LUDIMILA LIMA

    Ludimila Lima-Limão Flato e Alvoreto esperava impacientemente pelo ônibus Pedreira-Nazaré. Era tarde e Lulu voltava de uma festa na casa de uma amiga da faculdade. Comera até não aguentar mais. Provou de tudo um pouco, dos apetitosos salgadinhos ao suculento vatapá. Já era quase meia-noite e o ônibus não passava. Sem dinheiro para o táxi, Ludimila procurava manter a calma e contava os postes da rua pra ver se o tempo passava mais rápido.
    Foi quando lhe veio uma louca vontade de cagar. O prenúncio veio em forma de contrações abdominais, seguido de roncos estranhos e finalmente um grande crescendo vindo do intestino delgado, seguindo pelo grosso, encontrando barreira nas pregas do seu cu frouxo. Um calafrio tomou conta de seu corpo, fazendo-a sambar de maneira tênue. Mais que rapidamente, Ludimila pensou: "Bem, se eu peidar, vou ficar um pouco mais aliviada". E arreganhando-se de forma temerária, deu um sutil peido. Mas o peido não veio só. Pelo contrário, com ele veio um jato de merda pastosa que imediatamente se alojou em sua calcinha e foi atravessando a sua calça balonê lentamente.
    Cagada e irritada, Lulu viu-se a salvo quando avistou um par de faróis vindo ao longo da rua. Viu um carro seguindo lentamente em sua direção. Nele havia quatro jovens. Lulu animou-se, pois talvez eles pudessem lhe dar uma carona para casa. Mas ao passarem, um dos rapazes lhe gritou do carro: "Abra a boca, é Royal". E antes que ela pudesse esboçar qualquer reação, foi presenteada com um ovão que quebrou-se de encontro ao seu carão. "Bando de filha da puta", gritou Lulu, arrasada, mas os garotos já estavam longe. Como que pedindo trégua de uma grande batalha, Lulu tombou ao chão em prantos. Sua aparência era desoladora, diria até inumana. Pensou na sociedade caótica em que vivia, nos menos afortunados, nas lavadeiras das baixadas, nas empregadas domésticas, nas prostitutas dos guetos e, de tanto pensar, acabou caindo em sono profundo, de tão cansada que estava.
    Acordou com uma forte ardência pelo corpo todo, bem como um cheiro horrível de pneu de carro queimado. Quando deu por si foi que percebeu o que realmente acontecia. Estava ela em chamas, vítima de mais um bando de jovens inconseqüentes. A cena era assustadora. Como uma tocha humana, Lulu corria aos berros pelas ruas da cidade rumo incerto a lugar nenhum, tombando em um chafariz de uma praça qualquer. Ludimila Flato foi enterrada numa sexta-feira 13 de uma mês qualquer como indigente, pois sua fisionomia e carteira de identidade, extremamente danificados, impossibilitaram à perícia local identificar o corpo, enquanto num barzinho requintado da cidade, garotos ricos se divertiam e bebiam loucamente, pensando na próxima vítima daquela noite.
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