1) Os alunos são a razão de ser da escola! É por isso que escolas fecham quando não há alunos e não por falta de professores.
2) O problema da violência escolar não é o principal problema que se coloca aos professores mas sim a degradação do seu estatuto social e profissional. Degradação essa promovida pelas políticas e pelos governos com os quais o Henrique basicamente se identifica.
3) O objectivo da escola é (deve ser) a formação do aluno enquanto ser humano multifacetado e não apenas desenvolver a sua capacidade cognitiva.
4) A sociedade, na sua forma de organização actual (da qual o Henrique é um fiel servidor) não está interessada no sucesso escolar, em concretizar de facto o princípio da igualdade de oportunidades: "de acesso; de sucesso e de uso" (Eurico Lemos Pires).
O que a sociedade quer é que a escola reproduza a ordem social existente, isto é, que contribua para a consolidação da organização social estratificada e não que a ponha em causa. Por isso, na medida do possível, promove a degradação do ambiente escolar de forma a obter o insucesso real, que atinge de uma forma geral os filhos das classes trabalhadoras, uma vez que foi forçada a aceitar a democratização e o alargamento da escolaridade obrigatória e uma vez que, pelo menos no discurso, se tem de comprometer com o sucesso escolar.
5) A escola não é sensível às diferenças culturais e sociais dos alunos que recebe. O seu padrão é um mítico "aluno médio", aluno virtual que, pelas suas características, se aproxima dos filhos das classes cultas.
6) O Poder publico continua a privilegiar os saberes teóricos. Não é capaz de conceber o ensino mais tecnológico a não ser num plano de inferioridade, desvalorizado em relação aquele. O paradigma da organização escolar do tempo do fascismo povoa ainda a cabeça de muito boa gente, incluindo não poucos que, de vez em quando, ainda dizem que são pelo "socialismo democrático".
7) A escola reflecte a sociedade. Por isso, a violência escolar é, de certa forma, um espelho da violência social. A sociedade é violenta. Logo a escola também o é.
8) A violência escolar não se resume, bem entendido, à violência de alunos sobre professores. Há a violência de professores sobre alunos; a violência de alunos sobre alunos; a violência de pais sobre alunos e várias outras violências.
9) A violência escolar é um fenómeno sumamente complexo. Pretender que ele se deve à ausência de "sanções disciplinares" ou que se resolve com mais algumas punições é apresentar uma solução fácil para uma questão difícil, é uma atitude muito pp, ou seja, é demagogia barata.
10) Cada caso de violência é um caso. É a regra. Problemas diferentes, soluções diferentes. Eu já tive um aluno cuja violência era um "grito por carinho". Havia de ver a felicidade dele quando lhe dava atenção, quando lhe pedia ajuda para fazer qualquer coisa na aula
11) Concluindo, a violência escolar é um sintoma, não a doença em si. A sua resolução passa por uma outra abordagem da escola e por profundas mudanças sociais. A escola precisa de uma grande paixão, de um amor a sério e não de uma paixoneta de campanha eleitoral! Infelizmente, nada que esteja no horizonte visível. Até lá, a abnegação dos professores continuará a fazer milagres, ali onde for possível!...
11/6/00
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