Perseverança dos Santos Parte 12: Examinando Passagens Comumente Aplicadas pelos Defensores da Segurança Incondicional Eterna

Texto

Tendo examinado as passagens primárias que ensinam apostasia, examinaremos agora as passagens que os defensores da segurança incondicional eterna creem apoiar claramente a sua doutrina:

João 10:27-29

[27] Minhas ovelhas ouvem minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem.

[28] E eu lhes dou a vida eterna, e para sempre não perecerão, e ninguém as arrancará de minha mão.

[29] Meu Pai, que as deu para mim, é maior que todos; e ninguém pode arrancá-las da mão de meu Pai.

A primeira coisa que precisa ser notada é que não há nada nesta passagem que sugere que a segurança sendo descrita por Cristo é incondicional. Esta é uma das maiores fraquezas da posição calvinista. Procuraríamos em vão por passagens da Escritura que explicitamente tornam a segurança da salvação incondicional. O melhor que se pode produzir são passagens que não estabelecem explicitamente uma condição, mas a ausência de condição explícita não necessita a ausência de condições (p.ex. Hb 13:5, Dt 31:6,8,16-18, 2Cr 15:2, Js 24:19,20). Isto é especialmente verdadeiro desde que existem numerosas passagens que de fato estabelecem condições e alertam da deserção da fé salvífica (como vimos nas partes de 2 a 11 desta série).

No caso de Jo 10:27 podemos até mesmo argumentar que uma condição é estabelecida: " Minhas ovelhas ouvem minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem". Os verbos ouvir e seguir estão no presente ativo no grego, descrevendo ação contínua. As ovelhas são caracterizadas como ouvindo e seguindo Cristo. Elas são as ouvintes e seguidoras, e apenas aqueles que estão ouvindo e seguindo podem corretamente ser chamados ovelhas de Cristo e arrogam as promessas estabelecidas em Jo 10:28-29. Em outras palavras, as ovelhas são crentes que estão presentemente crendo. É a estes crentes somente que as promessas são feitas. Certamente, aqueles que estão ouvindo e seguindo a Jesus Cristo estão seguros em Suas mãos e não podem ser arrancados delas. Eles também possuem a vida eterna que reside em Cristo desde que eles estão em união nEle pela fé (verso 28). Não há nada na passagem, porém, que sugere que as ovelhas jamais podem parar de "ouvir" ou "seguir" e nenhuma promessa é feita para os que acaso de fato cessem de agir assim. A passagem está apenas falando daqueles que estão presentemente ouvindo e seguindo. É uma poderosa promessa para crentes que enquanto eles creem estão seguros em Cristo. F. Leroy Forlines comenta sobre esta segurança em The Quest For Truth:

O ensino é simplesmente este: O relacionamento do crente com Deus é pessoal entre ele e Deus. Apesar de todos os poderes do universo estarem combinados contra o crente, eles não podem tirar o crente para longe de Deus. Alguns podem acrescentar, 'Nem o próprio crente pode se arrancar do corpo de Cristo'. Sim, isto é verdade. Mas, também é verdade que ele não pode se colocar no corpo de Cristo. Porém, mediante sua fé em Cristo, o Santo Espírito colocou o crente no corpo de Cristo (1Co 12:13). Se o crente renuncia sua fé, Deus o arrancará (Jo 15:2,6). Não há contradição entre as afirmações 'Homem nenhum pode nos arrancar de Cristo' e 'Deus pai arranca de Cristo as pessoas que se viram contra Cristo em descrença'. (pg 275)

A passagem não estabelece que fé não pode ser renunciada e nem estabelece que qualquer promessa semelhante de segurança é dada a descrentes. A promessa de segurança em Cristo descrita em Jo 10:27-29 é para crentes que continuam a crer e para eles somente. A questão então se torna, "Podem crentes deixar de crer?" A resposta a esta questão não pode ser resolvida em Jo 10:27-29 e por esta razão falha como texto-prova da perseverança inevitável.

Considerações Textuais Especiais para João 10:27-29

O calvinista pode objetar que o verso 25 não está em harmonia com a interpretação acima devido ao fato que Jesus fala aos judeus que eles não criam porque não eram de Suas ovelhas. Pode ser argumentado que o verso 25 se refere a uma eleição predeterminada e incondicional: as ovelhas são aqueles eleitos por Deus antes da criação e então dado fé a eles para crerem em Cristo. O problema com essa sugestão é que não há nada no texto que indique que Jesus esteja descrevendo uma eleição pré-temporal de certos indivíduos para salvação. Tal decreto eterno deve ser primeiro pressuposto para daí ser lido no texto.

Uma interpretação mais plausível é entender as palavras de Jesus em Jo 10:27-29 no contexto da situação histórica única tomando lugar no tempo de Seu ministério acerca da transição da antiga para a nova dispensação. A passagem tem uma aplicação secundária a crentes de todas as eras (como descrita acima) mas a aplicação primária concerne somente os judeus vivos durante o ministério de Cristo e estavam especialmente sendo abordados neste e outros capítulos semelhantes em João (Jo 5:24-27; 6:37, 40-44, 65; 8:12-59). As "ovelhas" neste contexto são os judeus que atualmente estão vivendo em correta relação de aliança com o Pai durante o tempo do ministério de Jesus. Os judeus que Jesus está abordando nesse discurso e outros como esse por todo o Evangelho de João não estão num relacionamento correto com o Pai durante o tempo do ministério de Cristo. Desde que eles não conheciam o Pai (não são de Deus) ele não podiam reconhecer a revelação perfeita do Pai no Filho (Jo 7:16-17, 8:19,42-47). Eles rejeitaram o Filho e recusaram crer nEle porque eles rejeitaram o Pai. Portanto, eles não são ovelhas de Cristo e não podem ser dados ao Filho (Jo 6:37). Se eles conhecessem o Pai eles teriam reconhecido o Filho como seu Messias e teriam sido dados a Ele.

Então a aplicação primária ainda aborda o fato da fé mas não da mesma maneira que nós tendemos aplicá-lo hoje em dia desde que nossa situação é diferente da dos judeus e não estamos vivendo em um tempo crítico da história no qual os judeus fiéis estavam sendo dados, pelo Pai, para seu Pastor e Messias. Para eles primariamente se envolveu a transição de uma esfera de crença (no Pai) para outra (no Filho). Aqueles judeus fiéis reconheceram o pai no Filho e como resultado ouviram-No e seguiram-No como seu tão esperado Messias. Em todo caso as "ovelhas" são aqueles que estão "ouvindo" e "seguindo" e a passagem não dá indicação de que alguém possa deixar ser uma das ovelhas de Cristo pela recusa posterior em ouvir e seguir.

Romanos 8:35-39

[35] Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?

[36] Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro.

[37] Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.

[38] Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem potestades, nem coisas presentes, nem coisas futuras,

[39] nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.

Novamente, a promessa e segurança apresentadas nessa passagem são para crentes somente ("nos", verso 35). Nenhuma dessas coisas é verdadeira para descrentes e nada na passagem sugere que fé não possa ser abandonada ou que o amor por Deus não possa esfriar (Mt 24:12). Esta passagem dá segurança a crentes que estão sofrendo perseguição que tais sofrimentos não devem ser interpretados como indicando que Deus não mais os favorece ou ama. Nenhum montante de perseguição ou oposição pode sobrepujar o crente desde que ele sempre tem a vitória em Cristo. Nem o distúrbio desta vida nem a própria morte pode separar o crente do amor de Cristo. Mediante Ele e por causa dEle somos mais que vencedores apesar de qualquer obstáculo ou batalha que venhamos a encontrar. Porém, bem como em Jo 10:27-29 não há nada que sugira que o amor salvífico de Deus é incondicional ou que crentes não possam separar-se do amor de Cristo abandonando-O durante tribulações e perseguições. Aquele que permanecer certamente triunfará mas não existe tal promessa de vitória para aquele que retrocede em descrença (Hb 10:38; Mt 10:22,28,32,33). De fato, as Escrituras admoestam os crentes a a permanecer no amor de Deus (Jd 1:21) e no amor de Cristo (Jo 15:9). Se a promessa de Romanos 8:35 fosse incondicional então tais passagens como Judas 1:21 e João 15:9 se tornariam sem sentido. Forlines observa:

É minha opinião que esta passagem não lida com a questão de se uma pessoa salva pode de fato se perder novamente. Em vez disso, ele ensina que uma pessoa que é filha de Deus não pode jamais, ao mesmo tempo, ser separada do amor de Deus. Noutras palavras, o crente jamais interpreta tribulações como significando que Deus não o ama. Em vez disso, ele deve reconhecer que o amor de Deus é ainda com ele e deve dizer como Paulo, "Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou" (Rm 8:37 AR)… Suponha que a passagem lida com o assunto da segurança. Ela seria explicada da mesma forma que a afirmação de Jesus quando Ele disse 'e ninguém as arrebatará da minha mão.' (Jo 10:28 AR). Paulo estaria afirmando tão enfaticamente quanto a linguagem humana poderia fazê-lo que nossa salvação pessoal é assunto entre o indivíduo e Deus. Ele estaria afirmando que nem tribulação, nem angústia, nem perseguição, nem fome, nem o perigo, nem a espada (verso 35), nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas presentes, nem as do porvir (verso 38), nem altura, nem profundidade, nem nenhuma outra criatura vista coletiva ou singularmente pode arrancar um indivíduo de Cristo. Eu creio nisso. O que Paulo diz nesses versos de maneira alguma contradiz o ponto de vista que se um crente se volta contra Deus em desafio, arrogância, descrença, então Deus o arrancará de Cristo (Jo 15:2,6). (ibid.)

Alguns creem que o verso 39 dá tal promessa incondicional, "…nem qualquer outra criatura" [ou "nem nada na criação"] nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor". Eles raciocinam que desde que o crente é uma criatura, segue que mesmo o crente não pode se remover do amor de Deus. Este apelo é problemático de diversas formas.

Primeiro, ele ignora o contexto da passagem que está lidando com perseguições e tribulações que são exercidas sobre o crente (forças, circunstâncias, e influências fora do crente). O verso 39 está ainda falando sobre essas coisas e portanto não pode ter referência ao próprio crente. De fato, pareceria uma leitura bem estranha e artificial do texto e eu estou bastante convencido que ninguém pensa em ler esta passagem desta maneira se não for guiado por um anterior comprometimento com a segurança incondicional, e tentar encontrar suporte a esta doutrina nessa passagem. Grant Osborne captura esta verdade bem quando escreve "Pressões externas não podem nos separar do amor de Cristo, mas apostasia interna pode" (Grace Unlimited, pg. 179).

Segundo, a sugestão de que o crente não pode se separar do amor de Deus permanece em contradição com passagens como Jd 1:21 e Jo 15:9 como notado acima. Terceiro, enquanto existe um sentido no qual o crente pode se separar do amor de Deus em Cristo abandonando a fé, precisa ser lembrado que de acordo com a Escritura em última análise o crente não se separa de Cristo (a esfera do amor especial e salvífico de Deus) como Forlines aponta acima. Quando um crente abandona a fé e se torna descrente o próprio Deus separa aquela pessoa (agora descrente) de Seu Filho (Jo 15:2,6), e Deus não é "uma criatura".

1 João 2:18-19

[18] Filhinhos, esta é a última hora; e, conforme ouvistes que o anticristo virá, mesmo agora existem muitos anticristos; por onde conhecemos que é a última hora.

[19] Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas isto é para que se manifestassem, que não são todos de nós.

Esta passagem tem sido tomada por calvinistas como ensinando um princípio universal do que "apostasia" constitui. Lembre-se, apostasia no calvinismo significa apenas rejeição do Evangelho. Não é um abandono da verdadeira fé. Verdadeira fé persevera porque Deus infalivelmente a preserva e se alguém parecer cair isto apenas demonstra que a pessoa jamais possuiu fé genuína e jamais fora regenerada. É impossível, de acordo com o calvinismo, cair da verdadeira fé. Podemos apenas cair de uma falsa profissão de fé verdadeira e provar que fomos apenas hipócritas. Calvinistas creem que esta simples passagem da Escritura prova sua estranha definição de apostasia como sendo a definição bíblica.

João fala de falsos mestres (anticristos) que saíram "dentre nós" (os verdadeiros mestres do Evangelho) e assim provaram por seu agir que não eram "de nós". João então estaria ensinando a definição calvinista de apostasia? Não de todo. A passagem simplesmente não diz o que o calvinista precisa que diga por diversas razões.

Primeiro, João não está ensinando um princípio universal acerca do que significa ser apóstata. João está especificamente falando de falsos mestres deixando a companhia dos mestres do verdadeiro Evangelho e provando por sua saída que eles não estão em harmonia com o verdadeiro Evangelho. Tivessem eles continuado na verdade não teriam razão para deixá-la mas desde que eles abandonaram a verdade ele não mais podem manter companhia com os verdadeiros mestres do Evangelho e saíram deles para espalhar suas heresias. Fazendo assim demonstraram que sua autoridade não era de Deus, e seus ensinos não deveriam ser aceitos. Este é o ponto primário de João nesta passagem.

Segundo, a passagem nada diz da condição anterior dos falsos mestres. Apenas nos fala que no tempo de sua saída eles não eram dos verdadeiros mestres do Evangelho. Eles estavam comprometidos com falsa doutrina quando deixaram e deixaram por tal razão, mas não temos maneira de reconhecer se eles genuinamente adotaram ou não alguma vez a verdade. A passagem não aborda sua condição espiritual antes de seu abandono, e este é exatamente o que os calvinistas precisam que a passagem faça a fim de apoiar sua doutrina. O calvinista precisa que a passagem diga, "Saíram dentre nós, mas não eram [nem jamais foram] dos nossos; porque, se [alguma vez] fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas isto é para que se manifestassem, que não são todos [nem jamais foram] de nós". O "jamais foram" tem que ser lido no texto. Ele simplesmente não está ali e o calvinista deve peticionar princípio para assumir que isto é o que João quis dizer. Por esta razão somente, esta passagem falha como texto-prova para a apostasia calvinista.

Terceiro, o contexto da epístola argumenta que estes falsos mestres de fato eram salvos antes de sua deserção e saíram apenas após adotar falso ensino e por conseguinte apostatando da verdade uma vez adotada. Um dos principais assuntos sendo abordado por toda 1João é como podemos determinar se somos ou não verdadeiramente salvos ("nascidos de Deus"). Os gnósticos (i.e. anticristos) estavam ensinando que não existe conexão entre conduta e salvação. Eles criam que o espírito humano era incorruptível e não poderia de modo algum ser afetado pelos pecados da carne. João diretamente se opõe a tal ensino numerosas vezes em sua epístola (1:5-10, 2:1,3-6,9-11,15, 3:4-11,15,17,18,24, 4:7,16,20,21, 5:1,2). João está primariamente encorajando seus leitores a rejeitar o falso ensino dos "anticristos" que estavam ensinando que podemos pecar com imunidade espiritual, e ajudando-os a entender as verdadeiras características dos filhos de Deus.

Agora para nós crer que os anticristos que deixaram a companhia do verdadeiro Evangelho jamais foram verdadeiros crentes sugeriria que João e os verdadeiros mestres do Evangelho não eram capazes de detectar sua hipocrisia enquanto mantinham sua companhia. Isto vai contra uma das principais preocupações de João na epístola, que podemos discernir a diferença entre verdadeiros e falsos adoradores de Cristo pelo caráter e conduta. Crer que João era incapaz de detectar a hipocrisia deles antes de sua atual deserção está fora de harmonia com um dos mais proeminentes temas de toda a missiva.

João 3:16

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Alguns enfatizam o fato que a vida eterna é eterna. É afirmado que se pudéssemos perder a salvação, a vida eterna deixaria então de ser eterna. isto falha em reconhecer a importabte verdade que não há vida eterna fora de Cristo (Jo 1:4,5:26,6:35,11:25,14:6, 1Jo 1:2,5:11, Cl 3:3-4, 2 Pe 1:4), e nós compartilhamos Sua vida apenas enquanto permanecermos nEle mediante fé salvífica (os que nEle creem, nessa passagem). Vida eterna não deixa de ser eterna se falhamos em continuar na fé salvífica, simplesmente deixamos de participar na vida eterna que reside somente no Filho de Deus. Vida eterna continuará muito bem sem nós, se falharmos em cumprir a condição de fé.

Robert Picirilli comenta:

Essas passagens, especialmente no Evangelho de João, que contém fortes promessas de salvação (final) a crentes e são portanto cogitadas implicar perseverância necessária não podem ser usadas para esse propósito porque elas 'provam muita coisa' . Em outras palavras, dizer que tais promessas requerem a impossibilidade de uma situação modificada coloca um imenso ônus na sintaxe dos exemplos. E isto pdoe ser rapidamente visto comparando promessas semelhantes, usando exatamente a mesma sintaxe, para descrentes. Por exemplo:

Em verdade, em verdade vos digo, que quem ouve minha palavra, e crê ao que me enviou, tem vida eterna, e não virá em condenação, mas passou da morte para a vida. {João 5:24 BLIVRE}

e

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

{João 3:16 BLIVRE}

Gramaticalmente, se a primeira significa que a condição do crente não pode ser mudada, então a segunda significa que a condição do descrente também não pode ser mudada. De fato, nenhuma das passagens sequer está falando desse assunto. O descrente opde deixar sua descrença, se tornar crente, e ver vida - então escapando da promessa feita ao descrente que continua em sua descença. Igualmente, o crente pode abandonar sua crença, se tornar descrente, e vir à condenação - portanto escapando da promessa feita aos crentes que continuam em fé. Cada promessa se aplica com igual força àqueles que continuam em seu respectivo estado descrito.

(Grace, Faith, Free Will, pp. 220-201)

Romanos 6:23; 11:29

{06}[23] Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.

{11}[29] Porque os dons e a vocação de Deus são irretratáveis.

Muitos veem aqui uma forte assertiva de segurança incondicional baseado no fato que "os dons e o chamado são irrevogáveis" (NAS), e essa vida eterna é um dom (Rm 6:23, Ef 2:8,9), portanto, pensam eles, vida eterna deve ser irrevogável. Deus é sempre fiel às Suas promessas (tanto as prazerosas quanto as terríveis, e.g Js 23:15-16), mas suas promessas não são sem condições. O dom divino da salvação é irrevogável enquanto a condição é cumprida. Paulo estava falando da restauração final de Israel em Rm 11:29, mas ele não estava dando segurança alguma aos ramos que foram quebrados em descrença (verso 20), e severamente alertou aqueles que agora permanecem na fé, os quais podem ainda ser arrancados mediante a incredulidade (versos 20-21). O dom divino (da vida) é sempre somente para crentes! Deus não revoga seu dom, porque ele não existe à parte de Cristo. Apenas crentes estão "em Jesus Cristo nosso Senhor" (Rm 6:23). Se falharmos em cumprir a condiçaõ de união a Cristo,não podemos ter nenhuma alegação ao dom (veja Jo 3:16 e Jo 10:27-29 já discutidos).

Efésios 1:13, 14; 4:30

{1}[13]no qual também vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, e tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa,

{1}[14]o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para o louvor da sua glória.

{4}[30]E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual sois selados para o dia da redenção.

Muito tem sido feito do selo do Santo Espírito pelos defensores da eleição incondicional eterna. O "selo" do Santo Espírito é claramente condicional desde que podemos entristecer ou mesmo insultar o Espírito da Graça, o que constituiria total apostasia sem remédio (Ef 4:30 e Hb 10:29). O Santo Espírito é recebido pela fé (Gl 3:2,14) e só pode nos selar enquanto permanecemos em Cristo mediante fé (Ef 1:13). O selo do Santo Espírito pressupõe a possessão do Santo Espírito, e apenas crentes podem possuir o Santo Espírito (Rm 8:9). Ele é portanto a garantia de uma herança para crentes mas não para descrentes.

Pode haver um paralelo com a circuncisão que era também um "selo" para aqueles debaixo da antiga aliança (Rm 4:11). Sabemos que tal selo era quebrado e nada garantia quando aqueles que eram curcuncidados quebravam a aliança e eram cortados do povo de Deus (Rm 2:25). O selo era condicionado à continua fé e obediência (Rm 2:26-29). O Santo Espírito nos marca como filhos da nova aliança mediante fé em Cristo, mas se abandonarmos a fé então o Espírito de Deus não mais permanece em nós e não mais estamos selados em Cristo (participantes das bênçãos da aliança que são encontrados nEle somente - Ef 1:3,7,10,11). Apenas aqueles que continuam em fé obediente permanecem selados (At 5:32, Jo 14:15-17, Rm 8:5,6,9).

Note que o selo do Santo Espírito é acompanhado de um alerta para não entristecê-Lo em Ef 4:30. Isto parece indicar que existe o perigo de entristecer o Santo Espírito que sela-nos e a referência ao selo pode ser para o propósito primário de lembrar os efésios que entristecer o Espírito é entristecer aqueles que nos une a Cristo. Isto torna o alerta bem mais enfático e adverte o crente a observar como ele vive para que os pecados que O entristecem não levem à descrença pela qual este selo é quebrado e o Espírito é finalmente insultado. O selo do Santo Espírito, portanto, aplica-se somente enquanto não O entristecemos (Ef 4:30) e finalmente insultamos (Hb 10:29) o Espírito da graça mediante contínua desobediência, culminando em apostasia definitiva.

Não há razão bíblica para ver o selo do Santo Espírito como incondicional ou irrevogável, enquanto estamos repletos de razões para ver o mesmo como condicional à contínua fé. De fato, advertências contra a apostasia por si só implicam a condicionalidade do selo.

Romanos 8:28, 29

[28] E sabemos que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.

[29] Porque os que previamente conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.

[30] E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.

A afirmação é que esta passagem apresenta uma cadeia inquebrável da predestinação até a glorificação. O problema é que a passagem e ponto algum afirma que tal jornada é uma garantia do início ao fim. A passagem está falando daqueles que já foram glorificados e descreve o processo pelo qual eles atingiram tal objetivo. Quem são os que Deus tem glorificado? O verso 28 nos informa que são aqueles que amam a Deus e são chamados de acordo com Seu propósito. Aqueles que amam a Deus (crentes) são chamados e predestinados para serem conformes à imagem de Cristo (o "propósito" final de Deus para o crente). A passagem não aborda descrentes, mas crentes. Ela não nos fala que Deus predestinara certos descrentes a se tornarem crentes. Em vez disso, está descrevendo o destino final daqueles que amam a Deus.

A interpretação calvinista falha em duas áreas importantes. Primeiro o calvinista assume que o "chamou" do verso 29 é um "chamado" para salvação. A maneira que "chamado" é usado no verso 28 sugere outra coisa. No verso 28 Paulo parece usar a palavra com relação ao propósito de Deus ser cumprido em crentes (aqueles que O amam). Parte de tal chamado é suportar as dificuldades e perseguições em favor do Evangelho. Pedro usa a mesma linguagem,

[20] Afinal, que mérito há em suportar serdes espancados por cometerdes pecado? Contudo, se, quando fazeis o bem, sois afligidos e suportais, isso é a Deus.

[21] Pois para isto fostes chamados, porque também Cristo sofreu por nós, deixando-nos exemplo, para que sigais os seus passos.

{1Pedro 2:20-21 BLIVRE}

Este é exatamente o ponto de Paulo. Crentes são chamados a seguir os passos de Cristo (o que inclui sofrimento) mediante os quais eles serão conformes à Sua imagem. O chamado é de crentes para suportar o sofrimento pelo bem de Cristo serem conformes à Sua imagem. para isso eles foram predestinados, porque Deus determinou desde a eternidade que crentes deveriam completar seu chamado em Cristo (Rm 8:17-18). Esta interpretação harmoniza-se perfeitamente com as ênfases contextuais dos versos 28-39 (veja o tratamento dos versos 38-39 acima).

Segundo, a interpretação calvinista assume que predestinação é o primeiro passo do processo mas Paulo se assegura de enfatizar que aqueles que Deus predestinou são aqueles a quem Ele "previamente conheceu". Novamente, isto suporta a ideia que crentes somente estão em vista ao longo desta passagem, porque Deus não pode 'prévia e afetuosamente tratar como Seu' nenhum pecador exceto se Ele pré-conhecê-lo em Cristo, e vê-lo como crente em Cristo" (James Arminius citado por Robert Picirilli in Grace, Faith, Free Will, pg. 78). Eleição e predestinação são em Cristo e somente crentes vêm a estar em Cristo (Ef 1:4-5,11,13). Mesmo se o chamado do verso 29 fosse para salvação, isto não indicaria que todos que são chamados são também justificados e glorificados porque Paulo só tinha em mente crentes que perseveram (suportam dificuldades e perseguição) para glorificação (Rm 8:17-18, conf. Fp 1:29). Em lugar algum a passagem sugere que todos que creem inevitavelmente perseverarão para a perseverarão para salvação final (glorificação). Justamente como tantos textos-prova calvinistas pela perseverança inevitável a ausência de uma condição estabelecida não necessita a conclusão que o processo sendo aqui descrito é incondicional.

João 6:37, 44, 65

[37]Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.

[44]Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.

[65]E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido.

Lidamos rapidamente com o contexto desta passagem acima quando discutimos João 10:27-29. Jesus está falando para judeus cujos corações não estavam retos para com Deus. Eles não eram judeus fiéis e não conheciam o Pai. Por que eles não estavam numa correta relação de aliança com o Pai, eles não podiam reconhecer a perfeita expressão do Pai no Filho. Desde que eles não desejavam fazer a vontade do Pai eles não podiam discernir propriamente a verdade das palavras de Cristo (Jo 7:17). Aqueles que conhecem o Pai reconhecerão a verdade das palavras de Cristo e serão trazidos até Ele (Jo 6:44,45). Eles serão dados ao Pai e virão à fé nEle como resultado (Jo 6:37). Para eles somente o Pai permitiu acesso ao Filho (Jo 6:65).

A passagem tem a ver com o Pai entregando os judeus fiéis ao seu tão esperado Messias. Não tem nada a ver com uma eleição incondicional pré-temporal de certos pecadores para vir à fé em Cristo. Esta é uma conclusão que muitos leem dentro desta passagem de acordo com um comprometimento prévio a um sistema teológico sem qualquer garantia contextual.

Jesus assegura que qualquer um que venha a Cristo em fé jamais será rejeitado. Eles serão aceitos no Amado de Deus (Jo 6:37). O Pai não falhará em dar todos estes judeus fiéis a Cristo e Cristo não falhará em recebê-los em Si Mesmo. Cristo os ressuscitará no último dia. Estes judeus podem estar seguros que seu destino está seguro em Cristo. Porém, a promessa é somente para aqueles que estão presente e continuamente "comendo, bebendo, crendo, vindo, ouvindo, seguindo e observando". Apenas aqueles que perseveram na fé salvífica serão levantados ao último dia (Jo 6:40). Não existe promessa alguma aqui para aqueles que deixam de crer e nenhuma garantia que aqueles que começam a crer inevitavelmente perseverarão em tal fé. O "todos aqueles" do verso é a soma de todos os crentes. É o corpo corporativo de Cristo e esse corpo certamente será levantado no último dia porque esse corpo é composto daqueles que presente e continuamente creem no Filho (verso 40).

Romanos 8:1

Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.

Esta promessa aplica-se apenas àqueles que estão presentemente "em Cristo Jesus", e não são mais "controlados pelo pecado mas pelo Espírito" {Romanos 8:9}. Enquanto nós permanecemos em Cristo não podemos ser condenados, mas se falhamos em permanecer em Cristo, dando vazão à natureza pecaminosa (Rm 8:12-14), certamente pereceremos (Rm 8:13; Gl 6:7,8; Jo 15:5,6; Tg 4:4).

Filipenses 1:3

[6]tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus,

Este verso então ensina aquele que começou na fé salvífica inevitavelmente continuará nesta fé até o "dia de Cristo Jesus"? Os advogados da segurança incondicional estão tentando tirar muito mais deste verso do que foi intendido por Paulo. Paulo estava confiante na obra de Deus sendo aperfeiçoada nos filipenses para quem ele escrevia porque ele tinha todas as razões para crer que eles perseverariam na fé. Paulo explica por que ele tem tal confiança neles: eles têm participado no ministério do Evangelho "desde o primeiro dia até agora"(Fp 1:5). Eles têm compartilhado na graça com Paulo ao apoiar seu ministério e apoiá-lo quando na prisão (1:7; 4:18, 19). Paulo está também confidente de que Deus completará sua obra neles porque ele está orando por eles e confiando em Deus pelo seu nome (1:3, 9-11).

Dado que Paulo tinha toda razão para crer que eles continuariam em fé baseado no histórico deles, ele pode expressar sua confiança que Deus continuaria a trabalhar neles, desde que Deus não pode falhar em sua obra nos crentes. Todos os crentes que continuam em fé verão a obra de Deus aperfeiçoar-se em si no dia de Cristo Jesus. Paulo não está garantindo que eles alcançarão a glória mas apenas expressando sua confiança pessoal neles baseado em sua experiência do comprometimento deles para com o Evangelho de Jesus Cristo. Porém, a confiança de Paulo é vista como sendo uma confiança cautelosa no que ele alerta-os a continuar seguindo seu exemplo de espírito único de compromisso com o Evangelho de Cristo a fim de que eles não comecem a focar, em vez disso, nas coisas do mundo e se tornem inimigos da cruz (Fp 3:17-19). Paulo ainda expressa preocupação que ele possa ainda retornar a eles e não encontrá-los permanecendo firmes em Cristo, e por esta razão encoraja-nos a continuamente conduzir a eles mesmos de maneira digna do Evangelho (Fp 1:27). Nos versos 12-13 vemos que Paulo tem razões para confiar neles desde que sempre obedeceram, e ainda os admoesta a continuar a efetuar a salvação com temor e tremor (2:12). Se sua destinação fosse garantida, não deveria haver motivos para temer (conf. Rm 11:19-22). Ainda assim eles devem continuar a efetuar nossa salvação cedendo à obra de Deus dentro deles (2:13).

Filipenses 2:12-13 chega ao coração do assunto e provê o contexto primário pelo qual devemos entender os comentários de Paulo em 1:6. Deus completará Sua obra neles mas apenas enquanto eles continuarem a submeter-se a este operar dentro deles. Se eles continuarem a permitir a obra de Deus neles então Deus certamente trará tal obra à perfeição (completando-a) no dia de Cristo Jesus. Não podemos fazer esta obra em nós mesmos, Deus deve fazê-la. Não podemos sequer ceder à obra de Deus em nós por nós mesmos, mas podemos fazer todas as coisas nEle que nos fortalece. Ainda somos chamados para em temor nos submeter à obra de Deus e não há nada nas palavras de Paulo que sugeriria que não possamos resistir a tal obra e falhar em vê-la trazida à perfeição em nós. De fato Fp 2:13 sugere exatamente o oposto.

Conclusão

Nesta série examinamos as passagens primárias que ensinam a possibilidade de apostasia e vimos que o entendimento arminiano de perseverança melhor harmoniza com os ensinos de tais passagens. Existem muitas outras que podem ser chamadas na tarefa de apoiar a posição arminiana mas limitamos este estudo àquelas passagens que falam mais claramente do assunto. Temos analisado também as passagens primárias que são mais comumente apeladas em apoio à segurança incondicional e encontramos que elas não contradizem a visão arminiana da perseverança condicional. parece seguro (e necessário) concluir então que a visão arminiana de perseverança é a visão que melhor harmoniza-se com os dados bíblicos e é portanto a visão bíblica.

No nosso próximo e último post desta série argumentaremos que a visão arminiana dá os melhores fundamentos para a segurança bíblica também, apesar das alegações contrárias daqueles que adotam a perseverança inevitável.

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Created: 2022-04-07 Thu 00:11

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