Os "bugs" do ano 2000

Hon�rio Novo (*)


Afinal a montanha pariu um rato e nada de especial aconteceu no Mundo na recente passagem de ano. Mas em Portugal, neste pequeno rinc�o de 89.000 quil�metros quadrados de terra da periferia ocidental da Europa, � beira-mar plantado, houve n�o s� um, mas dois enormes bugs.

Um deles no Porto, com o fogo-de-artif�cio falhado que mergulhou a cidade num mar de escurid�o. Um fiasco que feriu o orgulho dos portuenses e fez esfregar as m�os de contentes �queles que insinuam que na Invicta n�o h� gentes com capacidades e compet�ncias, e que assim querem sair impunes quando atribuem 500 milh�es para o novo aeroporto de Lisboa, mais 30 milh�es para o actual aeroporto da capital e, claro, "concedem" a enorme verba de 30 milh�es para a nova "aerogare" do Porto.

O bug do Porto, perd�o, o bug da C�mara Socialista que atingiu os portuenses, gerou tamb�m uma nova efem�ride festiva: a comemora��o dos Reis, transformada em efem�ride tradicional da cidade, a realizar n�o no dia 6, mas hoje mesmo, a 8 de Janeiro...

Quem paga a factura da incompet�ncia camar�ria � o cidad�o (por que n�o fazem o que Pinto da Costa sugeriu e d�o os 50 mil contos aos pobres?). Quem vai pagar a factura pol�tica ser� certamente o eng.� Nuno Cardoso quando se iniciar (?) a corrida interna para a renova��o do mandato socialista.

O segundo bug sucedeu em Lisboa, ao Governo e ao seu Programa para a Presid�ncia da Uni�o Europeia.

Com o in�cio do ano 2000, Portugal assume pela segunda vez, em 14 anos, a presid�ncia do Conselho Europeu. Com o alargamento, o intervalo entre presid�ncias nacionais ser� ainda maior.

Sendo assim, seria l�gico e natural esperar que, a par da gest�o de dossiers que lhe foram entregues, o Governo portugu�s procurasse marcar a sua Presid�ncia com a coloca��o na agenda de temas que interessassem de modo especial a Portugal e aos pa�ses mais pequenos e pobres da UE.
Mas n�o. O Governo Portugu�s considera priorit�rio o alargamento mas nem sequer vai aproveitar para fazer estudar os seus impactos e tentar encontrar meios financeiros que os minimizem.

O Governo portugu�s considera priorit�ria a revis�o de tratados, o que s� poder� trazer como consequ�ncia uma influ�ncia cada vez menor do pa�s no processo decis�rio da EU.

O Governo portugu�s considera como priorit�ria a evolu��o de uma pol�tica de seguran�a e de defesa comum que apenas serve a ind�stria de armamento e os objectivos de domina��o dos povos e dos recursos pelos mais poderosos.

Estas s�o prioridades nacionais ou de alguns outros pa�ses?

O Governo portugu�s, finalmente, considera priorit�rio realizar uma cimeira sobre o emprego, tentando fazer-nos esquecer que o tema j� "tem barbas" nos Conselhos Europeus, e que certamente vai voltar a ser prenhe de discursos, de ret�rica, mas certamente vazio de medidas concretas e objectivos definidos.

Ao mesmo tempo, o Governo portugu�s n�o coloca como temas priorit�rios a necessidade de alterar e reorientar pol�ticas econ�micas e sectoriais comuns que t�m sido prejudiciais para os portugueses e para os pa�ses mais pobres da Uni�o, e que tem ocasionado a desarticula��o dos seus sectores produtivos (t�xteis, constru��o naval, metalurgia, abandono do mundo rural, empobrecimento da agricultura familiar, diminui��o da capacidade pesqueira).

Estes temas interessavam a Portugal, mas n�o s�. S�o tamb�m temas europeus, s�o temas que poderiam recolocar a Uni�o nos caminhos da coes�o e da converg�ncia real.

Mas, ao que parece, estes temas n�o s�o priorit�rios para o Governo portugu�s. Que grande bug!

(*) Deputado do PCP


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