O pudim do dr. Rosas

Jo�o Amaral (*)


Foi anunciado que a Mesa do Bloco de Esquerda tinha decidido escolher o dr. Fernando Rosas como candidato presidencial.

O dr. Fernando Rosas colabora no jornal "P�blico". As suas cr�nicas t�m muitas vezes um conte�do n�o s� antecipador da ac��o partid�ria do BE, mas de fundamenta��o ideol�gica. O dr. Rosas n�o se co�be de aparecer como o doutrinador oficial. Como seria a sua primeira cr�nica como candidato?

O dr. Rosas resolveu come�ar a sua ac��o de anunciado candidato com um violento ataque ao PCP, ainda por cima escrito em tom achincalhante, visando o pr�prio secret�rio-geral Carlos Carvalhas.

O pretexto foi a posi��o que o PCP assumiu durante a visita de Clinton a Portugal. O que deixou "abismado" o dr. Rosas foi o facto de Carlos Carvalhas ter participado no jantar oficial oferecido pelo presidente da Rep�blica de Portugal ao presidente Clinton, e ainda por cima ter usado smoking, o traje obrigat�rio indicado no convite do presidente Sampaio, em vez de ir de cal�as de ganga, alpercatas e t-shirt (talvez com uma inscri��o que mostrasse o Z�-Povinho a fazer um manguito ao "am�rica"); e depois (a� o abismamento roseano � total) o mesmo Carlos Carvalhas aparecer na manifesta��o � porta da Embaixada dos States, a protestar contra o belicismo e as viola��es dos direitos dos povos e dos direitos humanos praticados pelos Estados Unidos.

O equ�voco do dr. Rosas � o de considerar que o PCP se sentou na mesa oficial do presidente Sampaio, cumprindo um "dever protocolar". Est� enganado.

O PCP n�o cumpriu um dever, exerceu um direito, o de, como partido com express�o institucional, participar nos actos de Estado. A posi��o pol�tica do PCP, de condena��o sobre a pol�tica dos EUA, � clara, como � clara a nossa posi��o no quadro das institui��es portuguesas. Esta n�o nos inibe de exprimir a condena��o, nem a condena��o nos diminui o estatuto. Ningu�m nos tira o lugar a que temos direito, ningu�m nos co�be de dizer o que pensamos seja onde for.

O dr. Rosas faz o elogio da aus�ncia, considerando-a o sinal de uma esquerda que "tem de responder aos desafios do presente, renovando o discurso, pr�ticas e forma de interven��o", enquanto n�o se co�be de apodar a presen�a, de sinal de "duplicidade" e de "esclerose ortodoxa e burocr�tica". O caminho � abertamente o do insulto. O candidato escolhe assim o seu caminho. Mas � caso para dizer que o resolve fazer no pior cen�rio. Se a grande novidade da alternativa de esquerda fosse fugir da mesa do presidente Sampaio, quando nela estivesse oficialmente o presidente Clinton, ent�o a busca de converg�ncia n�o passaria de folclore barato. As exig�ncias s�o outras e muito diferentes. E passam por esta considera��o simples. A afirma��o da esquerda n�o � o processo da sua guetiza��o, mas, ao contr�rio, o da constru��o de pontes e converg�ncias que contribuam para um projecto de poder. Para quem insista na demoniza��o do poder, os outros s�o sempre "impuros". Assim, com insultos e fantasmas, vai mal o trabalho!

O dr. Rosas, radical e dogm�tico, d�-nos a garantia de que seria um presidente rigoroso. Para separa��o do Estado e da Igreja, nunca � sua mesa ser� servido o pudim do abade de Priscos nem barrigas-de-freira. Talvez, o pudim Molotof, a lembrar o coktail de nome parecido, para que n�o haja duplicidades: luta � luta.

(*) O deputado do PCP escreve no JN, semanalmente, �s segundas-feiras

Hosted by www.Geocities.ws

1