CUZZINNI
- Cuzini era uma moça delgada.
Estudante de nutrição na UFPa e funcionária de um grande banco. Achava-se uma pessoa
feliz. À noite, Cuzini sempre ia ao cinema, sua primeira e única fonte de divertimento,
pois era lá que seduzia os homens que iam só, em busca de prazer fácil. Uma bela noite,
Cuzini, como de costume, foi ao cinema. Sentou-se na última fila e começou sua
empreitada pelo sexo. Ela já era bem conhecida pelos lanterninhas, bilheteiros e gerente
do cinema, que nem se incomodavam mais com suas atitudes obscenas. Chupava a pica dos
caras lá mesmo, agachada no banco enquanto estes assistiam ao filme. Em dias de tara,
podia-se ver Cuzini sentada no colo de um espectador, cavalgando-o como se fosse uma
exímia amazona. Mas nesta noite em particular, algo de fantástico ocorreu com nossa
heroína. Estava ela assistindo ao filme pacientemente, à espera de que algum homem
chegasse, quando de lá da tela alguém deu um psiu. A princípio Cuzini pensou tratar-se
de uma coincidência e nem deu bola, mas logo depois viu que o bofe lindo e másculo do
filme pornô que passava estava assobiando para ela mesmo. "-Ei, gatinha, senta aqui
no meu caralho!", disse o cara do filme. Ao que ela, meio que sem graça,
respondeu-lhe: "- Não posso, você é somente um filme, não é real e eu gosto de
sentar em caralhos reais"
- Assustada, Cuzini saiu do cinema.
Pensou estar louca. Sabia desde o primeiro dia em que começou a dar a buceta
desenfreadamente que teria que pagar por esse crime. Sua consciência pesava a cada dia,
mas nunca parara para pensar nas seqüelas que esses atos iriam causar em sua mente.
"Será a loucura o preço que terei de pagar?", perguntava-se a si mesma com
desespero, enquanto atravessava a esquina da Barão com a Visconde. Pelo caminho, avistou
um consultório psiquiátrico. Na porta de vidro estavam desenhadas em letras garrafais as
iniciais do médico, SPRF. Tomou coragem e decidiu entrar. Logo de cara, topou com um
ambiente exótico: a cabeça de um boi com a boca aberta dava forma a um cinzeiro, um cu
que jorrava água servia de bebedouro e um discreto, mas não menos desapercebido osso de
galinha ornamentava a mesa da secretária.
- -Pois não, o
que deseja?
- -Quero me
consultar.
- -A senhora tem
hora marcada?
- -Não,
caralho. Me deixa entrar!
- -Ah, tá bom,
então entra, puta!
- Cuzini entrou na sala do psiquiatra e
pensou estar sonhando. Viu naquele pequeno cômodo homens de todas as cores, credos e
raças. Dos mais belos aos mais feios, dos mais bem dotados aos com mala mati-pipo, dos
mais viris aos mais abixarados. E como no clip "material girl" de Madonna, os
homens foram lhe dando joias, bombons e dedadas em seu priquito. Mas no meio daquela
suruba, ela percebera, entre flashes e takes rápidos, que aqueles homens belos e
maravilhosos tinham patas e rabos de cavalo. Cuzini, como que acordando de um pesadelo,
levou as mãos ao rosto e gritou: "nããããããoooo". Neste momento, surgiu-lhe
à mente a velha fazenda de vovó, onde passara aquele serão maldito, os cavalos
inquietos no curral, a menina de cabelos cacheados, os cavalos em fúria, o pânica, a
garotinha sendo pisoteada, os gritos, a terra em seu rosto, as patas de cavalo, a terra.
- Cuzini saiu feliz do consultório.
Havia ela resolvido um trauma que habitava o âmago de seu ser, escondido, latente no
fundo de seu inconsciente. Mal sabia ela que fora cobaia de um tratamento psiquiátrico
inovador do doutor S.P.R.F., um exímio conhecedor das mais modernas técnicas de
ventriloquismo e sugestão mental.
- Na manhã seguinte, cuzini acordou
como se tivesse despertado para uma nova vida. Escolheu sua roupa predileta, uma blusinha
de coton e uma calça balonê de boca de sino, e foi trabalhar. À noite, como de costume,
dirigiu-se ao cinema e, sentando-se em sua poltrona habitual, esperou pacientemente a hora
de ingressar em sua empreitada pelo sexo.