Professor de 'Poetas' diz que o insulto ensina

Inspirador de 'Sociedades dos Poetas...' defende o atrito

por Shoshana Gilbert


Sam Pickering, o professor que inspirou o filme "Sociedade dos Poetas Mortos", � c�tico com rela��o � maioria dos atuais modismos do ensino nos EUA, onde continua ensinando em universidades.

"O problema do multiculturalismo � que as pessoas deixam de falar umas com as outras por medo de ofender. Eu digo � minha classe que vou insultar todos antes do final da aula", diz Pickering, ex-professor do roteirista do filme de 1989, Tommy Schulman, que descreve rela��es professor-aluno em uma universidade americana conservadora nos anos 50.

Sua vis�o quanto � possibilidade de transformar a sociedade atrav�s da educa��o tamb�m � carregada de ceticismo: "Considere os alem�es: eles eram provavelmente a sociedade mais instru�da da �poca, e olhe o que eles fizeram, olhe para o que utilizaram a educa��o".

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World Media: O sr. acredita que o objetivo da educa��o deve ser dar �s pessoas um sentimento mais forte de comunidade?

Sam Pickering: Vivo lendo artigos sobre como a educa��o forma o adulto e simplesmente n�o acredito nisso. Acho que mais educa��o � melhor do que menos, e que se voc� l� livros vai aprender coisas que v�o enriquecer sua vida. Mas os livros n�o oferecem programas para viver, n�o resolvem os problemas do mundo. Se voc� � um ide�logo, sua literatura se transforma em um meio para atingir um fim. Eu incluo quest�e contempor�neas para tentar fazer a literatura adquirir vida, mas n�o utilizo a literatura como meio de falar sobre quest�es contempor�neas.

Recita-se livros para crian�as baseado no que vai mal na sociedade, mas s� para as crian�as. Se realmente pens�ssemos que os livros s�o efetivos para acabar com os males da sociedade, n�s os receitar�amos para os adultos. Se uma mulher estivesse envolvida em adult�rio, poder�amos receitar uma "Anna Karenina", mas n�o fazemos isso.

WM: E a �nfase difundida do multiculturalismo nas escolas, � importante para conscientizar as crian�as da diversidade que existe na sociedade, para torn�-las mais tolerantes?

"O problema do multiculturalismo � que as pessoas deixam de falar umas com as outras por medo de ofender."

Pickering: � reconfortante pensar assim, mas n�o acredito que funcione. O multiculturalismo � muito superficial. N�o sei se ele existe e certamente n�o acredito que possa ser ensinado. At� que ponto realmente se aprende, quanto se aprende, quando a primeira hist�ria que voc� l� � escrita por um branco protestante de origem anglo-sax�nica do Mississipi, a segunda, por uma l�sbica americana, a hist�ria seguinte, por um sobrevivente do Holocausto e, outra, por um escritor sul-americano? � uma hist�ria depois da outra que as crian�as n�o v�o lembrar. � uma coisa totalmente superficial. Todos os anos, em todas as classes, meus alunos t�m um monte de mat�rias sobre os americanos nativos. Eles est�o fartos disso, eles desprezam os americanos nativos, n�o querem mais ouvir falar em �ndios. Em lugar de sensibiliz�-los para a quest�o, essa abordagem lhes d� t�dio.

WM: Mas o senhor acha que a educa��o desempenha algum papel superior no progresso da sociedade?

Pickering: Falamos muito sobre a educa��o ser capaz de curar a sociedade e sabemos que ela n�o �. Eu queria que ela conscientizasse as pessoas de suas responsabilidades em rela��o �s outras pessoas, mas acho que ela n�o funciona para isso. A educa��o torna as pessoas conscientes das possibilidades. Mas ser� que ela nos torna melhores? Considere os alem�es: eles eram provavelmente a sociedade mais instru�da da �poca , e olhe o que eles fizeram, olhe para o que utilizaram a educa��o. � assustador.

WM: Ensinar as pessoas a ser "politicamente corretas" serve a algum objetivo social?

Pickering: Os ide�logos s�o perigosos. O problema do multiculturalismo � que ele n�o se torna multiculturalismo, ele se torna etnocentrismo. Hoje quando voc� conversa com uma pessoa de outra ra�a, sua conversa � t�o est�ril que voc� nunca fala sobre as coisas que realmente interessam devido ao temor de ofender.

Eu digo � minha classe que vou insultar todos os grupos �tnicos e todas as religi�es antes do final da aula. N�o chego a faz�-lo, mas digo isso porque n�o quero que eles concordem com tudo que eu digo. N�o me importo se eles me odiarem, quero que eles tenham algu�m contra quem possam testar suas id�ias. Falo para eles chegarem um passo al�m dos lugares-comuns.

Acho que h� tantas outras coisas que s�o realmente importantes, este papo pode ser importante para a classe m�dia alta mas n�o tem absolutamente nada a ver com uma sociedade na qual as drogas est�o � solta, a viol�ncia corre solta, a Aids est� se espalhando, as pessoas n�o t�m emprego, as crian�as n�o est�o tendo o suficiente para comer.

WM: Muitas pessoas acham que s�o exatamente essas crian�as origin�rias de fam�lias em desvantagem para as quais a educa��o nos Estados Unidos n�o funcionou. O que o sr. faz para resolver isso?

Pickering: A maioria das respostas sobre como educar alunos em desvantagem s�o receitas prontas. Ficar sentado aqui dando aula sobre o que � bom para os bairros pobres dos centros das grandes cidades seria a maior arrog�ncia do mundo. N�o sei o que a escola pode ensinar a crian�as que vivem em bairros onde seus amigos est�o sendo baleados. Elas n�o conseguem lidar com o aprendizado, e n�o tenho qualquer tipo de solu��o pronta para isso.

WM: Alguns reformadores acham que � preciso come�ar a ensinar crian�as de origens sociais e �tnicas diferentes na mesma classe. Eles defendem o aprendizado "colaborativo" e o distanciamento da abordagem centrada no professor.

Pickering: � uma grande frase, soa maravilhoso reunir pessoas que t�m habilidades diferentes para trabalharem juntas. Mas meu filho est� numa experi�ncia desse tipo, e a verdade � que isso � �timo para quem n�o � t�o bom mas � p�ssimo para os alunos melhores, principalmente porque eles acabam fazendo tudo. Se fosse com esportes, por exemplo, voc� n�o ia querer os piores atletas em seu time, mesmo que eles tivessem talentos em outros campos. Eu acho que existem muitas maneiras de ser talentoso e que os programas educacionais deveriam se concentrar mais no reconhecimento da gama de talentos que um aluno pode ter.


Publicado no World Media, 6 de junho de 1993.


     

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