James White sobre Mateus 23:37

Texto

James White recentemente discutiu Mateus 23:37 na Radio Free Geneva em resposta ao livro de Norman Geisler Chosen But Free. Eis a passagem:

[37] Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes eu quis ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas; porém não quisestes!

[38] Eis que vossa casa vos será deixada desolada. desolada ou: deserta

[39] Pois eu vos digo que a partir de agora não me vereis, até que digais: “Bendito aquele que vem no nome do Senhor”. Salmos 118:26

{Mateus 23:37-39 BLIVRE}

James White usa a diferença entre "Jerusalém" e "seus filhos" para argumentar que Jerusalém representa a liderança judaica enquanto os filhos de Jerusalém representam o povo judeu.

Dr. Geisler responde apontando que mesmo que isto seja verdade, não importa. De qualquer maneira alguém está-se opondo ao desejo de Cristo.

Gosto do ponto de Dr. Geisler; per calvinismo, ninguém pode se opor ao desejo de Deus no sentido de Seu decreto para o que Ele quer que aconteça. James White é rápido em apontar que o calvinismo diferencia entre o que Ele quer e o que Ele comanda e então afirma que a passagem é sobre os comandos de Deus e o o ministério externo do Evangelho em vez do desejo de Deus pelo resultado. Mas se este é o caso isso parece fortalecer o ponto de Dr. Geisler que a discussão de 'Jerusalém' e 'seus filhos' é um assunto secundário. Por que importa quem se opõe a Cristo, enquanto eles realmente não se opõem ao Seu desejo?

Mais ao ponto, a passagem afirma que Cristo quis ajuntar os filhos, não apenas que Ele comandou ou convidou-os a vir. Ademais, os comandos de Deus são chamados de "Sua vontade" na Escritura; Deus afirmou não somente sancionar o pecado, mas também odiar o pecado. Agora eu ouvi James White tentando explicar isto antes, e no melhor que posso dizer, ele oscila entre a contradição que Deus deseja e não deseja que pequemos ou minando o ódio de Deus pelo pecado.

James White coloca um bom montante de ênfase no ponto "Jerusalém = liderança judaica". John Gill faz iso também; indo tão longe a ponto de afirmar que este ponto destrói o argumento encontrado nessa passagem a favor do livre arbítrio.

Ademais, o discurso de nosso Senhor, ao longo de todo o contexto, é dirigido aos escribas e fariseus, os guias eclesiásticos do povo, e a quem os governantes civis prestavam uma relação especial. Então foi manifesto que eles não eram as mesmas pessoas que Cristo queria ajuntar, o que não eram. Não é dito 'quanto eu quis vos ajuntar mas vós não o quisestes' como Dr. Whitby mais de uma vez inadvertidamente cita o texto; nem, ele quis ajuntar Jerusalém e ela não quis, como o mesmo autor transcreve em outro lugar; nem, ele quis ajuntá-los, os filhos, e eles não quiseram, uma forma que é também às vezes expressa por ele; mas eu quis junttar seus filhos e vós não quisestes, observação a qual sozinha é suficiente para destruir o argumento encontrado nessa passagem a favor do livre arbítrio. (LINK)

Provavelmente James White vê o ponto sobre a liderança judaica como suportando seu outro ponto em distinguir entre convites e desejos. Afinal, os fariseus estavam se opondo à pregação pública de Cristo, que poderia legitimamente ser vista como um convite externo em vez de um decreto eterno. Porém, não penso que James White está correto; Jerusalém representa o povo de Jerusalém, não apenas a liderança judaica.

A evidência primária de James White é o contexto interno de Mateus 23. Cristo censura os fariseus por sua hipocrisia e obstrução de Seu ministério. Mt 23:13-15 faz o ponto exato de James White: os fariseus retinham o povo judeu de Cristo e do Céu mediante sua hipocrisia e tradições.

[13] Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque fechais o Reino dos céus em frente das pessoas; pois nem vós entrais, nem permitis a entrada do que estão para entrar.

[14] Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque devorais as casas das viúvas, e isso com pretexto de longas orações; por isso recebereis mais grave condenação.

[15] Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque rodeais o mar e a terra para fazerdes um prosélito; prosélito pessoa não-israelita que se convertia ao judaísmo e quando é feito, vós o tornais filho do inferno duas vezes mais que a vós.

{Mateus 23:13-15 BLIVRE}

À primeira vista, parece haver forte evidência que Cristo está censurando os fariseus por se opor a Seu ministério e que Cristo contrasta a liderança judaica com o povo judeu quando fala acerca de Jerusalém e seus filhos. Mas mais contexto é necessário para responder a questão com certeza. Vamos observar a abordagem de Lucas 13.

[31] Naquele mesmo dia, chegaram uns fariseus, dizendo-lhe: Sai, e vai-te daqui, porque Herodes quer te matar.

[32] E disse-lhes: Ide, e dizei a aquela raposa: eis que expulso demônios, e faço curas hoje e amanhã, e ao terceiro dia eu terei completado.

[33] Porém é necessário que hoje, e amanhã, e no dia seguinte eu caminhe; porque um profeta não pode morrer fora de Jerusalém.

[34] Jerusalém, Jerusalém, que matas aos profetas, e apedrejas aos que te são enviados: quantas vezes eu quis juntar teus filhos, como a galinha junta seus pintos debaixo de suas asas, e não quisestes?

[35] Eis que vossa casa é deixada deserta para vós. E em verdade vos digo, que não me vereis até que venha o tempo em que digais: Bendito aquele que vem no nome do Senhor. (BibliaLivreTR) {Lucas 13:31-35 BLIVRE}

Fazendo algumas observações sobre o texto, primeiramente, nem Cristo nem seus oponentes fariseus estão em Jerusalém. Cristo está fora de Jerusalém na jurisdição de Herodes e Herodes quer matá-Lo. Mas o plano de Cristo é morrer em Jerusalém, na jurisdição de Pilatos, então Ele viajaria até Jerusalém, assassina de profetas. Portanto, o lamento sobre Jerusalém não é abordado à audiência imediata de Cristo mas em vez disso revekla o que ocorrerá a Ele quando alcançar Seu destino. E então o ponto sobre o contexto interno de James White perde sua relevância.

Agora John Gill tem uma resposta, mas é de nenhuma ajuda. Gill afirma que Mt 23:37 e Lc 13:34 se referem a eventos separados. "Estas palavras, que seguem, como permanecem em Mt 23:37-39 foram ditas por Cristo, quando ele estava no templo em Jerusalém; mas aqui elas foram ditas por Ele quando na Galileia, na jurisdição de Herodes; então parece que as mesmas palavras são ditas por Cristo em momentos diferentes, em locais diferentes, e para pessoas diferentes" (LINK) A autoridade de Cristo não é menor em Lucas 13 que em Mateus 23, então que diferença faz se Lucas 13 traz problemas ao calvinismo em vez de Mateus 23?

Mas há outra razão por que podemos ver que a visão de James White é errônea; as passagens vetero-testamentárias às quais Cristo estava se referindo. Me parece que Cristo cita Jeremias 6.

Corrige-te, Jerusalém, para que minha alma não se afaste de ti, para que eu não te torne desolada, uma terra não habitada.

{Jeremias 6:8 BLIVRE}

Em Jeremias, Jerusalém não se refere somente à liderança judaica, mas à cidade escolhida de Deus. Deus escolheu Jerusalém para pôr Seu nome e um lugar para Seu templo.

Também edificou altares na casa do SENHOR, da qual o SENHOR havia dito: Eu porei meu nome em Jerusalém.

{2Reis 21:4 BLIVRE}

(Veja também: 1Rs 11:32, 2Rs 21:4,7,23:27, 2Cr 6:6, Zc 1:17,2:12,3:2 sobre a escolha de Jerusalém).

Mas devido aos pecados dos israelitas, Deus rejeitou Jerusalém, Sua cidade escolhida.

E disse o SENHOR: Também tirarei de minha presença a Judá, como tirei a Israel, e abominarei a esta cidade que havia escolhido, a Jerusalém, e à casa da qual havia eu dito: Meu nome será ali.

{2Reis 23:27 BLIVRE}

Deixei minha casa, abandonei minha herança, entreguei a amada de minha alma nas mãos de seus inimigos.

{Jeremias 12:7 BLIVRE}

Desde que Lc 13:34 é uma repreensão, é interessante ver como Jerusalém é abordada em lugar de seu povo em repreensões, alertas e julgamentos proféticos como Jr 19:7, "E tornarei vão o conselho de Judá e de Jerusalém neste lugar, e os farei cair à espada diante de seus inimigos e pela mão dos que procuram tirar-lhes a vida. Darei os seus cadaveres por pasto as aves do céu e aos animais da terra". Aqui há outras passagens nas quais Jerusalém é usada em repreensões, alertas e julgamentos proféticos: Is 3:8, Jr 2:2,4:3,10-11,8:5,14:2,19:7,44:13, Lm 1:7-8,17, Ez 14:21-22,16:2-3.

A visão de James White elimina a passagem de sua referência vetero-testamentária e então perde este significado mais amplo da repreensão. Deus escolheu Jerusalém para ser Sua habitação e templo, mesmo assim os israelitas repetidamente se rebelaram e rejeitaram Deus e mataram Seus profetas. Jerusalém estava prestes a finalmente rebelar-se e matar o Profeta; e portanto seria julgada.

Não apenas James White ignora o panorama geral, mas ele acaba interpretando "Jerusalém" de uma forma única. Eis aqui uma breve pesquisa do uso vetero-testamentário de Jerusalém. Notavelmente ausente está um uso no qual Jerusalém representa a liderança judaica.

Jerusalém diretamente abordada: 2Cr 20:17, Sl 116:19, 122:2-3, 137:5-6, 147:12-14, Is 40:9, 41:27, 51:17, 52:1, 52:2, 62:6, Jr 4:14, 6:8, 13:27, 15:5, Lc 19:41-44

Quando Jerusalém é diretamente abordada, ela é algumas vezes abordada como uma cidade como em "e Jerusalém, sobre os teus muros pus atalaias, que não se calarão nem de dia, nem de noite; ó vós, os que fazeis lembrar ao Senhor, não descanseis,"{Is 62:6 AR}, mas mais geralmente é abordada no lugar de seu povo, como em "Lava o teu coração da maldade, ó Jerusalém, para que sejas salva; até quando permanecerão em ti os teus maus pensamentos?"{Jr 4:14 AR}

Jerusalém como o seu povo; Jz 1:8, 2Rs 18:35,19:10, 1Cr 6:15, 2Cr 12:9, 2Cr 24:18,32:12,32:19,32:25, Ed 4:8, 7:14, Is 52:9,62:7,66:10, Jer 33:16, 51:35, Jl 3:17, Sf 3:16, Zc 1:14,19,14:11-12, Ml 3:4, Mt 3:5, Lc 2:38

Geralmente, o termo Jerusalém quando usado figurativamente significando o povo de Jerusalém.

Filhos de Jerusalém: 2Rs 19:21, Is 37:22, Lm 2:13,15, Jl 3:6, Mq 4:8, Sf 3:14; Zc 9:9; Lc 23:28

A linguagem de filhos, filho ou filha de Jerusalém, é um tanto mais figurativa e flexível e pode tanto significar um indivíduo específico abordado, ou o povo de Jerusalém.

Alegra-te muito, ó filha de Sião; dá vozes de júbilo, ó filha de Jerusalém; eis que teu rei virá a ti, justo e salvador, humilde, e montado sobre um asno, sobre um jumentinho, filho de jumenta.

{Zacarias 9:9 BLIVRE}

Em resumo, "Jerusalém" simplesmente nunca é usado no Antigo Testamento significando simplesmente os líderes dos judeus.

Igualmente no Novo Testamento, quando Cristo fala dos filhos de Jerusalém, Ele está falando sobre seus habitantes.

[41] E quando já estava chegando, viu a cidade, e chorou por causa dela,

[42] Dizendo: Ah, se tu também conhecesses, pelo menos neste teu dia, aquilo que lhe traria paz! Mas agora isto está escondido de teus olhos.

[43] Porque dias virão sobre ti, em que teus inimigos lhe cercarão com barricadas, e ao redor te sitiarão, e lhe pressionarão por todos os lados.

[44] E derrubarão a ti, e a teus filhos; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada.

{Lucas 19:41-44 BLIVRE}

Finalmente, podemos ver que a igreja primitiva não viu essa passagem como James White o fez.

Então disse o Senhor Altíssimo, Já não vos rezei como a um pai seus filhos, como a uma mãe suas filhas, e uma enfermeira seus bebês, Que vós seríeis meu povo, e eu seria vosso Deus; que vós seríeis meus filhos, e eu seria vosso pai? Eu vos reuni, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo das suas asas: mas agora, o que devo fazer convosco? Vos lançarei para longe de minha face. Quando vós ofertares diante de mim, tornarei minha face contra vós: contra vossos dias solenes, vossas luas novas, e vossas circuncisões, terei eu as deixado. Vos enviei meus servos profetas, que vós tomastes e matastes, aos quais tornastes seus corpos em pedaços, cujo sangue requierirei de vossas mãos, disse o Senhor. Então disse o Senhor Altíssimo, Vossa casa está desolada, vos lançarei fora como o vento lança a palha. {2Esdras 1:28-33}

Este capítulo foi escrito entre 201-268 AD por antigos cristãos (LINK). Seus paralelos com Mateus 23 são óbvios, mostrando a forma como eles entenderam as passagens. A troca deles do "seus filhos" para "vós" mostra a maneira que eles entendiam Mateus 23; aqueles condenados foram os que rejeitaram.

Então James White vai contra o paralelo sinótico, o texto do Antigo Testamento a que Jesus Cristo se refere, o uso geral do Antigo Testamento, o uso por Cristo de Jerusalém no Novo Testamento, e a maneira que a igreja primitiva entendeu o texto. E para quê? Se isto afinal importa, é apenas pela oportunidade de dizer absurdos como Deus querer e não querer reunir os filhos ou Deus convida os filhos mas não quer que eles venham. Tem muita coisa boa no calvinismo, mas devemos cuidadosamente peneirar o que podemos aceitar e o que devemos rejeitar.

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Created: 2022-04-08 Fri 22:19

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