Os neurotransmissores

Os mais importantes neurotransmissores estão sucessivamente descritos de forma sucinta.

Acetilcolina

A acetilcolina (ACh) foi, conforme já vimos, o primeiro neurotransmissor descoberto e que transmitiu sinais do nervo vago para o coração. A acetilcolina é também a substancia química que transmite as mensagens dos nervos periféricos para os músculos de modo a que estes se contraiam. O veneno que algumas tribos índias usam na ponta das flechas contem uma substancia chamada curare, que bloqueia os receptores de acetilcolina nas fibras musculares e causa paralisia.

Além disso, as fibras colinérgicas ligam o sistema nervoso central a uma glândula supra-renal, a qual por exemplo segrega adrenalina, a hormona que produz a resposta de "luta ou fuga" em situações de stress. Outras fibras colinérgicas dirigem-se para o intestino, bexiga, etc. onde desempenham um papel de desactivadores de efeito (parassimpático).

Tornou-se aparente que dois tipos de receptores podem ser estimulados pela acetilcolina. Alguns dos receptores de acetilcolina reagem à muscarina, um alcalóide extraído da mosca agerica (amanita muscaria) e outros não. Por outro lado os que não reagem à muscarina, reagem à nicotina, um alcalóide presente no tabaco. Os receptores nas fibras musculares e nas glândulas supra-renais são de este ultimo tipo, reactivos a nicotina, enquanto que os receptores parassimpáticos são geralmente do tipo que reage a muscarina. Todos os receptores de acetilcolina no sistema nervoso central são nicotinérgicos. O efeito estimulante da nicotina é devido à sua influencia nestes receptores. A noz-de-areca, mastigada como estimulante numa vasta área do sudeste asiático, contém arecolina, um alcalóide, que afecta os dois tipos de receptores.

Noradrenalina

A noradrenalina desempenha um papel importante nas reacções as situações de stress: coloca-nos vigilantes (esta activação do cérebro vem do tronco cerebral e é chamada de excitação). Ela permite que o corpo fuja ou lute. Também estimula o ritmo cardíaco, a circulação sanguínea, e a respiração, de modo a que mais oxigénio seja transportado até aos músculos, que esvaziam os intestinos e a bexiga. Podemos reconhecer esta actuação na expressão "borrar de medo". Por ultimo, a sensação de que "isto é possível, eu consigo" é da maior importância ser tivermos de lutar ou fugir para defender a vida. Existem indicações de que um nível elevado de noradrenalina, que possivelmente determinado geneticamente, conduz à hipersensibilidade. As crianças tímidas têm uma alta percentagem de cortisol e noradrenalina no seu sangue. Por outro lado, um baixo nível está relacionado com a falta de concentração e a incapacidade para diferenciar entre os assuntos importantes e os que não o são. A noradrenalina funciona quer como neurotransmissor no SNC quer como hormona quando é libertada nas glândulas supra-renais com a adrenalina.

A maioria dos corpos celulares dos neurónios noradrenérgicos estão localizados no locus coeruleus, um centro no tronco cerebral. Estes neurónios enviam os seus axônios para o sistema límbico (inibição do apetite), centros subcorticais, e córtex cerebral (excitação). A Clodinina, um medicamento tomado para a tensão alta, também inibe a actividade do locus coeruleus. Os opiáceos e as endorfinas tem este mesmo efeito. Quando se está a cortar com o hábito, o locus coeruleus torna-se hiperactivo (acaba a inibição opiácea), e por vezes a Clonidina é usada para usar a abstinência mais fácil, já que ela consegue actuar contra a hiperactividade do locus.

Ao restantes corpos de células noradrenérgicas localizam-se em qualquer outro lado do tronco cerebral e enviam os seus axônios numa parte para a amígdala e noutra para a medula espinal onde a sua principal influencia exerce-se nos neurónios que regulam a tensão arterial.

Dopamina

Se bem que a dopamina seja apenas sintetizada por algumas centenas de milhares de células, ela preenche um papel excepcionalmente importante na parte superior do sistema nervoso central. Os neurónios dopaminérgicos podem ser divididos em três subgrupos com diferentes funções.

O primeiro grupo regula os movimentos: um défice de dopamina neste sistema (nigrostriatal) provoca a doença de Parkinson, caracterizada por tremuras, inflexibilidade, e outras desordens motoras, e em fases avançadas pode verificar-se demência.

O segundo grupo, o mesolímbico, funciona na regulação do comportamento emocional.

O terceiro grupo, o mesocortical, projecta-se apenas para o córtex pré-frontal. Esta área do córtex está envolvida em várias funções cognitivas, memória, planeamento de comportamento e pensamento abstracto, assim como em aspectos emocionais, especialmente relacionados com o stress. O anteriormente mencionado sistema de recompensa faz parte deste ultimo sistema.

O núcleo accumbens é, neste contexto, uma importante estação intermédia. Distúrbios nos dois últimos sistemas estão associados com a esquizofrenia.

Endorfina

Nos anos setenta, um grupo de substancias assemelhadas as proteínas, as endorfinas e as enquefalinas, foram identificadas como neurotransmissores que estimulavam especificamente os receptores opiáceos anteriormente identificados. Nós fabricamos os nossos próprios opiáceos. Este assunto está abordado de forma mais detalhada na secção sobre os opiáceos.

Serotonina

Os neurónios que funcionam com o auxilio da serotonina (também chamado de 5-hidroxitriptamina (5-HT)), os neurónios serotonérgicos, são encontrados principalmente no núcleo raph do tronco cerebral, enviam os seus axônios para variadas localizações no nosso cérebro. O que há de notável acerca destes neurónios é que eles, em contraste com muitas outras células nervosas, são espontaneamente rítmicos na geração de potenciais de acção. Neste sentido podem ser comparados a um pacemaker, o aparelho que fornece impulsos rítmicos para iniciar o batimento cardíaco. Esta actividade espontânea é então modulada (acelerada ou retardada) por muitos outros neurotransmissores incluindo a própria serotonina. Deste modo, existe um sistema autoregulador: a serotonina é libertada nas sinapses, e então inibe a libertação de mais serotonina. Uma espécie de reacção negativa.

As conexões dos neurónios serotonérgicos situam-se principalmente no tronco cerebral, no sistema límbico e numa sucessão de outros centros cerebrais quem maioritáriamente tem uma função reguladora nas áreas sensoriais, motoras e as áreas associadas. Por associadas quer-se dizer os estímulos interrelacionados dos diferentes sistemas. O melhor exemplo para esta ideia é de novo a 'linguagem': na linguagem, os aspectos acústicos (audição), visuais (ver objectos e palavras: ler), e motores (controlo dos músculos da laringe) estão interrelacionados, o significa que são considerados como um todo. De modo a integrar adequadamente todas estas funções o nosso cérebro tem um grande numero de estações intermédias, relés. A serotonina inibe (retarda) o relé sensorial e excita (estimula) o relé motor.

Por ultimo, é evidente que os efeitos da serotonina, começam e desaparecem relativamente devagar, o que sugere que tem principalmente um efeito modulador nas actividades sinápticas rápidas. O sistema da serotonina tem claramente uma importante influencia homeostática na coordenação dos complexos padrões, sensoriais e motores, da actividade em vários situações diferentes de comportamento. Quanto mais alerta está o indivíduo, mais activo está o sistema da serotonina, ou melhor, quanto mais activo está o sistema da serotonina mais alerta está o indivíduo. Apenas durante o sono REM, quanto o cérebro está 'bastante acordado' e o indivíduo sonha, é que o sistema da serotonina descansa. Parece estranho, mas é consistente com a natureza do sono REM: uma intensa actividade cerebral interna com um sistema motor muito restringido.

Os síndromas psiquiátricos estão a ser num grau crescente conectados com distúrbios no sistema da serotonina: distúrbios afectivos, esquizofrenia, e estados hiperagressivos. Este sistema aparenta funcionar inadequadamente em estados de depressão profunda e em situações de suicídio. Neste contexto é relevante que muitos antidepressivos parecem aumentar a actividade serotonergica. Para alem disto, verificou-se uma relação entre uma função serotonina diminuída, e a desordem na personalidade de cariz antisocial, violencia e comportamento impulsivo. (Nota 4)

A Fenfluramina (Phenfluramine) (com o nome comercial Ponderal), uma substancia muito usada como inibidora do apetite, tem uma forte influencia negativa no sistema da serotonina: um simples injecção intravenosa de 40mg/kg, diminuiu o nível de serotonina em ratos durante duas semanas.

GABA

Em 1996, Braestrup e Squire, assim como uma equipa independente da Hoffman La Roche, descobriram que existem receptores no cérebro que reagem às benzodiazepinas. Então, procuraram descobrir o transmissor natural, e descobriram um que se ligava ainda mais fortemente a esses receptores que o Valium. Chamaram-lhe de substancia gama. A substancia será o ácido-gama-amino-butírico, cuja a abreviação é GABA. É um dos mais abundantes neurotransmissores no SNC: quase todos os neurónios tem receptores do GABA. Ele é um neurotransmissor inibidor, ele inibe todos os tipos de sistemas activadores. Existem dois tipos de receptores deste neurotransmissor: os GABA-alfa e os GABA-beta, dos quais apenas o primeiro é estimulado pelo álcool, benzodiazepinas e barbituricos do que resulta nua diminuição de sensibilidade para outros estímulos. O efeito ansiolítico do álcool é mediado pelos receptores de GABA.

Acido glutâmico, glutamato

Tal como o GABA é o mais importante neurotransmissor inibidor do sistema nervoso central, o acido glutâmico é o estimulante mais importante. Em relação à psicofarmacologia, o mais importante é o receptor do subtipo Nmethyl-D-aspartate (receptor NMDA). A sua activação aumenta a sensibilidade ao estímulos dos outros neurotransmissores. Quer o álcool quer o PCP inibem a influencia do glutamato, e deste modo diminuem a sensibilidade aos estímulos. (Nota 5)


 

Tradução do texto disponível no Drugtext website.

Publicado com o consentimento da DrugText.

Junho de 1997

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A dependência observada segundo a psicofarmacologia

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