente dos noticiários a adesão às greves e o protesto social que cresce a olhos vistos, mas veio trazer também uma ajuda à discrição de uma iniciativa que os socialistas já tinham entregue à pacatez dos feriados pascais: a sua reunião autárquica, que largamente excede uma pura troca de impressões partidárias sobre gestão municipal.

Como se sabe, o que está no eixo do encontro é os socialistas avançarem com a proposta de alteração da legislação do poder local no sentido de o actual pluralismo dos executivos municipais ser substituído por vereações monocolores.

O poder local do 25 de Abril é não apenas uma das mais profundas transformações introduzidas no Estado português pela Revolução dos Cravos, como comporta uma profunda coerência com traços constitutivos da identidade nacional e da conformação de Portugal como país.

A presença nos executivos municipais, em inteiro respeito pela proporcionalidade do voto, de representantes de todas as forças concorrentes, num peculiar equilíbrio com as funções e prerrogativas de presidente, tem assegurado a eficiência que advém das soluções político-administrativas que se radicam na vida real das sociedades consideradas na sua dualidade histórica e contemporânea. Tem assegurado uma operacionalidade que a realidade do País demonstra, tanto quanto tem contribuído para conter abusos de poder, nepotismos, clientelismos.

Vital Moreira no Público, Vítor Dias no Semanário e Jorge Cordeiro no Avante! deram já sobre o assunto elementos, em números e factos, que deixam o assunto claro.

O que o PS afinal pretende é transferir para a gestão municipal a sua visão, visceralmente antidemocrática, de que "quem ganha fica com o bolo todo". E o pior, o mais visceralmente antidemocrático, é que, de facto, chamam-lhe um bolo...

PS. José Barros Moura respondeu a um reparo que lhe fiz nestas páginas. Apenas umas palavras para quem se tenha interessado em ler ambos: (i) Trabalho fraccional, definido nos estatutos que se aceitou respeitar, não é "delito de opinião": é tão-só trabalho fraccional; (ii) Votar de braço no ar permite exactamente o que BM se apressou a fazer: responsabilizar-me, também por esta forma, pelas atitudes que tomo. Sempre o fiz e tenciono continuar a fazê-lo; (iii) Quanto ao essencial, BM chamou a um buzinão de protesto contra o aumento decretado pelo Governo que apoia "caminho da arruaça e da agitação social"; eu buzinei.

Ruben de Carvalho escreve neste espaço às sextas-feiras









Hosted by www.Geocities.ws

1