Perfil de Santana Marques Durão

QUATRO anos de vida do I Governo PS/António Guterres e tudo o que já se viu deste II Governo de António Guterres explicam melhor o que se passa no interior do PSD do que qualquer análise dos perfis e das propostas dos três candidatos à liderança social-democrata.

O problema principal do PSD não é optar entre uma via de afirmação autónoma, ocupando tendencialmente todo o espaço da direita até ao centro-direita, ou uma via de formação do bloco da direita em coligação com o PP. Nem é a questão de criticar o PS com mais ou menos barulho.

O problema principal com que se defronta o PSD, com ou sem PP, é a sua submissão aos critérios de decisão de voto do bloco eleitoral central, aquele perto de meio milhão de eleitores que, particularmente desde a formação do PRD, vem influenciando decisivamente o resultado das eleições.

Foi este eleitorado que deu a vitória a Cavaco Silva em 19 de Julho de 1987, na primeira maioria absoluta do PSD; e deu a vitória a Guterres em 1995, mas mais ainda em 1999, quando a subida do PS se concretizou apesar da subida dos partidos à sua esquerda.

Mas não basta constatar o facto desse bloco eleitoral ser importante e tentar captá-lo para os candidatos do PSD poderem dizer que têm uma linha política. É necessário definir o modo possível de conquistar esse espaço e, ao que parece, ninguém no PSD se empenha seriamente nisso. É mais fácil aos candidatos do PSD morderem as canelas dos seus adversários do que apresentarem propostas credíveis de alargamento do seu espaço eleitoral.

Cavaco Silva jogou contra o empastelamento da vida política ao longo da década de 80, propondo uma nova dinâmica que, aparentemente, respondeu aos interesses desse bloco eleitoral. Mas também o perdeu, quando a crise económica se repercutiu nos níveis de bem-estar e quando entrou na espiral de arrogância, cargas policiais e desprezo pelos sentimentos da classe média urbana.

A vantagem, hoje, é toda de Guterres. Ninguém o bate na arte de agradar a essa massa eleitoral. Fala suave. Perturba o mínimo os interesses instalados. Não se incomoda com os bons negócios; pelo contrário, tem sempre uma mão amiga a ajudá-los e a isentá-los de encargos. Tem jeito para a conciliação e para promover uma espécie de entorpecimento nacional, a que se chama paz social. Viaja muito. Tem acesso a todos os mecanismos de poder, desde os escritórios da administração do BCP até à sacristia do Vaticano, passando pelos corredores da Internacional Socialista. Arranja lugares com facilidade para qualquer cidadão que se sujeite à condição de «boy».

Os candidatos do PSD nesta questão são indistinguíveis. Nenhum tem propostas inovadoras para responder a esse bloco eleitoral. Esperam a crise económica e a zanga desse eleitorado com o PS para recuperarem o poder. Até lá, disputam entre si a liderança, com o único objectivo de lá estarem no momento em que a crise económica ditar a mudança.

Dir-se-á que isto tem de ser assim, por essa ser a lógica desse bloco eleitoral. Trata-se de um eleitorado que pôs entre parêntesis motivações ideológicas. Em dez anos votou sucessivamente PRD, PSD e PS. É um eleitorado pragmático, cujos critérios são os seus interesses materiais directos: conforto, estabilidade, segurança e possibilidade de mudar de carro.

É um bloco eleitoral que teve um efeito particularmente negativo na política nacional, consolidando o bloco central PS/PSD como um bloco social e político.

Mas isto é assim porque a política nesse «centrão» é feita sem identidade própria e sem ideologia.

Até ao dia em que isso mudar, o eng. Guterres agradece, muito honrado, a candidatura barulhenta e divertida do dr. Santana Marques Durão.

Claro, há a esquerda. Mas esse é outro capítulo desta história.

 

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