GIGLIOLA - A PARANORMAL

    Gigliola era uma moça paranormal. Era tímida, recatada e gostava de sentar num pau. Na faculdade, Gigi era adorada por todos, pois ela distraia seus amigos levitando objetos ou lendo mentes. Gigi achava-se uma moça feliz, porém no fundo do âmago do seu priquito, ela sentia uma dor, a dor de ser diferente, de ser ímpar, de não poder dividir suas experiências com outro ser igual a ela. E era verdade mesmo, pois lá no fundinho dos seus doces olhos, podia-se ver a tristeza contida na forma de uma delicada remela que lhe pontuava o canto direito do olhos.
    Gigi tinha um namorado. Seu nome era Tomaz das Bucetas. Traía gigi com todo e qualquer rabo de saia que lhe piscasse os olhos. Dizem as más línguas que até as barras de calça também entravam para a sua longa lista. Estava com Gigi só porque ela era a garota mais popular do pedaço, além do quê, tinha poderes incomuns. Gigi, mesmo sabendo de suas atitudes escusas, permanecia ao seu lado. Talvez por medo da solidão, talvez por carência, ou talvez porque todas as meninas de sua idade tinham que ter um namorado.
    Porém numa noite , algo inusitado aconteceu. Gigi estava deitada em sua cama ouvindo música, como sempre fazia antes de dormir. De repente, sentiu uma dor incrível no estômago. Era um vazio inexplicável, algo que não era orgânico, mas espiritual. O mal-estar era tanto que o mundo rodava ao seu redor. Pensamentos confusos invadiram sua mente, como se estivesse drogada. Viu a capa do livro que lia se mexer. Nele havia um rapaz sorrindo que segurava um taco de beiseball. O moço bonito atirou nela a bola de beiseball, que atingiu em cheio seu estômago já dolorido.
    O sorriso do rapaz transformou-se numa gargalhada sádica. Gigi não entendera o motivo do gesto tão cruel. Foi até a cozinha tomar água e, ao abrir a geladeira, viu-se lá dentro, presa em uma jaula. Ela implorava por socorro e , em desespero, fechou a geladeira e correu para o banheiro. Ao olhar-se no espelho, teve a estranha sensação de contemplar um outro ser. Teve medo, mas ficou assim por horas. Quando pensou estar melhor, saiu à rua para respirar.
    Andou sem rumo e sem saber por quanto tempo. Viu uma mulher gorda vindo em sua direção e assustou-se com a vontade que teve de ferir aquelas banhas. Passou em frente à rodoviária. Sentou-se. O mal estar retornou mais forte. Gigi fechou os olhos e viu-se agarrando aquela mulher gorda e levando sua cabeça até um ventilador sem tampa, só soltando-a quando do crânio da mulher só restavam destroços de carne e sangue.
    Voltou a si soltando um grito que mais parecia um grunhido louco. Foi até o guichê, comprou uma passagem para a cidade mais distante que dali podia-se atingir e partiu . Nunca mais ouviu-se falar em Gigi.
    Apenas alguns anos depois, uma professora de sua infância, que era também sua vizinha, aposentara-se e ganhara, como licença-prêmio, uma viagem a Machu- Pichu, onde disse ter encontrado Gigi.
        - E como ela estava? - perguntaram alguns vizinhos curiosos.
    A professora, ao lembrar da remela que sempre caracterizara a densidade da tristeza de Gigi, disse apenas: - Ela estava feliz.
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