DOENÇAS CAUSADAS POR ARSÊNICO E SEUS COMPOSTOS

 

 
As doenças causadas pelo arsênico e seus compostos aplicam-se às seguintes profissões, processos e operações:

a - indústrias de vidro e cristais;

b - extração e preparação de arsênico e compostos;

c - fabricação e emprego de parasiticidas e inseticidas;

d - fabricação, preparo e emprego de tintas;

e - preparação e conservação de pele e plumas, empalhamento de animais;

f - metalurgia de minerais arsenicais;

g - processos que desprendam hidrogênio arseniado;

Os tóxicos arsenicais penetram no organismo através da via respiratória e digestiva, principalmente, exercendo os derivados oxigenados do arsênico, ação caustica direta sobre o tegumento. Uma vez absorvido é encontrado primeiramente no fígado, rins e coração, mais tarde nos ossos, tegumento e cérebro onde tende a acumular-se.

O arsênico se comporta como verdadeiro veneno celular. Leva a um aumento da permeabilidade capilar, fragmentação da bainha mielinica, infiltração gordurosa do fígado, podendo levar a hepatite necrosante, encefalite, mielite e nefrite.

Na intoxicação aguda, exerce ação principalmente sobre o tubo digestivo (ação direta no caso de ingestão), secundariamente, sobre o fígado, rins e músculos cardíacos. Na intoxicação crônica, atua principalmente sobre o tegumento e sobre os nervos periféricos (polineurite arsenical) por sua afinidade com o sistema nervoso.

Estudo Clínico

A intoxicação crônica é a regra em patologia profissional. As intoxicações aguda e sub-aguda, são encontradas em circunstâncias acidentais e só veremos aqui suas manifestações essenciais.

Intoxicação Aguda

Observa-se, geralmente, em conseqüência de falta de cuidado ou acidentes, mais raramente em casos de homicídios e suicídios. Pode provocar a morte em alguns dias, e caracteriza-se principalmente por transtornos gastro-intestinais.

Os acidentes aparecem depois de meia a uma hora, após a ingestão do tóxico, com salivação abundante, sabor metálico, sensação de queimação esofágica e epigástrica, aparecendo depois náuseas, vômitos alimentares, biliosos, acompanhados de dores abdominais, tenesmo com diarréia profusa, polidpsia, caimbras das extremidades inferiores, cianose na face e extremidades. No 29 e 39 dias aparece geralmente, remissão da sintomatologia que traduz a falta de defesa do organismo. O aparecimento de afeção hepática (subictericia) renal (oligúria, albuminúria, edema) e cardíaca (lipotimia, sincope) demonstram agravação do quadro. Pode-se observar erupção cutânea de origem tóxica, após alguns dias de intoxicação.

O indivíduo pode entrar em coma e a morte se dá através do choque e parada cardíaca.

Nas formas agudissimas a morte pode acontecer nas 10 ou 15 primeiras horas com transtornos gastro-intestinais intensos.

Nas formas sub-agudas, não mortais, os transtornos se reduzem a transtornos gastro-intestinais sem gravidade, constituindo as manifestações cutâneas os sintomas mais característicos da intoxicação.

As manifestações cutâneas das intoxicações aguda e sub-agudas, aparecem do 6o ao 9o dia de evolução, sob forma de erupção morbiliformes ou escarlatiniformes.

As vezes, a erupção pode apresentar-se como verdadeira púrpura, outras vezes, eritema sucessivamente papuloso, vesiculoso e posteriormente pustuloso. A convalescença é longa, anunciada geralmente por poliuria e transtornos paraestéticos com sensação de fraqueza nos membros inferiores, sendo esses, sinais de comprometimento nervoso que se acentuam nas intoxicações repetidas.

Intoxicação Crônica

A intoxicação crônica da lugar a sintomatologia confusa e múltipla, dominando, entretanto, os transtornos tróficos cutâneos, transtornos nervosos, ficando em plano secundário, transtornos digestivos e desordem cárdio-reno-respiratória.

As manifestações digestivas são as primeiras a aparecer e caracterizam-se por salivação abundante, náuseas repetidas, alguns vômitos, faringite, sendo a mais freqüente a diarréia, indicando arsenicismo latente.

Os transtornos cárdio-reno-respiratórios nos se reduzem a extrassistoles, dispnéia, catarro laríngeo e bronquial, traqueite com tosse rebelde e albuminúria.

Os transtornos tróficos cutâneos são os mais freqüentes e variados. Citam-se a melanodermia, que aparece na face, colo, costas, nádegas, sob forma de placas irregulares que não se estendem jamais às mucosas (o que diferencia da M. de Addison).

A hiperqueratose palmo-plautar aparece geralmente, após exposição de 8 a 10 anos, sendo discutido o fato de o arsênico ser agente cancerígeno, porém é descrito epiteliomas espino-celular e basocelular que incidem após exposição de 15 a 20 anos de trabalho, sendo os compostos trivalente do arsênico os responsabilizados.

Devido a ação necrosante, o arsênico provoca ulcerações cutâneas principalmente, ao nível das mãos, pés e órgãos genitais, sendo rebeldes a tratamento.

Bastante freqüentes são as lesões do septo nasal como hiperemia, ulcerações e perfuração que pode atingir o tabique ósseo, o que não acontece com o cromo que atinge apenas o tecido cartilaginoso do septo nasal.

Conjuntivite, coriza crônica, queda de cabelos e alteração das unhas, também são freqüentes no arsenicismo crônico.

O arsênico pode ocasionar alterações do Sistema Nervoso Central e Periférico. Diminuição da capacidade de trabalho, cefaléia, melancolia e Impotência coeundi são observados, assim como alteração da sensibilidade (parestesias da língua e extremidades). As mais características são as neuntes periféricas (polineurite tóxica, semelhante a polineurite alcoólica), e se iniciam geralmente de modo simétrico nas extremidades inferiores seguindo curso centrípeto, instalando-se paralisia gradualmente afetando, principalmente os músculos extensores dos pés, podendo estender-se aos membros superiores, limitando-se geralmente ao extensor comum dos dedos (garra arsenical).

O prognóstico das paralisias é bastante sombrio, uma vez instauradas, provocam atrofias musculares graves e persistentes, consideradas como incuráveis. Dai a importância do diagnóstico precoce da intoxicação.

O arsênico pode deprimir a medula óssea causando anemia aplastica.

Um estudo realizado na mina de ouro de Morro Velho, Minas Gerais, em 135 operários que trabalhavam na fabricação de arsênico, foram encontradas as seguintes lesões:

Lesão do septo nasal como hiperemia, ulcerações e perfurações: 86,6% (117 casos), sendo essas as lesões mais freqüentes.

As lesões do septo nasal foram encontradas precocemente, em um operário com apenas 4 meses de exposição.

Exames de Laboratório

O arsênico pode ser dosado na urina. Concentrações entre 0,1 mg a 0,5 mg por litro de urina, indica apenas um aporte acidental não tóxico, incapaz de provocar intoxicação.

Concentrações acima de 1 mg por litro de urina indicam intoxicação crônica.

Na intoxicação aguda os valores encontrados são acima de 1 a 2 mg por litro de urina.

Em indivíduo não exposto ao arsênico, a urina contém sempre, normalmente, baixas concentrações de arsênico, da ordem de 0,02 mg por litro provenientes da alimentação diária.

Tratamento

É empregado o B.A.L. (British Anti-Lewisite) ou dimercaprol, que é o 2-3 dimercapto-propanol, que atua através de seus grupos tióicos (SH) os quais, arrancam o arsênico dos complexos protoplasmáticos vitais, formando novo complexo sendo eliminado pelos rins.
 
A dose é de 3 a 4 mg/kg peso, não devendo ultrapassar a 300 mg em uma só dose. É encontrado em ampolas em solução oleosa para aplicação intra-muscular.

Lavar os olhos com água se atingidos, água e sabão ou suspensão de hidróxido férrico nas partes contaminadas do corpo. Lavado gástrico se houver ingestão, seguido de purgante salino.

Completar com tratamento sintomático e de fortalecimento geral.

Medidas Preventivas

 
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