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Extractos do Jornal Expresso de Agosto de 1995


Expresso - Revista - 26 de Agosto de 1995

O regresso da cannabis

Rui Trindade

Médicos, doentes e consumidores reclamam o fim da proibição sobre o consumo da cannabis. Um objectivo difícil, já que para os políticos, o tema da legalização não rende votos. No início deste ano, a revista francesa "Genereux", em campanha pela legalização da "cannabis", distribuiu três gramas em cada exemplar. A "erva" oferecida não era verdadeira, mas o estratagema causou impacto

REINHARDT FINK é alemão, mas vive desde há dez anos em Paris. Doente de sida, Fink descobriu, recentemente, numa viagem a Marrocos, que o haxixe -- que nunca antes fumara -- lhe diminuía a ansiedade e devolvia o apetite. Tendo, anteriormente a esta experiência, perdido quase 12 quilos, conseguiu, durante a sua estada no Norte de África, recuperar uma parte significativa desse peso.

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"FUNCIONA PORQUÊ PROIBI-LA?"

APESAR da actual proibição, um número considerável de médicos tem-se mostrado sensível às virtudes curativas da «cannabis» e, embora não a receitando explicitamente, aceita ser «intermediário» na sua obtenção. Uma figura incontornável, nesta perspectiva, tem sido a de John P. Morgan, professor de Farmacologia na escola de medicina do Mount Sinai Hospital, em Nova Iorque, cuja posição contra a interdição da «cannabis» tem causado algum embaraço às autoridades. Do seu ponto de vista, o facto de não ser ainda integralmente claro o modo como opera aquela substancia não é razão suficiente para a negar aos doentes: «O mecanismo é ainda desconhecido, mas funciona. Então, porquê proibi-la?»

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DOS ASSlRlOS AOS CHINESES

A «CANNABIS» tem uma longa história de utilização para fins terapêuticos. Tanto Philip Robson como Grinspoon e Bakalar evocam, longamente, nos seus livros, o seu uso por diversas civilizações. Com efeito, já em documentos egípcios do século XVI a.C. se registam referências ao poder da «cannabis» como remédio para aliviar situações dolorosas. Tanto os assírios, a partir do século VIII a.C., como os chineses, um pouco mais tarde, se referem a ela. A farmacopeia grega inclui-a explicitamente. De um modo geral, por toda a Ásia, África, América Central e do Sul podem-se encontrar, ao longo dos séculos, descrições que atestam o seu consumo não apenas no campo medicinal mas também como uma droga cerimonial e recreativa.

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A GRANDE CONSPIRAÇÃO

A ILEGALIZAÇÃO do cultivo da «cannabis», em 1937, culmina, aliás, um longo e sinuoso processo que envolveu alguns personagens de nome como William Randolph Hearst -- o modelo para o Citizen Kane, do filme de Orson Welles --, em cuja cadeia de jornais se iniciou uma campanha de «diabolização» da marijuana, substancia até então praticamente desconhecida da maioria do público americano. Parece hoje claro que Hearst, que possuía vastos interesses ligados à produção de papel, nomeadamente através da Hearst Paper Manufacturing Division, em Kimberley, se sentiu ameaçado com a hipótese que começava então a ganhar corpo de se produzir pasta de papel a partir da planta da «cannabis».

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«IRRESPONSÁVEL E DISPARATADA»

NO COMENTÁRIO feito pela «Nature» a Forbidden Drugs, de Philip Robson, sublinha-se a dada altura que «sendo a política e o crime organizado aquilo que são, será preciso muito mais do que um livro deste tipo para poder influenciar seriamente a actual resistência entrincheirada a uma qualquer mudança na política sobre a droga». Isto é, mesmo se se tornou evidente que a famosa «war on drugs», tão fervorosamente desencadeada ao longo dos últimos anos, em particular pelas administrações Reagan e Bush, em pouco conseguiu alterar a situação do consumo mundial de substancias ilícitas -- apesar dos milhões gastos anualmente -- , é extremamente improvável, no entanto, que se venha a assistir, a curto prazo, a quer alteração no quadro legal existente. A questão é que, para os políticos, a causa da legalização não rende votos e suscita, hoje em dia discussões tão extremadas e emocionais -- como as que giram, por exemplo, em torno da questão aborto -- que desaconselham qualquer iniciativa mais ousada. Por outro lado, tendo alimentado um discurso de exaltação guerreira no combate à droga, qualquer modificação no estatuto legal vigente será sempre entendido como uma cedência inaceitável.

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Expresso

Devido ás limitações do direito de cópia apenas são apresentados extractos das noticias

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