O SIGNIFICADO DA JIHAD, UM TÓPICO EM DEBATE DESDE O ATAQUE TERRORISTA CONTRA OS ESTADOS UNIDOS

 

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Jihad. Essa palavra árabe tem estado omnipresente na primeira página dos jornais do mundo inteiro, usada por intelectuais e políticos. Clérigos afegãos a ameaçam, muçulmanos extremistas a acolhem e a promovem e os Americanos a temem. Mas será essa a interpretação da jihad - uma guerra santa travada contra todos os americanos ou, na verdade, contra a civilização ocidental - o que o Islã realmente ensina?

A maioria dos muçulmanos e estudiosos islâmicos dizem que não. Eles dizem que terroristas como Osama bin Laden são tão fiéis às crenças muçulmanas quanto os extremistas cristãos que matam médicos abortistas são às crenças cristãs. "Matar pessoas inocentes é contrário ao livro sagrados e aos profetas", diz Karim Abdallah, um refugiado de Ruanda que mora em Salt Lake City. "Eles não representam o Islã quando cometem esses maus atos".

Das cruzadas da Idade Média até hoje, "a jihad tem definido o Islã na mente de muitos ocidentais, e os muçulmanos são normalmente descritos como terroristas sem respeito pela vida", diz Jonathan Brockopp, que recentemente editou um livro sobre ética islâmica. "A retórica dos extremistas é muito mais chocante por causa do respeito à vida no Islã".

A jihad é mencionada apenas nove vezes no Corão, diz Lois Giffen, professor de literatura e estudos árabes na Universidade de Utah. Refere-se principalmente a esforçar-se "no caminho de Deus", com suas próprias forças, consigo mesmo, usando de sua riqueza e meios para ajudar a aumentar a fé islâmica.

A jihad inclue também a defesa da fé, até mesmo pela força das armas. Na verdade, o Islã nunca foi uma religião pacifista. No século 7, o profeta Mohammed e seus seguidores pegaram as espadas para defender sua religião. Como a Bíblia, o Corão - a sagrada escritura do Islã - fala da necessidade de lutar contra os pagãos em guerras justas.

Mas com o passar dos séculos, os muçulmanos têm usado o Corão e os hadiths - coleção de sentenças de Mohammed - para desenvolver um grupo de regras para guerrear em nome de Deus. "É como a Convenção de Genebra ou a noção cristã de guerra justa", diz Marcia Hermansen, professora de estudos islâmicos e religiões mundiais na Universidade Loyola em Chicago.

Primeiro, é necessário haver uma declaração formal de guerra, dando ao inimigo a oportunidade de se render sem lutar, diz ela. Somente um líder reconhecido por todo o mundo islâmico pode delcarar a jihad e ataques traiçoeiros são fortemente  condenados. "Somente é correto matar os infiéis enquanto eles representem uma ameaça ao Islã", diz Brockopp. "Tal raciocínio leva à proteção dos não combatentes, como mulheres e crianças".

Muitos muçulmanos vêem o uso de homens-bomba como uma distorção dos ensinamentos islâmicos sobre o suicídio e o martírio. Mártires que morrem pela fé, em sua defesa ou que são perseguidos por causa dela, vão direto para o céu. Eles são enterrados quando morrem, sem ser lavados e com as mesmas roupas, as manchas de sangue testemunhando sua condição. Hermansen diz que Mohammed estabeleceu regras sobre o suicídio durante sua vida. Uma vez, um guerreiro que lutava ao lado do Profeta foi ferido, perdendo toda a esperança ele se suicidou. "O Profeta disse que ele iria ao inferno porque o suicídio não era permitido", diz Hermansen. 

Durante as últimas décadas, o termo jihad tem sido empregado por extremistas muçulmanos para promover causas como a derrubada de governos vistos como injustos e imiscuídos com nações estrangeiras. "O conflito Palestino tem sido raramente chamado de jihad", diz Hermansen. Mas, "na guerra do Afeganistão foi chamada de jihad e os combatentes foram chamados de mujahadin, pessoas que luta numa jihad."

Alguns muçulmanos radicais no Oriente Médio argumentam que "certas nações ou governos são inimigos do Islã por definição e que eles declararam jihad ou guerra santa contra essas nações", diz Giffen. As declarações tinham como alvo certos governos islâmicos moderados como Egito, Arábia Saudita ou Jordânia que são vistos como ignorantes ou mesmo opostos ao Islã. Poderia também se referir a Israel, Estados Unidos ou a toda civilização ocidental. Grupos como al-Qaeda de bin Laden usa esse tipo de argumento para atacar civis em qualquer país inimigo.

"Nosso trabalho visa os infiéis do mundo. Nosso inimigo é a cruzada liderada pela América, Grã-Bretanha e Israel. É uma cruzada-aliança judaica", disse bin Laden numa entrevista na revista Time em 1988. Também em 1988, bin Laden disse ao jornalista John Miller que "o terrorismo pode ser louvável e que poder ser repreensível. O terrorismo que nós praticamos é o do tipo louvável pois é direcionado aos tiranos, agressores e inimigos de Allah."

 


THE SALT LAKE TRIBUNE , 22 de setembro de 2001


 

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