Rapaz desaparecido

Assunto: Desaparecimento de filho de professor da UFF - Niterói, 22 de junho de 1999

Caras/os colegas,

Estou vivendo a situação de "pai de um desaparecido". Um desaparecido dos anos 90. Às 3 horas da madrugada do dia 7 de fevereiro, ao final de um show de música, meu filho Pedro disse aos seus amigos que estava indo para casa e, apos mais de quatro meses, estou sem nenhuma notícia sobre o seu paradeiro (ver detalhes no anexo).

Desde então, enfrento uma luta interna entre assumir esta identidade de "pai de desaparecido" e continuar procurando meu filho ou tentar acreditar que o Pedro afastou-se para encontrar sozinho um sentido para sua vida. Mas quem pode abandonar a busca por um filho de 19 anos que desapareceu sem dinheiro, só com a roupa do corpo, que estava em tratamento com antidepressivo, do qual nao se tem notícias há tanto tempo e que pode estar internado em algum hospital ou andando desorientado pelas ruas de uma grande cidade? Quem pode desistir de cobrar das autoridades públicas investigações que forneçam algo mais do que "notícias ruins chegam depressa", sabendo que Pedro pode ter sido morto por engano e seu corpo ocultado ou destruído? Quem pode viver tranq¨ilo sabendo que o filho desapareceu às 3 horas da madrugada sem deixar vestígios numa sociedade tão violenta isso mesmo?

Nestes quatro meses, minha esposa Iara Benevento e eu procuramos Pedro em necrotérios e em hospitais gerais e psiquiátricos e nas ruas do Rio e Niterói onde teria sido visto como mendigo, estivemos com o Sr. Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro e fomos ao Ministério Público do Rio de Janeiro para solicitar providências, divulgamos a sua foto nos meios de comunicação do Rio de Janeiro e, até agora, não conseguimos nenhuma informação concreta.

Por que estou enviando esta mensagem?
Escrevo porque preciso compartilhar este momento difícil com o maior número possível de pessoas. A solidariedade das pessoas tem sido fundamental para eu conseguir suportar a angústia e as frustrações durante a busca por meu filho e também para que eu exerça a minha cidadania exigindo que as instituições públicas desempenhem adequadamente suas funções.

Tenho tambem a expectativa de descobrir novos meios para obter alguma notícia sobre Pedro. Gostaria de entrar em contato com pessoas que viveram e/ou tomaram conhecimento de situações semelhantes e gostaria de receber sugestões sobre o que fazer. Finalmente, escrevo porque minha última esperanca para conseguir alguma notícia sobre o Pedro repousa em uma divulgação macica do seu desaparecimento, inclusive atraves das sociedades/ associações científicas ou profissionais. Só a construção de uma rede extensa de solidariedade pode ajudar o Pedro e outras pessoas desaparecidas.

Acredito que somente uma ampla divulgação nacional pelos meios de comunicação sera capaz de, por um lado, resultar numa investigação adequada sobre as circunstancias que precederam o seu desaparecimento e, por outro lado, fornecer informações que assegurem que Pedro está vivo e com saude. Desta forma, gostaria de contar com o seu apoio para a divulgação desta mensagem e para a realização de outras iníciativas que possam esclarecer o paradeiro de Pedro e coloco-me a sua disposicao para fornecer outras informações, bem como para enviar cartaz com foto do Pedro.

O meu telefone residencial é (01521 ou 02121) 709-4051 e o celular 9989-5928.

Atenciosamente,
Luiz G Gawryszewski
Professor Adjunto do Departamento de Neurobiologia da UFF


ANEXO:

Segundo as ultimas pessoas a estarem com Pedro, ele despediu-se de seus amigos ao final de um show realizado no Bar 107 localizado na Avenida Roberto da Silveira em Icarai, Niterói as 3:00 da madrugada no dia 07 de fevereiro de 1999, dizendo que iria para a sua casa localizada no bairro de Sao Domingos, Niterói. Nao chegou a sua casa e desde esta data nenhum amigo ou parente teve contato com ele. Alem disso, nao encontramos nenhum registro de sua presença em hospitais de Niterói e Rio, nem no IML de Niterói ou do Rio. Apos ampla divulgação pelos meios de comunicação na area do Rio de Janeiro, inclusive pela televisao, as unicas informações que recebemos e que nao foram confirmadas apos busca exaustiva foram as de que Pedro estaria andando desorientado pelas ruas do Rio e Niterói.

Pedro tem 19 anos, é de cor branca com cabelos e olhos castanhos, tem 1,85 m de altura, pesa cerca de 80 kg e apresenta uma cicatriz na sobrancelha esquerda. No dia do seu desaparecimento vestia camisa creme, calca jeans marrom e sapato de camurca marrom. No mes anterior ao seu desaparecimento, Pedro esteve internado no Hospital Estadual Psiquiátrico em Jurujuba, Niterói, e na época do seu desaparecimento estava fazendo uso de medicamentos antidepressivos,interrompendo o tratamento. A ocorrência do seu desaparecimento foi registrada no dia 10 de fevereiro sob o número 000.438/0077-99 na 77a Delegacia em Niterói. No dia 18 de março, sem que fosse feita qualquer outra diligencia alem da tomada do depoimento da mãe de Pedro, o processo foi encaminhado à Delegacia de Homicidios atraves do memorando 1318/077/99, onde foi aberta a sindicância 172/99 na seção de paradeiros.

Luiz G Gawryszewski, M.D.,Ph.D.
Departamento de Neurobiologia - UFF CAIXA POSTAL 100.180
24.001-970 Niterói RJ BRAZIL
FAX: (01521 OU 02121) 7195934
E-mail: [email protected]

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