Nas cavernas da Treva a noite entrava escura...
Gemia o vendaval do pranto e da amargura
Nos pélagos sem luz!
O delírio cruel cobria-se de palmas...
O Mal, fero e triunfante, escarnecia as almas,
Do desespero à cruz!
Soluços e rugidos pelo ar sombrio
Ecoavam sem cessar. . . No pântano bravio
Jaziam monstros vis!
Espectros do terror insanos gargalhavam,
Enquanto que do solo as fendas vomitavam
Coriscos e fuzis!
Blasfêmias, maldições, sarcasmos e gemidos
Cruzavam-se no charco pestilento e fundo...
Quem pode descrever os uivos doloridos
De monstros a lutar no precipício imundo?
Mas eis que um Sol de Luz brilhou na treva escura!
Um Sol de excelso alvor, de mágica ternura,
Encheu de aroma o val!
Meu Deus! os prisioneiros se erguem redimidos!
Os gênios do terror soluçam comovidos
E capitula o Mal!
Perfume estranho os ares embalsama!
Ó Deus de Excelso Amor! Que coração de Flama
Transforma a treva em luz?
... E no silêncio imenso do Infinito
Murmura o pobre coração proscrito
O nome de JESUS !
Hernani T. Sant’Anna
(In: Canções do Alvorecer, 1a. ed., Rio, Federação Espírita Brasileira, s.d., pp. 11-12.)