Mellos e Governo, SA

Jo�o Amaral (*)


O neg�cio que a fam�lia Mello fez ao vender a sua parte na Lisnave (68,5% do capital da empresa) � um neg�cio escandaloso, em que o Governo � gozado e enganado e em que o pa�s se arrisca a ficar mais pobre por causa da irresponsabilidade do Governo. Como � �bvio, os dois quadros da empresa compradores da Lisnave s�o dois funcion�rios dos Mellos. O neg�cio � um artif�cio enganoso, que permite aos Mellos "pirarem-se" da empresa, conservando nela os seus homens de palha para concretizar obscuros neg�cios que est�o em prepara��o.

O Governo, que meteu nos bolsos dos Mellos 63 milh�es de contos do dinheiro dos portugueses, com a justifica��o de uma reestrutura��o salvadora da empresa, faz agora o papel de marido "cornudo", enganado pela sua amante fam�lia Mello. Os trabalhadores mais uma vez v�em os seus postos de trabalho amea�ados e o pa�s v� um Governo a portar-se como um Governo de opereta, a deixar perigar a capacidade do pa�s na �rea estrat�gica da repara��o naval.

Na realidade, falando da Lisnave, n�o se fala de uma empresa qualquer, de mais uma empresa entre muitas. Fala-se do terceiro maior estaleiro naval no mundo e do primeiro na Europa a n�vel da repara��o naval. Fala-se numa ind�stria de enorme valia estrat�gica, uma ind�stria que conhece alguma crise mundial, e que por isso mesmo deve ser apoiada. Basta este simples n�mero para provar o que se diz: a Lisnave em dois anos (1998 e 1999) facturou 403 milh�es de contos! E no grupo de empresas em que nos processos de reestrutura��o se segmentou a Lisnave, trabalham cerca de 4000 trabalhadores (al�m dos perto de 5000 postos de trabalho indirectos, gerados pela sua actividade).

Os Mellos usaram e abusaram da Lisnave, fazendo dela como que uma "caixa das moedas" para as opera��es especulativas financeiras em que se envolveram. Hoje, fam�lias como os Mellos j� ningu�m as pode chamar grupos potentados industriais. Para eles, a ind�stria � um saco azul, um fundo de maneio, para especula��o financeira, para o saque de boas posi��es no sector banc�rio e segurador e para truques milagrosos na bolsa. Estas "fam�lias" n�o s�o industriais, s�o parasitas da ind�stria.

O Governo fez um acordo com os Mellos e estes n�o cumpriram. N�o foi por parvo�ce que os dirigentes do PS no Governo acreditaram na fam�lia Mello quando ela gritava "Guterres amigo, os Mellos est�o contigo". O Governo acreditou por achar que o "socialismo" hoje se faz bajulando os poderosos. Mas os ricos tratam os que os bajulam com desprezo e, � primeira oportunidade, sacodem-nos da mesa.

O Governo reverencia e tem medo dos Mellos e deixa-os fazer com completa impunidade esta escandalosa opera��o, que parece ter no horizonte dois grupos estrangeiros, um deles de Singapura, habituado a impor condi��es miser�veis de trabalho.

O que se adivinha � um plano para a Lisnave "sobreviver" � custa de direitos dos trabalhadores e de muitos milh�es do er�rio p�blico.

Quanto aos Mellos, vivem o reino da impunidade e preparam-se para continuar a sacar da teta generosa do Governo. N�o precisam de Lei que os descriminalize. T�m no Governo amigos eternamente devotados, t�o amigos que at� parecem um tapete onde limpam os p�s.
Que raio de Governo "socialista"!!!


(*) Deputado do PCP, escreve no JN, semanalmente, �s segundas-feiras


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