Hon�rio Novo "A recente Lei aprovada na AR, que descriminaliza os consumidores de droga, n�o vai provocar nenhum aumento do consumo..." Este foi o testemunho de um ex-toxicodependente, que Judite de Sousa trouxe esta semana � Grande Entrevista. O testemunho de um homem (felizmente recuperado) que contou o caminho a que a doen�a o conduziu: o insucesso de curas, a degrada��o humana, a perda de respeito por si pr�prio e pelos outros, a completa dilapida��o patrimonial, a aniquila��o de valores familiares e sociais, a crescente obsess�o por doses cada vez maiores. Um retrato impressionante do processo de liquida��o da sa�de f�sica e mental que esta doen�a provoca. Um retrato fiel de milhares de homens e mulheres, jovens e adultos, que vivem a vegetar um pouco por todo o lado. E que, sendo doentes, n�o s� n�o s�o capazes de se tratar, como deparam com uma sociedade que n�o os quer tratar f�sica e psiquicamente, apenas estando vocacionada para os rejeitar. N�o sendo criminosos, mas doentes, t�m direito a ser tratados e o Governo tem o dever de criar condi��es para o seu tratamento, recupera��o e reintegra��o. E por isso tem de garantir e generalizar essas possibilidades, de forma p�blica; n�o pode resumir-se a apoios a cl�nicas que s� tratam os toxicodependentes das fam�lias endinheiradas. Judite de Sousa mostrou-nos um retrato-"robot" de milhares de portugueses a quem a lei anterior n�o apontava o caminho do tratamento, antes mandava preferencialmente para a cadeia, para junto de outros doentes por tratar, para tr�s de grades onde a doen�a alastra e ganha foros de epidemia. Retrato fiel de milhares de seres humanos a quem as fam�lias s�o sabe-se com que dificuldades e dramas uma �ltima t�bua de salva��o. Fam�lias a quem a anterior lei, ainda por cima, atirava com o estigma de ter um criminoso em casa, n�o um doente que exige e merece ser tratado. Mesmo perante estes dramas, h� partidos e pol�ticos que logo exigiram um referendo para puxarem da cartilha da demagogia e continuarem a chamar a pol�cia para prender doentes. Partidos e pol�ticos que assim justificam o seu conservadorismo mais prim�rio, o seu populismo mais abjecto. Mas que este testemunho denuncia quando diz que a nova lei compromisso entre a proposta do Governo e o projecto do PCP n�o promove o aumento do consumo. O que estes partidos, eles sim verdadeiras drogas de intoxica��o da sociedade, queriam era continuar a mandar para tr�s das grades os simples consumidores. Ao contr�rio do que pretendem, os toxicodependentes n�o s�o os modernos leprosos para mandar enclausurar em renovados lazaretos. Em breve os portugueses confirmar�o mais esta hipocrisia da direita (e a atitude consequente do PS), quando se tratar de criar os meios necess�rios (p. ex. de vigil�ncia das nossas costas) capazes de combater as redes de traficantes, esses, sim, os verdadeiros criminosos, ainda que n�o consumam. (*)Deputado do PCP escreve no JN, quinzenalmente, ao s�bado |