A recomposição da Direita


TORNA-SE penoso falar hoje sobre o estado da direita e, em particular, sobre o estado do PSD. O dr. Durão Barroso conseguiu fazer sempre pior do que se podia esperar, mesmo quando a bitola do que se esperava já tinha sido colocada bem cá em baixo.

Teve de avançar para a liderança, quando menos lhe convinha. Geriu pessimamente a questão das europeias. Pôs-se à partida fora da corrida das legislativas com a frase suicida de que sabia que ia ser chefe do Governo, só não sabia quando. Alimentou todos os conflitos internos que era possível. Autobloqueou-se na questão presidencial. Até com o dr. Capucho conseguiu arranjar um problema!

O dr. Barroso pode queixar-se de enfrentar uma situação particularmente penalizante já que os traços característicos da política do PSD são precisamente os que o PS executa fielmente. A queixa corresponde a uma situação objectiva. Mas o dr. Barroso não a soube enfrentar.

Por exemplo: seis meses após eleições, o PSD não tem uma única frente política aberta por sua iniciativa, que possa mobilizar o partido. O máximo que o dr. Barroso conseguiu foi copiar a contra-informação repetindo que o Governo não governa e não faz reformas. Não é um grande êxito político desenvolver um combate mobilizando o PSD para exigir ao PS que governe...

A situação que o dr. Barroso pode entretanto capitalizar como vantagem é a de ninguém esperar dele nenhum rasgo. Está na situação dos que bateram no fundo, e que, seja o que for que fizerem, aparecerá como mostrando que afinal sempre são capazes de fazer alguma coisa.

Só que aquilo que se pede ao dr. Barroso para fazer agora não é pouco. Ele tem escassos meses para resolver três problemas: tem de arranjar um candidato presidencial que pareça mais do que uma solução de recurso; tem de enfrentar o dr. Portas na liderança da agenda política (e do espaço político) da direita; e tem de mostrar a um PSD desanimado e descrente que tem capacidade para mobilizar o partido e enfrentar os difíceis desafios políticos criados pela gestão de centro-direita que o Governo faz, isto é, tem de mostrar capacidade para organizar no mesmo terreno (centro-direita) pólos de confronto com o Governo em que o PSD possa sair vencedor.

A convicção é de que o dr. Barroso não vai ser capaz. No PSD (e fora dele) pensa-se mais em como e quando vai ser o próximo Congresso do que em como e quando será a próxima batalha política do PSD. Repito: a baixa expectativa é a única vantagem do dr. Barroso.

Há em cima da mesa duas ou três alternativas óbvias ao dr. Barroso, que não passam por Santana Lopes e Marques Mendes, irremediavelmente marcados pela controvérsia e pela divisão do Congresso de Viseu. Diz-se que nessas hipóteses já há quem tenha comprado carro, para lhe fazer a rodagem no esperado próximo Congresso...

A saída do dr. Barroso é antecipação e audácia. Paulo Portas espera que ele se espete na escolha do candidato presidencial. Espera encurralar Barroso até este ter de ser candidato, para depois ele próprio fazer campanha e ganhar para o PP um «score» eleitoral de subida.

Mas Barroso tem ainda à mão a solução Freitas do Amaral. Retracta-se, alega que as condições mudaram, e negoceia com ele numa solução que tira a Portas o lugar da frente.

Aproveita a dinâmica da frente comum de apoio a Freitas para marcar a agenda política, usando a vantagem da maior força do PSD. Freitas perde as eleições, com mais votos que Cavaco, e fica bem posicionado para 2006.

Barroso ganhou o tempo que agora não tem. Portas perde com Freitas a tutela superior que o resguardava do PSD.

Barroso fica com espaço para fazer o que há muito tempo, desde que o PS de Guterres deslizou para o centro, se torna necessário: fazer a recomposição político-partidária da direita.

Como é evidente, nada disto se passará. Barroso não nasceu para isto. E, como se viu em Viseu, o treino não lhe melhora as «performances».

 

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