DOENÇAS CAUSADAS POR GASES ASFIXIANTES SIMPLES

 

Celina T. Wakamatsu

 

Os gases asfixiantes podem ser simples ou químicos. Dá-se o nome de asfixiantes simples àqueles que não atuam diretamente sobre o organismo, mas tomam o lugar do oxigênio no pulmão. Portanto, se houver oxigênio no ar em quantidade suficiente para manter a vida humana, a presença do gás asfixiante simples não causa asfixia e para que surjam os primeiros sintomas é necessário reduzir apreciavelmente a concentração do oxigênio; para isso, a concentração do asfixiante simples deve atingir pelo menos 33% na mistura do ar. Exemplos de asfixiantes simples: gás carbônico, metano, etano, butano, acetileno, óxido nitroso, etc.

Conseqüências da deficiência do oxigênio

O oxigênio é um gás presente naturalmente no ar atmosférico na concentração de 20,95%. E utilizado pelo homem e pelos animais para a combustão dos tecidos em quantidades proporcionais à energia dispendida.

Quando a sua concentração cai abaixo de 16%, os sintomas de anoxia começam a aparecer conforme mostra o quadro:
 

 
 
Oxigênio   Volume 
 Sintomas 
12  16% Freqüência respiratória e pulso aceleram, distúrbio da coordenação muscular discreta. 
 
10  14% Consciente, distúrbio da respiração, fadiga anormal, tontura. 
 6  10% Náusea, vômitos, perda de consciência, incapacidade para gritar ou mover-se. 
 
Abaixo de 6% Convulsão, parada respiratória e minutos depois parada cardíaca e morte.                                                                                                            
 

Resposta do organismo à diminuição da concentração de oxigênio no ar.

Existe uma variação individual muito marcante na suscetibilidade à anoxia. Pessoas com deficiência cardíaca e pulmonar são mais suscetíveis. Hipertireóides normalmente consomem mais oxigênio e são, portanto, mais suscetíveis, enquanto o raciocínio inverso é valido para os hipotireóideos.

Toda vez que a anoxia é prolongada a recuperação é lenta e deixa seqüelas tais como alucinações, excitação, cefaléia, náuseas, apatia, por várias horas; pensa-se, atualmente, que são resultados da pressão do edema cerebral.

Quando a anoxia é grave e prolongada com inconsciência, degenerações irreversíveis no sistema nervoso ocorrem, especialmente no córtex cerebral e nos gânglios basais. Resultam em paralisia, amnésia e outras manifestações.

Vamos fazer algumas considerações sobre os gases asfixiantes simples mais comuns:

 
A) Gás Carbônico (C02)

Também chamado de dióxido de carbono, é encontrado em combustões de matérias carbonadas, em extintores de incêndio, em indústrias de bebidas, em minas, em covas, túneis, poços, como agente refrigerador na produção de sorvetes e de alimentos congelados, na preservação de alimentos especialmente durante o transporte, como neutralizador de excesso de álcalis em indústrias químicas, é utilizada a sua forma sólida ou gasosa para produzir atmosfera inerte em lugares onde existe perigo de explosões, etc.

O ar atmosférico normal contém de 0,03% a 0,06% de gás carbônico. Sua concentração máxima permissível é de 5.000 ppm no ar.

O gás carbônico não é totalmente inerte. Quando existe em quantidades altas no organismo, ele excita o centro respiratório e vasomotor e produz efeitos narcóticos. E utilizado em concentrações acima de 10% junto como oxigênio como terapêutica para estimular a respiração e a ventilação pulmonar, e também para acelerar a eliminação de gases anestésicos e de monóxido de carbono.

Efeitos agudos: O gás carbônico não oferece sérios problemas industriais, com exceção à sua contribuição para a deficiência de oxigênio, problema esse já referido anteriormente. Os efeitos iniciais da inalação excessiva de dióxido de carbono são notados a partir de concentrações acima de 2.000 ppm, ou seja, 2%, quando então a respiração torna-se mais profunda. A profundidade aumenta acentuadamente à concentrações de 4% à 5% e a respiração torna-se difícil podendo também provocar cefaléia e suores. De 6 a 10% provoca cefaléia, tremores, alterações visuais e pode haver perda de consciência. Por outro lado, já houve homens que inalaram concentrações de 8 a 10% durante mais de uma hora sem apresentarem efeitos danosos evidentes. A 10% causa perda de consciência. Taxas de 30 a 40% são mortais mesmo em presença de oxigênio.

Efeitos crônicos: Exposições repetidas diárias de uma hora a 8% de gás carbônico aumentam a taxa de hemoglobina e de células vermelhas e causam efeitos deletérios na troca gasosa.

Quanto à prevenção do ambiente de trabalho basta geralmente uma eficiente ventilação exaustora.

B - Hidrocarbonetos alifáticos

Derivados do petróleo. Os elementos mais baixos da série: metano, etano, propano e butano são gases. O metano e o etano são tolerados em altas concentrações no ar inspirado sem produzir efeitos sistêmicos. Se a concentração é suficientemente alta para diluir ou excluir o oxigênio normalmente presente no ar, os efeitos produzidos são devidos à deficiência de oxigênio, cujos resultados já foram vistos.

Farmacologicamente, os hidrocarbonetos acima do etano podem ser agrupados como anestésicos gerais na classe dos depressores do sistema nervoso central. Os vapores desses hidrocarbonetos são irritantes das mucosas.

B1 - Metano (CH4)

É um gás incolor, inodoro, explosivo, mais leve que o ar. É encontrado em minas e em lugares fechados, resultado da decomposição de matéria orgânica, em poços de gás e de petróleo, em minas de carvão em sínteses orgânicas, etc. não tem efeito fisiológico apreciável exceto quando baixa a pressão parcial de oxigênio no ar o suficiente para provocar efeitos sistêmicos devido à deprivação de oxigênio. Embora fisiologicamente seja considerado inerte, oferece perigo sob o ponto de vista da segurança devido a sua propriedade explosiva.

Sua C.M.P. é 10.000 ppm no ar.

B2 - Etano (C2H6)

É usado em sistemas de refrigeração e em indústrias químicas de produção de halogénio. É fisiologicamente inerte e é um gás asfixiante simples.

B3 - Butano (C4H10)

É o gás principal dos bujões de gás é usado também nos sistemas de refrigeração, nas sínteses químicas, etc. É tambérn inodoro e inflamável, é asfixiante simples e em altas doses pode ter narcóticos.

C - Acetileno (C2H2)

É altamente inflamável e é usado em indústrias químicas como nas manufaturas de acrilonitrilo, de borracha sintética, de tricloroetileno, de acrilatos, de pirrolidina, em iluminações de minas, em operação de solda, em fábricas de vidro, etc.

Tem propriedades anestésicas a baixas concentração e irritantes a altas concentrações. Forma misturas explosivas com o ar ou o oxigênio. O gás de acetileno a alta temperatura e alta pressão pode decompor-se explosivamente. Pode reagir com cobre, prata e mercúrio e decompor-se violentamente sob certas condições; pode reagir também com cloro e com flúor.

A fosfina é considerada uma impureza em alguns produtos comerciais de acetileno e é altamente tóxico, mas geralmente está presente em concentrações muito baixas para ser considerada perigosa. Existem outras impurezas no acetileno comercial tais como a arsina, o sulfeto de hidrogênio, o dissulfeto de carbono, que podem provocar sintomatologia.

A inalação de 100.000 ppm de acetileno tem efeito fraco sobre o homem. Intoxicação marcante ocorre a partir de 200.000 ppm quando então nota-se taquipnéia, dispnéia, confusão mental, alteração da coordenação muscular, cianose, pulso fraco, náusea, vômitos, prostração; a 350.000 ppm há perda de consciência, convulsão, morte. Não há evidência de que exposições repetidas a níveis toleráveis de acetileno tenham efeitos deletérios á saúde.

No ambiente de trabalho não se devem permitir concentrações acima de 0,5% (5.000 ppm).

D - Oxido Nitroso (NO)

Possui leve ação narcótica em adição a suas propriedades asfixiantes. Raramente é causa de asfixia na indústria, e quando ocorre é em ambientes fechados.

 

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